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Nossos objetivos e os objetivos do melhoramento genético

POR OCTÁVIO ROSSI DE MORAIS

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 04/01/2007

4 MIN DE LEITURA

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Outro dia estive em Olinda para ministrar uma palestra no 14º Agrinordeste. Fui falar sobre organização de produtores, cooperativismo e melhoramento de ovinos. Após a palestra um criador comentou sobre o que estava ocorrendo em sua região, deu-me os parabéns pelo que eu havia falado sobre a falta de ligação entre o que ocorre nas exposições e nos circuitos de pista e aquilo que o produtor de carne precisa. Fiquei animado, pois meu recado estava passado.

O criador, porém, emendou: "Não sei o que devemos fazer, pois o pessoal de pista é dono da genética. Se você quiser entrar no negócio tem que comprar animal deles. Eu mesmo tenho uns carneiros Santa Inês muito bons, bem enquartados e pesados, mas tudo com aquela "oreínha réia pequena"*. Peguei uns Bergamácia e cruzei, e já corrigi as orelhas, mas meus carneiros só pegam preço se eu tiver origem dos famosos..." Obviamente meu recado não tinha sido passado.

Vamos analisar o seguinte: se meu amigo tinha carneiros bons, porque tinha que se preocupar com tamanho de orelha? Porquê perder tempo com características de padrão racial?

O melhoramento genético produz resultados duradouros, mas é demorado e não admite falta de objetividade. No ano de 1943, ou seja, há 63 anos, o pesquisador Lenoy Hazel publicou um trabalho sobre as bases para a definição de índices de seleção. Os índices de seleção são a melhor forma para equilibrar a seleção de várias características ao mesmo tempo. Segundo aquele pesquisador, as características deveriam entrar no índice de acordo com sua importância econômica, respeitando obviamente suas especificidades genéticas. Assim, para exemplificar vamos simular uma situação:

a) Característica 1 : O valor econômico calculado do peso aos 120 dias de cordeiros é de R$ 1,00 o quilo. Isto quer dizer que a cada 1 quilo que aumenta o peso do cordeiro aos 120 dias o lucro do produtor aumenta em R$1,00.

b) Característica 2 : O valor econômico da gordura interna de cordeiros de 120 dias é de - R$ 5,80 o quilo. Isto quer dizer que a cada 1 quilo a mais de gordura interna o produtor perde R$ 5,80.

Usando um índice que inclua somente estas duas características vamos comparar os reprodutores A e B:

O reprodutor A tem valor genético de 2 kg para a característica 1. O valor genético é calculado de forma a excluir os efeitos de ambiente e significa que esse reprodutor teve a capacidade de chegar aos 120 dias com 2 kg a mais que a média da população a qual ele pertencia. A DEP, diferença esperada na progênie é a metade do valor genético, pois o indivíduo passa metade de seus genes para os filhos. Portanto o reprodutor A tem DEP de 1 kg para a característica 1. O valor genético deste mesmo reprodutor, para o nosso exemplo, será de - 0,1 kg (DEP -0,05 kg) para a característica 2.

O reprodutor B tem valor genético de 1,8 kg ( DEP 0,9kg) para a característica 1 e de - 0,2 kg (DEP -0,1 kg) para a característica 2.

Portanto, com o índice de seleção proposto a comparação é:

Progênie do reprodutor A = (1 x 1,00) + [( - 0,05) x ( - 5,80 )] = 1,00 + 0,29 = R$ 1,29 a mais por cordeiro de 120 dias

Progênie do reprodutor B = (0,9 x 1,00) + [( - 0,1) x ( - 5,80 )] = 0,90 + 0,58 = R$ 1,48 a mais por cordeiro de 120 dias

O reprodutor B é o melhor para esse sistema, mas só soubemos disso após termos feito os cálculos. O valor econômico das características é obtido de anotações zootécnicas e econômicas e as DEP´s de anotações zootécnicas e informações de parentesco. Portanto, é trabalho para unir produtores e entidades de pesquisa e/ou centros de avaliaç��o. Os produtores fazem o trabalho de colher os dados conforme recomendado e os cientistas se incumbem dos cálculos.

Assim é feito em todos os lugares do mundo, onde a atividade pecuária é levada a sério. Os índices podem ter mais características que este do exemplo. Quanto mais características houver no índice, no entanto, menor será o ganho em cada uma ao longo do tempo.

Mas o que tudo isso tem a ver com as orelhas dos carneiros? Nada! É isso mesmo, dei essa volta toda para dizer que a orelha do carneiro não tem importância nenhuma. Nem também a ponta da cauda, nem a inserção da cauda, nem a inserção do pescoço...

Alguém pode retrucar dizendo que o mercado de matrizes e reprodutores paga, e bem, por essas características de padrão racial, mas nós criamos ovinos para produzir carne, lã, leite e pele ou para serem simplesmente bonitos e padronizados?

Mesmo que o mercado de animais de pista não queira participar do mundo real, convido os produtores a pensar em seu objetivo: colocar produtos de ovinos no mercado e obter lucro com esta atividade.

* "oreínha réia pequena" é o mesmo que dizer: Aquelas orelhinhas pequenas e feias.

OCTÁVIO ROSSI DE MORAIS

Melhoramento Genético de Caprinos e Ovinos - Embrapa

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IZALTINO CORDEIRO DOS SANTOS

PONTA GROSSA - PARANÁ - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 08/08/2008

Bom dia Dr. Otávio!

Parabens por expressar um conceito chave na ovinocultura. A falha está nas Associações de raças, técnicos credenciados para serviços de inspeção. Eu fico indignado com o potencial que a espécie oferece e nem sequer uma Associação exige um DEP ou Progênie de um carneiro. Seleção começa por aí, o restante é especulção e malandragem nos negócios. A nossa ovinocultura, se assim podemos chamar, é meramente especulativa e não seletiva.

Parabens, e continue trabalhando nesse conceito, onde tantas outras Empresas de pesquisa como a sua deveria se preocupar e contestar essa bagunça na criação de ovinos sem seleção e seriedade.
Um grande abraço.
CLEDYSON KYLDARY

FORTALEZA - CEARÁ

EM 12/02/2007

Dr. Otavio,

Foi muito interessante sua colocação quanto ao que deve-se obter quanto a produção de ovinos. É muito comum, no estado do Ceará, o comércio de animais pelo padrão racial, e não o que ele venha produzir em valores de produtos, e comum as fraudes de animais de exposição, em que muitos destes são colocados como grandes reprodutores, mas na verdade não se conhece sua progênie.
LUIZ F. A. MARQUES

VITÓRIA - ESPÍRITO SANTO - PESQUISA/ENSINO

EM 25/01/2007

O melhoramento científico é muito importante, enquanto a raça é um mito importante. Podemos observar que nos exemplares suínos e aves, na medida em que o melhoramento econômico dessas espécies foi obtido e sustentado pelo método científico, a variação genética "de raças" foi perdendo a identidade e também o seu valor comercial.

Entretanto, o comércio miúdo (não industrial, sem escalas) precisa das convenções para a formação de preços, ora convencionados no padrão racial... Assim, é previsível que, enquanto nas demais espécies (boi, cabrito e carneiro) o método científico não estiver, ainda, amplamente adotado pelas empresas, as convenções raciais, definidas pelos criadores, continuarão ocupando legítimo espaço comercial.

Parabéns ao Octávio, autor da matéria.
OCTÁVIO ROSSI DE MORAIS

SOBRAL - CEARÁ - PESQUISA/ENSINO

EM 23/01/2007

João, de pleno acordo quanto à definição de raça. A raça somos nós quem definimos como deve ser, por isso existe o padrão. No entanto acredito que seja muito mais importante, e portanto "não equilibrado" o aspecto econômico.

Desde a década de 70 suínos e aves são produzidos independentemente de raça, e com muita eficiência. Os compostos ovinos também estão presentes em muitos países, sem padrão racial.

Outro exemplo: você se lembra do Brahman há quinze anos? Todo brasileiro ria daquele zebu desengonçado e sem padrão. Hoje compramos Brahman e batemos palma para os americanos...
JOÃO BONIFACIO

PALMAS - TOCANTINS - PRODUÇÃO DE GADO DE CORTE

EM 05/01/2007

A palavra de ordem é equilíbrio, e sempre atrelado a muito bom senso de criadores e técnicos. O padrão racial existe, entre outros própositos, para manter a raça, fazer com que ela exista. O padrão é e deve ser sempre discutido entre um grupo de pessoas com conhecimento dos animais em discussão.

Qual o peso da orelha ou de qualquer outro item do padrão? Definit como deve ser a raça. O que não podemos, no entanto, realmente é dar mais importancia a orelha do que a musculatura do posterior do animal por exemplo.
CELSO FERNANDO DE OLIVEIRA VEIGA

LUIS EDUARDO MAGALHÃES - BAHIA - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 05/01/2007

Meus parabéns Octávio!
O assunto é muito oportuno e foi abordado com clareza. Espero sinceramente que seus comentários possam sensibilizar técnicos, e os "donos" da genética dos deslanados no Brasil para não continuarem praticando "Pioramento Genético".

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