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Ensilagem de Grãos de Cereais: Parte II

POR THIAGO BERNARDES

E RAFAEL CAMARGO DO AMARAL

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 21/09/2007

6 MIN DE LEITURA

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Na parte I deste artigo, foram tratados assuntos referentes a produção e ao manejo da ensilagem de grãos de cereais. Nesta parte II, o objetivo será mostrar alguns aspectos relacionados ao pós-abertura desse tipo de silagem, bem como, mostrar alguns aspectos nutricionais referentes ao tema.

O desabastecimento do silo e o problema da deterioração aeróbia

A redução do tempo de exposição dos grãos ao ambiente após a maturidade fisiológica e a eliminação da etapa de secagem dos mesmos, com base na confecção de silagem de grãos úmidos, resultou numa evolução no que se refere ao controle de perdas e redução de custos no armazenamento de grãos. Entretanto, do ponto de vista da ensilagem um novo entrave foi criado, representado pelo fenômeno da deterioração aeróbia da massa.

A presença de oxigênio na massa constitui-se como fator indesejável. O processo de deterioração aeróbia em silagens de grãos úmidos é originado pela elevada população de leveduras e alta disponibilidade de nutrientes na massa, sendo que a temperatura ambiental e o tempo de exposição da silagem ao O2 também devem ser considerados.

As leveduras envolvidas com a deterioração aeróbia podem ser classificadas em dois grupos: as espécies que utilizam ácidos orgânicos (Cândida, Endomycopsis, Hansenula e Pichia) e as que consomem açúcares e amido. Elas são capazes de se desenvolverem em baixas concentrações de oxigênio e em ambientes com pH muito ácido (pH < 4,0), ocorrendo a sucessão de populações ao longo das etapas de ensilagem.

O número de leveduras na silagem, segundo Beck (1963) citado por Woolford (1990), pode variar de < 102 a 1012 ufc/g MS em menos de três dias. Após o fechamento do silo, as leveduras competem com os outros microrganismos por substratos fermentescíveis e, durante as primeiras semanas de ensilagem, a população pode chegar a 107 ufc/g, ocorrendo um decréscimo gradual durante as etapas subseqüentes do armazenamento, sendo que a sobrevivência das leveduras na estocagem depende do grau de anaerobiose, do pH e da concentração de ácidos orgânicos.

As áreas do silo mais próximas à atmosfera são por natureza, mais sujeitas à infiltração de ar, freqüentemente devido a maior porosidade da massa e aos materiais utilizados na cobertura. Desse modo, a multiplicação das leveduras pode continuar lentamente durante todo o período de estocagem e chegar ao momento de abertura do silo com carga em torno ou superior a milhões de ufc por grama de silagem (Borreani et al., 2002).

McDonald et al. (1991) relataram que a aeração da massa na ensilagem, devido ao tempo prolongado em contato com o O2, promove a multiplicação das leveduras, o que eleva à susceptibilidade da silagem em sofrer deterioração após a abertura do silo. Em silagens de grãos úmidos, quando a massa entra em contato com o ar durante o desabastecimento do silo, populações de leveduras superiores a 105 ufc/g podem quebrar a estabilidade em poucas horas (Siqueira et al., 2007).

Desse modo, antes da ensilagem, é necessário dimensionar adequadamente os silos em relação à demanda diária, pois se esta etapa for negligenciada a silagem de grãos úmidos deixa de se comportar como eficiente opção na conservação de alimentos.

A ensilagem e a digestão do amido

Os estudos com silagem de grãos úmidos de cereais têm constatado que há elevação na energia metabolizável do grão, devido principalmente ao aumento na digestão do amido, pois a ensilagem provoca a fragilização da matriz protéica que o recobre (Owens et al., 1997; Jobim et al., 2001; Costa et al., 2004).

Alguns estudos hipotetizaram que o grão ao ser ensilado sofre a gelatinização do amido, o que provocaria o rompimento das membranas protéicas e das estruturas dos grânulos de amido, melhorando a digestão microbiana (rúmen) e enzimática. Contudo, segundo Lopes (2004) citado por Costa et al. (2004), as condições do silo são insuficientes para que ocorra a gelatinização do amido, principalmente, devido à temperatura alcançada durante a fermentação.

Portanto, a exposição do amido ao ataque microbiano e enzimático, proporcionado pela ensilagem, está relacionado principalmente com a ação mecânica da moagem e a presença de ácidos orgânicos, que determinam o rompimento da matriz protéica.

Outro aspecto importante é a composição do amido, pois este polímero é composto de moléculas de amilose e de amilopectina, ligadas por pontes de hidrogênio. A amilose possui uma estrutura resistente, desse modo a digestibilidade do amido é inversamente proporcional a concentração deste componente. Portanto, fontes de amido com maiores concentrações de amilopectina, como o grão de milho imaturo, podem apresentar maior digestibilidade.

Silagens de grãos úmidos na alimentação de ovinos

A literatura apresenta escassos trabalhos direcionados à alimentação de ovinos com silagens de grãos úmidos, porém os poucos trabalhos realizados são promissores, visto que, principalmente as raças especializadas para produção de carne, apresentam ciclo de produção curto (150 dias do nascimento ao abate), com alta demanda de nutrientes, sendo a silagem do grão úmido, excelente fonte energética para os animais.

Reis et al. (2001) trabalhando com silagem de grãos úmidos de milho, silagem de grãos de milho hidratada em substituição ao milho seco para cordeiros em confinamento, concluíram que os animais que consumiram as silagens apresentaram maior eficiência em ganho de peso, atingindo o peso de abate mais rapidamente, atribuindo este fato à maior digestibilidade da silagem de grãos de milho úmidos. Segundo o mesmo autor, as carcaças dos cordeiros alimentados com silagem de grãos úmidos de milho não apresentaram efeito depreciativo em relação às características quantitativas e qualitativas.

Almeida Jr et al. (2004) em experimento com cordeiros da raça Suffolk, trabalhando com rações contendo 15% de feno, com substituição de grãos de milho seco por silagem de grão úmido de milho, observaram ganho médio diário de 385 e 368 gramas para silagem de grãos úmidos e grão seco, respectivamente. Apesar da não detecção de efeito significativo, os animais alimentados com a silagem obtiveram maior retorno econômico, devido ao fato do menor tempo requerido para atingir o peso ao abate (28 kg).

Em confinamento experimental, utilizando cordeiros SRD com peso inicial de 20 kg, alimentados com capim-elefante como fonte de volumoso (50%), diferindo os tratamentos entre os tipos de grãos de cereais (grãos de milho e sorgo, secos e ensilados), Ítavo et al. (2006) observaram resultados satisfatórios para utilização de grãos úmidos ensilados (Tabela 1).

Tabela 1. Consumo de matéria seca (CMS), conversão alimentar (CA), eficiência alimentar (EA) e ganho médio diário de cordeiros em confinamento recebendo dietas à base de capim-elefante e grãos de milho ou sorgo, secos ou ensilados úmidos.
 


*Dietas formuladas para GMD de 150 g/dia (AFRC, 1993).
Fonte: Ìtavo et al. (2006).

Apenas os tratamentos com grãos úmidos ensilados proporcionaram ganhos acima do esperado.

Os cordeiros alimentados com silagens de grãos úmidos de milho e de sorgo apresentaram os melhores resultados de conversão e eficiência alimentar. É possível que a ensilagem dos grãos tenha proporcionado maior quantidade de produtos finais da digestão, o que implica diretamente em maior eficiência de utilização metabólica dos animais (Phillipeau et al., 1999).

A ensilagem dos grãos úmidos de milho e de sorgo provavelmente favoreceu o aumento da digestibilidade destes grãos, por meio do rompimento da matriz protéica que envolve os grânulos de amido. Esse rompimento pode ter sido causado pela presença de ácidos orgânicos resultantes do processo fermentativo, os quais possibilitaram os valores de ganho de peso diário, conversão alimentar, eficiência alimentar para os animais alimentados com silagens de grãos (Ìtavo et al., 2006).

Portanto, segundo Jobim et al. (2001) a utilização de silagem de grãos úmidos de milho na alimentação de ruminantes pode contribuir significativamente para melhorar o desempenho animal. Além dos resultados em relação ao valor nutricional e desempenho animal, deve-se destacar principalmente os resultados econômicos que poderão advir do emprego da silagem de grãos de milho como constituinte de rações, sendo esse aspecto de grande relevância principalmente em culturas onde a margem de rentabilidade é baixa.

THIAGO BERNARDES

Professor do Departamento de Zootecnia da Universidade Federal de Lavras (UFLA) - MG.
www.tfbernardes.com

RAFAEL CAMARGO DO AMARAL

Zootecnista pela Unesp/Jaboticabal.
Mestre e Doutor em Ciência Animal e Pastagens pela ESALQ/USP.
Gerente de Nutrição na DeLaval.
www.facebook.com.br/doctorsilage

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PEDRO ALBERTO CARNEIRO MENDES

FORTALEZA - CEARÁ - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 25/09/2007

As informações contidas nos artigos 1 e 2, são por demais valiosas, pois a maioria das decepções com a utilização da silagem ocorrem na abertura dos
mesmos. Pois na maioria das vezes o conteúdo do silo é de baixa qualidade apesar de do excelente material ensilado.

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