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A matemática, a genética e a "pureza" racial

POR OCTÁVIO ROSSI DE MORAIS

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 25/08/2008

3 MIN DE LEITURA

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Pegue 20 pedaços de papel e escreva a letra A.
Pegue 20 pedaços de papel e escreva a letra B.

Se você pegar a metade dos papeis com letra A e metade dos papéis com letra B e juntá-los você terá, obviamente, um grupo de vinte papéis, 10 com letra A e 10 com letra B.

Agora, sem olhar, tire desse grupo de papéis misturados, 10 papéis. Você poderá tirar 10 papéis com a letra A, nove com A e um com B, oito com A e dois com B, e assim por diante. Será mais fácil obter algo próximo de cinco A e cinco B.

Se você tivesse tempo e paciência de fazer essa brincadeira com milhares de papeizinhos, suponhamos 3000, você tiraria aleatoriamente algo próximo de 1500 A e 1500 B, mas muito dificilmente conseguiria exatamente 1500 de cada. Poderia ocorrer de você tirar 1352 As e 1648 Bs por exemplo, e isso não seria nenhum absurdo.

Bem, vocês devem estar pensando: o Octávio endoidou de vez! O que é que isso tem a ver com melhoramento ou com genética de ovinos?

Tem tudo a ver com uma prática muito usual no nosso dia a dia de criadores. Faça de conta que os papéis com a letra A sejam os genes de um animal da raça Santa Inês e os com a letra B sejam, por exemplo, da raça Dorper. Quando cruzamos animais das duas raças obtemos cordeiros que com exatamente 50% de genes de uma raça e 50% de genes da outra. No entanto, quando cruzarmos o animal "meio sangue" Santa Inês x Dorper com um outro Dorper "puro" dizemos que o resultado é um ¾ Doper, ou seja, um animal com 75% de sangue Dorper. Sim, mas não exatamente. Porquê? Porque os genes também se separam aleatoriamente e assim, o animal meio sangue pode passar mais genes de uma das duas raças que de outra e o resultado é, não exatamente, mas na média, 75% Dorper e 25% Santa Inês. Poderia ser qualquer coisa entre 50% Santa Inês e 100% Dorper!

Para quê tanta volta? Bem, para mostrar que é uma grande bobagem achar que precisamos de várias gerações de cruzamentos absorventes para considerar os produtos P.O. Na terceira geração de cruzamentos absorventes, por exemplo, o animal chamado 7/8 terá, em média 87,5% da raça que absorve e 12,5% da raça absorvida. Na quarta geração, o 15/16, será 93,75% da raça que absorve e 6,25% da absorvida. Note-se que, depois da primeira geração todos são "em média" ou "aproximadamente" esses valores.

Isto faz com que os animais 7/8 sejam muito próximos dos 15/16 e estes muitíssimo próximos dos 31/32. Para mim, eles são iguais. É muito mais razoável atingir o status de P.O. no sistema aceito para as raças ovinas nativas, o que acontece na 5ª geração, que no exigido para as exóticas, o que acontece na 9ª geração! Na 9ª geração o animal é um 511/512 ou 99,8% de pureza... ora, tenha paciência!

Para reforçar o que estou falando, afirmo, baseado em constatações científicas, que não existe raça pura! Primeiro porque raça é uma classificação baseada no fenótipo, ou seja, na aparência. Segundo, porque para que houvesse a tal pureza, os animais de uma determinada raça deveriam ser idênticos, ou seja, deveriam ser clones uns dos outros. Só assim poderíamos afirmar que um indivíduo, com 6,25% de genes diferentes desses clones, não pertenceria a essa "raça".

Com as possibilidades que se tem hoje de clonar indivíduos é possível que algum louco esteja por aí pensando em formar uma raça de clones, mas aí é preciso ter consciência do seguinte: se não houver variação genética não há como melhorar nada geneticamente. Seria como pegar bolas de sinuca para escolher qual é a mais redonda.

Por outro lado, a matemática louca dos registros genealógicos admite certos malabarismos estranhos. Um carneiro ProvI acasalado com uma ovelha ProvI, gera um produto ProvII, um ProvII com outro ProvII, geram um ProvIII. Como é que um indivíduo com um grau de sangue acasalado com outro com o mesmo grau geram um terceiro com um grau maior??? É o mesmo que querer que um indivíduo ¾ com outro ¾ gerem um 7/8. É até possível, mas é bem pouco provável. Tente obter isso usando os papeizinhos...

OCTÁVIO ROSSI DE MORAIS

Melhoramento Genético de Caprinos e Ovinos - Embrapa

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ADAO BRASILEIRO

PRAIA GRANDE - SÃO PAULO

EM 30/12/2017

Dr. Seu artigo é como abrir a cabeça e introduzir a informação (conhecimento) direto no cerebro... estava tentando entender as "matematicas", ate porque sou matematico, porem foi muito esclarecedor... Estou iniciando uma criacao, e enriqueceu muito as diretrizes que viu tomar
DANGELO DE MORAES

POMERODE - SANTA CATARINA - ESTUDANTE

EM 29/01/2015

Olá! Parabéns pela explicação. Foi a melhor que já encontrei, pelo menos no entendimento para leigos como eu.



Obrigado
OCTÁVIO ROSSI DE MORAIS

SOBRAL - CEARÁ - PESQUISA/ENSINO

EM 14/02/2012

Leonardo, obrigado pelos comentários e pela pergunta. O mais fácil, quando se busca o animal P.O. é sem dúvida usar macho e fêmea P.O., mas o preço de animais P.O.é alto. Os animais 1/2 sangue tem uma série de vantagens em termos de adaptação e produção, além do efeito de heterose (também chamada de vigor híbrido), mas isso vai se perdendo quando voltamos para uma das raças fazendo os 3/4, 7/8, etc. Também só posso obter 1/2 sangue com animais de duas raças, porque se acasalar 1/2 sangue com 1/2 sangue, matematicamente terei 1/2 sangue, mas a natureza não segue isso, pois as metades não serão exatamente as mesmas. Então há vantagens e desvantagens em se usar 1/2 sangue e P.O. Mas o importante é você saber que entre um animal P.O. e um 31/32 a diferença é só no registro, foi o que eu quis mostrar no texto.   
LEONARDO XAVIER

NATAL - RIO GRANDE DO NORTE - PRODUÇÃO DE CAPRINOS DE CORTE

EM 14/02/2012

Dr. Octávio, no cruzamento entre o (macho Dorper x Santa inês) resulta num 1/2 sangue. Ok. Lí vários artigos e entendi  o objetivo e benefícios dessa 1° geração para ovinos de corte. Mas gostaria de saber qual o objetivo da 2° geração que seria o 3/4? Qual os benefícios?  e assim por diante: 7/8, 15/16 etc. Quais os benefícios já que estaria chegando próximo do P.O Dorper, se mais fácil seria logo o cruzamento de macho e fêmea puros de Dorper.

PS: Sou apenas um leitor em busca de conhecimento para futuramente comprar meus primeiros animais, provavelmente um reprodutor Dorper com algumas fêmeas Santa Inês. Objetivo: ovino de corte.

Parabéns pelo artigo.
OCTÁVIO ROSSI DE MORAIS

SOBRAL - CEARÁ - PESQUISA/ENSINO

EM 22/09/2008

Pois é ... obrigado Oldonei e Salete pelo apoio. Acho que falta trabalharmos com mais fundamentação técnica e menos com "achismo", mas não é fácil quebrar essas crenças arraigadas.
AGROPECUARIA BOI PRETO

ARAÇAS - BAHIA

EM 09/09/2008

Gostei muito do artigo acima. Parabéns pelo brilhante esclarecimento.
A ARCO poderia se atualizar no assunto e fazer mudança.

Salete.

OLDONEI JOSÉ SANTIN

TRÊS PALMEIRAS - RIO GRANDE DO SUL - REVENDA DE PRODUTOS AGROPECUÁRIOS

EM 28/08/2008

Parabens ai p/ o seu Octavio, até que em fim alguém com uma mentalidade de fundamento.
OCTÁVIO ROSSI DE MORAIS

SOBRAL - CEARÁ - PESQUISA/ENSINO

EM 27/08/2008

Obrigado Ananias e Francisco, é bom ver que tem gente do Brasil inteiro lendo esses artigos e é isso que me anima a continuar escrevendo. Fico sempre esperando as cartas de vocês e torcendo para que os artigos tenham alguma utilidade. Um grande abraço!
FRANCISCO EMIDIO BARBOSA DE ARAUJO

PORTO VELHO - RONDÔNIA

EM 26/08/2008

Dr. Octávio, parabéns pela brilhante exposição, um assunto abordado de maneira clara, numa linguagem verdadeira, lamento não chegar a todos os produtores espalhados por este imenso brasil. Mas quem tomou conhecimento certamente vai enriquecer seus conhecimentos. Parabéns.


CAPATAZ ASSESSORIA RURAL

BRASÍLIA - DISTRITO FEDERAL

EM 25/08/2008

Num falei. O cabra parece doido; mas não é. É sabido pra xuxu.
Parabéns Dr. Octávio. Mais um artigo interessante que põe mais lenha na fogueira do melhoramento genético.
abraços

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