Uma das práticas mais comuns em fazendas leiteiras, para alimentação do gado, é a produção e conservação de silagem. Mas ainda há muita dúvida quanto ao planejamento e o dimensionamento do silo. Confira neste artigo!
Por que produzir silagem para vacas leiteiras?
É reconhecido que a estacionalidade de produção das plantas forrageiras é um dos entraves enfrentado pelos produtores, conduzindo a uma diminuição na eficiência de produção de ruminantes.
O decréscimo na produção de forragens é devido à diminuição da disponibilidade de luz, significando que os dias tornam-se mais curtos, há uma queda na temperatura média e diminuição acentuada nos níveis pluviométricos, alterando dessa forma todos os processos metabólicos da planta.
Uma opção para suprir a baixa disponibilidade e qualidade de volumoso no período seco do ano é a conservação de forragem, a qual visa manter o nível de suprimento de alimento derivado da bovinocultura para a população (Reis et al., 2006). Com a conservação o produtor consegue manter disponibilidade e qualidade de alimento de maneira mais uniforme ao longo do período de suplementação.
No Brasil vem sendo crescente o aumento de animais alimentados com volumosos conservados em pelo menos um período de sua vida produtiva. Segundo estudo realizado pelo site BeefPoint o número de animais confinados em 2005 foi de 666.065 nos maiores confinamentos do país, mostrando um aumento de 20,35% sobre a pesquisa de 2004, mostrando a grande importância da silagem no contexto nacional.
Dessa forma, o planejamento de volumosos é de extrema importância, visto que tanto a falta ou sobra de silagem acarreta em aumento dos custos dentro da propriedade. Um erro comum é o mau planejamento da quantidade de forragem a ser ensilada, podendo faltar alimento conservado, obrigando o produtor a voltar com esses animais ao pasto; uma outra alternativa seria a compra de silagem de outra propriedade, possibilidade esta não muito viável, a qual encarece a produção e dificulta o manejo. Assim, para minimizar esses problemas é necessário pensar em alguns fatores:
- Que tipo de silo eu disponho na propriedade?
- Quantos animais vão ser alimentados com essa silagem?
- Por quanto tempo esses animais vão ficar confinados?
Tipos de silo
Os silos mais comuns de serem encontrados são os trincheira, os silos de superfície e os silos cilíndricos, havendo em cada um destes, vantagens e desvantagens em seu uso.
É preciso tomar alguns cuidados após a escolha do silo, como: colocá-lo o mais próximo possível dos animais, facilitando o carregamento e o descarregamento da silagem e em local onde não comprometerá uma futura expansão das instalações e que tenha a facilidade de manejar possíveis efluentes.
- Silos do tipo cilíndricos são pouco utilizados, devido, em grande parte, ao seu manejo ser difícil, apesar de proporcionar boas condições para a fermentação da forragem.
- Silos do tipo trincheiras são os mais comuns nos dias atuais devido a sua facilidade de carregamento, de compactação, de descarregamento e seu custo de construção. Esse tipo de silo pode ter a forma de um trapézio, aproveitando as irregularidades do terreno ou a forma de um retângulo quando o terreno for muito plano. Independente da forma do silo, deve-se atentar a largura mínima da base do silo, pois essa que possibilitará a entrada do trator para uma boa compactação. Geralmente é recomendada uma largura mínima de duas vezes a largura entre os pneus traseiros do trator.
- Silo de superfície é o mais econômico, e, por não haver nenhum tipo de estrutura fixa, pode ser feito mais perto do local onde estão os animais, devendo-se atentar em relação a compactação, pois, não havendo paredes, é necessário um maior tempo de trabalho. Para confeccionar esse tipo de silo, o material deve ser depositado em camadas, compactado e coberto com lona plástica.
Como calcular a capacidade de um silo?
A capacidade de um silo depende de três fatores principais:
- Volume;
- Nível de compactação;
- Teor de matéria seca.
Cálculo da capacidade do silo trincheira
Para silos trincheira, que geralmente possuem formato de um trapézio com a base inferior menor que a base superior o cálculo é realizado da seguinte forma:
Exemplo:
Um silo com 4 m de base inferior(b), 5 m de base superior (B), 2 m de altura (A) e 10 m de comprimento (C), tem o seguinte volume:
- Área da face de silo: [(B + b) / 2] x A = 4,5 x 2 = 9 m2
- Volume total do silo: 9 m2 x 10 m = 90 m3
Se o silo possuir bases iguais (4 m) o volume será:
- Área da face do silo: (B x A) = 4 m x 2 m = 8 m2
- Volume total do silo: 8 m2 x 10 m = 80 m3
Cálculo da capacidade do silo de superfície
Silo do tipo superfície (trapezoidal) pode ter seu volume estimado da mesma maneira do silo trincheira, mais será difícil chegar a uma estimativa precisa.
Cálculo da capacidade do silo cilíndrico
O cálculo para silos cilíndricos depende da fórmula (π x r2) e multiplicá-la pela altura do silo.
Exemplo: Um silo com raio de 1,5 m (r) e 10 metros de altura (A), seu volume será:
- Área da face do silo: π x (1,5 m)2 = 3,14 x 2,25 m2 = 7,07 m2
- Volume total do silo: 7,07 m2 x 10 m = 70,70 m3
Multiplicando-se o resultado do volume pela densidade de compactação, será obtido a quantidade de forragem a ser ensilada.
Volume do silo (90 m3) x densidade constante (620 Kg/ m3) = 90 m3 x 0,62 t/ m3 = 55,8 t de MV
É importante salientar que para diferentes culturas, diferentes teores de MS e diferentes graus de compactação existe variação na densidade da forragem.
Quantidade de silagem por animal
Supondo-se que se trate de um rebanho de vacas leiteiras (50 animais), com média de peso vivo de 450 Kg, comendo 2,5% do peso vivo em matéria seca da ração total (11,25 Kg de MS), com relação volumoso:concentrado 60:40.
Neste caso, a quantidade de silagem para cada animal é de 6,75 Kg de MS, se o alimento conservado apresenta 28% de MS, a quantidade de material verde oferecido a cada animal será de 24,11 Kg de silagem fresca.
Quantidade total de silagem a ser produzida
Se a necessidade de volumoso conservado for para 180 dias:
- 1 vaca: 24,11 Kg silagem/dia/vaca
- 50 vacas: 24,11 x 50 = 1205,5 Kg silagem/dia
- 50 vacas em 180 dias: 1205,5 x 180 = 217 toneladas de silagem.
Com essas informações, pode-se estimar a quantidade de silagem a ser utilizada durante o ano, porém a quantidade estocada deverá ser maior que o consumo dos animais, devido às perdas que ocorrem na ensilagem, processo fermentativo, retirada e fornecimento.
Para o exemplo anterior, assumindo perdas totais de 15%, com consumo previsto de 217 t de silagem fresca, será necessário ensilar:
- Quantidade a ser consumida: 217 t de MV
- Quantidade a ser ensilada: 217 t/(100 - % perdas)
- Assim: 217 t/(100-15) = 255 t MV
Pode-se observar que com um planejamento e cálculos simples o produtor tem a capacidade de estimar a quantidade de volumoso conservado, que será utilizado durante o período seco e o tamanho do silo que será necessário, podendo optar pelo silo que mais se adequar a suas condições.
Referências bibliográficas
OLIVEIRA, J.S. Manejo do silo e utilização da silagem de milho e sorgo. In: CRUZ, J.C. et al. (Ed.) Produção e utilização de silagem de milho e sorgo. 1.ed. Sete Lagoas: EMBRAPA, 2001.p. 473-518.
REIS, R.A.; NUSSIO, L.G.; COAN, R.M.; et al. Adequação ao uso de alimentos volumosos: custos de produção e desempenho comparativo. In: COAN, R.M. et al. (Ed.) Confinamento: gestão técnica e econômica. 1.ed. Jaboticabal, 2006. p. 113-136.
RESENDE, F.D.; SIGNORETTI, R.D.; COAN, R.M.; et al. Terminação de bovinos de corte com ênfase na utilização de volumosos conservados. In: REIS, R.A. et al. (Ed.) Volumosos na produção de ruminantes. 2.ed. Jaboticabal: Funep, 2005. p 83-106.