Os custos com alimentação são frequentemente descritos como os mais onerosos na produção animal e uma forma de reduzir esse desembolso seria melhorar a eficiência alimentar dos animais, por meio de seleção e uso de reprodutores geneticamente superiores para esta característica. A eficiência alimentar esta ligada à capacidade dos animais em converter o alimento ingerido em produtos, e pode ser interpretada como a relação entre o ganho de peso (kg) e a quantidade de alimento ingerido (kg), sendo o inverso denominado conversão alimentar.
Porém, para bovinos de corte, foram descritos diversos pontos limitantes da utilização da eficiência alimentar como medida bruta em programas de melhoramento, conforme melhor apresentados por Almeida & Lanna (2004). Esses mesmos autores discutiram também os potenciais pontos positivos da adoção do consumo alimentar residual (CAR) para seleção genética. Dentre esses pontos, ressalta-se o fato de não haver relação direta entre o CAR e a taxa de ganho e o peso vivo adulto em bovinos (Arthur et al., 2001).
Entretanto, para ovinos existem poucos estudos sobre eficiência alimentar do ponto de vista de indivíduo, principalmente relacionados ao CAR, o que faz com que as inferências sobre o assunto sejam feitas até o momento com base em informações provindas de outras espécies.
O CAR, também chamado de consumo alimentar líquido, é definido como a diferença entre o consumo de alimento observado (em matéria seca) e o consumo estimado de um animal. Trata-se de uma forma de se medir eficiência alimentar, descrita por Koch em 1963, bastante utilizada para outras espécies animais e, nos anos mais recentes, com grande destaque em pesquisas na área de bovinocultura de corte. A equação geral para cálculo do CAR é:
CAR= CMSobs - CMSest(ƒ {PV, GMD})
Em que:
Consumo de matéria seca observado (CMSobs): obtido com pesagens diárias da quantidade de alimento ofertada no cocho e da quantidade diária de sobras;
Consumo de matéria seca estimado (CMSest): obtido por equações de regressão ajustadas em função das exigências de mantença (com base no PV) e crescimento (com base no GPD), calculado para o grupo de animais testados em determinado período;
PV: peso vivo médio metabólico dos animais;
GMD: Ganho de peso médio diário.
Diante da escassez de informações para ovinos, surgiu o interesse sobre o tema e assim, recentemente, foram realizadas avaliações no Laboratório de Produção e Pesquisa em Ovinos e Caprinos da Universidade Federal do Paraná - LAPOC/UFPR. Foram mantidos confinados individualmente 20 cordeiros da raça Ile de France com mensuração da quantidade de alimento fornecida e das sobras diárias nos cochos. Esses animais foram pesados a cada 13 dias para determinação do GMD e para posterior obtenção dos valores de CAR.
Os resultados não foram ainda publicados, mas pode-se antecipar que os valores mínimo e máximo para CAR foram, respectivamente, -0,416 kg de MS/dia e 0,184 kg de MS/dia, com desvio padrão de 0,129 kg de MS/dia. Isso denota que, durante o período experimental de 65 dias, o animal mais eficiente comeu 416 gramas de MS de alimento a menos do que era esperado para o nível de produção em questão e, o menos eficiente consumiu 129 gramas de MS de alimento a mais do que o previsto. Esses resultados prévios evidenciam a existência de grande variação no consumo entre indivíduos, confirmando afirmações de trabalhos internacionais com ovelhas da raça Targhee (Redden et al., 2010 a e b).
A Figura 1 apresenta o ranqueamento de acordo com o CAR obtido no experimento e os respectivos GMD dos animais.
Figura 1 - Distribuição do consumo alimentar residual (CAR) de cordeiros ranqueados do mais eficiente ao menos eficiente e os respectivos ganhos de peso diários (GMD), destacando dois animais similares em GMD.
Para melhor visualização dos resultados, tomando como exemplo os cordeiros 1 e 14 que apresentaram GMD muito próximos (0,315 kg/dia e 0,317 kg/dia, respectivamente), neste caso o CAR diferiu de maneira considerável com valores respectivos de -0,416 kg de MS/dia e 0,074 kg de MS/dia, e variação de aproximadamente 490 gramas na ingestão diária de MS de alimento entre esses animais.
Desta forma, com base nos primeiros dados nacionais para ovinos, destaca-se o potencial da utilização do CAR como ferramenta para identificação de cordeiros mais eficientes em confinamento. Do ponto de vista prático, o menor consumo de alimento por animais mais eficientes representaria importante redução nos custos produtivos para os ovinocultores.
Todavia, a regulação fisiológica desta característica bem como as consequências da seleção genética baseada no CAR, especialmente para ovinos, precisam ainda ser bastante estudadas para concretizar as reais vantagens e também para elucidar os possíveis efeitos adversos da adoção desta característica na ovinocultura.
Referências bibliográficas
FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF THE UNITED NATIONS - FAO. FAOSTAT, 2008. Disponível em:
ALMEIDA, R.; LANNA, D.P. Consumo alimentar residual: um novo parâmetro para avaliar a eficiência alimentar de bovinos de corte, 2004. Disponível em:
ARTHUR, P.F.; ARCHER, J.A.; JOHNSTON, D.J. Genetic and phenotypic variance and covariance components for feed intake, feed efficiency, and other postweaning traits in Angus cattle. Journal of Animal Science, Savoy, v.79, p.2805-2811, 2001.
KOCH, R.M.; SWIGER, L.A.; CHAMBERS, D.; GREGORY, K.E. Efficiency of feed use in beef cattle. Journal of Animal Science, Champaign, v.22, p.486-494, 1963.
REDDEN, R.; SURBER, L.; ROEDER, B.; et al. Residual Feed Intake of Growing Western Range Ewes. In: U.S. Sheep Research and Outreach Programs, 2010, Tennessee. Proceedings... Tennessee, 2010a. p.22-25.
REDDEN, R.; SURBER, L.; ROEDER, B.; et al. Growth Rate Alters Residual Feed Intake and Feeding Behavior in Yearling Ewes. In: U.S. Sheep Research and Outreach Programs, 2010, Tennessee. Proceedings... Tennessee, 2010b. p.26-28.