Em nosso artigo anterior analisamos sucintamente os efeitos imediatos da crise financeira global sobre o mercado doméstico da carne ovina brasileira, concluindo que, até então, os efeitos da crise ainda não tinham sido sentidos no mercado interno, uma vez que os preços e a demanda encontravam-se em patamares elevados.
No entanto, as reações subseqüentes da crise sobre o sistema agroindustrial brasileiro da carne ovina ainda não poderiam ser elucidadas, de forma a gerar alguma insegurança e baixa nas perspectivas sobre o setor.
Assim, com base nas informações disponíveis após a economia brasileira passar pela fase mais conturbada da crise, é possível ter uma noção mais clara da situação atual da carne ovina no mercado doméstico.
2. Preços
No decorrer dos últimos 8 anos têm-se evidenciado um processo sólido de valorização da carne ovina no mercado doméstico, por meio do crescimento linear nos preços nominais do cordeiro, tendo-se como referência a praça de Feira de Santana (Bahia), como apresentado no Gráfico 1 e já comentado em artigos anteriores.
Gráfico 1. Evolução do preço do cordeiro, quilo carcaça.
Esse fortalecimento no valor das cotações tem impulsionado os preços para patamares cada vez mais elevados, ano após ano, de forma que neste primeiro semestre de 2009 os valores médios para o cordeiro fecharam com alta de 13 pontos percentuais em relação ao mesmo período de 2008, como demonstrado no Gráfico 2.
Gráfico 2. Índice semestral de preço do cordeiro (2008=100).
Seguindo o clássico modelo econômico de oferta e demanda, da relação existente entre ambas e considerando a alta de 13% no preço nominal do cordeiro, é possível concluir que a demanda doméstica nas capitais e grandes centros urbanos do país segue firme, sustentando os preços em níveis crescentes e altamente favoráveis ao setor produtivo.
3. Produção
Conjuntamente a uma alta nos preços médios para o cordeiro doméstico, observa-se (Gráfico 3) também um crescimento de 28,9% no volume de abates de ovinos sob inspeção federal, alcançando um nível de 158,3 mil cabeças, o que incrementa a produção doméstica para 2009 e dá continuidade ao processo de aumento na produção formal observado nos anos anteriores.
Gráfico 3. Índice semestral de abates (2008=100).
Caso o volume de abates mantenha o crescimento médio de 28,9 pontos percentuais até o final de 2009, o Brasil poderá alcançar sua maior produção formal desde 2002, o que seria mais um indicativo do aquecimento do mercado da carne ovina, assim como, da solidez da demanda doméstica.
4. Importações
Ao nível das importações, os índices ficaram abaixo daqueles alcançados no primeiro semestre de 2008, havendo uma queda significativa tanto no volume quanto no valor das importações. Esse fato, embora possa dar a falsa impressão de que o consumo doméstico tenha enfraquecido, se justifica pelo desaquecimento na produção ovina do Uruguai - o principal fornecedor para o mercado interno brasileiro, bem como por uma retração marcante nos valores da maioria dos produtos ovinos uruguaios, considerando o mesmo período do ano e de acordo com a Tabela 1.
Gráfico 4. Índice semestral das importações de produtos cárneos ovinos (2008=100).
Nesta análise pontual, é preciso considerar que o rebanho ovino do Uruguai vem sofrendo um processo continuo de redução do seu efetivo de cria, com altas taxas de abate, porém já com algumas restrições a nível de capacidade de fornecimento, o que comprometeria seriamente o abastecimento do mercado interno a médio prazo, mesmo com os preços dos produtos uruguaios se mantendo em valores históricos bastante atrativos e o dólar em patamares tão favoráveis às importações, em relação ao mesmo período de 2008.
Tabela 1. Valores FOB para produtos cárneos ovinos uruguaios, semestre.
4. Considerações finais
Apesar de todos os problemas ocasionados e subseqüentes à crise financeira global no mercado internacional da carne ovina, tais eventos foram pouco sentidos no mercado doméstico brasileiro, considerando a alta nos preços e na produção, embora com uma redução significativa no volume das importações uruguaias.
Dessa forma, o mercado interno se mantém aquecido, com uma demanda firme e crescente, sustentando o SAG brasileiro da carne ovina no mesmo caminho próspero, de desenvolvimento e expansão, iniciado no começo dessa década e alavancado nos últimos anos em todas as regiões do país.
Bibliografia consultada
MAPA. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Secretária de Defesa Agropecuária - Serviço de Inspeção Federal. Disponível em:
MDIC. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Secretaria de Comércio Exterior - ALICE Web. Disponível em: