Certos queijos tem exigências próprias segundo a A.O.C, órgão que certifica e fiscaliza a produção artesanal e industrial com o intuito de proteger e preservar as características originais do queijo, começando com a alimentação das cabras (também das vacas e ovelhas).
Por exemplo os queijos da Região da Savoia: os animais são confinados no inverno rigoroso e recebem a alimentação balanceada no cocho. Na primavera e início do verão são levados para as montanhas onde alimenta-se das ervas aromáticas e flores características da região. Lá mesmo são ordenhados e em cabanhas queijeiras são produzidos os queijos de primavera.
Estes queijos sazonais, são procurados pelo sabor e aroma inigualável, só atingidos devido à alimentação dos animais que transferem ao leite as características peculiares das ervas e flores das montanhas.
Na minha chácara, acabei fazendo uma experiência com alimentação das cabras sem querer. Certa vez fiz uma negociação com um vizinho para recolher todo o resto de cultura do terreno dele, depois da colheita. Meu caseiro colheu durante 1 mês os pequenos repolhos e nabos que não serviam para venda e trouxe para a minha chácara, onde eram picados e imersos em um tanque com cloro para lavar, pois as cabras não comiam nada com terra.
Depois de 1 semana com o repolho e o nabo incluído na alimentação delas, as cabras passaram a produzir mais leite só que com um detalhe: o leite era fedido! E, consequentemente, o queijo também! Eu achei que era alguma coisa relacionada a higiene do caseiro, dos utensílios, latões. Ledo engano!
Depois de descartar leite e muitos queijos com cheiro ruim é que fui relacionar o odor com a alimentação das cabras. Deu trabalho! Tive que usar todo o leite só para fazer queijo condimentado, temperado e cozido, pois só assim poderia disfarçar o aroma. Empacotar o leite nem pensar. Aboli completamente o repolho e nabo como dieta exclusiva das minhas cabras. Só em pequenas porções e misturando com outras verduras, frutas e legumes.
Daí em diante, comecei a fazer outras experiências com alimentação, tentando alterar o sabor do leite, mas não obtive sucesso, pois minhas atividades não permitiram esta dedicação. Espero que um leitor criador tenha uma experiência desse tipo para compartilhar conosco.
Como estamos iniciando a primavera , coloco aqui a tecnologia de fabricação de um queijo muito apreciado nesta estação do ano na França:
Alecrim
Segurelha
Tomilho
Queijo Poivre D'Ane
As ervas usadas na cobertura deste queijo tem muitas propriedades: anti-helmíntico, problemas estomacais, antifúngico, antiespasmódico e antiflatulência, e, principalmente, afrodisíaco, dando vigor sexual.
Queijo pequeno, de 100 a 120g, 45% de gordura. Massa mole, não cozida, não prensada. Crosta revestida com ervas tomilho e segurelha. Aroma de hortelã levemente apimentado cura de 1 semana a 1 mês.
Tecnologia de fabricação e ingredientes:
-10 litros de leite de cabra da primeira ordenha;
-3% de fermento lático ou iogurte natural fabricado na propriedade;
-10% da dose de coalho, dissolvido em ½ copo de água.
Deixar coagular por 18 horas em local fresco, sem correntes de ar, em recipiente sem tampa.
Transfira a massa delicadamente para um pano limpo, fino, com uma escumadeira ou peneira e pendure deixando escorrer o soro por 1 dia. Caso a massa ainda esteja muito úmida coloque um peso sobre o saco e deixe por 1 hora sob refrigeração para conservar a acidez que deve permanecer em torno de 60ºD.
Coloque em formas pequenas, moldando com as mãos. Deixe tomar forma por 20 a 30 minutos e depois cubra totalmente com tomilho, segurelha e alecrim secos, picados. Para conservar e comercializar, embrulhe em papel alumínio e conserve sob refrigeração de 10 a 12 ºC.