Um dos principais problemas encontrados na criação de caprinos e ovinos, e que limita consideravelmente o aproveitamento econômico destes animais, são as endoparasitoses. Os prejuízos causados pela verminose são grandes e estão relacionados com a compra frequente de medicamentos (vermífugos e vitaminas), a perda de produtividade (atraso no desenvolvimento dos animais jovens; redução no ganho de peso, no desempenho reprodutivo, na produção de lã e leite, no peso e na qualidade da carcaça), a alta mortalidade de animais e gastos com mão-de-obra.
Na tentativa de controlar estes prejuízos causados pelos endoparasitas, muitos produtores passaram a utilizar esquemas de desverminação múltipla (de 30 em 30 dias) ou supressiva (de 15 em 15 dias). Esse esquema para controle da verminose baseado exclusivamente na ação do vermífugo, além de ter um custo bastante alto resultou no rápido aparecimento de parasitas resistentes aos vários princípios ativos (Thomaz-Soccol, 1996; Souza, 1997), até mesmo àqueles de última geração. Em algumas propriedades esta resistência é tão séria que já chegou ao ponto de não existir mais vermífugo capaz de combater os parasitos. Nem mesmo os produtos de última geração funcionam mais.
Esses são alguns pontos importantes que têm feito com que atualmente o controle parasitário seja abordado de forma mais realista e consciente, pois o uso abusivo e inadequado dos antiparasitários tem trazido consequências sérias, tais como o forte estabelecimento da resistência e a contaminação dos produtos de origem animal com resíduos essas drogas (Chagas, 2009).
No Brasil, são raras as propriedades que fazem o monitoramento do rebanho com auxílio de exames de fezes periódicos. Normalmente são utilizadas vermifugações aleatórias, o que tem levado ao aparecimento de parasitas resistentes aos princípios ativos utilizados para seu combate. Por isso, é importante que o produtor tenha consciência de que o vermífugo não deve ser sua única ferramenta no controle dos parasitas gastrintestinais. Lembre-se: "o uso indiscriminado de anti-helmínticos induz à resistência dos parasitas. Ou seja, o medicamento perde seu efeito".
Tão importante quanto conhecer os efeitos e prejuízos provocados pelas endoparasitas é saber o grau em que a mesma está ocorrendo. Os exames de fezes ou coproparasitários constituem uma forma indireta para detectar a presença de parasitas e determinar a carga parasitária gastrintestinal sem que seja necessário sacrificar o animal.
A contagem de ovos por grama de fezes (opg), segundo a metodologia de Gordon & Whitlock (1939), é uma técnica laboratorial simples de quantificar os ovos de nematódeos nas fezes dos animais. Assim, é possível avaliar a sanidade do rebanho, correlacionando os valores de opg. com a carga parasitária, bem como verificar a eficiência de produtos anti-helmínticos mediante a redução do opg (Ueno & Gonçalves, 1988).
Coleta de Fezes para Exame do Rebanho
Alguns pontos importantes devem ser considerados na hora de coletar as fezes dos animais para monitoramento do rebanho:
- recomenda-se coletar as fezes de 10% a 20% dos animais de cada categoria do rebanho (jovens e adultos) quando não for possível de todos os animais;
- a coleta deve ser realizada diretamente da ampola retal (ânus) do animal, com um saco plástico, vestindo-o com uma luva;
- os saquinhos devem ser identificados com o número (brinco) ou nome do animal e com o lote e/ou categoria pertencente;
- as fezes devem ser acondicionadas em isopor com gelo assim que coletadas e encaminhadas ao laboratório no mesmo dia;
- encaminhe juntamente com o material coletado a identificação do proprietário (nome, endereço e telefone para contato), além de incluir as informações importantes como a última data de vermifugação e o nome ou princípio ativo do produto utilizado.
Coleta de Fezes para Teste do Vermífugo
Para testar se o vermífugo utilizado tem boa eficácia, a coleta deve ser realizada da seguinte forma:
- escolha os animais que serão dosificados a partir do resultado do exame de fezes do rebanho (opg acima de 800). Caso não tenha feito o exame anteriormente, escolha os animais mais magros e de pior aparência, colete as fezes e desvermine;
- anote no saquinho de coleta a identificação do animal e o princípio ativo utilizado (nome do vermífugo);
- de 7-10 dias após a desverminação (veja a Tabela 1), coletar as fezes dos mesmos animais;
- o vermífugo deve apresentar eficácia superior a 90%;
- o princípio ativo deve ser descartado apenas quando apresentar baixa eficácia (menor que 90%), ou seja, quando já existe resistência dos parasitas ao produto. Nesse caso recomenda-se fazer um cultivo de larvas para identificar o gênero do helminto responsável pelo suposto fracasso dessa medicação na propriedade. É necessário fazer um novo teste de vermífugo com outro princípio ativo.
Tabela 1 - Intervalo entre o tratamento com o vermífugo e a coleta de fezes para teste do vermífugo.
Vamos ver um exemplo de como é calculada a eficácia de um determinado vermífugo. Na Tabela 2 são apresentados os opg antes (dia 0) e 10 dias após o tratamento com o anti-helmíntico dos animais que participaram do teste do vermífugo X em uma determinada propriedade.
Tabela 2 - Teste de redução na contagem de ovos por grama de fezes (opg) fezes para teste de eficácia do vermífugo X.
A partir dos resultados obtidos na Tabela 2, podemos calcular:
Como vermífugo X testado apresenta baixa eficácia (menor que 90%) não deve ser utilizado nessa propriedade onde foi feito o teste de redução da contagem de opg. Nesse caso, seria necessário testar outros princípios ativos. Também podem ser testados mais de um princípio ativo (vermífugo) ao mesmo tempo. Por exemplo: selecione trinta animais e forme três lotes com 10 animais cada, marque cada lote como uma cor diferente e teste um princípio ativo em cada lote. Dessa forma, é possível saber a eficácia de vários princípios ativos ao mesmo tempo e ainda, selecionar o anti-helmíntico que tenha melhor efeito no combate aos parasitas gastrintestinais na propriedade.
Resultado do Exame de Fezes
O valor obtido na contagem de o.p.g. não representa o número exato dos helmintos que parasitam o trato digestivo do animal, no entanto, tem alta correlação com o grau de infecção. O valor limite de opg varia entre 500 e 800 dependendo da genética do rebanho, da categoria e do estado nutricional e sanitário dos animais. Sempre que a contagem média de opg (ovos por grama de fezes) for superior a esse limite estabelecido na propriedade, recomenda-se a aplicação do vermífugo.
O efeito patogênico que o parasita irá exercer sobre o animal irá depender das espécies de parasitas presentes, o número de parasitas (grau de infecção) e de fatores ligado ao próprio animal (estado imunológico, nutricional, idade, etc.). Com o resultado do exame é possível saber o grau da infecção e quais são os vermes que estão parasitando os ovinos. Com isso, o produtor pode utilizar o produto químico específico para o controle dos parasitas que estão acometendo o rebanho naquele momento.
Consideração Final
A utilização do vermífugo eficiente (selecionado através do teste); o monitoramento frequente do rebanho com exame de fezes para determinar a carga parasitária dos animais; e a troca do vermífugo (princípio ativo) apenas quando a eficácia for inferior a 90%, são medidas que minimizam as perdas de produção e prolongam a vida útil dos anti-helmínticos. Ou seja, com o diagnóstico preciso é possível combater o problema com o medicamento correto e eficaz.
A resistência dos parasitas aos vermífugos é um problema muito sério e que deve ser evitada! Por isso lembre-se: verminose não se combate apenas com o uso de vermífugos. Por isso, antes de investir em tratamentos antihelmínticos, realize exames laboratoriais para verificar se a aplicação de tratamentos em seus animais é realmente necessária. Além disso, com exames periódicos você poderá determinar se o vermífugo que está sendo utilizado em sua propriedade está tendo a eficácia esperada.
Referências bibliográficas
CHAGAS, A. C. S. Uso de fitoterápicos e plantas bioativas na parasitose de ovinos e caprinos (Palestra). In: XIV Simpósio Paranaense de Ovinocultura, II Simpósio Paranaense de Caprinocultura e II Simpósio Sul Brasileiro de Ovinos e Caprinos, Curitiba, PR, 2009.
GORDON, H. McL.; WHITLOCK, H. V. A new technique for counting nematode eggs in sheep faeces. Journal of the Council for Scientific and Industrial Research, Melbourne, Australia, v. 12, p. 50, 1939.
SOUZA, F.P. Contribuição para o estudo da resistência de helmintos gastrointestinais de ovinos (Ovies aries) a anti-helmínticos, no estado do Paraná. Curitiba, 1997. Dissertação (Mestrado em Ciências Veterinárias) - Curso de Medicina Veterinária, Universidade Federal do Paraná.
THOMAZ-SOCCOL, V.; SOTOMAIOR, C.; SOUZA, F.P.; CASTRO, E.A.; PESSÔA SILVA, M.C.; MILCZEWSKI, V. Occurence of resistance to antihelmintics in sheep in Paraná State, Brazil. The Veterinary Record, London, v. 139, p. 421-422, 1996.
UENO, H.; GONÇALVES, P. C. Manual para diagnóstico das helmintoses de ruminantes. 3. ed. Tóquio: Japan International Cooperation, 1994. 166 p.