A análise econômica da empresa rural, por intermédio do cálculo dos custos de produção e das medidas de resultado econômico, é um forte subsídio para o produtor fundamentar as decisões a serem tomadas, estabelecer quais são as prioridades, a possibilidade de novos investimentos e a visão de viabilidade do negócio.
Essa análise pode ser feita tanto para a empresa como um todo (análise global) como para as atividades individuais (análise setorizada), de acordo com os centros de custos: 1) produção de leite/carne; 2) produção de animais de reposição; 3) produção de alimentos volumosos/concentrados.
A análise setorizada oferece ao produtor meios para decidir, por exemplo, entre a alternativa de criar os animais de reposição, comprá-los no mercado ou terceirizar sua criação; ou, ainda, produzir os alimentos, comprá-los no mercado ou terceirizar sua produção.
Podemos apresentar os custos de produção e as medidas de resultado econômico conforme o quadro 1.
Quadro 1: Custos de produção e medidas de resultado econômico.
Fonte: adaptado de Matsunaga et al. (1976); Gomes (1999); Yamaguchi (1999); Gomes (2006).
Os custos normalmente são expressos em R$/ano, R$/litro ou R$/quilo. As medidas de resultado econômico normalmente são expressas em R$/ano, R$/litro, R$/quilo ou R$/hectare e a taxa de remuneração do capital investido normalmente é expressa em % ao ano.
O custo operacional efetivo (COE) refere-se apenas aos gastos efetivamente realizados na condução da atividade. São os gastos de custeio da atividade e, normalmente, implicam em desembolso do produtor (alimentos, mão-de-obra, fertilizantes, sementes, medicamentos, energia, combustível, manutenção, impostos e taxas, assistência técnica, etc).
O custo operacional total (COT) corresponde ao custo operacional efetivo mais as depreciações do capital imobilizado em benfeitorias, máquinas, equipamentos, animais de serviços e forrageiras não-anuais e mais os custos correspondentes à mão-de-obra familiar.
O custo total (CT) engloba o custo operacional total mais a remuneração do capital investido em benfeitorias, máquinas, equipamentos, animais, forrageiras não anuais e terra.
A renda bruta (RB) é determinada pelo preço do produto multiplicado pela respectiva quantidade vendida, consumida ou estocada. A análise da renda bruta, isoladamente, é pouco conclusiva, pois nem sempre as linhas de exploração que apresentam maior renda bruta são as melhores do ponto de vista econômico. Torna-se importante comparar os custos associados, ou seja, o montante investido na produção.
A margem bruta corresponde à renda bruta menos o custo operacional efetivo (MB = RB - COE). Margem bruta positiva significa que a exploração está se remunerando e sobreviverá pelo menos no curto prazo. Margem bruta negativa significa que a atividade está antieconômica, pois o que se compra e consome é maior do que se consegue de renda bruta.
A margem líquida corresponde à renda bruta menos o custo operacional total (ML = RB - COT). Quando a margem líquida é negativa, o produtor pode não abandonar a atividade. Isto acontece quando ele concorda em trabalhar na sua empresa (mão-de-obra familiar) por um salário menor que o salário considerado no cálculo do custo e, ou, não consegue cobrir a depreciação do capital investido. A continuidade da margem líquida negativa leva ao empobrecimento do produtor.
O lucro corresponde à renda bruta menos o custo total (L = RB - CT). Quando o lucro é positivo, pode-se concluir que a atividade é estável e com possibilidade de expansão. Em caso de lucro negativo, mas em condições de suportar o custo operacional efetivo (ou seja, com margem bruta positiva), pode-se concluir que o produtor poderá continuar produzindo por determinado período, embora com um problema crescente de descapitalização. A perpetuação do lucro negativo torna a atividade não atrativa. Lucro nulo significa que a empresa está no ponto de equilíbrio e em condições de refazer, no longo prazo, seu capital fixo.
Pensando em termos de lucro, deve-se entender os fatores que o afetam. Como apresentado, basicamente o lucro resulta da diferença entre a renda bruta e o custo total. Por sua vez, a renda bruta é igual à quantidade do produto vezes seu preço de venda (RB = P x $P) e o custo total é igual às quantidades dos insumos vezes seus respectivos preços de compra (CT = I x $I).
Desta forma, pode-se dizer que: 1) o preço de venda do produto ($P) é apenas um dos 4 componentes do lucro. O produtor deve buscar o máximo lucro e não, necessariamente, o maior preço de venda do produto; 2) o lucro da atividade depende da produtividade P/I (litros de leite ou quilos de carne produzidos por quilo de alimento consumido) e da relação de troca $P/$I (quilos de ração comprados com um litro de leite ou um quilo de carne vendido). A queda do preço pago pelo produto ($P) deve ser compensada pelo aumento da produtividade (P/I).
A taxa de remuneração do capital é igual à margem líquida dividida pelo capital investido (benfeitorias, máquinas, equipamentos, animais e terra). Fornece informações sobre a atratividade do negócio. Quando a taxa de remuneração calculada for maior que a taxa de juros de uma aplicação alternativa, significa que o negócio é atrativo. Em análises desta natureza, é usual utilizar, como referência na comparação, a taxa real de juros da caderneta de poupança, que é de 6% ao ano.
O produtor deve encarar sua atividade como uma opção de investimento de tempo e capital. É o que se chama de custo de oportunidade: quanto eu estou deixando de ganhar em comparação a um investimento alternativo?
Infelizmente são poucos os produtores que fazem anotações contábeis de forma sistemática e sabem realmente como vai o seu negócio. A maioria está preocupada em acompanhar apenas os índices de produção e esquece os de rentabilidade.
Referências Bibliográficas
GOMES, S.T. Cuidados no cálculo do custo de produção de leite. In: Seminário sobre Metodologias de Cálculo do Custo de Produção de Leite, 1, Piracicaba, 1999. Anais ... Piracicaba:USP, 1999.
GOMES, S.T. Diagnóstico da pecuária leiteira do Estado de Minas Gerais em 2005: relatório de pesquisa. Belo Horizonte: FAEMG, 2006. 156 p.
MATSUNAGA, M., et al. Metodologia de custo de produção utilizada pelo IEA. Agricultura em São Paulo, v.23, n.1, p.123-139, 1976.
QUEIROZ, M.P. Você tem retorno de 9% ao ano no seu negócio? 15/10/2004. Disponível em:https://www.beefpoint.com.br/?actA=7&areaID=60&secaoID=158¬iciaID=21275 Acesso: 20 out 2004.
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YAMAGUCHI, L.C.T. Custo de produção de leite: critérios e procedimentos metodológicos. In: Seminário sobre Metodologias de Cálculo do Custo de Produção de Leite, 1, Piracicaba, 1999. Anais...Piracicaba:USP, 1999.