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A "bolha"

POR OCTÁVIO ROSSI DE MORAIS

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 27/01/2009

3 MIN DE LEITURA

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Tenho pensado muito sobre as coisas que falo e escrevo a respeito do melhoramento de ovinos no Brasil. Às vezes acho que estou malhando em ferro frio, às vezes acho que tenho a missão de continuar tentando educar e às vezes acho que estou redondamente enganado.

A história nos mostrou que o modelo produtivista estava errado. A idéia de que os melhores animais eram aqueles que produziam mais foi amplamente divulgada nas décadas de sessenta e setenta do século XX. Os técnicos daquela época aprenderam, principalmente nos Estados Unidos, que a produtividade era o foco. Assim divulgaram as raças mais produtivas como as mais importantes, ensinando como manejar, alimentar, alojar e explorar esses animais para a máxima produção. O produtor teve fé, acreditou e adotou técnicas totalmente diferentes daquelas às quais estava acostumado, aumentou a produção e a produtividade de seus rebanhos e lavouras, mas... (tem sempre um "mas" no caminho) não aumentou sua lucratividade. De fato muita gente perdeu dinheiro com as novas tecnologias e raças importadas.

Muitos técnicos e produtores ainda estão presos às idéias produtivistas, mas hoje acreditamos que o correto é focar o lucro. A seleção de animais deve ser baseada no lucro que ele pode propiciar ao produtor. Animais e técnicas com maior potencial para gerar maior produção têm dado lugar para aqueles que potencializam o lucro. O melhoramento genético tem que focar esta capacidade nos animais. Acredito que o caminho é esse, pois o produtor não vive de cordeiros, de lã, de pele ou de leite, vive como qualquer outro cidadão de nossa sociedade atual: de dinheiro. Aí é que eu começo a achar que eu estou redondamente enganado. Não sobre o que já comentei, mas pensando no que ocorre hoje no Brasil.

Pois bem, o objetivo é ganhar dinheiro? Sim, parece que é. Então estou mesmo errado. Quem ganha dinheiro com ovinos nesse país? Poucos são os que conseguem lucrar com a produção, os que lucram mesmo são os que, digamos, aproveitam as oportunidades. O mercado de reprodutores e matrizes de raças que estão na moda, os leilões de animais "puros", a venda de sêmen de campeões e embriões de campeãs dos concursos de beleza, os materiais de trabalho e os suplementos alimentares de grife e o status relacionado a tudo isso, esses sim, rendem bons lucros. Quem imagina um reprodutor horroroso, mas com ótima DEP para características de interesse econômico, na capa de um catálogo de sêmen?

Assim, é muito difícil convencer o produtor a fazer anotação zootécnica, a fazer a anotação econômica, a não se preocupar com "pureza" racial, a procurar programas sérios de melhoramento. O que ele vê todo dia são aventureiros se dando bem e colegas produtores trabalhando como loucos e lucrando muito pouco. Os poucos que podem, querem logo se juntar à patota para ver se fazem algum dinheiro.

Mas, pensando bem, acho que estamos vivendo uma experiência muito educativa. A tão aclamada crise financeira mundial, que os jornais fazem tanta questão que nos atinja com a maior força possível, surgiu de uma famigerada bolha. Ora, o que vinha a ser essa tal bolha? A bolha era um excesso de confiança nas economias dos países, o que gerava um alto otimismo e um mercado financeiro agitadíssimo, flutuando sobre essa bolha de confiança, que cresceu, cresceu, até estourar. Por que estourou? Porque a bolha não era de material resistente, não foi gerada na produção, mas na especulação.

Não sou economista e não quero me aprofundar nas bobagens que posso estar escrevendo, mas a verdade é que estamos cada vez mais encrencados por tentarmos crescer sem produzir. No dia em que os compradores desconfiarem de que há algo de estranho com esse mercado onde há reprodutores a venda a preços elevadíssimos, mas não há cordeiro para consumir, paradoxalmente não há compradores de cordeiros, o preço da carne é muito alto para o consumidor, porém é baixo para o produtor, entre outras incongruências, estaremos no limiar do estouro da bolha, e aí não teremos governo para nos prestar socorro.

OCTÁVIO ROSSI DE MORAIS

Melhoramento Genético de Caprinos e Ovinos - Embrapa

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DIEGO MONTENEGRO SAMPAIO E SILVA

SALVADOR - BAHIA

EM 05/05/2009

Meus parabens, Dr. Octávio!

Em poucas palavras você conseguiu resumir um sem número de verdades.

Recentemente visitei uma fazenda especializada em produção de Gir Leiteiro de elite, e saí de lá fazendo muitos questionamentos que se coadunam com o seu posicionamento. Por que razão produzir animais tão caros, com recordes de produção de leite, se não é viável adquirí-los e mantê-los para a produção de leite propriamente dita? Por que motivo são produzidos e comercializados animais tão caros se, para a finalidade produtiva, eles não se prestam? Alimentar as vaidades dos criadores? Até quando essa bolha resistirá?

Afora isso, é evidente que esses animais de elite, resultantes de melhoramentos genéticos, são comercializados sempre entre as mesmas poucas pessoas que participam desse mercado de grife. Se, para esses melhoramentos, são utilizados os reprodutores e matrizes resultantes dos animais premiados, não vejo como escapar da consaguineidade no caminho para o topo da evolução genética. É outro problema a ser enfrentado pelo mercado especulativo.

Por outro lado, será que há como recriminar aqueles que vivem da especulação, já que a atividade produtiva exige muito mais trabalho e tem lucratividade bastante menor em relação àquela?

Me parece que estamos diante de um grande problema, sobretudo de natureza institucional (falta de incentivo à produção de alimentos), cuja solução, se é que existe, só começará a acenar quando essa grande bolha estourar.
OCTÁVIO ROSSI DE MORAIS

SOBRAL - CEARÁ - PESQUISA/ENSINO

EM 12/03/2009

Obrigado ao Samuel e ao Fernando pelos comentários. Samuel, a história é essa, não tem milagre não e nossa luta pela ovinocultura é de longo prazo...
SAMUEL PINHEIRO FERREIRA

BELO HORIZONTE - MINAS GERAIS - ESTUDANTE

EM 21/02/2009

Gostei muito do que eu li, mas ao mesmo tempo fico receoso.

Sou estudante de veterinária e até entao tenho focado meu curso para o setor de ovinocultura, depois de ler tudo isso tenho respondido varias duvidas que sempre tive em relação a ovinocultura no Brasil e principalmente em Minas Gerais.

Parabens Otávio pelo artigo
FERNANDO MARQUES

MARACAJÚ - MATO GROSSO DO SUL - PRODUÇÃO DE OVINOS

EM 20/02/2009

Eu só tenho à agradecer por tantas verdades que vocês falou e que todos que leram esse artigo, tanto os pequenos produtores como os grandes, que sirva de lição para nós todos.
OCTÁVIO ROSSI DE MORAIS

SOBRAL - CEARÁ - PESQUISA/ENSINO

EM 10/02/2009

Obrigado Márcio, Anisio, Mário Sérgio, Lourival e Waldemar pelos comentários.

Aqui em Minas tentamos nos organizar em uma cooperativa de produtores, a Procordeiro. Estamos há 5 anos no mercado, mas os problemas se avolumam (falta de espírito cooperativista) e temos cada vez mais dificuldade em ter cordeiros para abate.

Por outro lado, vemos muita gente dizer que parou de criar porque não tinha para quem vender. Parece que realmente não há interesse em desenvolvimento da ovinocultura como atividade de produção. Assim, vamos criando carneiros como se fossem cavalos ou cachorros.
WALDEMAR GERTNER

TUCANO - BAHIA - PRODUÇÃO DE CAPRINOS DE LEITE

EM 10/02/2009

Caro Dr. Otavio! Parabens pelo artigo, sabemos o que fazer da porteira pra dentro, corrigindo diariamente as imperfeições, mais da porteira pra fora não depende mais de nós e não existe união entre os produtores e não existe planejamento do conjunto da cadeia produtiva.
LOURIVAL SILVEIRA DO COUTO

TOCANTINS

EM 02/02/2009

Como "bons compradores" de "tudo" que vem de fora, nosso sistema de produção e comercialização se assemelha a uma pirâmide invertida.

Será que no Brasil não é possível criar e abastecer o mercado interno (pelo menos)???? Como se explica a enorme importação de carne ovina do Uruguai etc... Não só o mercado de ovinos, mas na agropecuária em geral se pode assistir, ler pela imprensa especializada ou não; os investimentos feitos em animais de elite em detrimento dos rebanhos que realmente poderiam abastecer o mercado interno. Nada contra o melhoramento, absolutamente; mas contra "a bolha" é preciso muito cuidado!!

Dr. Octávio, parabéns pela matéria.
MÁRIO SÉRGIO WANDERLEY

PENÁPOLIS - SÃO PAULO

EM 30/01/2009

Que bom saber que não estamos sós, que há alguém que vê a realidade da mesma forma.

Impressiona na ovinocultura o excesso de holofotes e a escassez de bom senso. O produtor é levado a comprar reprodutores (um para cada 50 matrizes!! e não pode cobrir filha!! tem que trocar a cada ano e meio!!!) ou ovelhas de valor exagerado-estratosférico, e, depois de um tempo, cai na real: a atividade é pouco lucrativa. E o que vemos? Muitos abandonam a ovinocultura de corte ou partem para o tal "rebanho de elite com um bom pai de cabanha"... e entram também para o centro dos holofotes.

Será esse o caminho? Possuir, cada um de nós, apenas um punhadinho de matrizes de elite? Vai ter lugar na pista pra todo mundo?


ANISIO FERREIRA LIMA NETO

TERESINA - PIAUÍ - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 27/01/2009

Excelente explanação, necessitamos formar um pensamento comum com vistas viabilizar economicamente os sistemas de produção na ovinocaprinocultura, e isto se faz equilibrando estes em suas realidades, seu texto demonstra claramente esta procupação e a necessidade de que muitos criadores abram o "olho", pq senão seremos esmagados e o governo não nos socorrerá, pois não somos "bancos".
MÁRCIO MARTINS FERREIRA

BARRETOS - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE OVINOS

EM 27/01/2009

Caro Otávio

Excelente explanação sobre a situação atual não só da ovinocultura, mas também da agropecuária brasileira, me faz lembrar meus tempos de estudante de Zootecnia em Uberaba-MG, onde escutamos uma HISTÓRIA, de que o Presidente da República Getúlio Vargas ao visitar a exposição de Uberaba, e um pecuarista criador de zebú (indubrasil) avaliva o seu gado pelo tamanho da orelha, pergunta ao presidente quanto vale o novilho que estava a sua frente pois o mesmo tinha 38 cm de orelha.

O presidente responde de imediato "Ele vale o quanto pesar na balança", neste momento se dá a maior quebradeira no mercado de gado zebuíno no Brasil e acredito que começa o verdadeiro melhoramento genético. O produtor precisa ver modernidade não no pasto de sua fazenda mas sim no resultado do seu fluxo de caixa.

Saudações

Márcio
OCTÁVIO ROSSI DE MORAIS

SOBRAL - CEARÁ - PESQUISA/ENSINO

EM 27/01/2009

Obrigado Camila e Luiz Carlos, pelos comentários. Ainda bem que não estamos sozinhos remando contra essa maré. Apesar de estar ficando cansado prefiro morrer afogado que ser levado por ela... Só acredito na agropecuária para a geração de produtos de consumo e para a sobrevivência (com qualidade de vida) do produtor. A agropecuária de especulação não pode nos conduzir a um futuro promissor.
LUIZ CARLOS NUNES DOS SANTOS

SALVADOR - BAHIA - PRODUÇÃO DE OVINOS

EM 27/01/2009

Bonita e cônscia argumentação.
É cruel que iniciantes, apaixonados, dedicados e atenciosos como eu, fiquem refêns d´uma parafernalha de informações, muitas vezes desncessárias, e afobados com a genética de níveis inatingíveis. Concordo: em quaisquer níveis de atuação, não existe sucesso sem lucro. Tá na hora de pensarmos na produção com lucratividade; no cordeiro no prato!!!
CAMILA RAINERI

LEME - SÃO PAULO

EM 27/01/2009

Caro Dr. Octávio,

Se o senhor estiver redondamente enganado, não estará sozinho! Concordo plenamente com o senhor. Se o nosso mercado não crescer sobre bases sólidas, o futuro pode ser negro...

Por este motivo, compartilho da sua preocupação e, ao mesmo tempo que penso que a ovinocultura no Brasil pode e merece ter um futuro brilhante, temo pela viabilidade econômica da atividade para aqueles que, como eu, tentam viver de ovinos.

Tudo o que podemos fazer é continuar contando os centavos em cada etapa da produção, e buscando a eficiência nos nossos rebanhos comerciais. Gosto de pensar que é exatamente nos momentos mais difíceis que encontramos as soluções mais criativas e criamos as "tecnologias" mais adequadas para a nossa realidade.

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