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Como vender um carneiro por um milhão de reais. Parte 2

POR SILVIO DORIA DE ALMEIDA RIBEIRO

E ANAMARIA CÂNDIDO RIBEIRO

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 14/08/2006

9 MIN DE LEITURA

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Introdução

Esse é a segunda das três partes de um artigo sobre a comercialização de ovinos no Brasil. Na primeira parte foi apresentada de maneira bastante simplificada e pontual um sistema de produção "ideal", buscando caracterizar como deve ser o animal em cada situação, e quanto ele pode custar. Nessa segunda parte, serão abordadas as várias formas de comercialização praticadas no Brasil e na terceira parte serão apresentados alguns aspectos da produção atual de ovinos de corte no Brasil, se comparando algumas situações e se discutindo algumas particularidades das práticas e estratégias comerciais em uso atualmente.

Produtos

Poucos anos atrás, quando se pensava em comercialização de ovinos, a imagem que vinha à mente era naturalmente a de um animal "em carne e osso", que podia ser visto e tocado. Naturalmente esse ainda é o produto mais comercializado, mas, com o desenvolvimento da biotecnologia, existem algumas importantes novidades, apresentadas a seguir.

A utilização da inseminação artificial não é propriamente uma novidade, mesmo na ovinocultura. Porém, juntamente com a supervalorização de alguns animais, ela vem se popularizando muito. É a forma de qualquer um, em qualquer lugar, ter acesso à genética daquele carneiro maravilhoso de mais de R$1.000.000. E é também uma forma importante de perpetuar, multiplicar e ajudar a pagar a conta desse animal excepcional.

O que ainda preocupa é que não há nenhum tipo de restrição ou mesmo orientação para a seleção desse doador. Qualquer um pode enviar seu carneiro para uma central de coleta e comercializar o seu sêmen. Com isso, rapidamente se multiplicam as qualidades desses animais, bem como seus defeitos. O recurso para se trabalhar com segurança é a utilização de reprodutores provados, com DEP. Se é questionável a comercialização de reprodutores sem essa avaliação, imagine a comercialização de sêmen.

A transferência de embriões é hoje uma tecnologia totalmente dominada e amplamente utilizada. Assim, a comercialização de embriões, prenhezes e coletas vem crescendo vertiginosamente. Isso favorece a multiplicação de fêmeas diferenciadas, bem como facilita sua logística e aumenta a segurança sanitária. Por outro lado, a geração de uma grande quantidade de descendentes, antes restrita aos reprodutores, agora também acontece com as fêmeas. Assim, aumenta também a preocupação com sua avaliação, e surge uma novidade: uma fêmea pode gerar muitos descendentes sem nunca ter parido.

Com isso, não se sabe se ela é capaz de levar uma gestação a termo, bem como não se sabe nada de sua habilidade materna, pois ela nunca criou um cordeiro. Do acasalamento de pais de qualidade, espera-se filhos de qualidade. Mas nem sempre é isso que acontece, pois felizmente há a variabilidade genética, o que implica em descendentes diferentes entre si. Eles podem até ser melhores do que seus pais, e é nisso que a comercialização desses produtos se apóia, mas também podem ser piores e até mesmo apresentarem defeitos e taras que os pais não apresentam, além do efeito do ambiente no futuro do animal. E isso tudo sem falar em clonagem, fertilização in vitro (FIV) e bipartição de embriões.

Formas de comercialização

Há muitas formas de comercialização de ovinos. Algumas mais tradicionais ou mais modernas, direcionadas para animais comerciais ou de elite, para aquisição de poucos ou muitos animais, enfim, uma grande gama de alternativas, das quais as principais serão apresentadas e discutidas a seguir.

Compras nas propriedades

A compra diretamente na propriedade é uma excelente opção, pois com isso normalmente a oferta é maior. Conhece-se o rebanho como um todo, o padrão geral dos animais, o nível de organização da criação e, principalmente, a condição sanitária do rebanho como um todo.

Em todas as outras modalidades de comercialização, só é possível a avaliação daqueles indivíduos disponíveis, que podem estar em boas condições e com boa aparência, mas serem provenientes de rebanhos problemáticos. Também é uma ótima oportunidade para aprender com a experiência do criador, vendo suas instalações e manejo. Por ser uma venda de baixo custo para os criadores, pode ser uma boa oportunidade para os compradores.

Por outro lado, muitas vezes as propriedades são distantes umas das outras, nem sempre é fácil localizar a propriedade e o acesso pode ser de difícil. Nem sempre se encontra o que se está procurando, que pode não estar disponível naquele momento.

Essa talvez seja a melhor alternativa para compra, principalmente de grandes quantidades, mas não se pode esquecer das eventuais dificuldades com a logística para se chegar à propriedade e para o transporte dos animais.

Feiras livres

Essa é uma forma de comercialização muito comum no Nordeste. Existem feiras em dias fixos da semana, numa organização regional, onde alguns comerciantes participam de diversas delas, cada uma delas atendendo a um município específico. O público da região que vai fazer suas compras, muitas vezes vai também para vender, sendo freqüente encontrar ovinos comercializados dessa forma.
Nessa modalidade, o criador tem acesso direto ao comprador, que pode ser um consumidor final ou um "marchante", que vai comprar nessa feira para levar para vender na próxima, ou comprando para um cliente. Com isso se consegue comprar a preços relativamente baixos, pois praticamente não há intermediários, mas os lotes disponíveis normalmente são pequenos, quando não individuais, ficando difícil a compra de grandes quantidades de animais com essa alternativa.

"Marchantes" e comerciantes em geral

São comerciantes, que podem trabalhar especificamente com ovinos e caprinos, ou muitas vezes sem restrição de área de atuação. Podem participar de feiras livres, comprando e vendendo, indo comprar nas propriedades, ou indo buscar os animais da forma e onde forem disponibilizados. Depois, vendem nas feiras livres, para os açougues ou mesmo para outros criadores.

Eles podem "prestar serviços", percorrendo as feiras e as propriedades em busca de animais dentro de uma determinada especificação, para um frigorífico ou para a formação ou ampliação de uma criação. É uma alternativa para quem quer comprar lotes maiores.

Com a expansão territorial que vive atualmente a ovinocultura, são comuns os comerciantes que vão buscam animais nas regiões produtoras e comercializam nas novas fronteiras. Compram nos estados nordestinos e vendem na região Sudeste e Centro-Oeste. Normalmente estão associados ou contratam serviços de marchantes locais, que compram os animais em pequenos lotes e formam os lotes maiores para completar a carga desses comerciantes.

Exposições

Exposições são eventos onde se levam os ovinos para serem mostrados e para participarem de julgamentos. Esses julgamentos são feitos por jurados treinados e credenciados para tal função, e comparam os animais divididos por raças e categorias. O objetivo é identificar os melhores animais, dentro das características passíveis de avaliação nessa situação: conformação, principalmente, e em alguns casos, desenvolvimento ponderal e medidas corporais. Há alguma homogeneidade nas avaliações de diferentes jurados, mas há também consideráveis divergências.

Conforme o porte da exposição, a concorrência é bastante forte, chegando a existir pistas com mais de 1.000 animais de uma mesma raça, e mais de 100 animais em uma mesma categoria. A premiação em uma exposição como essa valoriza consideravelmente o animal. Inclusive, hoje o fator que mais valoriza um animal na hora de sua comercialização é exatamente o seu currículo em exposições.

A exposição em si não é um evento para comercialização, normalmente existindo eventos paralelos com essa função, como feiras, leilões, "coréias" e os modernos "shoppings", embora freqüentemente também ocorra a comercialização direta dos animais expostos.

Uma vantagem de comprar nessa alternativa é que normalmente os animais passaram por uma admissão sanitária e zootécnica, o que dá maior tranqüilidade ao comprador. Algumas vezes o preço desses animais é inflacionado, exatamente pelos custos inerentes ao seu preparo, transporte e apresentação, mas nem sempre isso acontece, em função de uma concentração de vendas em um dado momento.

A possibilidade de compra diretamente do criador é outra vantagem dessa modalidade. É conveniente cautela com as compras "emocionais", decorrentes de um resultado de pista ou de uma preparação "excessiva" do animal.

Feiras

A diferença dessas feiras e das feiras livres é que essas ocorrem em parques de exposições, onde há uma admissão dos animais, ao menos sanitária. Muitas vezes são realizadas em conjunto com as exposições, e são uma boa alternativa para a compra de animais a partir de uma determinada qualidade. A convergência de uma grande quantidade de animais cria uma maior oferta, dando ao comprador maior opção de escolha.

"Coréias"

As "coréias" são uma modalidade de comercialização também associada à exposição. Sua principal diferença para as feiras é que normalmente são expostos lotes de animais, de padrão zootécnico inferior, e que não passam por uma admissão sanitária ou quando passam é feita uma avaliação bastante superficial, restrita basicamente aos atestados e documentos, sem avaliação dos animais. É uma boa alternativa para compra de lotes de animais comerciais.

"Shoppings"

Os "shoppings" são uma versão mais sofisticada das coréias, mais explicita do que as feiras e mais simples do que os leilões. Os animais devem passar por uma admissão tão rigorosa quanto à de uma exposição, e se praticam condições comerciais similares às dos leilões, com um grande número de parcelas de pagamentos e o pagamento de comissão aos vendedores, menores do que as dos leilões, pois os custos são substancialmente maiores. É uma modalidade que vem se ampliando bastante.

Leilões

O leilão é uma modalidade de comercialização na qual o animal é apresentado e ofertado para venda pública. Cada um oferece livremente seu lance, em valores crescentes, até que se chegue a um máximo. Não havendo mais ofertas, o leiloeiro considera a venda efetivada por aquele valor. Assim, quem determina o preço: um animal mais demandado, será mais disputado e alcançará um maior preço.

Entre as vantagens da compra no leilão estão a grande oferta de animais em um mesmo local e num curto intervalo de tempo, as garantias sanitárias, zootécnicas e eventualmente outras oferecidas pelos organizadores e as facilidades de pagamento.
Também é uma estratégia de marketing, pois uma vez efetivada uma compra são divulgadas publicamente as informações do comprador - grandes compras, tanto por volume quanto por valores, podem representar uma divulgação de maior destaque, não apenas no leilão como na mídia especializada e, se for realmente um grande feito, na mídia de uma forma geral.

Um dos atrativos dos leilões para os compradores é o parcelamento: 14 a 16 parcelas. Normalmente, duas à vista, duas para trinta dias, e dez parcelas mensais. Um ano para pagar.

Os principais inconvenientes são a impossibilidade de uma avaliação mais detalhada na hora da compra e o risco de uma compra "emocional", favorecida pelo ambiente (local, luzes e música), pelo preparo "excessivo" dos animais, pela forma como os lances são solicitados diretamente pelos "pisteiros" a qualquer um dos presentes, às disputas entre compradores e ao álcool, invariavelmente fartamente oferecido.

Os leilões costumam ser segmentados em elite e comerciais. Nos elite, tudo é mais sofisticado, a começar do local em que ocorre o leilão, do que é servido, etc, etc, pois os valores por lote são normalmente maiores. Nos comerciais, a produção é mais simples, e é mais usual a comercialização de lotes de animais, com valores individuais menores.

Essas são explicações bastante simplificadas do funcionamento de um leilão, pois na realidade é uma modalidade de comercialização bastante complexa, com muitos detalhes, mas cada vez mais usual na ovinocultura.

Aguarde a terceira e última parte desse artigo, que será publicada no dia 04/09/2006.

SILVIO DORIA DE ALMEIDA RIBEIRO

ANAMARIA CÂNDIDO RIBEIRO

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LUIZ REMY SCHMIDT

PORTO ALEGRE - RIO GRANDE DO SUL - PRODUÇÃO DE OVINOS

EM 19/12/2006

Parabéns! Ótima matéria. Criamos ovinos texel, e é importante que o criador conheça todas as fases da criação, bem como os respectivos custos
para não se iludir com sifras astronômicas divulgadas muitas vezes após os leilões.
A ovinocultura é uma atividade em grande expansão e tem um mercado promissor.
MARCOS CARNEIRO

CAPELA DO ALTO ALEGRE - BAHIA - INSTITUIÇÕES GOVERNAMENTAIS

EM 21/08/2006

É bastante salutar a iniciativa de difundir a ovinocaprinocultura. Quando o poeta disse "o Sertão vai virar mar" ele referia-se a uma cultura que atrairia o interesse dos grandes centros. Sem dúvida essa profecia começa a se concretizar com os pequenos ruminantes. Sou criador de animais, e não me vejo sem a presença dos ovinos e caprinos. Essa atividade, além de ser lucrativa é prazerosa, pois é da índole do ser humano criar um animal.
LUCIANA TROC

COMODORO - MATO GROSSO - ESTUDANTE

EM 16/08/2006

Gostei da matéria. Sou estudante do 4º ano de Adm. estou fazendo minha monografia na área de Agronegócio, mais precisamente, sobre "A VIABILIDADE DA OVINOCULTURA PARA A AGRICULTURA FAMILIAR", que também é um projeto que estamos desenvolvendo no BB de minha cidade, cito, Comodoro MT.

Um frigorífico especializado em ovinos está sendo implantado na região, viabilizando sua criação. Hoje o rebanho de todo o Centro Oeste em matéria de ovinos é pouco mais de 1%, como essa cultura está sendo amplamente divulgada no Estado, acredito que nos próximos anos esse percentual será bem diferente.

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