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MS: breve panorama do sistema agroindustrial da ovinocultura

POR ANDRE SORIO

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 22/02/2010

9 MIN DE LEITURA

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O sistema agroindustrial (SAG) da ovinocultura no Mato Grosso do Sul vem aumentando sua importância econômica, alavancada pela necessidade de diversificação das atividades produtivas no meio rural. No entanto, são raros os estudos brasileiros que estruturam a análise da ovinocultura sob o ponto de vista de um sistema que engloba vários atores, envolvidos com produção, processamento e distribuição de um produto - a carne ovina.

Sendo assim, é comum ocorrerem questionamentos sobre se a ovinocultura teria capacidade de se consolidar como cadeia produtiva de importância no Mato Grosso do Sul nos próximos anos. A resposta a essa pergunta ajudará a definir as ações do SAG do produto, particularmente aos agentes formuladores de políticas públicas.

Atualmente a carne é o produto de maior significância para o SAG da ovinocultura brasileira e mundial em termos de valor no mercado, ao contrário do passado, quando a lã era o produto mais importante. O rebanho ovino das regiões tradicionais de criação - Sul e Nordeste - vem se mostrando insuficiente para suprir o mercado interno brasileiro, abrindo espaço para aumento contínuo das importações. De 2000 a 2008 o valor das importações brasileiras de carne ovina passou de 12 milhões de dólares a 23 milhões de dólares.

Diferente de uma análise voltada para um único agente da cadeia produtiva, a abordagem de SAG remete à visão sistêmica do processo como um todo, englobando todos os agentes envolvidos desde a compra de insumos para produção, até a venda ao consumidor final.

Os ambientes institucional e organizacional, embora nem sempre considerados quando se delimita as cadeias produtivas para estudo, são indispensáveis para seu funcionamento e sustentabilidade (SILVEIRA, 2005). Para Zylbersztajn (2000), estes são os agentes que realmente fazem os sistemas funcionarem, atuando como margens para o fluxo das cadeias. Ressaltando que as mudanças nas organizações podem ocorrer com rapidez, o que não ocorre com frequência nas instituições. O ambiente institucional é formado pelos aspectos normativos e legais, como leis, hábitos, costumes e cultura. Enquanto o ambiente organizacional é composto pelas organizações representativas, que regulam as atividades econômicas inseridas em um determinado espaço geográfico.

O estado de MS conta com um rebanho de quase 400 mil cabeças de ovinos, representando cerca de 3% do rebanho brasileiro. Atualmente, detém o 10º maior rebanho ovino entre os estados brasileiros e o maior da região Centro-Oeste. Os rebanhos estão espalhados por todas as microrregiões de MS. A microrregião onde está o rebanho mais numeroso é Dourados, seguido por Bodoquena.

No elo industrial do SAG, o Mato Grosso do Sul é privilegiado, com a existência de 4 frigoríficos com inspeção sanitária federal autorizados a abater ovinos, distribuídos em regiões distintas. Campo Grande - Frigorífico Estruti; Nova Andradina - Frigorífico Andrade; Cassilândia - Frigorífico Tatuibi; e Dourados - Frigorífico Pérola.

O abate inspecionado de ovinos no Brasil vem aumentando nos últimos anos. E ao mesmo tempo, a participação de MS nos abates inspecionados brasileiros vem se tornando mais relevante desde 2005, atingindo o ápice em 2008. Devido a alguns problemas com a troca de donos das indústrias, o abate inspecionado teve um recuo em 2009, mas o estado ainda se manteve como o 4º maior do país, com 6,3% dos abates com SIF.

Conforme Sorio; Fagundes; Leite (2008), quase 2/3 dos estabelecimentos varejistas de Campo Grande comercializam carne ovina. A maior concentração é nos supermercados e nas butiques de carne. Os cortes mais comuns encontrados são: o pernil, a paleta e a costela. No aspecto de preço, foi encontrada uma variação grande entre os locais de comercialização, o que confirma que os mecanismos de formação de preço ainda não estão claros dentro da cadeia da ovinocultura. A promoção da carne ovina é feita de forma tímida e incipiente. São raros os estabelecimentos que apresentam alguma forma de estímulo ao consumo, normalmente sob a forma de banners ou de balcões específicos para a carne ovina.

É difícil precisar o consumo de carne ovina no Brasil, em função do elevado nível de autoconsumo nas propriedades rurais, mas, estimativas da FAO apontam para uma produção de 78 mil toneladas em 2008. Somando-se a este valor a importação de carne ovina, que foi de 7,9 mil toneladas, chega-se a um consumo aproximado de 85,9 mil toneladas anuais.

Alguns estudos conduzidos no Brasil trazem estimativas sobre o consumo per capita em capitais brasileiras. SEBRAE (1998) calculou um consumo per capita de 0,59 kg por ano em Fortaleza (CE). Em Natal (RN) estima-se que o consumo per capita anual chegue a 0,43 kg (SEBRAE, 2001); no Distrito Federal, 0,46 kg (SOUZA, 2006).

Se os dados encontrados para as capitais citadas acima forem extrapolados para Campo Grande que conta com uma população de aproximadamente 740 mil habitantes, o município deveria atingir um consumo entre 318 t e 436 t de carne ovina por ano. O MS, no mesmo raciocínio, alcançaria um consumo entre 1.032 t e 1.416 t anuais.

A criação de ovinos está associada à ocupação do território de MS. E mesmo que nunca tenha se tornado uma atividade econômica de importância equivalente à de criação de gado bovino, a alimentação dos sul-matogrossenses sempre esteve ligada de alguma forma à carne ovina. E esta característica foi reforçada posteriormente, com a chegada de imigrantes que tinham a tradição de consumo de carne ovina, como os gaúchos, nordestinos e sírio-libaneses (Sorio e Mariani, 2008).

Conforme Sorio et al (2008), mais de 90% dos consumidores de Campo Grande já consumiu carne ovina, sendo que 53% dos entrevistados afirmaram consumir carne ovina pelo menos 1 vez a cada trimestre, dos quais 1/3 consomem uma vez por m��s ou mais.

As organizações articulam as interações econômicas, sociais e políticas entre os indivíduos e grupos sociais, articulando mecanismos de coordenação que permitem alcançar resultados econômicos superiores aos que poderiam ser alcançados através de esforço individual. O MS conta com diversas organizações que tem como objetivo auxiliar o progresso da ovinocultura no estado, podendo se considerar privilegiado, na verdade, com a quantidade de entidades que se dedicam a este finalidade. Os produtores estão organizados em diversas associações, como a Associação Sul-matogrossense de Criadores de Ovinos - Asmaco, e em núcleos formais e informais espalhados pelo interior do Estado.

O SEBRAE-MS mantém um programa de apoio à ovinocultura de MS. Da mesma forma, o SENAR-MS tem à disposição dos produtores um programa de treinamento de mão-de-obra para ovinocultura. A Câmara Setorial Consultiva de Ovinocaprinocultura de MS, fundada em 2003, foi a primeira desta atividade no país e inspirou a criação da Câmara Nacional, em 2005. No setor de pesquisa, ocorreu a instalação pela Embrapa do Núcleo Centro-Oeste de Caprinovinocultura em Campo Grande no ano de 2005. Ao mesmo tempo, são realizadas pesquisas com ovinos na Universidade Federal de MS, na Universidade Estadual de MS e na Universidade para o Desenvolvimento do Pantanal - Uniderp.

O apoio do governo federal se complementa com a construção, pelo Ministério da Integração Nacional, de bases de apoio a arranjos produtivos locais da ovinocultura em Campo Grande e em Ponta Porã em 2008.

Os fatores institucionais fazem parte da formação dos processos econômicos influenciando a maneira que as atividades econômicas serão organizadas e coordenadas. As tentativas do Estado de Mato Grosso do Sul em normatizar o comércio da carne ovina remontam a 1975, ainda na época do Mato Grosso uno. Após esta primeira legislação específica, os ovinos sempre foram atrelados à legislação tributária de bovinos, tanto para movimentação de animais puros, como de animais em pé ou para comercialização de carne.

Em 2003 foi criado o Programa de Avanços na Pecuária de Mato Grosso do Sul (Proape), visando a expansão e o fortalecimento da produção de carnes nobres. Dentre os objetivos gerais que mais interessam à ovinocultura, foi descrito: aumentar o desfrute dos rebanhos; elevar o nível de produtividade do sistema de produção de carnes especiais; ampliar a produção de couro de qualidade e; desenvolver e incentivar o mercado de carne de qualidade.

Outro fator institucional que afeta o SAG da carne ovina é a tradição do abate clandestino destes pequenos animais. Pela facilidade de abate, transporte e armazenamento dos ovinos, é muito comum a comercialização de animais sem inspeção sanitária. Em Campo Grande, Sorio; Fagundes; Leite (2008) encontraram 1/5 dos estabelecimentos varejistas da região central vendendo carne ovina oriunda do abate clandestino.

Sorio e Fagundes (2008) chegaram à conclusão de que cerca de 70% do rebanho de MS é abatido e comercializado sem inspeção sanitária, isto é, de forma ilegal. Este comércio clandestino provoca perdas na arrecadação de ICMS de cerca de R$ 1,3 milhão por ano.

Efetuando-se uma análise das características dos incentivos concedidos ao longo dos últimos anos para a ovinocultura, observa-se que esses incentivos não parecem incorporar mecanismos de estímulo à modernização tecnológica das empresas, nem ao treinamento e aperfeiçoamento técnico da mão-de-obra empregada. Estes incentivos não preveem, também, a indução da interação entre empresas, clientes e fornecedores nem possuem mecanismos de estimulo à criação de vantagens competitivas dinâmicas permanentes para o MS, como a busca por um aumento da atuação coordenada por parte de produtores e empresas locais.

Por outro lado, apesar de as metas estabelecidas para o Proape estarem distantes de serem alcançadas, é inegável que ocorreu um avanço na organização da cadeia produtiva da ovinocultura em MS após a implantação deste programa.

A possibilidade da ovinocultura brasileira e do MS se inserir com sucesso na nova dinâmica competitiva do agronegócio dependerá em grande parte da capacidade de coordenação dos agentes sócio-econômicos de seu SAG. São fundamentais o conhecimento do próprio mercado, o domínio de informações relevantes e a capacidade para programar ações estratégicas adequadas.

Neste sentido, é importante para os agentes do SAG da ovinocultura do Mato Grosso do Sul entender o contexto de coordenação da cadeia, para que seja possível buscar formas consistentes de atuação, com intuito de garantir a sobrevivência da ovinocultura e aumentar os resultados econômicos da atividade. Ao mesmo tempo, o combate ao abate clandestino, sem inspeção sanitária, deve ser intensificado, como forma de estimular as indústrias já instaladas, garantir a qualidade da carne ao consumidor e também gerar recursos para que o setor público possa investir no desenvolvimento da ovinocultura.

Referências bibliográficas

SEBRAE. Pesquisa sobre potencial de consumo de carnes de ovinos e caprinos em Fortaleza. Fortaleza: SEBRAE-CE, 1998. 28 p.

SEBRAE. Diagnóstico da cadeia produtiva agroindustrial da caprinovinocultura do Rio Grande do Norte. Natal: SEBRAE-RN, 2001. 146 p.

SILVEIRA, H.S. Coordenação na cadeia produtiva de ovinocultura: o caso do conselho regulador herval premium. Porto Alegre: UFRGS, 2005. 104 p. (dissertação de Mestrado em Agronegócios)

SORIO, A. ,FAGUNDES, M.B.B. Análise da política fiscal sobre a competitividade da carne ovina em Mato Grosso do Sul.Revista Política Agrícola, Brasília, n.20 out/dez 2008 (no prelo).

SORIO, A. ,FAGUNDES, M.B.B. , LEITE, L.R.C Oferta de carne ovina no varejo de Campo Grande (MS): uma abordagem de marketing. Revista Agrarian, Dourados, n.1 jun/ago 2008

SORIO, A. e MARIANI, M. A Carne Ovina como Possibilidade de Desenvolvimento do Turismo com Base Regional e Local. In SEMINÁRIO DE PESQUISA EM TURISMO DO MERCOSUL, 5, 2008, Caxias do Sul. Anais...UCS:Caxias do Sul, 2008.

SORIO, A. et al. Carne ovina: potencial gastronômico e turístico em Campo Grande (MS). CONGRESSO BRASILEIRO DE TURISMO RURAL . Anais... Belo Horizonte: UFA, 2008.

SOUZA, E.Q. Análise e segmentação de mercado na ovinocultura no DF. Brasília: Universidade de Brasília, 2006. 163p. (Dissertação de mestrado)

ZILBERSZTAJN, D. Conceitos gerais, evolução e apresentação do sistema agroindustrial. In: ZILBERSZTAJN, D; NEVES, M.F. Economia e gestão dos negócios agroalimentares. São Paulo: Pioneira, 2000. p.1-21

ANDRE SORIO

engenheiro-agrônomo, M.Sc. em Agronegócios, consultor em produção intensiva a pasto de ovinos e bovinos, com experiência em toda a América do Sul

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ANDRE SORIO

CAMPO GRANDE - MATO GROSSO DO SUL - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 05/05/2010

Prezado Jonas Rodrigues

O novo livro sai na próxima semana. O título será "Carne Ovina, Turismo e Gastronomia: a culinária sul-matogrossense de origem pantaneira, sirio-libanesa, gaucha e nordestina"

Fizemos 3 pesquisas principais para o livro
1) Demanda de carne ovina nos restaurantes e churrascarias de Campo Grande
2) Percepção da carne ovina por turistas nos 5 principais destinos de MS - Bonito, Corumbá, Campo Grande, Dourados e Ponta Porã
3) Receitas de carne ovina preparadas por sul-matogrossenses de diversas origens.
JONAS RODRIGUES

MATO GROSSO DO SUL - TRADER

EM 05/05/2010

André, artigo de relevância! Ouvi falar que há um 2º livro seu sobre ovinocultura que esta prestes a ser lançado. Você confirma? Se sim, quando? Abraço
ANDRE SORIO

CAMPO GRANDE - MATO GROSSO DO SUL - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 28/02/2010

Prezado Giorgi Kuyumtzief

Agradeço as palavras de elogio do amigo. Concordo contigo sobre quando os ovinocultores conseguirem produzir um animal padronizado e dentro do desejo e da necessidade real do mercado consumidor, muitos avanços ocorrerão no SAG da carne ovina.
Saudações

André Sorio
KILOVIVO - OVINOCULTURA DE PRECISÃO - (65)99784004

TANGARÁ DA SERRA - MATO GROSSO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 26/02/2010

Prezado André:
É importante que esse assunto, SAG, seja abordado por especialistas como você que, além de deter o conhecimento científico sobre a conjuntura sócio-econômico-ambiental, vivencia a atividade, ovinocultura, no âmbito nacional. Aproveitando este seu gancho, eu gostaria de lembrar que, enquanto não aperfeiçoarmos os nossos objetivos quanto à produção de um produto específico, sempre ocorrerão as dificuldades de expansão da cadeia produtiva da carne dentro da ovinocultura brasileira. Ou seja, enquanto teimarmos em discutir e produzir carne ovina, que, inegavelmente, é um produto sem padrão de qualidade, o consumo nacional de carne originada pela ovinocultura não irá aumentar. Temos que amadurecer como ovinocultores , juntamente com o SAG, buscando a produção de um produto específico, qual seja: a carne de cordeiro. Para ser mais claro, faço o fechamento lembrando uma realidade, também, do setor de carnes, através de uma pergunta: Qual é a cadeia produtiva mais estabelecida e sólida, a CADEIA PRODUTIVA DA CARNE DE AVES (em geral) ou é a CADEIA PRODUTIVA DA CARNE DE FRANGO ???
Um abraço.
Giorgi Kuyumtzief
ANDRE SORIO

CAMPO GRANDE - MATO GROSSO DO SUL - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 23/02/2010

Prezado Henrico Dinapolli

O MS tem um potencial privilegiado para aproveitar a ovinocultura como forma de diversificar e ampliar sua produção pecuária. Da mesma forma, o RS não deveria perder a oportunidade de qualificar ainda mais seu rebanho, que continua sendo referência nacional. Afinal, se o país importa valores crescentes de carne ovina, os criadores estão com um mercado promissor nas mãos.

Saudações
André Sorio
HENRICO DINAPOLLI

SANTA MARIA - RIO GRANDE DO SUL - PRODUÇÃO DE OVINOS

EM 22/02/2010

Muito bom o artigo.
Acredito que o MS tenha um grande potencial para crescer na ovinocultura, visto suas áreas de pastagem e condições favoráveis.

Grande abraço!

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