A criação de ovinos muitas vezes é praticada com baixo nível tecnológico e sem o devido suporte de técnicos especializados na área, de forma que pode até ser considerada como hobby para algumas propriedades, especialmente aquelas localizados nas regiões metropolitanas das grandes capitais. Para que o setor possa crescer e aumentar a representação no agronegócio brasileiro, há necessidade de motivação de uma postura empresarial ao criador de ovinos, com uso de critérios técnicos e econômicos para a indicação de uso de itens de tecnologia de produção, com garantia de bons resultados. Além disso, sabe-se que raramente são feitos os controles de finanças das propriedades criadoras de ovinos, com vistas à comercialização da carne como produto, o que também é fundamental, obviamente.
Diante de diversos sistemas de produção de ovinos para carne, propostos às empresas rurais, com criações cuja terminação dos cordeiros ocorre com e sem desmame, em pastagem, com ou sem suplementação, e em confinamento, há necessidade, além dos dados produtivos, da devida análise econômica de cada sistema de produção em particular. Ao deter esse conhecimento, o técnico pode orientar o produtor com embasamento econômico, de modo que o mesmo possa ter ciência da lucratividade que a ovinocultura pode gerar nos seus moldes de produção.
Nesse contexto, o Laboratório de Produção e Pesquisa em Ovinos e Caprinos (LAPOC) da Universidade Federal do Paraná realiza anualmente avaliações de sistemas de terminação de cordeiros em vários modelos produtivos. Análises do resultado econômico dos sistemas estudados foram realizadas a fim de verificar a lucratividade dos mesmos. Além disso, realizou-se a análise de sensibilidade desses sistemas para avaliar o quanto mudanças no mercado podem afetar o resultado econômico da atividade.
A análise de sensibilidade foi proposta por GITMAN (1997). Depois de calculados os custos de produção da atividade, essa análise torna possível verificar como o resultado econômico dos sistemas de produção sofrem efeito da variação de um ou mais dados de custo ou receita. É uma maneira de medir risco, ou seja, verificar se, com pequenas alterações, os sistemas podem se tornar viáveis ou inviáveis, e dessa forma, encontrar maneiras de adequar a questão econômica da atividade.
Nesse contexto, definiram-se três cenários para a simulação dos dados, sendo dois cenários pessimistas e um otimista. Nos pessimistas, fez-se aumento dos custos variáveis em 15% e redução das receitas em 5%. Já no otimista, foi simulado aumento de 15% na receita da atividade.
Os sistemas de terminação avaliados foram:
- terminação de cordeiros desmamados aos 40 dias mantidos em pastagem de azevém;
- terminação de cordeiros desmamados aos 40 dias mantidos em pastagem de azevém com suplementação concentrada (20% PB) em 1% do peso corporal por dia;
- terminação de cordeiros desmamados aos 40 dias mantidos em pastagem de azevém com suplementação concentrada (20% PB) em 2% do peso corporal por dia;
- terminação de cordeiros desmamados aos 40 dias mantidos em pastagem de azevém com suplementação concentrada (20% PB) à vontade (média de consumo foi 3,2% do peso corporal por dia);
- terminação de cordeiros ao pé da mãe em pastagem de azevém;
- terminação de cordeiros ao pé da mãe em pastagem de azevém com creep feeding em 1% do peso corporal dos cordeiros por dia;
- terminação de cordeiros desmamados em confinamento (feno de alfafa e concentrado 20% PB);
- terminação de cordeiros desmamados em confinamento (silagem de milho e concentrado 20% PB).
Os cordeiros foram abatidos quando o peso corporal após o jejum atingiu 32 kg.
Figura 1 - valores da lucratividade (%) da produção de ovinos para carne conforme o sistema de terminação de acordo com variações na receita e no custo variável.
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A. Terminação de cordeiros desmamados em confinamento (feno de alfafa e concentrado 20% PB)
B. Terminação de cordeiros desmamados em pastagem de azevém
C. Terminação de cordeiros ao pé da mãe em pastagem de azevém
D. Terminação de cordeiros ao pé da mãe em pastagem de azevém com creep feeding em 1% do peso corporal dos cordeiros por dia
E. Terminação de cordeiros desmamados em confinamento (silagem de milho e concentrado 20% PB)
F. Terminação de cordeiros desmamados mantidos em pastagem de azevém com suplementação concentrada (20% PB) em 1% do peso corporal por dia
G. Terminação de cordeiros desmamados mantidos em pastagem de azevém com suplementação concentrada (20% PB) em 2% do peso corporal por dia
H. Terminação de cordeiros desmamados mantidos em pastagem de azevém com suplementação concentrada (20% PB) ad libitum (média 3,2% peso corporal por dia).
Começando nossa discussão pela avaliação do sistema de terminação em confinamento (cenários A e E na figura 1), que diferiu somente na dieta (feno ou silagem), revelou que esse foi o sistema que apresentou maior sensibilidade às mudanças no mercado, sejam elas em relação à receita ou ao custo de produção. Nota-se que, quando a dieta foi com base em feno de alfafa e concentrado, nem com o aumento em 15% nas receitas houve lucratividade; já, com dieta com base em silagem de milho observou-se 4,3% de lucratividade. Isso enfatiza a importância da participação da dieta no custo total de produção, ou seja, dietas caras podem inviabilizar a atividade produtiva. Dessa forma, há necessidade de conhecer diversas matérias primas e preços da região para formular dietas com qualidade, porém com menor custo, garantindo bom desempenho dos animais. No caso dos cenários pessimistas, a situação fica ainda pior, já que ambos os confinamentos geravam prejuízo em situação normal de preços do produto carne de cordeiro.
A análise dos sistemas de terminação de cordeiros desmamados e mantidos em pastagem até o abate (B, F, G na figura 1) revelou que não houve lucro nesse sistema. O principal motivo foi a alta mortalidade dos cordeiros, que chegou a 20% para cordeiros terminados em azevém, sem suplementação, aliado ao baixo rendimento de carcaça. Dessa forma, apesar do custo de produção ter sido o menor que nos demais sistemas, a receita foi também menor e, conseqüentemente, houve prejuízo. Quando se realizou suplementação com ração concentrada dos cordeiros desmamados e mantidos em pastagem, na tentativa de melhorar a dieta e fornecer mais condições ao cordeiro para apresentar melhor desempenho e reduzir a mortalidade, obtiveram-se melhores resultados que com os não suplementados, mas mesmo assim ainda houve prejuízo. Com aumento da receita em 15% foi possível transformar o resultado econômico de prejuízo para lucro. Isso enfatiza a necessidade de alta eficiência no processo produtivo para produzir cordeiros desmamados terminados em pastagem, mesmo nas pastagens de alta qualidade e alta oferta, como foi o caso desse estudo. A terminação de cordeiros após o desmame em pastagem poderia apresentar melhor resultado, se o peso de abate fosse maior, o que pode permitir maior tempo para melhorar as características da carcaça e aumentar a receita.
Notou-se que, a estratégia de suplementar os cordeiros com ração concentrada em pastagem melhorou o resultado econômico, conforme aumentou a quantidade diária ofertada. Entretanto, somente com suplementação à vontade (valores de consumo diário em 3,2% do peso corporal) foi possível a obtenção de lucro, pois apesar do cordeiro ingerir mais concentrado por dia, a quantidade total ingerida durante a terminação foi menor do que com 2% de suplementação devido ao menor tempo necessário para atingir o peso de abate. Esse resultado é importante, pois o sistema permite obtenção de carcaças bem acabadas, a mortalidade é reduzida, o tempo de terminação é menor e, principalmente, o custo é reduzido pelo fato de não haver necessidade de instalações para os cordeiros, que continuam a campo. Além disso, esse sistema permite maior número de animais por área e desocupação mais precoce da pastagem para outras atividades, como por exemplo, o rebanho de ovelhas que necessitem de flushing em um sistema acelerado de parição.
Com relação aos sistemas sem realização de desmame (C, D na figura 1), esses apresentaram lucro em cenário normal. O uso da suplementação em creep feeding a partir de 60 dias de vida dos cordeiros gerou maior custo com alimentação e instalações, e esse custo extra não foi coberto pelo aumento da receita. Esse sistema apresentou prejuízo nos cenários pessimistas propostos na simulação. Foi mais viável desmamar os cordeiros e fornecer suplementação à vontade, do que usar o creep feeding da forma como o mesmo foi feito. Respostas melhores poderiam ser obtidas se o creep feeding fosse empregado mais cedo, como normalmente deve ocorrer (início ao redor de 15 dias, por exemplo).
O sistema de cordeiros terminados ao pé das mães em pastagem em alta oferta de forragem (mais de 12% de oferta) sem nenhum tipo de suplemento, nem ao cordeiro nem às mães, foi o que apresentou o melhor resultado econômico. Mesmo nas situações menos favoráveis (cenários pessimistas), esse sistema foi capaz de gerar lucro. Dessa forma, foi mais seguro investir nesse tipo de terminação. Esse resultado garante que, mesmo em anos mais desfavoráveis, nos quais alguns insumos aumentem de preço ou que caia o preço da carne do cordeiro, o sistema tem condições de sobreviver, pois não ocorre prejuízo; apenas deve ocorrer diminuição da receita, ou o prejuízo é bem pequeno e pode ser superado em anos posteriores.
Cabe salientar que os resultados aqui apresentados foram gerados em Pinhais, região metropolitana de Curitiba-PR, em uma única propriedade. Deve-se tomar cuidado na interpretação dos mesmos, já que em outras situações os resultados econômicos podem ser alterados, em função de vários fatores. No caso do confinamento, a alteração da dieta foi responsável por grande mudança nos resultados econômicos e isso deve ser levado em consideração. Além disso, o uso de instalações mais simples e baratas pode reduzir o custo de produção.
Assim, nos moldes de produção estudados, executados desde 2002 no LAPOC-UFPR, foi considerado mais viável terminar os cordeiros ao pé das mães em pastagem de alta oferta. No caso, a segunda opção favorável nas análises realizadas, seria a realização do desmame dos cordeiros com fornecimento de suplemento concentrado protéico à vontade, também no pasto.
Referências
GITMAN, L. J. Princípios de administração financeira. 7. ed. São Paulo: Harbra, 1997. 781 p.
SEABRA, L. Ovelhas no pasto, dinheiro no bolso. Secretaria de Comunicação da Universidade de Brasília. 2004. Disponível em: