A caprinocultura tem aumentado de forma significativa sua participação no cenário agropecuário brasileiro, principalmente pelo fato de ser uma importante alternativa para desenvolvimento da pecuária na região semiárida do Nordeste, porém ainda sem um manejo que possa melhorar sua produção. O processo de ocupação do Nordeste, o crescimento da população com consequente divisão das superfícies dos sistemas de produção, assim como a modernização da agropecuária contribuíram para o surgimento de um grande número de sistemas de produção com estrutura e funcionamento diferenciados no semiárido (NOGUEIRA e SIMÕES, 2009). Segundo Rocha et al. (2009), na região Nordeste predomina o sistema extensivo de criação de caprinos, que predispõe os animais a condições de temperatura e umidade inadequadas em determinadas épocas do ano. Apesar da capacidade de adaptação dos caprinos à região do semiárido paraibano, os animais não têm condições de exteriorizar todo o seu potencial produtivo por conta de serem criados no sistema extensivo (SILVA et. al. 2005).
Uma das alternativas para o desenvolvimento da caprinocultura no Nordeste brasileiro, visando aumentar a produtividade dos rebanhos, tem sido a importação de raças especializadas. Dentre estas destacam-se a Boer e a Savanna para a produção de carne. A raça Boer é originária da África do Sul, a partir do cruzamento de várias raças, especialmente de cabras Indianas com Angorá. São animais robustos, pesados, com chifres fortes, de comprimento moderado, posicionados bem distantes e tem uma curva inversa gradual, tendendo a sair pelas laterais, são brancos, com o pescoço avermelhado, pêlo curto e macio (https://www.fmvz.unesp.br/ovinos/boer.htm), sendo considerada por Souza et al. (1998) uma raça muito adaptada, próspera em todas as regiões climáticas da África do Sul, incluindo as regiões de climas mediterrâneo, tropical e subtropical, bem como as regiões semidesérticas do Kalahari.
Figura 1 - Caprinos Boer na África do Sul. (Fonte: https://www.leonardomdornelas.com/aplcapri/wordpress)
A raça Savana também surgiu na África do Sul, em meados de 1957, a partir de acasalamentos realizados pelo criador D.S.U. Cilliers e seus filhos, de fêmeas com pelagem colorida com um reprodutor branco. Desde o princípio, a seleção foi dirigida para se obter animais de pelagem branca e muito resistentes aos parasitas, com eficiente produtividade em carne.
É considerado um caprino de grande porte, os machos podem passar até de 130 kg e as fêmeas pesam normalmente entre 60 kg e 70 kg. A cabeça é triangular, as orelhas são de comprimento médio a longo, a pele é flexível, grossa, totalmente pigmentada de preto e pêlos curtos, com bom desenvolvimento muscular e ossos, quartelas e cascos muito fortes (https:// www.fmvz.unesp.br/ovinos/savana.htm).
Figura 2 - Lote de fêmeas da raça Savana pertencente à EMEPA - PB (Fonte: arquivo particular).
Em estudos realizados pelos pesquisadores do NÚCLEO DE PESQUISA BIOCIMÁTICAS DO SEMIÁRIDO (NUBS), Coordenado pelo Prof. Dr. Bonifácio Benicio de Souza, da Unidade de Medicina Veterinária/CSTR/UFCG, em parceria com Empresa Estadual de Pesquisa Agropecuária da Paraíba S.A. (EMEPA), na Estação Experimental de Pendência, localizada no município de Soledade-PB, na microrregião do Curimataú Ocidental do Semiárido Paraibano, situada à 7º 8'18'' S e 36º 27' 2''W. Gr., a uma altitude em torno de 534 m acima do nível do mar, foi verificada a adaptabilidade das raças Boer e Savana, em comparação às raças Anglo-Nubiana e Moxotó, de adaptação já reconhecida no semiárido.
Foram utilizadas 40 fêmeas puras, 10 de cada raça, mantidas em regime semi-intensivo, tendo como base alimentar a vegetação nativa (caatinga) e como suplementação uma ração completa. A ração suplementar era composta por 29% de feno de Tifton (Cynodon spp), 25% de farelo de soja, 15% de farelo de trigo, 30% de milho triturado e 1% de mistura mineral; a qual foi oferecida duas vezes ao dia, às 7:00 horas e às 13:00 horas antes de retornarem ao pasto (SILVA et AL., 2006).
Figura 3 - Os animais nas condições de campo na Caatinga. (Fonte: arquivo particular).
Figura 4 - Os animais recebendo a ração suplementar (Fonte: arquivo particular).
Os valores do índice de temperatura do globo negro e umidade na sombra (ITUG-SB) e no sol (ITGU-SL), obtidos durante o período experimental revelou condição de estresse muito elevado principalmente no sol no turno da tarde (Figura 5).
Figura 5 - Índice de temperatura do globo negro e umidade na sombra (ITUG-SB) e no sol (ITGU-SL).
Para as respostas fisiológicas, as maiores médias foram observadas no turno da tarde devido à condição estressante mais acentuada nesse período conforme demonstra o ITGU (82,25 e 93,58) na sombra e sol, respectivamente.
As médias da frequência respiratória (FR) de caprinos exóticos e nativos nos turnos da manhã e tarde no semiárido paraibano, podem ser observadas na Figura 6.
Figura 6 - Médias da frequência respiratória das raças estudadas.
A raça Anglo-Nubiana apresentou a menor média para FR (30,55 mov/min) e a raça Savana a maior média (42,85 mov/min) diferindo (P<0,05) das demais raças. Contudo quando avaliado o grau de adaptação pelo índice de tolerância ao calor (ITC) as raças apresentaram a mesma capacidade de equilíbrio térmico quando colocadas no ambiente de sombra (SOUZA, 2010).
Figura 7 - Índice de tolerância ao calor (ITC).
Considerações finais
Os caprinos das raças Boer e Savana apresentam elevado índice de tolerância ao calor, contudo necessitam de instalações adequadas que atendam às exigências térmicas, principalmente no período da tarde.
A suplementação com volumoso e concentrado é indispensável para a obtenção de resultados satisfatórios no semiárido, principalmente na época seca do ano. A prática do armazenamento e conservação de forragens é de suma importância para aumentar a produtividade e garantir a sustentabilidade da caprinocultura no semiárido.
Agradecimentos
Ao CNPq pelo financiamento da pesquisa e concessão da bolsa. A EMEPA (Estação Experimental de Pendência) e UFCG pelos animais e instalações concedidas.
Referências bibliográficas
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