Então vamos apresentar o que obtivemos a respeito do custo de produção para 600 matrizes:
Relembrando os módulos que foram apresentados:
1 Cordeiros terminados ao pé da mãe em pastagem, sem o desmame.
2 Cordeiros desmamados precocemente (45 dias) mantidos em pastagem e suplementados com concentrado com 20% PB em 2% do seu peso por dia.
3 Cordeiros desmamados precocemente (45 dias) mantidos em pastagem e suplementados com concentrado com 20% PB à vontade.
4 Cordeiros desmamados precocemente (45 dias) e confinados em aprisco suspenso com dieta composta por 60% de silagem de milho e 40% de concentrado com 20% PB.
A pastagem utilizada foi de Tifton 85 e azevém no inverno.
Vamos detalhar os custos obtidos nos módulos e comparar com 150 ovelhas que já foi apresentado anteriormente.
Alimentação, Pastagem e Medicamentos
Os gastos com esses dois itens sofreram aumentos proporcionais com o número de animais. No entanto, o aproveitamento da pastagem foi melhor em cerca de 20%.
Desses três itens, o que promoveu mesmo a diferença entre esses sistemas foi a alimentação. Observe que o menor custo foi observado no sistema de terminação de cordeiros ao pé da mãe, já que para esses, o custo com alimentação dos cordeiros foi apenas o pasto, eles não foram suplementados. Nos demais sistemas foi o concentrado ofertado aos cordeiros o responsável pela elevação no custo.
Gráfico 1. Gastos em reais com alimentação, pastagem e medicamentos nos quatro sistemas de terminação de cordeiros.
Conservação e reparos/Depreciação
Não houve muita diferença na quantidade de máquinas e equipamentos necessários. O item que mais influenciou no aumento desse custo de conservação foi a cerca. Como a área foi maior que a necessária para 150 animais, houve necessidade de mais cerca para a área, o que foi responsável pelo aumento do custo.
O mesmo ocorreu para a depreciação, já que a mesma incide sobre os mesmos itens.
Veja que a diferença principal entre os sistemas ocorre no confinamento. Nesse sistema há necessidade de instalação para manutenção de cordeiros, o que encarece, lembrando que nesse caso temos cerca de 680 cordeiros a serem terminados.
Gráfico 2. Gastos em reais com conservação e reparos de máquinas, equipamentos e benfeitorias, e com depreciação dos referidos itens além da pastagem.
Mão-de-obra
Tem grande importância na formação do custo de produção. Quanto mais otimizada e eficiente for a mão-de-obra, menos funcionários serão necessários, o que tem impacto no custo de produção. Nos moldes como foram feitos os sistemas houve necessidade de mais um funcionário para 600 ovelhas em relação à 150, o que dobrou o custo. Além da mão-de-obra permanente, algumas contratações diárias eventuais foram realizadas para auxiliar em algumas atividades.
O sistema de terminação não influenciou no valor da mão-de-obra nos módulos como foram realizados.
Gráfico 3. Gastos em reais com mão-de-obra permanente e temporária nos quatro sistemas de terminação de cordeiros.
Impostos e taxas
Sofreram aumento proporcional, pois ao aumentar o volume produzido os impostos pagos também aumentaram. Houve diferença na mortalidade de cordeiros, sendo que nos sistemas 1 e 4 morreram sete animais a mais que nos sistemas 2 e 3. Portanto, os sistemas com menos animais produzidos geraram menos impostos.
Gráfico 4. Valores em reais referentes à juros sobre o capital de giro e custo de oportunidade do capital investido em terras, benfeitorias, máquinas, equipamentos e rebanho.
Juros e Custo de oportunidade do capital investido
Como o capital investido e o capital de giro foram maiores para manter o módulo de 600 ovelhas, os juros sobre o capital também foi maior.
Gráfico 5. Valores em reais referentes à juros sobre o capital de giro e custo de oportunidade do capital investido em terras, benfeitorias, máquinas, equipamentos e rebanho.
Demais custos
Também aumentaram os gastos com a energia elétrica com relação ao módulo de 150 ovelhas porque o consumo foi maior. O confinamento exigiu gasto um pouco maior devido ao uso de lâmpadas e lavagem do aprisco, mas sem muito efeito no custo total.
Como foram descartados mais animais, o custo de compra de novos animais aumentou. Entretanto, entre os sistemas não houve diferença.
O imposto(ITR) foi o igual em todos os sistemas, já que a área em questão era do mesmo tamanho.
As despesas gerais foram calculadas com base no percentual sobre o custo variável, portanto, quanto maior o custo variável, maior as despesas gerais.
Custo total de produção nos sistemas
Nos gráficos abaixo pode-se verificar os componentes do custo em cada sistema. Observe que em todos os sistemas os custos mais importantes são: alimentação, juros e custo de oportunidade do capital investido e mão-de-obra.
Gráfico 6. Composição do custo total de produção do sistema 1.
Gráfico 7. Composição do custo total de produção do sistema 2.
Gráfico 8. Composição do custo total de produção do sistema 3.
Gráfico 9. Composição do custo total de produção do sistema 4.
O resumo do custo total de produção em cada sistema pode ser observado no gráfico abaixo. Observe que o confinamento foi o sistema "mais caro", com um custo anual 40% maior que o sistema de mais baixo custo (cordeiros ao pé da mãe em pastagem).
Gráfico 10. Custo total de produção para um ano nos quatro sistemas.
Ressalta-se que os dados apresentados neste trabalho tiveram como base o sistema produtivo adotado e executado no LAPOC-UFPR, localizado em Pinhais, região metropolitana de Curitiba, PR, tendo a produção de cordeiros como única atividade. Esses valores não devem ser extrapolados para outras propriedades, já que cada uma tem suas particularidades (valor da terra, benfeitorias, outras atividades agropecuárias) e exige a realização de cálculos específicos.
Neste estudo, o sistema de terminação sem desmame dos cordeiros apresentou melhor retorno econômico, assim como ocorreu para 150 ovelhas. Dessa forma, mudanças em alguns custos podem facilmente mudar o cenário aqui apresentado, o que é bastante interessante.
Com base nesse custo de produção para um módulo de 600 matrizes, no próximo artigo apresentaremos os resultados obtidos: receitas, margens, lucratividade, entre outros indicadores.
Referências bibliográficas
BARROS, C.S.; MONTEIRO, A.L.G.; PRADO, O.R. CUSTARE.1 CD-ROM. custare@gmail.com.
CANZIANI, J. R. F. Uma abordagem sobre as diferenças de metodologia utilizada no cálculo do custo total de produção da atividade leiteira a nível individual (produtor) e a nível regional. In: SEMINÁRIO SOBRE METODOLOGIAS DE CÁLCULO DE CUSTO DE PRODUÇÃO DE LEITE, 1., 1999, Piracicaba. Anais... Piracicaba: USP, 1999.