A ensilagem do milho permite a produção de silagem de alta qualidade devido aos seus conteúdos relativamente ideais de matéria seca e de carboidratos solúveis e à sua baixa capacidade de tamponamento (Wilkinson, 1998). A silagem de milho é tida como padrão e, geralmente, como referência para estimar o valor de outras silagens.
Entretanto, em determinadas épocas do ano têm sido necessárias novas opções de culturas, capazes de completarem seu ciclo com precipitações pluviométricas inadequadas. Nessas condições, o girassol apresenta-se como alternativa, pois sua capacidade de extrair a água disponível na camada de 0 a 2 metros de profundidade foi estimada em, aproximadamente, 92%, contra 64% do sorgo (Bremner et al., 1986), sendo capaz de tolerar períodos secos e produzir grande quantidade de matéria seca (4 a 11 t MS/ha) (Sheaffer et al., 1977).
A cultura do girassol também apresenta maior resistência ao frio e ao calor, em relação às demais culturas, apresentando ampla adaptabilidade às diferentes condições edafo-climáticas, sendo assim, opção nos sistemas de rotação e sucessão de culturas.
Como alimento para ruminantes, a silagem de girassol apresenta composição bromatológica distinta da silagem de milho, com teores mais elevados de proteína bruta, de extrato etéreo e de matéria mineral; diferença na composição da parede celular, com valores mais elevados de lignina, valores de NDT entre 71 e 75%, ingestões de matéria seca ao redor de 2,2% do peso vivo (Henrique et al., 1998). Evangelista & Lima (2001) cometam que o baixo teor de MS tem sido apontado como uma das principais limitações da cultura, o que pode gerar produção excessiva de efluentes, carreando nutrientes da forragem para fora do silo.
Pereira et al. (2002) estudando diferentes idades de corte de girassol (30 a 51 dias após florescimento) para produção de silagem (Tabela 1), observaram variações nos teores de MS de 20,43 a 61,63%. Os valores de proteína bruta (PB) estiveram próximos a 11% e aparentemente não foram influenciados pela época de ensilagem. As frações fibrosas apresentaram-se constante até 44 dias após o florescimento, entretanto aos 51 dias observou-se elevação desta fração. Segundo os autores, o corte mais tardio da cultura gerou redução da degradabilidade da MS e PB avaliada em ovinos.
Tabela 1. Composição química das silagens de girassol, ensiladas aos 30, 37, 44 e 51 dias
Fonte: adaptado de Pereira et al. (2002)
Bueno et al. (2004) compararam a silagem de girassol em relação a silagem de milho, com níveis crescentes de concentrado na ração (20, 40 e 60%) no desempenho de cordeiros da raça Suffolk.
As curvas de crescimento dos cordeiros exibiram padrões distintos, em função da dieta consumida (silagens e teores de concentrado), o que produziu diferenças nos pesos finais (Figura 1). A ração à base de silagem de girassol com 20% de ração concentrada propiciou desempenho insatisfatório, podendo ser visualizado pelo formato da curva de pesos. Segundo os autores, para as rações que continham silagem de girassol, foi necessário maiores quantidades de ração concentrada para se obter ganho de peso satisfatório.
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Figura 1. Crescimento de cordeiros alimentados com dietas à base de silagem de girassol e silagem de milho, com distintas proporções de ração concentrada comercial (RCC)
A ingestão média diária de matéria seca, o ganho médio diário e a conversão alimentar apresentaram diferença entre os fatores avaliados (Tabela 2). Houve diferença significativa para ingestão média diária de MS entre as silagens somente para os animais alimentados com a menor proporção de ração concentrada (20%), o que pode ser atribuído às diferenças no valor nutritivo das silagens. O maior conteúdo de ligno-celulose na parede celular presente na silagem de girassol acarretou provável redução no esvaziamento ruminal, desfavorecendo a ingestão voluntária (Mertens, 1994).
Tabela 2. Ingestão média diária de matéria seca, ganho médio diário de peso vivo (g), conversão alimentar (kg MS ingerida/kg de ganho de peso vivo) de cordeiros em crescimento e coeficiente de variação (CV)
Fonte: Adaptado de Bueno et al. (2004).
Nas rações com maiores proporções de concentrado, não foram evidenciadas diferenças significativas para esta variável, possivelmente em virtude do melhor ambiente ruminal gerado pelo concentrado. Os valores de ingestão de MS, nos níveis elevados de ração concentrada, foram adequados aos cordeiros em terminação, contudo, nas proporções mais baixas, não foram satisfatórios para um bom desempenho animal (NRC, 1985). Quanto ao ganho de peso, houve efeito significativo entre as dietas com menores proporções de ração concentrada (Tabela 2), tendo destaque a silagem de milho, enquanto, nas dietas com elevada proporção de ração concentrada os ganhos médios diários de peso vivo não apresentavam diferença significativa.
Isto evidencia que animais alimentados com silagem de girassol necessitam de maior complementação com ração concentrada para produzir resultados semelhantes aos alimentados com dietas à base de silagem de milho (Bueno et al., 2004). Porém, dentro de um sistema de produção, a opção pela silagem de girassol pode ser de caráter logístico, visto à suas vantagens de produção em períodos de condições adversas.
Referências bibliográficas
GONÇALVES, L.C.; TOMICH, T.R.; PEREIRA, L.G.R. Produção e utilização de silagens de girassol. In: SIMPÓSIO DE FORRAGICULTURA E PASTAGENS, 1., 2000, Lavras. Anais... Lavras: Universidade Federal de Lavras, 2000. p.203-236.
BUENO, M.S; FERRARI Jr, E.;POSSENTI, R.A. et al. Desempenho de Cordeiros Alimentados com Silagem de Girassol ou de Milho com Proporções Crescentes de Ração Concentrada. Revista Brasileira de Zootecnia. v.33, n.6, p.1942-1948, 2004.