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Sangue azul

POR OCTÁVIO ROSSI DE MORAIS

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 26/09/2008

3 MIN DE LEITURA

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As raças são tidas pelos criadores como algo intocável, quase sagrado. Os criadores defendem as raças de sua preferência e elas estão acima das outras, mas especialmente, estão acima dos animais cruzados, como se fossem nobres diante de meros plebeus.

Tudo isso, é claro, vem da cabeça do homem. O fim das monarquias, das cortes e das nobrezas dinásticas parece ter deixado uma lacuna no coração das pessoas e hoje elas querem imprimir sangue azul em seus animais. Basta ver o nome de registro de cavalos, cachorros, carneiros e bois. Não são todos, mas uma boa parte deles carrega no nome a mesma pompa dos nomes dos antigos nobres. Quando não é isso é a genealogia: Fulano filho de Cicrano, neto de Beltrano nas duas linhas, fechado na linhagem Tal...

Eu prefiro ver as raças como recursos utilizáveis. As raças não devem ser intocáveis, sob a pena de não poderem evoluir. Preservar a "pureza" de uma raça só se justifica se ela, ao ser misturada com outras, correr o risco de perder algo essencialmente seu. Esse algo essencial também deve ter algum sentido, seja prático ou mesmo emocional, para ser preservado. Se alguém quer preservar o chifre espiralado do Merino, porque essa é uma característica muito particular e marcante da raça, que assim seja. Eu mesmo acho aqueles chifres muito bacanas.

A pureza por si só, no entanto, além de não existir (veja no artigo anterior) não justifica ações apaixonadas em defesa da raça. Assim, o Merino mocho tem a mesma importância do Merino "padrão", pois é a qualidade da lã que faz essa raça tão especial.

Muito se tem falado dos riscos da miscigenação de raças nacionais com outras exóticas. Feita assim a esmo esta mistura pode ser mesmo muito prejudicial. Pode-se, por exemplo, perder a adaptação das raças naturalizadas aos nossos ambientes, resistência a doenças comuns no nosso meio, etc. No entanto, misturas geraram raças importantes. A mistura de duas raças, uma européia (a inglesa Dorset) e outra africana (Persa-Cabeça-Preta) gerou uma terceira, a Dorper, hoje muito mais badalada que suas ancestrais.

A raça Corriedale, tão defendida pelos seus criadores e tão importante para o Sul do Brasil e para o Uruguai, descende da Merino, da Leicester e da Lincoln, esta última já quase extinta. A Targhee, descende da Corriedale com Rambouillet e Lincoln. O Ile de France tem também o Merino como antepassado. A Santa Inês descende da Morada Nova, da Bergamácia, da Rabo Largo e outras, então cadê as raças puras?

Antigamente era comum os livros se referirem a raças puras e cruzadas. A raça Merino sempre foi tida como pura. Mas pensando bem, quando ela chegou à Espanha, trazida pelos romanos ou pelos mouros, deve ter se miscigenado com ovinos locais. O Texel atual pouco tem dos ovinos da ilha de Texel, pois daqueles animais só se aproveitou a capacidade de sobrevivência em ambiente "hostil", com forragem pobre e baixa disponibilidade de minerais.

O importante é procurar em cada raça aquilo que faz com que ela se destaque e tentar preservar essas características. Por outro lado é preciso não ter medo de ousar e buscar em outras raças o complemento para aquilo que falta na raça em questão. Assim, se as coisas fossem feitas às claras e com técnica, não seria nenhum absurdo usar-se a Suffolk ou a Hampshire Down para melhorar características na Santa Inês. O erro está em fazer este tipo de cruzamento e depois acobertá-lo, chegando a registrar animais cruzados como filhos de pais da mesma raça, com objetivos escusos, para competir em pista e vencer com facilidade os outros concorrentes.

O uso honesto de cruzamentos para incorporar genes, e, conseqüentemente características, é plenamente possível e tem até nome: introgressão. Poderíamos buscar, por exemplo, maior prolificidade para a Santa Inês em cruzamentos com a Morada Nova, selecionando-se as fêmeas cruzadas mais prolíficas e absorvendo novamente para a Santa Inês, sempre com a seleção para a prolificidade. Da mesma forma poderíamos usar, para o mesmo fim, o Merino Booroola. O Merino Booroola tem um gene (também chamado Fec B) que confere alta prolificidade, e muitos programas de melhoramento pelo mundo afora usam introgredir esse gene para raças locais. Depois disso, em algumas gerações tem-se novamente a raça local, porém com o gene Fec B. Essas coisas são quase impensáveis aqui no Brasil, pois quem "abre" a raça para cruzamentos dilui seu precioso sangue azul.

OCTÁVIO ROSSI DE MORAIS

Melhoramento Genético de Caprinos e Ovinos - Embrapa

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MARCIO LUIS GRUBER

SÃO BENTO DO SUL - SANTA CATARINA - ESTUDANTE

EM 27/09/2009

Boa noite
O artigo sitado me deixa entusiasmando,para iniciar minha criação de ovino, vou começar já conhecendo um pouco, porque meu pai foi um criador pequeno do Santa Inês. quero ver qual a melhor raça para minha região.
OCTÁVIO ROSSI DE MORAIS

SOBRAL - CEARÁ - PESQUISA/ENSINO

EM 07/10/2008

Obrigado a você, Veridiana, pelos comentários. Um abraço.
VERIDIANA P. DA S. RIBEIRO

MARQUINHO - PARANÁ - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 02/10/2008

até que enfim alguém falou bonito á respeito de ovinocultura, o meu professor de ovinoe caprinocultura era muito crítico e conseguiu seguidores, e dentre a sua linha de pensamento ele defendia sim as raças mestiças, pois elas agregam genes desejados nas raças, o rebanho ao meu ver, deve ser o mais comercial possível, não que eu acredite que as raças "puras" devam acabar, mas sim servir como banco de genes, e não srem elevadas a um patamar que não existe.
muito obrigada por esse artigo!!!!!
OCTÁVIO ROSSI DE MORAIS

SOBRAL - CEARÁ - PESQUISA/ENSINO

EM 01/10/2008

Obrigado ao Thiago, ao José Lopes e ao José Carlos pelos comentários. A gnte vai ficando até um pouco cansado de ver que há pouco interesse dos criadores de elite naquilo que acontece nos ebanhos comerciais. Essas duas pontas deveriam ser intimamente ligadas, a elite trabalhando para selecionar aquilo que o comercial precisa.

Ao meu ver, boa parte dos criadores de rebanhos de lite não gostam da atividade em si, apenas viram nela uma oportunidade de ganhar dinheiro. Os produtores também querem ganhar seu dinheirinho, claro, mas eles não estão na atividade só por oportunismo.
JOSÉ CARLOS FERREIRA DA SILVA

RECIFE - PERNAMBUCO - ESTUDANTE

EM 01/10/2008

E notável o desenvolvimento da caprinovinocultura nacional, a qualidades dos nossos animais chama muita atenção. Concordo com o artigo plenamente por que lamentavelmente essa genética concentra-se nas mãos de uma minoria que fica trocando "figurinhas" entre si para elevar cada vez mais o valor desses animais, tornando praticamente inviável a utilização dos mesmos nos planteis comerciais.

Esses animais deveriam ter um preço mais acessível para que os pequenos e médios produtores, que visão apenas a exploração de carne, leite ou lã possam melhor seus rebanhos e com isso a Caprinovinocultura alcance patamares cada vez maiores, gerando capital e emprego principalmente para os amantes destes pequenos ruminantes.
JOSÉ L PONTES

PINDORETAMA - CEARÁ

EM 01/10/2008

Concordo plenamente com o artigo, pois o Sangue Azul é que deve estar a serviço do criador e não é o que se vê. O comum é uma elite de criadores utilizarem suas estruturas milionárias para bombarem alguns animais, não como difusão genética para melhorar a forma de alimentar o mundo e sim seus próprios egos. Nada contra ganhar dinheiro, mas quanto maior o leque de criadores, melhor para essa elites.
THIAGO ALVES DE OLIVEIRA

REGISTRO - SÃO PAULO - REVENDA DE PRODUTOS AGROPECUÁRIOS

EM 29/09/2008

\o melhor artigo sobre melhoramento genético que já li. A "indústria" do melhoramento genético hoje no Brasil coloca animais na natação para aumentar musculosidade por exemplo, onde essa deveria ser uma característica genotípica, e nao advinda de exercícios físicos.

Um carneiro ou um boi por exemplo que custa 1 milhão de reais, terá tanta diferença na produção de seus filhos comparado a um animal de 100 mil? sem falar que esses preços são absurdos, nos países tradicionalmente produtores de carne ovina como Uruguay e Nova Zelandia um animal elite custa pouco mais do dobro de um normal e assim pode ser usado na produção e não apenas ficar trocando de mão em mão entre os "selecionadores".

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