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Emprego de tecnologias na produção de ovinos e caprinos - Foco em reprodução

POR CARINA BARROS

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 30/07/2012

11 MIN DE LEITURA

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No mês passado tratamos dos avanços tecnológicos na nutrição, e neste mês, dando continuidade à temática, iremos abordar o emprego da tecnologia nos sistemas produtivos de ovinos e caprinos focando na reprodução.

Avanços na área de reprodução

No campo da reprodução é possível observar diversas inovações aplicáveis à ovinos e caprinos nos últimos 50 anos, sendo que algumas técnicas já estão amplamente difundidas nas propriedades que trabalham com genética (Quadro 1).

A reprodução é um fator muito importante no sistema produtivo, pois contribui para produção de carne e leite influenciando o número de animais e a produção do rebanho presente e futuro (FARIAS, 2008). A melhoria do nível nutricional dos animais, que vem ocorrendo com a adoção de novas tecnologias, deve ser acompanhada de melhoria do potencial genético do animal (EUCLIDES, 2001).

A possibilidade de se manipular a reprodução cria oportunidades de maximização da produção e uso de tecnologias que podem permitir a identificação e multiplicação de genótipos superiores (FONSECA et al., 2007).

Quadro 1 - Representação das inovações tecnológicas da reprodução.



Os ovinos e caprinos apresentam sazonalidade reprodutiva, portanto somente em certas épocas do ano (dias mais curtos/outono) manifestam comportamento reprodutivo, sendo o fotoperíodo o principal responsável pela sazonalidade (LOPES JÚNIOR et al., 2001). Devido a essa adaptação natural, a época de parto coincide com períodos de melhor clima e maior disponibilidade forrageira, importante para aumentar a sobrevivência das crias (THIÉRY et al., 2002). Esse fato implica em concentração do estro e partos em determinadas épocas, e consequentemente, os cabritos e cordeiros estarão prontos para abate na mesma época, o que implica na concentração da oferta de carne em alguns meses do ano. Entretanto, quando os ovinos e caprinos são criados em regiões de clima tropical, podem apresentar estro e ovulação o ano todo, desde que bem nutridos e saudáveis (SIMPLÍCIO & SANTOS, 2005).

A indução do estro é uma técnica que permite que a cabra e a ovelha ovulem em épocas do ano diferentes daquela em que ocorre naturalmente, permitindo que se programem os estros e partos nas épocas mais propícias e distribuam-se os partos. A sincronização faz com que um lote de animais esteja ciclando na mesma época, sendo assim irão parir no mesmo período racionalizando o manejo, já que um mesmo lote de animais estará em fase fisiológica semelhante, e necessitam dos mesmos cuidados. Isso pode ser feito com uso do efeito macho (CARNEVALI et al., 1997), hormônios (FONSECA, 2002), melatonina (DEVESON et al., 1992) ou fotoperíodo artificial (CORDEIRO, 1992). Com esses meios é possível induzir e sincronizar estro nas cabras e ovelhas em anestro ou sincronizar o momento do aparecimento do estro nas fêmeas cíclicas (GONÇALVES et al., 2008). Além disso, é possível reduzir o intervalo entre partos (CHEMINEAU, 1993), com manejo intensivo pode-se conseguir um parto a cada oito meses. Com o domínio de conhecimentos do efeito dos hormônios, duração dos picos, morfologia dos ovários, várias alternativas para induzir ou sincronizar o estro e a ovulação e para superovular foram concebidas e avaliadas nos últimos 30 anos (SIMPLÍCIO et al., 2005).

A estacionalidade reprodutiva também é observada nos machos. Os bodes e carneiros perdem a libido e a qualidade do sêmen diminui fora da estação reprodutiva, o que inviabiliza a monta natural (TRALDI, 1994). Para otimizar o uso do sêmen de reprodutores de genética superior é possível fazer a coleta de sêmen em épocas mais favoráveis, de melhor fertilidade, para seu uso posterior em inseminação artificial. Pode-se utilizar sêmen fresco in natura ou diluído, resfriado ou congelado. A técnica in natura significa a coleta do ejaculado do bode reprodutor e pronto uso na fêmea, sendo possível fazer várias diluições com apenas uma coleta e obter diversas doses inseminantes, ou seja, inseminar várias cabras. O sêmen coletado pode ser preservado pelo frio (criopreservação) por meio do resfriamento a 4oC, cuja viabilidade máxima de uso é 48 horas, ou congelamento em nitrogênio líquido à temperatura de -196oC por período de tempo indefinido (NUNES et al., 1997). Com a coleta de sêmen, avaliação e diluição é possível preparar de 10 a 40 doses de sêmen dependendo da quantidade do mesmo e quantidade de espermatozóides utilizados por dose (RIBEIRO, 1997). Dessa forma, é possível fazer melhoramento genético do rebanho com elevação na produtividade por seleção de reprodutores geneticamente superiores usados como doadores de sêmen (SOLANO et al, 1999), inclusive de outras regiões e países. Os melhores reprodutores podem ser utilizados em diversas propriedades, já que o sêmen criopreservado é facilmente transportado. Além disso, pode-se conservar sêmen de reprodutores mesmo após sua morte, e daqueles que apresentam defeitos físicos durante sua vida e não podem mais realizar monta natural (TRALDI, 1994).

A técnica de inseminação artificial (IA) consiste em inserir espermatozóides, por meio de instrumentos, no trato genital feminino para que esses fecundem o óvulo e ocorra a gestação. Para isso há necessidade de realizar sincronização do ciclo estral das fêmeas e de sêmen. O primeiro registro no mundo de IA em cabra foi há 76 anos (BENEDIKTOVIC, 1934) e no Brasil há 56 anos (INSEMINAÇÃO ... 1954; MACHADO & SIMPLÍCIO, 1995). Com as técnicas reprodutivas atuais atinge-se, eficácia de 95% na indução do estro em cabras em anestro sazonal, 90% em fêmeas ovulando, 75% em fecundadas e 65% de partos (SIMÕES et al., 2008). IA é a biotécnica que mais tem contribuído para a melhoria genética, entretanto, para caprinos avançou pouco no Brasil, sendo que a quase completa ausência de organização e gestão da atividade a luz do agronegócio seja a principal razão (SIMPLÍCIO et al., 2005). Além disso, a adoção e viabilização da técnica de I.A. exigem um módulo mínimo do rebanho para que haja retorno econômico (BICUDO et al., 2005). É importante destacar que com a IA é possível que o produtor não mantenha reprodutores no rebanho, ou mesmo mantendo, utilize sêmen de diferentes machos comprovadamente melhoristas, de alto valor, sem aumentar o número de reprodutores na propriedade com custo acessível.

Outra técnica importante é a transferência de embriões (TE) que consiste na indução ou sincronização do estro e superovulação das doadoras, seguida da cobertura ou IA e da colheita dos embriões por lavagem uterina para maximização reprodutiva da fêmea, do modo a explorar seu potencial biológico ao extrapolar suas possibilidades naturais, e assim, contribuir para a disseminação de animais geneticamente superiores (SIMPLÍCIO et al. 2002). Foi descrita no Brasil primeiramente por Chow et al. (1986) e posteriormente diversos avanços são relatados, tais como escolha das doadoras e receptoras; sincronização do estro, da ovulação e da superovulação das doadoras; as técnicas de colheita e de criopreservação de embriões; o manejo de doadoras e receptoras e a técnica de transferência propriamente dita (SALLES et al., 2002). A TE favorece a multiplicação acelerada de fêmeas testadas e geneticamente superiores, utiliza sêmen oriundo de doadores geneticamente provados e melhoradores e reduz o intervalo entre as gerações, o que possibilita acelerado ganho genético entre e dentre os indivíduos e os rebanhos (SIMPLÍCIO et al., 2005). Entretanto, a técnica ainda em fase de consolidação no Brasil (PAULA et al., 2008), e tem como desafios buscar alternativas para simplificar o procedimento, torná-lo prático e de custo operacional mais acessível, para que tenha uso em unidades produtivas comerciais, pois assim beneficiaria um maior número de produtores, e possivelmente ajudaria a maximizar a relação custo-benefício (SIMPLÍCIO et al., 2002; GONZALEZ et al., 2003). Pelo fato dos embriões coletados poderem ser criopreservados por longo período de tempo é possível a comercialização do material entre diversas regiões e pode ser inserida no rebanho genética superior de forma mais rápida. Além disso, a TE tem importante papel na formação de banco de germoplasma de raças nativas, como ocorre desde 1988 com as raças Canindé e Moxotó na Embrapa Sobral.

O diagnóstico precoce de prenhez é importante para orientar as práticas de manejo. O uso da ultra-sonografia em tempo real é a técnica mais utilizada para fazer o detectar a prenhez e permite diagnóstico entre 25 e 120 dias de gestação das cabras (CRUZ & FREITAS, 2001). Apesar da ultrasonografia ser usada na medicina veterinária desde 1950, somente a partir da década de 70 é que houve impulso na qualidade desta tecnologia permitindo a obtenção de imagens em tempo real (CHRISTOPHER & MERRIT, 1998). Com o diagnóstico precoce é possível realizar nova fertilização nas fêmeas que não emprenharam diminuindo as perdas e melhorando a eficiência reprodutiva e realizar adequado manejo nutricional, especialmente quando se identifica o número de fetos, pois gestação múltipla (gêmeos, trigêmeos) é comum em ovinos e caprinos e exige mais cuidados no terço final de gestação (CHALHOUB et al., 2005).

É possível identificar o sexo dos fetos durante a gestação mediante identificação e acompanhamento da migração do tubérculo genital que ocorre no macho. Isso pode ser feito a partir do 34º dia de gestação, sendo recomendável avaliar ente 50º e 58º dia (SANTOS et al. 2005). A sexagem permite melhor qualificação e valorização do comércio de animais gestantes com fetos sexados (identificados) (REICHENBACH et al., 2004; SANTOS et al., 2004), pois possibilita planejar a aquisição e venda dos animais concentrando em fêmeas ou machos, entretanto, tal técnica ainda é pouco utilizada na Brasil.

A sexagem de espermatozóides para produção in vitro de embriões já é realizada para bovinos, mas para caprinos são necessários mais estudos para melhorar a eficiência (SILVA et al., 2009). Para bovinos também se faz de forma precisa e rápida a determinação do sexo do embrião através da reação em cadeia da polimerase com kits comerciais. Esses poderiam ser utilizados para embriões caprinos (RAO & TOTEY, 1992), porém o custo é limitante quando comparado ao preço da futura cria sexada; entretanto, com progressos da biologia molecular e com o conhecimento do genoma caprino, a possibilidade de tipagem genética do embrião antes da inovulação (deposição do embrião no útero da receptora) abre perspectivas de utilização das técnicas de seleção assistida por marcadores biológicos (SIMPLÍCIO et al., 2005).

A produção de embriões passa por diversos avanços e cada vez mais se apresenta com potencial de uso comercial em programas de melhoramento genético. A produção in vivo da obtenção de elevado número de embriões a partir de uma única doadora, que passa por tratamento hormonal para estimulação ovariana visando múltiplas ovulações, em seguida são inseminadas e faz-se a colheita dos embriões; todo processo ocorre na fêmea, por isso in vivo. É o método de eleição para produzir embriões caprinos por resultar em elevada capacidade de desenvolvimento, porém caracteriza-se por elevado grau de variabilidade da resposta das doadoras e dos estádios embrionários (PAULA et al., 2008).

O primeiro registro de nascimento de crias caprinas a partir de oócitos já ovulados (maturados in vivo) foi realizado por Hanada (1985), mas somente em 1992 nasceram crias caprinas a partir de oócitos maturados e fecundados in vitro, seguido do cultivo in vitro (CROZET et al., 1993). Para produção in vitro de embriões (PIV) há colheita de oócitos (óvulos maduros) por aspiração folicular da fêmea doadora, no laboratório são maturados, fecundados e cultivados até estarem prontos para serem implantados nas receptoras ou criopreservados. A PIV de embriões caprinos ainda é incipiente, realizada na maioria dos casos para fins experimentais, mas é uma biotécnica capaz de maximizar o potencial reprodutivo de animais geneticamente superiores e acelerar o processo de seleção de rebanhos pelo aproveitamento dos milhares de oócitos que não seriam ovulados naturalmente (SIMPLÍCIO et al., 2005). Avanços na maturação oocitária e no desenvolvimento embrionário têm conduzido a um progresso substancial dos sistemas de PIV de embriões caprinos (COGNIÉ et al., 2004). A inadequada maturação oocitária in vitro é a etapa limitante para a utilização dos embriões produzidos por esse método, porém a produção in vitro de embriões caprinos vem avançando rapidamente (PAULA et al., 2008).

A indução de parto é uma técnica que pode ser empregada. Variabilidade de 144 a 156 dias de gestação é aceitável (ASDELL,1929), a partir de 142 dias o feto já tem capacidade de sobreviver no ambiente externo (SIMPLÍCIO et al., 2005). Com aplicação de hormônios pode-se induzir ao parto no momento mais conveniente. Tal técnica é especialmente aplicada em casos de transtornos patológicos (hidropsia das membranas fetais, paraplegia pré-parto) e ao implementar um programa de controle de doenças como a erradicação da artrite encefalite caprina a vírus (CAEV) (SIMPLÍCIO et al., 2005).


Diante dessas constatações, qual impacto do uso dessas tecnologias no processo produtivo?

As tecnologias da reprodução permitem melhoria genética do rebanho em menor tempo. A adoção dessas tecnologias exige planejamento prévio das atividades e em quase todos os casos acompanhamento de profissional especializado. Ressalta-se que nutrição e genética devem evoluir juntas, pois o desempenho reprodutivo está profundamente ligado ao nutricional. Técnicas como a sincronização e indução de estro e inseminação artificial são cada vez mais corriqueiras nas propriedades comerciais, mesmo nas que não trabalham com objetivo de produzir genética.

As transações entre produtor e fornecedor de insumos para as técnicas tende a aumentar a freqüência, e os ativos são mais específicos.

Como já relatado para a nutrição, é de grande importância a transação entre produtor e assistência técnica, sendo que esse profissional em alguns casos acaba também fornecendo os materiais eliminando a transação do produtor com fornecedor. A freqüência de transações entre firma ou profissional de assistência técnica e a especificidade dos ativos tende a aumentar. Ressalta-se que algumas técnicas, mais avançadas, ainda têm índice de desempenho baixo, portanto ocorre incerteza média a alta no resultado dos procedimentos. Assim, ganham importância os contratos, que incluem salvaguardas, inclusive em relação à pagamento com base nos resultados obtidos.

Assim como ocorre para as técnicas nutricionais, com melhoria genética do rebanho no produto final há aumento da especificidade dos ativos, ou seja, produz-se cabritos e cordeiros de determinada genética que implica em abate de animais mais jovens e carcaças com características melhoradas. Com emprego das técnicas de sincronização e indução de estro é possível distribuir a produção de animais ao longo do ano, aumentando a frequência das transações e diminuindo a incerteza de se ter o produto. Para conseguir esses resultados, produtos de qualidade e sem estacionalidade, o produtor necessita de investimentos, portanto os contratos passam a ser importantes para garantir a comercialização de seu produto, inclusive de forma diferenciada por seus atributos. Para o frigorífico também é interessante o contrato, pois tem mais garantias de que terá o produto para processar.

E na sua propriedade? Utiliza essas inovações que citamos? Percebeu diferenças após seu emprego? Para você é viável utilizar tais técnicas? Qual o impacto no gerenciamento da propriedade? Contamos com sua participação.

CARINA BARROS

Médica veterinária
Mestre em Ciências Veterinárias UFPR
Doutora em Nutrição e Produção Animal FMVZ-USP
Pós-doutorado FMVZ-USP
Atuação na avaliação econômica e modelagem

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