Os agentes estressores podem ser:
• Mecânicos (traumatismos, cirúrgicos ou não, contenção e ferrão),
• Físicos (calor, frio, eletricidade, som),
• Sociais (hierarquia ou de dominância social dentro de um rebanho, solidão),
• Químico (drogas e hormônios),
• Biológico (estados de nutrição, agentes infecciosos, verminose),
• Psicológico (exposição a um ambiente novo, manuseio, transporte, maus tratos).
Segundo BACCARI JUNIOR (1998), os agentes podem atuar de forma aguda, crônica, repetida e combinada a outro estressor alterando sua intensidade e duração.
O ponto fundamental para amenizar os efeitos dos agentes estressores é o seu conhecimento e como atuam no animal. Por isso, é essencial conhecer o comportamento da espécie explorada, suas necessidades ambientais e fisiológicas, para fornecê-la o mínimo de conforto e bem estar.
MOBERG (2000) cita uma variedade de fatores importantes a serem avaliados como: experiência anterior; genética; idade; peso; sexo e condição fisiológica para determinar a capacidade de resposta biológica a um agente estressor.
Conhecendo o agente estressor e sua ação na fisiologia e no comportamento típico do animal, será possível administrar ações para evitar ou diminuir o estresse. Mas é preciso, primeiramente, compreender que há diferenças no manejo e nas instalações dos animais dependendo da idade; dieta; genética; produção; estado reprodutivo; adaptação e nível sanitário do animal e das pastagens.
Idade
As modificações ambientais em relação à idade são importantes porque os animais mais jovens precisam de lugares mais protegidos de ventos, poeiras e que ajudem numa amplitude térmica pequena no decorrer do dia. Porém, não se pode esquecer a matriz, muitas vezes o ambiente ideal à cria é estressante para a matriz, e vice versa, por isso, deve-se pensar em ambos. É aconselhável e possível atender os dois em um mesmo ambiente, é apenas saber trabalhar o espaço físico da instalação.
Exemplo: Dentro da baia ou galpão ter uma área mais fechada para as crias e outra mais aberta para as matrizes. Seria como um escamoteador (ambiente com lâmpada para aquecer os animais) usado na maternidade de suínos.
Dieta
É possível através da dieta, fornecer um maior conforto aos animais, simplesmente adotando o manejo nutricional diferenciado, ou seja: suplementar os animais mais vezes para ter alimento fresco no cocho e/ou no período mais ameno do dia; mexer algumas vezes o alimento no cocho; e aumentar a densidade de nutrientes e de energia das dietas. A adição de gordura na dieta aumenta a densidade energética e reduz o incremento calórico total, o que diminui a carga de calor no corpo do animal e o faz ter uma sensação de bem estar, principalmente se o ambiente estiver quente.
Para o aumento de densidade de nutrientes e de energia das dietas há ressalvas importantes a serem feitas:
1. Deve-se ter cautela no aumento da densidade porque o animal pode vir a ter acidose láctica ruminal por causa da maior fermentação do amido e menor tamponamento do rúmen com a saliva (PEREIRA, 2005).
2. Deve-se respeitar as recomendações de adição de gordura na dieta, que não podem ultrapassar 7% da matéria seca (MS) total da dieta, e que destes (7%), 15 a 20% sejam apenas de gorduras inertes (industriais) no rúmen.
Genética
É comum escutar que quanto mais produtivo é um animal menos resistente às ações do ambiente e de parasitas o são. E é pura verdade, e por isso, animais geneticamente superiores e/ou puros devem ser abrigados em instalações adequadas e confortáveis. É aconselhável antes de adquirir reprodutores geneticamente superiores fazer a seguinte pergunta: Minhas instalações e o ambiente onde exploro são apropriados para estes animais?
Atualmente, há tecnologia e facilidades de adquirir sêmen ou embrião e fecundar ou transferir para fêmeas adaptadas ao clima da região. E ao nascer, a cria crescerá se adaptando a este clima e terá como sobreviver, reproduzir e produzir melhor.
Produção
Animais mais produtivos requerem ambientes mais confortáveis e uma alimentação balanceada (segundo sua categoria, sexo, estado fisiológico e produção). Fornecer instalações adequadas e alimentação equilibrada é o mínimo para que estes animais possam estar em ambiente considerado confortável. Para isso, pode adotar a construção de sombreamento artificial, mais áreas de descanso, água e alimentos de boa qualidade, fornecer ventilação nas horas mais quentes (em confinamento) e até mesmo modificações na dieta como foram sugeridas acima.
Estado reprodutivo
Dependendo da temperatura ambiente onde se encontra as matrizes e do grau de estresse que esta provoque, as matrizes podem vir a ter abortos ou fetos mal formados por causa do calor, brigas por comida e espaço. Nesta fase é essencial acompanhar o comportamento e o desenvolvimento da gestação para ter ao seu término uma cria saudável. Por isso, as instalações devem se adequadas às fêmeas gestantes, boa área de cocho, comida mais energética e separação das demais categorias.
Adaptação
É possível e viável conciliar genética + produção + adaptação e selecionar os animais mais adaptados que tenham uma genética superior e alta produção. Ou seja, selecionar dentro do rebanho matrizes geneticamente superiores adaptadas ao clima e com alta produção. Com isso, no decorrer dos anos ter-se-á animais adaptados e de alta produção dentro do rebanho. Para identificá-los e selecioná-los é preciso calcular o Índice de Tolerância ao Calor (ITC) visando à adaptabilidade de cada animal e sua média de produção durante o período (no caso de leite - litros produzidos no período de lactação. E no caso de carne - peso das crias na desmama e ao abate). Notará que animais superiores e adaptados desmamam produtos mais pesados e terminam mais cedo.
ITC segundo Rauschenbach-Yerokhin citado por (FERREIRA 2005):
Bovinos: ITC=1,2Ta - 20d + 52
Ovinos e caprinos: ITC= 1,0Ta - 20d + 60
Sendo:
ITC: Índice de Tolerância ao Calor
Ta: Temperatura do ar em ºC
d: diferença entre as temperaturas retais da manhã (09:00 horas) e tarde (15:00 horas).
ITC segundo BACCARI JUNIOR (1986), que consiste em:
1. Manter os animais à sombra por duas horas e mensurar a temperatura retal (TR1 ºC) usando um termômetro veterinário no reto do animal durante 2 minutos;
2. Levar os animais ao sol por uma hora e voltá-los à sombra por mais uma hora e mensurar a temperatura retal (TR2 ºC);
3. Deve-se fazer este processo em três dias não consecutivos e com total ausência de nebulosidade e calcular a média das temperaturas TR1 e TR2;
4. Durante a realização do teste os animais devem permanecer em jejum e sem acesso a água;
5. Aplicar as média obtidas à fórmula: ITC= 10 - (TR2-TR1);
6. O resultado (ITC) será representado pelo inverso da elevação da temperatura retal após exposição à radiação solar direta, numa escala de zero a dez, e quanto mais próximo de dez for o índice, mais tolerante é o animal (SOUZA et al., 2OO7);
7. É aconselhável obter a temperatura de pelo menos 10 animais.
Para exemplificar o cálculo do ITC é apresentada uma tabela que foi obtida do trabalho de SOUZA et al. (2007):
Tabela 1. Temperaturas médias (TR1 - TR2 °C), e índice de tolerância ao calor (ITC), de bovinos da raça Sindi, no semi-árido.
Por esta tabela podemos observar o processo recomendado por BACCARI JUNIOR (1986): Obteve-se a média de cada repetição (animal) e a média geral. Observe que na coluna do ITC tem-se por animal e geral, ou seja, desta forma é possível identificar quais são os animais mais adaptados e selecioná-los. Todos os animais acima da média geral podem ser selecionados como bem adaptados (1, 5, 7, 8 e 12). Este processo é muito simples e viável a campo.
Nível Sanitário
Neste parâmetro é importantíssimo avaliar a saúde dos animais e efetuar todas as recomendações de vacinas obrigatórias e essenciais da região, aplicar antiparasitários e os antibióticos de forma correta e com precauções em todos os animais.
O sucesso de uma exploração está na relação e interação entre a nutrição, sanidade, bem-estar e genética. A sanidade é fundamental para todos os outros parâmetros porque com saúde o indivíduo tem um maior consumo de matéria seca (CMS), não tem estresse por parasitismo e pode demonstrar todo seu potencial genético. É recomendável mensurar a infestação de vermes tanto na pastagem quanto no animal e efetuar a vermifugação de forma planejada e eficiente.
Todas essas recomendações citadas acima, portanto, possibilitam melhorar as instalações, o bem-estar, a saúde e a seleção dos animais superiores e adaptados, conseguindo desta forma, produzir com maior quantidade e qualidade, ganhando assim, toda a cadeia produtiva.
Bibliografia consultada
BACCARI JUNIOR, F. Adaptação de sistemas de manejo na produção de leite em climas quentes. In: SIMPÓSIO BRASILEIRO DE AMBIÊNCIA NA PRODUÇÃO DE LEITE, Piracicaba, 1998. Anais. Piracicaba: FEALQ, 1998. p.24-67.
BACCARI JUNIOR, F.; POLASTRE, R.; FRÉ, C. A.; ASSIS, P. S. Um novo índice de tolerância ao calor para bubalinos: correlação com o ganho de peso. In:REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE DE ZOOTECNIA,23., 1986, Campo Grande, MS. Anais... Campo Grande: SBZ, 1986. p. 316.
FERREIRA, R.A. Maior produção com melhor ambiente para aves, suínos e bovinos. Viçosa - MG: Aprenda fácil, 2005.
MOBERG, G.P. Biological response to stress: implications for animal welfare. In: CABI publishing, 1-22 - 2000.
PEREIRA, J.C.C. Fundamentos de bioclimatologia aplicada à produção animal - Belo Horizonte: FEPMVZ, 2005. 195p.
RASLAN, L.S.A. e TEODORO, S.M. Estresse. https://www.farmpoint.com.br/?actA=7&areaID=3&secaoID=303 21/09/2007.
RASLAN, L.S.A. Mecanismo do Estresse. https://www.farmpoint.com.br/?actA=7&areaID=3&secaoID=303 22/10/2007.
RASLAN, L.S.A. Fases do estresse. https://www.farmpoint.com.br/?actA=7&areaID=3&secaoID=303 29/11/2007.
SOUZA, B.B., SILVA, R.M.N., MARINHO, M.L., SILVA, G.A., SILVA, E.M.N., SOUZA, A.P. Parâmetros fisiológicos e índice de tolerância ao calor de bovinos da raça Sindi no Semi-árido paraibano. Revista Ciência e agrotecnologia, Lavras, v.31, n.3, p.883-888, maio/junho, 2007.