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Caprinocultura leiteira combate desnutrição infantil com eficiência

POR CAMILA RAINERI

E AUGUSTO HAUBER GAMEIRO

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 28/01/2011

5 MIN DE LEITURA

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Como comentamos em artigo anterior, ocorreu em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, entre os dias 25 e 28 de julho do ano passado, o 48º Congresso da Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural (SOBER). As reuniões anuais da SOBER são um importante fórum de discussões entre pesquisadores, técnicos e formuladores de políticas, contribuindo para divulgar o conhecimento sobre a economia do setor rural.

O tema do congresso de 2010 foi "Tecnologias, Desenvolvimento e Integração Social", refletindo a importância do debate sobre os desafios de se desenvolver novas alternativas tecnológicas para conciliar a produção de alimentos, o desenvolvimento científico, a geração de energia renovável e a preservação ambiental. Da mesma forma que discutimos anteriormente os artigos relativos à ovinocultura laneira apresentados no evento, trazemos agora uma visão geral de três trabalhos que discutiram a caprinocultura no Brasil.

O primeiro dos estudos (Silva, 2010) concentrou-se em mensurar a concentração e a especialização da caprinocultura nordestina. Seu objetivo foi oferecer dados sobre a ocupação espacial da atividade na região, de forma a colaborar com a estruturação da cadeia produtiva. Através dos parâmetros escolhidos pelo autor, foi demonstrado que a atividade continua fortemente concentrada no nordeste brasileiro (que abriga 91% do efetivo do rebanho nacional), e que a concentração é também forte dentro da região. Os resultados apontam que apenas 35 das 188 microrregiões nordestinas abarcam até 2/3 do rebanho caprino do Nordeste. Ou seja, apenas 18% dessas localidades detêm 67% dos animais da região. As microrregiões de Paulo Afonso e Juazeiro (BA), Itaparica e Petrolina (PE) são as que apresentam maior concentração produtiva.

O segundo trabalho (Lima & Loures, 2010) abordou a importância social da caprinocultura leiteira e seu potencial como ferramenta para elevar a renda de pequenos agricultores, auxiliar na fixação do homem no campo e combater a desnutrição infantil. O projeto consistiu em três etapas. Inicialmente realizou-se um levantamento da situação agropecuária do município mineiro de Coronel Xavier Chaves, que revelou ocorrência de êxodo rural e estrutura fundiária onde predominam os minifúndios. Em seguida, pesquisaram-se quais outras demandas do município poderiam ser atendidas pelo setor agropecuário, e optou-se pelo auxílio à redução da desnutrição infantil. Por fim, decidiu-se estimular a caprinocultura leiteira através da doação de cabras a várias famílias. Os pesquisadores acompanharam durante seis anos os pequenos caprinocultores e as crianças que consumiam o leite produzido, e constataram que houve incremento na renda e melhoria do estado nutricional e da saúde geral das crianças.

O último dos trabalhos buscou caracterizar a cadeia produtiva caprina do estado do Rio Grande do Sul. Os autores levantaram dados relativos ao rebanho e à indústria, e realizaram entrevistas com caprinocultores de diversos municípios gaúchos. O estudo demonstra que o rebanho caprino gaúcho encontra-se em fase de lenta recuperação após um forte declínio ocorrido em 1996. Mais da metade dos municípios rio-grandenses abrigam menos de 100 animais cada, e cerca de 80% das localidades possuem menos de 300 animais cada. A maior concentração de animais encontra-se nos municípios de Santana da Boa Vista, Cachoeira do Sul e Caçapava do Sul. Por outro lado, a produção de leite caprino é mais representativa em Farroupilha em São Sebastião do Caí, e a de carne em Santa Maria do Herval, Tapera e Espumoso.

Os produtores de caprinos para corte parecem enfrentar mais dificuldades em se organizar que os produtores de leite. Segundo este último estudo, problemas contratuais e de oportunismo junto a frigoríficos devido à oferta irregular de carcaças são o maior entrave. Já na produção leiteira, a maior dificuldade estaria no pequeno volume produzido por cada criatório, que muitas vezes não é suficiente para viabilizar economicamente a atividade, apesar da melhor organização e relação com a indústria.

Os pesquisadores apontam o cooperativismo e o associativismo como uma das possíveis alternativas para contornar estes problemas, já que a demanda pelos produtos existe, e a produção está se desenvolvendo. A melhoria do nível técnico e da genética dos animais seria outro ponto importante, e os produtores já trabalham para alcançar resultados neste sentido.

Os autores concluíram que, apesar de ser uma atividade de baixa expressão no estado do RS (principalmente devido à sua introdução recente), a caprinocultura possui potencial para conquista de mercados (internos ou externos) e agregação de valor aos produtos. A cadeia produtiva encontra-se desorganizada, sendo necessária maior interação entre os elos e comprometimento com a melhoria da qualidade dos produtos.

Os três trabalhos apresentados demonstram o interesse da comunidade científica pela investigação dos aspetos mais básicos da caprinocultura, não apenas em regiões onde a atividade é tradicional, mas também naquelas onde está sendo iniciada. Esta iniciativa é demandada pela cadeia produtiva da caprinocultura, e é indispensável para a organização e expansão da atividade objetivada pelos produtores e indústria.

Não é possível criar estratégias eficientes de produção, processamento e comercialização dos produtos caprinos sem o conhecimento da real situação atual dos diferentes agentes da cadeia, o que justifica a importância deste tipo de estudo.

Informações como efetivos de rebanho e sua distribuição geográfica, bem como a especialização desses animais, são essenciais para orientar a instalação de plantas de processamento, oferta de insumos e de assistência técnica, bem como de políticas públicas para o desenvolvimento do setor. São importantes também para estimular a organização dos produtores entre si, seja por demonstrar ao criador que há mais pessoas na área enfrentando as mesmas situações que ele, ou por indicar uma carência da atividade em determinada região.

Outro aspecto importante dos estudos é a adaptabilidade da caprinocultura a diferentes situações edafoclimáticas, sociais e mercadológicas. Enquanto no Nordeste é dada ênfase à importância social dos caprinos, no Rio Grande do Sul a atividade é direcionada principalmente à produção de produtos de maior valor agregado. A espécie pode ser utilizada para produção de leite, queijos, cosméticos, carne, peles, entre outros, o que facilita sua adequação a diversos contextos.
Como abordado no segundo trabalho, é também possível e muito interessante a parceria entre os governos e os caprinocultores. Os benefícios de iniciativas do tipo ultrapassam as porteiras dos criatórios, e atingem uma grande parcela da população e o próprio poder público.

Acreditamos que, da mesma forma que a Academia deve estar atenta às demandas da sociedade, as cadeias produtivas podem buscar uma aproximação com universidades e centros de pesquisa. Não apenas técnicas criatórias e sanitárias podem chegar ao conhecimento dos produtores, mas também informações mercadológicas, inovações em processamento e embalagem de produtos lácteos e cárneos, pesquisas junto a consumidores e até mesmo estratégias de marketing. Nestes tipos de parceria, todos têm a ganhar.


Artigos citados

CARVALHO, D.M., MOLINARI, G.T., TURCATO, C.P., RUVIARO, C.F. Panorama da produção de caprinos no Estado do Rio Grande do Sul. IN: CONGRESSO BRASILEIRO DE ECONOMIA E SOCIOLOGIA RURAL, 48., 2010. Campo Grande: Anais... Campo Grande: SOBER, 2010.

LIMA, I.B., LOURES, A.R. Leite de cabra - uma função social no município de Coronel Xavier Chaves. IN: CONGRESSO BRASILEIRO DE ECONOMIA E SOCIOLOGIA RURAL, 48., 2010. Campo Grande: Anais... Campo Grande: SOBER, 2010.

SILVA, E.S. Caprinocultura nordestina: concentração e especialização. IN: CONGRESSO BRASILEIRO DE ECONOMIA E SOCIOLOGIA RURAL, 48., 2010. Campo Grande: Anais... Campo Grande: SOBER, 2010.

CAMILA RAINERI

Zootecnista formada pela FZEA/USP, com mestrado pela mesma instituição. Doutoranda pela FMVZ/USP. Responsável Técnica pela Paraíso Ovinos e consultora em Ovinocultura.

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KELLY LOUVEIRA

BRAGANÇA PAULISTA - SÃO PAULO - DISTRIBUIÇÃO DE ALIMENTOS (CARNES, LÁCTEOS, CAFÉ)

EM 14/02/2011

Oi CAMILA. O leite de cabras é indicado para quem intolerância a lactose? Sei que os glóbulos de gordura do leite de cabra são menores comparado ao leite de vaca (o que facilita a digestão). Gostaria de saber sobre a lactose. Abraços e obrigado.
DANIEL PIMENTEL GOMES

FORTALEZA - CEARÁ - PRODUÇÃO DE CAPRINOS DE LEITE

EM 28/01/2011

PREZADOS,
EM QUALQUER PARTE DESDE PAÍS,ORGANIZAR AS CADEIAS PRODUTIVAS TONOU-SE UM TRABALHO IMENSO E É PARA SE GANHAR DINHEIRO IMAGINE SE FOSSE TRABALHO DE CUNHO SOCIAL.ESSA PESQUISA DEVERIA FAZER UMA VERTENTE DE DESCOBRIR O POR UE DISTO TUDO.TORNOU-SE O GRANDE CALCANHAR DA CAPRIOVINOCULTURA BRASILEIRA.
UM FORTE ABRAÇO AOS CRIADORES DO BRASIL

DANIEL PIMENTEL GOMES
PEDRO PAULO V. LEITE

ALFENAS - MINAS GERAIS - EMPRESÁRIO

EM 28/01/2011

gostaria de saber como conseguir na inteegra o trabalho apresentado na 48 SOBERsobre caprinocultura leiteira combate desnutrição infantil

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