ESQUECI MINHA SENHA CONTINUAR COM O FACEBOOK SOU UM NOVO USUÁRIO
FAÇA SEU LOGIN E ACESSE CONTEÚDOS EXCLUSIVOS

Acesso a matérias, novidades por newsletter, interação com as notícias e muito mais.

ENTRAR SOU UM NOVO USUÁRIO
Buscar

A União Européia e o mercado da carne ovina

POR DANIEL DE ARAÚJO SOUZA

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 04/12/2007

7 MIN DE LEITURA

0
0
1. Introdução

A União Européia (UE-27)1 é o mercado mais importante quando nos referimos ao comércio internacional de carne ovina, sendo um grande centro produtor, importador e consumidor, e por esse motivo, é um mercado que apresenta uma crucial participação no balizamento de preços e nas estratégias produtivas e comerciais dos maiores players internacionais.

Quaisquer mudanças na esfera política, econômica e/ou sanitário, a exemplo da recente reforma da Política Agrícola Comum (PAC) e dos surtos de Língua Azul e Febre Aftosa, possuem um efeito marcante que rege o ritmo e as tendências no mercado internacional da carne ovina.

2. Rebanho

O efetivo ovino na União Européia, contando com seus atuais 27 estados membros, apresentou uma queda continua nos últimos 10 anos, de acordo com o Gráfico 1.

Gráfico 1. Evolução do efetivo ovino da UE-27, em milhões de cabeças.


Os maiores efetivos se encontram no Reino Unido e Espanha, que juntos detêm cerca de 52% da população ovina. Apesar da França, Grécia e Itália apresentarem números bem inferiores, estes ainda são significantes. No entanto, nos últimos dois países o rebanho é particularmente orientado para a produção de leite e derivados, com a produção de carne vinculada ao comércio de cordeiros leves (peso de carcaça < 13 kg).

Os rebanhos dos principais produtores, a exemplo do Reino Unido, Espanha, França e Irlanda, decresceram no decorrer dos anos, porém em ritmos diferentes, e não há perspectivas de recuperação, uma vez que, atualmente, a tendência de queda persiste.

O surto de febre aftosa que atingiu o Reino Unido, o maior produtor e exportador da UE-27 e alguns outros países europeus em 2000 afetou drasticamente o setor ovino, devido às medidas sanitárias e às limitações comerciais, ocasionando uma redução de quase 10% no efetivo entre 2000 e 2002. Além disso, a ocorrência de surtos de Língua Azul na região da Península Ibérica a partir de 2004, e mais recentemente no norte da Europa, juntamente com novos surtos de Febre Aftosa em 2007, acentuaram ainda mais os efeitos negativos sobre a produção, comércio e consumo europeus.

Dentre os novos 12 membros da União Européia, apenas alguns países, a exemplo da Hungria, Bulgária e Romênia, possuem efetivos significantes, e apenas os dois primeiros, apresentam alguma capacidade produtiva para exportação. Porém, apenas a Hungria, República Checa, Estônia e Letônia, apresentam uma situação estável não-decrescente com relação a seus rebanhos. Dessa forma, a UE-27 é a única região do mundo onde o rebanho decresce regularmente, mesmo com o reforço dos novos Estados Membros.

3. Produção

No mercado europeu, a produção (Gráfico 2), após um período de queda mais acentuada, vem se mantendo relativamente estável nos últimos anos.

Gráfico 2. Produção de carne ovina da UE-27, em milhões de toneladas.


Os maiores produtores da UE-27 são Reino Unido e Espanha, responsáveis, por mais de 52% da produção regional. Por sua vez, a Espanha é um dos poucos países da região onde o efetivo ovino tem se mantido relativamente estável, apesar de apresentar uma tendência de retração nos últimos anos, especialmente com o agravamento da crise causada pela Língua Azul. Entre os produtores secundários, a França é aquele em que se têm registrado decréscimos constantes da produção, juntamente com a Irlanda, nas últimas duas décadas.

De qualquer forma, a produção de carne ovina na UE-27 permanece com uma tendência decrescente para os próximos anos, esperando-se uma queda de 5% para 2007, com uma dependência cada vez maior das importações para atender seu mercado interno, principalmente, devido às reformas realizadas em 2003 na PAC, que determinaram a completa ou parcial desvinculação do pagamento anual dos subsídios ao volume de produção e/ou ao número de ovelhas, resultando em uma maior retração do rebanho e da produção, uma vez que, os produtores receberão um pagamento único sem a necessidade de produzir qualquer volume a mais ou de ter um determinado número de ovelhas, a depender do tipo de desvinculação (completa ou parcial).

De acordo com as informações disponíveis, muitos países, a exemplo do Reino Unido, Itália, Alemanha e Irlanda, estão optando pela completa desvinculação, enquanto outros como Espanha, Grécia, França, Portugal, Dinamarca e Finlândia decidiram por desvincular apenas 50% dos subsídios.

Mudanças já são evidentes no Reino Unido e Irlanda, onde houve um aumento de 8,7% e 10,4%, respectivamente, na quantidade de animais abatidos no período 2003-2006, em decorrência dos ajustes realizados nos rebanhos após a remoção do prêmio ovino, com grande impacto sobre o rebanho de cria. No entanto, em 2007, o volume de abates deve cair 4%, devido aos problemas sanitários e à redução da população ovina.

4. Comércio

Os países da UE-27 apresentam um volume considerável de exportações, no entanto, geralmente estão limitados ao comércio intracomunitário, sendo que os maiores vendedores são o Reino Unido, Irlanda, Bélgica, Espanha e Holanda. Somado a isso, estima-se que o volume de carne ovina exportada para fora da Comunidade se estabilize na ínfima quantidade de 4 mil toneladas pelos próximos 5 anos.

As importações européias (Gráfico 3) têm oscilado em decorrência da produção doméstica e dos eventos sanitários na Comunidade. Embora quase 32% da carne ovina que entra nos Estados Membros seja fruto do comércio intracomunitário, o mercado europeu importa de países terceiros uma quantidade equivalente a 20% do seu consumo, sendo que cerca de 84% desta é fornecida pela Nova Zelândia, enquanto que o restante é dividido entre Argentina, Austrália, Uruguai e Chile.

Gráfico 3. Volume importado de carne ovina pelos Estados Membros (UE-27), em mil toneladas.


Em 2006, as importações de países terceiros aumentaram 2%, no entanto, foram insuficientes para compensar a queda na produção doméstica, o que reduziu levemente o consumo. Porém, a fim de atender a demanda dos novos países membros, a cota neozelandesa aumentou em cerca de 1,1 mil toneladas, totalizando 228,7 mil toneladas, quase 82% da cota total.

Projeções recentes da Comissão Européia, para 2012, indicam que a UE-27 terá uma queda na produção de 1,1% e aumento de 1,2% nas importações de carne ovina. No entanto, tais projeções, não parecem considerar apropriadamente os efeitos negativos da reforma da PAC sobre a indústria ovina européia, o que se tornaria mais evidente a partir de 2006. De qualquer forma, o volume importado tende a se estabilizar ao nível das cotas existentes ou aumentar levemente em resposta a algum acordo de acesso ao mercado concedido a alguns fornecedores externos.

5. Consumo

Em termos de consumo (Gráfico 4), a UE-27, com 1,33 milhões de toneladas em 2005, é o segundo maior consumidor mundial de carne ovina, logo depois da China. Porém, em decorrência da redução na produção e da limitação dos países terceiros para contrabalancear a demanda européia, o consumo de carne ovina tende a cair 0,7%, ocorrendo a estabilização do consumo per capita em torno de 2,8 kg/hab/ano, pelos próximos 5 anos. Ao mesmo tempo, a demanda por carne ovina nos novos Estados Membros é extremamente baixa e não tende a se desenvolver a médio prazo, uma vez que, o consumo per capita nesses países é de aproximadamente 0,4 kg/hab/ano.

Gráfico 4. Consumo de carne ovina na UE-27, em milhões de toneladas*.


*Os números se referem à carne ovina e caprina.

6. Perspectivas e considerações finais

A União Européia tende a retrair ainda mais o seu efetivo ovino, limitando sua capacidade produtiva, como conseqüência da desvinculação total dos subsídios em alguns importantes países produtores, como Reino Unido e Irlanda, assim como, devido à ocorrência recente de problemas sanitários. Além disso, os novos Estados Membros possuem baixa capacidade para suprir a demanda da Comunidade, tornando a UE-27 mais dependente do fornecimento de países terceiros, especialmente da Nova Zelândia.

Dessa forma, a combinação da demanda forte e contínua com a queda na produção deve levar a um aumento nas importações, o que manterá os preços da carne ovina no mercado europeu firmes ou com tendência de alta, tornando-o atrativo aos países exportadores.

Devido à limitação de oferta para exportação existente na Nova Zelândia em decorrência da redução do efetivo de cria e baixa oferta de cordeiros para 2008, como conseqüência também da maior competitividade da pecuária leiteira neste país, o mesmo, direcionará seus embarques especialmente para os mercados europeu e norte-americano, de maior valor, deixando espaço na Ásia, Oriente Médio e África, onde a demanda é crescente.

________________________________________________________________
1 A União Européia era composta por 15 países até 2004, quando foram admitidos a República Checa, Chipre, Eslovênia, Eslováquia, Estônia, Hungria, Letônia, Lituânia, Malta e Polônia. Em janeiro de 2007 foram admitidos Bulgária e Romênia, constituindo, assim, 27 Estados Membros.

Bibliografia consultada

CANALI, G. Common agricultural policy reform and its effects on sheep and goat market and rare breeds conservation. Small Ruminant Research, v.62, n.3, p.207-213, 2006.

EUROPEAN COMISSION. The Agricultural Situation in the EU. 2002 Report, Bruxelas: European Comission, 2004. 166p.

EUROPEAN COMISSION. Prospects for Agricultural Markets and Income 2005-2012, Bruxelas: European Comission, 2005. 120p.

FAO. Food and Agriculture Organization of the United Nations. Food Outlook, n.2, Rome: GIEWS-FAO, 2007.

FAO. Food and Agriculture Organization of the United Nations. FAOSTAT. Disponível em: . Acesso em: 25 nov. 2007.

MAF. Ministry of Agriculture and Forestry. Situation and Outlook for New Zealand Agriculture and Forestry, Wellington: MAF, 2007. 74p.

MLC. Meat and Livestock Comission. English Beef and Lamb Executive, Cambridgeshire: MLC, 2007 (Updates 2007).

SIMON, Y. La Production D´Ovins Allaitants en France: une vraie chance pour les territories, Paris: Ministère de L´Agriculture et de la Pêche, 2007. 68p.

SOUZA, D.A. Análise do mercado internacional e doméstico da carne ovina. 2007. 40f. Monografia (Especialização em Administração Rural) - Universidade Federal de Lavras, Lavras.

DANIEL DE ARAÚJO SOUZA

Médico Veterinário, MBA, D.Sc., especializado no sistema agroindustrial da carne ovina. Consultor da Prime ASC - Advanced Sheep Consulting.

Facebook.com/prime.asc

Twitter.com/prime_asc

0

DEIXE SUA OPINIÃO SOBRE ESSE ARTIGO! SEGUIR COMENTÁRIOS

5000 caracteres restantes
ANEXAR IMAGEM
ANEXAR IMAGEM

Selecione a imagem

INSERIR VÍDEO
INSERIR VÍDEO

Copie o endereço (URL) do vídeo, direto da barra de endereços de seu navegador, e cole-a abaixo:

Todos os comentários são moderados pela equipe MilkPoint, e as opiniões aqui expressas são de responsabilidade exclusiva dos leitores. Contamos com sua colaboração. Obrigado.

SEU COMENTÁRIO FOI ENVIADO COM SUCESSO!

Você pode fazer mais comentários se desejar. Eles serão publicados após a analise da nossa equipe.

Assine nossa newsletter

E fique por dentro de todas as novidades do MilkPoint diretamente no seu e-mail

Obrigado! agora só falta confirmar seu e-mail.
Você receberá uma mensagem no e-mail indicado, com as instruções a serem seguidas.

Você já está logado com o e-mail informado.
Caso deseje alterar as opções de recebimento das newsletter, acesse o seu painel de controle.

MilkPoint Logo MilkPoint Ventures