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A qualidade da carne de cordeiro: produtor x consumidor

POR CAMILA RAINERI

E AUGUSTO HAUBER GAMEIRO

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 06/07/2011

5 MIN DE LEITURA

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Neste mês, optamos por discutir um artigo sobre o conceito de qualidade de carne de cordeiro. O interessante é que os autores compararam os parâmetros de qualidade considerados pelos dois extremos da cadeia: o produtor e o consumidor, e verificaram que há pontos de concordância e de divergência entre o pensamento destes segmentos.

O trabalho é intitulado "Aspects of quality related to the consumption and production of lamb meat: Consumers versus producers", e foi publicado na revista Meat Science em abril deste ano. Seu objetivo foi identificar e comparar as diferentes avaliações feitas por produtores e consumidores de carne ovina, em relação aos parâmetros utilizados no momento da compra da carne e aos fatores que afetam a produção de carne de cordeiro de qualidade.

Enquanto os produtores e a agro-indústria julgam a qualidade do produto de forma objetiva, como a partir de indicadores técnicos, o conceito de qualidade é muito mais subjetivo para o consumidor. Dois tipos de sinalizadores de qualidade, intrínsecos e extrínsecos, foram propostos para compreender a formação da opinião do consumidor sobre um produto. Os intrínsecos seriam aspectos físicos da carne, como a cor, a quantidade de gordura, ou seu odor. Já os extrínsecos não fazem parte do produto em si, e correspondem ao preço, rastreabilidade e afins. Na cadeia da carne, muitos processos pré e pós abate (como inúmeras interações entre alimentação, controle de doenças, sistemas de produção, idade, raça e sexo) podem afetar as características intrínsecas do produto, e devem ser observados.

A existência de diferenças no julgamento da qualidade da carne de cordeiro significa que há assimetria entre a qualidade fornecida pelos produtores e a desejada pelos consumidores. Desta forma, é de grande importância que se conheçam esses aspectos, para auxiliar o produtor a produzir a carne que o mercado pede, e assim colocar melhor o seu produto e/ou agregar a ele mais valor.

A pesquisa foi realizada em Aragón, uma região no norte da Espanha conhecida por ser grande produtora e consumidora de cordeiros. Segundo os autores, o consumo de carne ovina na região é de 6,5 kg/habitante/ano, bastante superior à média espanhola de 2,4 kg/habitante/ano. Aragón é responsável também por cerca de 13% de toda a carne de cordeiro produzida no país, e seu produto típico são carcaças entre 10 e 13 kg, de animais com idade não superior a 100 dias.

Foram realizadas entrevistas com 371 compradores de carne de cordeiro e 49 produtores. Os pesquisadores pediram que cada participante respondesse a dois questionários, em que deveriam ranquear a importância de sete aspetos relacionados à produção e sete relacionados à comercialização. No Quadro 01 constam os sete itens de cada questionário.

Quadro 01 - Itens dos questionários aplicados.



Os resultados apontaram que, em relação aos aspectos de qualidade observados no momento da compra, consumidores e produtores apresentaram ranqueamentos semelhantes quanto às características diretas da carne, etiquetamento, e respeito ao ambiente na produção. Para os quatro outros itens estudados, houve diferenças estatísticas.

Tanto os consumidores quanto os produtores afirmaram que as características diretas da carne são um fator decisivo no momento da compra da carne. O preço foi apontado pelos produtores como o fator mais importante para os consumidores. Já para os consumidores, este aspecto foi menos importante que as características diretas do produto. Assim, houve diferença estatística entre a importância dada pelos consumidores e a importância que os produtores acreditam que é dada pelos consumidores para o aspecto "preço".

O quesito "etiquetamento" foi considerado muito importante por ambas as categorias de entrevistados, logo após as características diretas do produto. Esta é uma estratégia que vem ganhando importância para transmitir confiança ao consumidor, e para garantir destaque aos produtores que possuem sistemas diferenciados de criação. Já a região de produção foi ranqueada de forma diferente entre os entrevistados. Os consumidores deram maior importância à região de origem da carne que os produtores.

No momento da compra, tanto consumidores quanto produtores conferiram ao bem-estar dos animais e ao respeito ao ambiente as duas posições mais baixas do ranking.

Em relação aos aspectos produtivos que podem afetar a qualidade da carne, houve diferença estatística em relação a 3 dos 7 itens: raça, controle sanitário e respeito ao meio ambiente. Quanto aos demais aspectos, as avaliações de produtores e consumidores não diferiram estatisticamente.

Estes resultados sugerem que há uma falta de conhecimento dos consumidores em relação à produção. Sob o ponto de vista comercial, isso pode ser encarado como uma oportunidade para os produtores de cordeiros. Desta forma, pode ser feito um esforço de marketing no sentido de valorizar as características que o consumidor busca na carne. Por exemplo, na pesquisa tanto produtores quanto consumidores apontaram a alimentação dos animais como o aspecto produtivo com maior influência sobre a qualidade da carne. No entanto, em seguida, os consumidores elegeram o controle sanitário, enquanto os produtores escolheram a raça dos animais como segundo aspecto mais importante.

Consumidores e produtores concordaram ao ranquear em terceiro lugar as práticas de higiene na produção. O quarto lugar foi concedido à raça pelos consumidores, e ao controle sanitário pelos produtores. Mais uma vez, os consumidores se mostraram inclinados a associar a qualidade da carne a aspectos sanitários e de higiene.

Além disso, produtores e consumidores concordaram em classificar o sistema de produção, o bem-estar animal e o respeito ao meio ambiente, como os três aspectos menos relacionados à qualidade do produto final. Na opinião dos consumidores, a preocupação ambiental foi mais importante que na dos produtores.

No entanto, foi identificado um segmento de consumidores, em sua maioria mais jovens, para o qual os aspectos de bem-estar e respeito ao ambiente possuem maior importância. Os autores recomendam que tal comportamento não deve ser ignorado, pois pode representar uma tendência de mudança para um futuro próximo.

É muito interessante observar que mesmo em uma região tradicional na produção e consumo de carne de cordeiro há divergências entre o que os produtores e os consumidores consideram como atributos de qualidade do produto. Imagine no Brasil onde há, na maior parte das vezes, um descolamento entre a produção e o consumo de carnes, o que torna freqüente que os consumidores tenham uma idéia muito vaga sobre como aquele alimento é produzido, e sobre todos os processos que o produto sofre desde a fazenda até seu prato. Ao mesmo tempo, temos também uma grande variedade de sistemas de produção, raças, alimentos utilizados e demais aspectos produtivos. E há uma grande diversidade de consumidores do produto, que podem possuir diferentes origens e culturas, níveis de renda e preferências em relação ao tipo de carne ovina que desejam.

Assim, seria interessante conhecer qual o grau de correspondência entre a qualidade que o criador busca produzir e o que aquela que o consumidor valoriza. Tais dados permitiriam direcionar várias técnicas produtivas e até esclarecer o consumidor sobre aspectos desconhecidos por ele. Enquanto não dispomos de dados concretos, e considerando que a cadeia da carne ovina no Brasil encontra-se em fase de busca pelo caminho a ser percorrido, é essencial que cada elo esteja atento a sinais que os demais possam dar, e que se mantenham canais de diálogo entre produtores, indústria, varejistas e consumidores.


Artigo citado

SEPÚLVEDA, W.S.; MAZA, M.T.; PARDOS, L. Aspects of quality related to the consumption and production of lamb meat: Consumers versus producers. Meat Science. 2011, vol. 87, I. 4, pp. 366-372.

CAMILA RAINERI

Zootecnista formada pela FZEA/USP, com mestrado pela mesma instituição. Doutoranda pela FMVZ/USP. Responsável Técnica pela Paraíso Ovinos e consultora em Ovinocultura.

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JOÃO LA FARINA

BRASÍLIA - DISTRITO FEDERAL - INDÚSTRIA FRIGORÍFICA

EM 06/07/2011

Parabens Camila e Augusto, pela excelente matéria abordada sobe esse assunto que vem se engalfinhando a muito tempo. Já passou da hora para que criadores, produtores e frigoríficos sentem a mesa e coloquem em pratica o que já existe há mais de 20 anos.

A Portaria nº 307 de de 26 de dezembro de 1990 do Mapa, regulamenta a Tipificação de Carcaças Ovinas. Ali estão descritas a classificação dos animais conforme a idade, a conformação da carcaça e o acabamento de gordura. Essa legislação deveria nortear a comercialização de ovinos para abate em todo o território nacional, porém, essa portaria é sistematicamente desobedecida pelos agentes da cadeia produtiva.

A Portaria Nº 90, de 15 de julho de 1996 institui a obrigatoriedade da afixação de etiquetas lacre de segurança nos cortes primários (quartos de carcaça), e cortes secundários do traseiro de bovinos e bubalinos, bem como nas meias carcaças de suínos, ovinos e caprinos, obtidos nos estabelecimentos de abate, independente da aplicação dos carimbos oficiais, a tinta, nas diversas partes da carcaça, prevista no Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal - RIISPOA. Na ovinocultura vigora um arranjo institucional que privilegia o contato direto entre produtor e consumidor, em detrimento de implicações fiscais e sanitárias. Ademais, a negociação entre o produtor e as Indústrias Frigoríficas Legalizadas é altamente conflituosa. Não somos contra os açougues, casas de carnes e os estabelecimentos que comercializam produtos de origem animal, mas é preciso coibir as irregularidades que estão sendo cometidas, afinal, trata-se de uma questão de saúde pública. O Código de Defesa do Consumidor estabelece normas de proibição de comercialização de produtos nocivos à saúde humana. Nada disso conta, porém, diante da ação da informalidade, que, além de atentar contra a ordem tributária, infringe o artigo 268 do Código Penal, ao cometer crime contra a saúde pública, por expor a saúde da população a graves moléstias. A falta de organização da cadeia produtiva, a informalidade, a dificuldade de acesso a financiamentos e a baixa rentabilidade são alguns dos principais problemas que dificultam a estruturação da ovinocaprinocultura. Afinal, como vocês afirmam em seu artigo, criadores, produtores e frigoríficos devem juntos, buscar qual o grau de correspondência entre a qualidade que o criador busca produzir e o que aquela que o consumidor valoriza. Tais dados permitirão direcionar as técnicas produtivas e até esclarecer o consumidor sobre aspectos desconhecidos por ele.

E vamos fortalecer a Cadeia Produtiva dos Ovinos !



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