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Sistemas de terminação de cordeiros em pastagens de verão e inverno: desempenho animal

VÁRIOS AUTORES

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 06/11/2006

10 MIN DE LEITURA

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Há grande preocupação de produtores e técnicos quanto aos sistemas de produção de cordeiros em pastagens, em função das elevadas taxas de mortalidade que já foram observadas devido às infecções parasitárias (Siqueira et al., 1993) além dos ganhos de peso que muitas vezes são limitados nestes sistemas (Macedo et al., 1995).

No entanto, o custo de produção de pastagens é extremamente reduzido (cerca de R$0,08/ kg MS) quando comparado ao custo do concentrado (cerca de R$ 0,60-0,80/kg MS), o que indica a necessidade de superação das dificuldades de produção de cordeiros em pastagens, principalmente em regiões onde alternativas forrageiras como a aveia e o milheto, além de espécies de clima frio como o azevém, o trevo e o cornichão podem ser utilizadas.

E ainda, um estudo mais detalhado dos sistemas de suplementação dos cordeiros abre uma possibilidade de superação do "vazio forrageiro" que pode ocorrer na época de nascimento e crescimento dos cordeiros (inverno-primavera) para os produtores que trabalham com raças lanadas mais estacionais, e que têm sua estação de nascimento concentrada nessa época do ano.

A linha de pesquisa trabalhada pelo Grupo de Pesquisa Produção de Ovinos para Carne, da Universidade Federal do Paraná, objetiva estudar a produção de cordeiros para abate, com ou sem utilização de suplementação com ou sem desmame, em áreas de pastagens de verão e de inverno.

Em avaliações realizadas em Curitiba-PR desde 2003 foram estudadas diferentes alternativas de sistemas de terminação: cordeiros desmamados e terminados em pastagens e em confinamento, e também sistemas de terminação sem desmame, com ou sem suplementação alimentar em creep feeding em pastagens tropicais (Tifton-85) e temperadas (azevém). Além disso, avaliaram-se também diferentes níveis de suplementação com ração concentrada após o desmame dos cordeiros recriados em pastagens, em sistemas de manejo contínuo.

Os resultados indicaram que os cordeiros que foram desmamados entre 40 e 55-60 dias e colocados em pastagens com diferentes espécies forrageiras apresentaram desempenho inferior aos cordeiros que não foram desmamados e terminaram ao pé das mães, independente de terem recebido a suplementação em creep feeding ou não (Bosquetto et al, 2004).

Cabem algumas observações sobre esses resultados: o desmame dos cordeiros realizado entre 40 e 60 dias e com cerca de 15 a 17 kg de peso corporal, associado a recria em pastagens nessa fase, dificultou a expressão do ganho de peso e algumas vezes, a sobrevivência dos animais. Os ganhos médios diários ficaram ao redor de 100 g/d, tanto em pastagem de Tifton-85 quanto em azevém, forrageira de inverno na qual se esperava melhor desempenho devido à sua reconhecida qualidade, e também devido a outros resultados da pesquisa, como em Tonetto et al. (2004).

Estes autores encontraram melhor desempenho dos cordeiros em pastagens de azevém (19,9% de proteína bruta e 77% digestibidade in vitro da matéria seca) sem nenhum tipo de suplementação (ganho médio 404 g/d) quando comparados com cordeiros (213 g/d) que tinham sido confinados à céu aberto recebendo silagem de sorgo (6,4% de proteína bruta e 43% de digestibidade in vitro da matéria seca) e ração concentrada entre 1,2% (antes de 42 dias) até 2% do peso vivo (após 42 dias de idade). Os cordeiros terminados em pasto nativo do RS recebiam suplemento com a mesma silagem de sorgo citada acima e o ganho de peso diário foi igual a 325 g/d. Em todos os métodos de alimentação não foi realizado o desmame. Observa-se a grande importância da qualidade do volumoso ofertado na pastagem neste trabalho.

Na avaliação realizada no ano de 2004, os cordeiros não conseguiram superar a baixa oferta de forragem de azevém que ocorreu entre setembro-outubro na região de Curitiba, devido à seca intensa e prolongada, com redução acentuada na disponibilidade de folhas na pastagem. Cabe relatar que a disponibilidade de folhas nos piquetes de azevém caiu de cerca de 1500 kg de matéria seca para cerca de 300 kg de matéria seca de folhas/ha, entre agosto e outubro daquele ano (Ribeiro et al., 2005). De acordo com Carvalho (1997), os ovinos preferem e colhem essencialmente as folhas em sua dieta durante o pastejo, se lhes for dada oportunidade de seleção.

Assim, a redução na disponibilidade da forragem e a mudança no seu perfil qualitativo durante o período de utilização da pastagem pelos cordeiros foram responsáveis, certamente, pela redução no desempenho dos animais com diminuição acentuada na condição corporal dos mesmos (perda de escore de condição corporal), com provável prejuízo da imunidade, tendo ocorrido elevada mortalidade dos cordeiros devido à verminose nessa época do ano.

Ressaltam-se então dois pontos importantes desse sistema, no qual os cordeiros são desmamados e terminados em pastagens: o peso de desmame adotado para os cordeiros pode ter sido baixo demais e isso limitou sua capacidade de recuperação de desenvolvimento pós-desmame; e a capacidade de consumo de forragem pode estar limitada pelo próprio tamanho corporal dos animais nesse momento.

Quanto à suplementação exclusiva dos cordeiros lactentes, Neres et al. (2001) e Garcia et al. (2003) descreveram que a alimentação em creep feeding com dieta total (volumoso mais ração concentrada) ad libitum (à vontade), desde o nascimento dos cordeiros indicou não ser necessário o tradicional método de desmame precoce seguido de confinamento dos animais, sistema bastante utilizado em várias regiões do Brasil.

Isso não se justificaria devido aos ganhos favoráveis de peso (380 a 420 g/d) que os cordeiros apresentavam nos sistemas creep feeding estudados no Estado de São Paulo, sendo possível que estes chegassem ao peso final para abate, sem a separação das mães. No caso de fornecimento de ração ad libitum em creep feeding, os cordeiros tinham seus abates realizados entre 60 e 80 dias de idade, liberando as ovelhas precocemente para a atividade reprodutiva acelerada. Vale considerar também a não exposição dos cordeiros ao estresse do desmame.

Como nos nossos resultados de pesquisa desde 2003 não foram observadas diferenças significativas quanto ao ganho de peso diário dos animais (259 g/d x 262 g/d; Bosquetto et al., 2004; 261 g/d x 282 g/d; Ribeiro et al., 2005) independente do fornecimento de suplementação em creep feeding, isso nos dá a oportunidade de destacar a importância que o leite materno e/ou a presença das mães tem no desempenho individual dos cordeiros, fato este de grande importância também quando se pensa em bem estar animal.

Assim, os cordeiros que permaneceram com suas mães até o abate tiveram bom desempenho (acima de 200 g/d, pode ser considerado um ganho de peso satisfatório), tanto em pastagem de Tifton-85 quanto em pastagem de azevém, independente do uso de suplementação, que foi fornecida em 1% PV, a partir de 40-60 dias de idade.

Dois pontos podem ser levantados para discussão dentro desse conjunto de resultados: a quantidade de suplemento fornecida em 1% do PV não foi suficiente para levar às diferenças de desempenho entre os animais que recebiam ou não suplementação, o que levou ao contraste com os resultados de Neres et al.(2001) e Garcia et al. (2003); e a suplementação em creep feeding tem melhor resposta quando se inicia o fornecimento da ração bem no início da vida dos cordeiros. Owen (1976) afirmou que a maior velocidade de crescimento na espécie ovina ocorre entre a primeira e a vigésima semana de vida, ou seja, até os 140 dias de idade. Iniciando o fornecimento de suplemento entre 30 e 60 dias, perdemos uma parte importante da resposta fisiológica do crescimento dos animais.

A permanência dos cordeiros com suas mães até o abate, realizado aos 32 kg, implicou em ocupação de área nobre da pastagem até 95-100 dias de idade (idade em que os cordeiros foram abatidos nos sistemas sem desmame) exigindo um aporte superior de nutrientes às ovelhas, devido à elevada demanda nutricional da lactação. Este sistema dificultaria então a liberação das ovelhas para uma estação de monta acelerada, fora da época convencional de verão/outono, utilizada nos criatórios onde se adotam os sistemas de 3 partos a cada 2 anos, que exigem a recuperação corporal bastante rápida das ovelhas.

Talvez, com melhor ajuste de época e da quantidade de suplemento em creep feeding isso possa ser contornado. Embora houvesse a preocupação de maior infecção parasitária devido à não separação das mães, isso na realidade não ocorreu nos anos avaliados. Os animais suportaram de forma bastante tranqüila as infecções detectadas através da contagem dos ovos nas fezes, mantendo sua condição corporal estável e sem mortalidade, nos sistemas sem desmame.

Sobre a suplementação dos cordeiros com ração concentrada nos sistemas em pastagens após o desmame, no ano de 2005 foram estudados 3 níveis de suplementação (1 e 2% do peso vivo médio dos cordeiros e suplementação ad libitum, que chegou a 3,2% do peso vivo) comparados ao grupo sem suplementação, para cordeiros desmamados com 17 kg de peso médio corporal.

Os resultados mostraram uma resposta linear do desempenho dos animais em relação ao fornecimento da ração, independente da oferta de forragem, quando comparado ao tratamento sem suplementação. No entanto, é muito importante citar que, quando se ofertou o nível de suplementação ad libitum houve substituição completa do consumo de pastagem pelo consumo de ração, o que pode ser facilmente medido pela observação do comportamento dos animais (Fernandes, 2006) e pelos dados de avaliação do consumo de pastagem, que ficou praticamente nulo nesse caso.

Isso indica que, conforme citado na literatura para ruminantes em geral (Euclides et al., 2005; Reis et al., 1999) os cordeiros apresentaram à mesma resposta de substituição do pasto pelo suplemento que já foi relatada nos casos de suplemento com concentrado de alto valor nutricional, perdendo o sentido do suplemento como complementação da ausência de nutrientes da pastagem, ou como um elemento na dieta que possibilita o melhor aproveitamento da massa de forragem das pastagens nos momentos em que sua quantidade e qualidade não são satisfatórias, como ocorre nas épocas de estiagem da região Centro-Sul do Brasil.

Esse conjunto de resultados chamou a atenção para alguns pontos importantes que precisam ser avaliados com mais detalhes:

a resposta diferenciada dos cordeiros conforme a época e o nível de suplementação em creep feeding;
a resposta diferenciada conforme a idade e o peso de desmame e recria em pastagens;
a interferência positiva da presença das mães no desempenho dos cordeiros;
a necessidade de melhor definição da curva de desenvolvimento corporal dos cordeiros nos diferentes sistemas, encontrando-se os pesos e a condição corporal ótimos para abate nos sistemas com maior fluxo de energia (confinamento e/ou uso de concentrados) e/ou pastagens;
a possibilidade de alguma alternativa forrageira de melhor qualidade nutricional aos cordeiros em pastagens, com inclusão de leguminosas, por exemplo, visando evitar a presença de uma única espécie forrageira em períodos climáticos críticos.

Adiciona-se, então, mais uma possibilidade de produção de cordeiros em pastagens que são os sistemas em creep grazing, que é a suplementação exclusiva dos cordeiros lactentes com pastagem de melhor qualidade do que está sendo ofertada às mães (Baker, 1996). Na prática isso poderia ser bem representado por leguminosas, como o Arachis (amendoim forrageiro), a alfafa, o trevo e o cornichão.

O projeto em andamento do Grupo de Pesquisa Produção de Ovinos para Carne da Universidade Federal do Paraná está avaliando este sistema com as forrageiras temperadas trevo e cornichão, com previsão de avaliação do amendoim forrageiro para os ovinos e os caprinos nos próximos anos.

Não há relatos de avaliações desse modelo com ovinos e caprinos no Brasil, mas podem ser levantados alguns pontos positivos do mesmo:

1) a utilização de forrageiras de melhor valor nutricional aos cordeiros;
2) a diminuição do acesso dos cordeiros ao leite das mães, diminuindo o desgaste físico das ovelhas e possibilitando melhor recuperação da condição corporal;
3) a diminuição do uso de ração concentrada, com provável redução dos custos com alimentação;
3) se aplica bem às diferentes regiões do país, com a utilização de leguminosas tropicais como o amendoim forrageiro, e leguminosas temperadas, tais como os trevos e o cornichão. O cornichão tem resultado em excelente performance para cordeiros descritos na literatura em países como Austrália e Nova Zelândia, com melhor controle da verminose devido à presença do tanino (BARRY et al., 2001) melhorando inclusive a futura taxa ovulatória das cordeiras em crescimento.

Assim, em conjunto com o aumento do interesse nacional pela Ovinocultura e Caprinocultura e a entrada de material genético de qualidade variada e superior, e ainda com vista aos novos sistemas agroecológicos de produção animal ressalta-se a importância cada vez maior da avaliação de novas alternativas de modelos de alimentação para os caprinos e ovinos para as diferentes espécies forrageiras, nas diversas condições ambientais do Brasil.

Dentro de todos os sistemas estudados, logicamente é fundamental a análise de viabilidade econômica dos mesmos, uma vez que utilizam quantidades bastante diferenciadas de insumos (principalmente ração concentrada). O grupo de pesquisa está produzindo uma planilha econômica para a referida análise, de forma mais completa. Porém, na próxima coluna, abordar-se-ão, de forma simplificada, dados referentes ao consumo e ao custo de alimentação nos sistemas, relacionando-os com os preços da carne do cordeiro praticados no comércio regional.

Para ver a literatura citada, clique aqui.

ALDA LÚCIA GOMES MONTEIRO

Coordena o Laboratório de Produção e Pesquisa em Ovinos e Caprinos (LAPOC) da UFPR

CESAR HENRIQUE ESPÍRITO CANDAL POLI

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NAPOLEAO S. DEQUECH

MAFRA - SANTA CATARINA

EM 30/09/2013

Parabenizo os pesquisadores pela contribuicão aos produtores de ovinos e caprinos,principalmente os pequenos e oas iniciantes desta atividade no sul do Brasil.

A falta de tecnicos e da assistencia veterinaria especializada neste assunto faz com que muitos pequenos produtores desistam de investir nos seus rebanhos.

Não foi abordado ou não relataram nesta pesquisa se é vantagem (ganho em peso e qualidade de carne) a castracão dos cordeiros e se for vantagem qual o melhor sistema e idade dos animais para castra-los?

Napoleão S. Dequech

Cabanha Dequech - Mafra SC.

Ovinos Dorper - PO/ Caprinos Boer.

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