Sabe-se que um dos principais sintomas da infecção por helmintos gastrintestinais é a diminuição do consumo, segundo Parkins e Holmes (1989) em infecções moderadas ou intensas a ingestão de alimento pode ser reduzida em até 20%. Um estudo realizado com a intenção de elucidar a função da nutrição no desenvolvimento e fisiopatologia do parasitismo gastrintestinal, demonstrou uma redução de 10% no consumo voluntário em cordeiros infectados artificialmente. Além disso, foi observado efeito da nutrição e da infecção na performance dos animais e composição da carcaça (Valderrábano et al, 2002).
A interação entre parasitismo e nutrição pode ser considerada sob dois aspectos inter-relacionados: a influência dos parasitas no metabolismo do hospedeiro, alterando o metabolismo protéico, provocando assim um desvio da síntese protéica dos músculos e ossos para reparar os danos da parede intestinal, produção de muco e substituição de sangue e plasma, diminuindo a disponibilidades para o crescimento e produtividade; e o efeito da nutrição do hospedeiro nas populações de nematóides na habilidade em resistir aos efeitos patogênicos da infecção, conferindo melhor resposta imunológica.
Portanto, a dieta, principalmente com alto teor de proteína, confere ao hospedeiro maior resistência contra as infecções primárias e secundárias, permitindo ainda que os animais suportem os efeitos fisiopatológicos delas (Wallace et al, 1999). Segundo Veloso et al. (2004) animais que receberam suplementação protéica apresentaram maior resistência à infecção por nematóides gastrintestinais.
Esses mesmos autores verificaram que apenas o uso de vermífugo tem efeito limitado, sendo essencial o estado nutricional do hospedeiro para se obter o melhor efeito do tratamento anti-helmíntico. As consequências patofisiológicas são mais severas em planos nutricionais com baixa proteína (Coop e Holmes, 1996). Esse aumento no requerimento de proteína, associado à infecção parasitária, é resultado do aumento da perda de nitrogênio endógeno dentro do intestino (Kimambo et al., 1988).
Em cordeiros Merinos que receberam silagem de aveia com 5% de PB ou silagem de aveia enriquecida com 3% de uréia e infectados artificialmente por H. conturtus e T. colubriformis, o efeito da suplementação foi observado no ganho de peso, no aumento do diâmetro de fibra de lã, no maior consumo de alimentos e menores contagens de OPG (Knox e Steel, 1999). Devendo ser considerada a fonte de proteína metabolizável, sendo que a suplementação com proteína de alta qualidade ou PNDR, apresentou melhores benefícios que a suplementação com uréia.
Em cordeiros oriundos de cruzamento da raça FinnDorset e Dorset Horn, infectados artificialmente com 350 L3 de H. contortus/kg de PV e sob uma dieta de 8,8% de PB e 16,9% de PB, foi observado que os animais que receberam dietas com menor teor de proteína foram menos capazes de resistir aos efeitos fisiopatológicos da infecção helmíntica, apresentando sinais clínicos como inapetência, perda de peso e edema submandibular, além de elevada mortalidade, contudo a contagem de OPG e a carga parasitária apresentaram-se similares entre os grupos, indicando que as dietas não influenciaram o estabelecimento do parasita (Abbott et al, 1988).
Ao avaliar a perda de peso, a produção de lã e o diâmetro da fibra de lã em ovinos mantidos em campo e naturalmente infectados com T. colubriformis, Van Houtert et al. (1995) observaram redução nos prejuízos na produção quando os ovinos receberam suplementação protéica.
Entretanto, WALLACE et al. (1999) relatam que tomar apenas o ganho de peso como um parâmetro de avaliação para verificar o efeito deletério da verminose sobre os ovinos nem sempre é confiável, pois em muitos casos não são observadas diferenças significativas entre os animais saudáveis e os infectados.
Contudo as pesquisas relatam que a oferta de proteína adicional para cordeiros em crescimento, tem resultado em aumento na expressão da imunidade a infecções parasitárias, assim como ao maior desempenho dos animais. Alguns autores têm sugerido que ovinos parasitados podem necessitar sintetizar 50g de proteína adicional por dia, em comparação com animais não parasitados (Coop e Kyriazakis, 2001).
Vale salientar que a suplementação protéica trás benefícios à resistência a parasitas gastrintestinais, além de contribuir para a redução do uso descriminado de anti-helmínticos, proporcionando melhores desempenhos, em especial, dos cordeiros terminados em pasto que estão mais sujeitos à infecção parasitária.
Literatura consultada:
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COOP, R. L.; HOLMES, P.H. Nutrition and parasite interaction. International Jounal for Parasitology, v. 26, p. 951-962, 1996.
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KIMAMBO, A. E.; MaCRAE, J. C.; DEWEY, P. J. S. The effect of daily challenge with Trichostrongylus colubriformis larvae on the nutrtion and performance of immunologicaly-resitant sheep. Amsterdam. Veterinary Parasitology, v. 28, p. 205-212, 1988.
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VAN HOUTERT, M.F.J.; BARGER, I.A.; STEEL, J.W. Dietary protein for Young grazing sheep: interaction with gastrointestinal parasitism. Veterinay Parasitology, v.60, p.283-295, 1995.
VELOSO, C.F.M.; LOUVANDINI,H.; KIMURA, E.A.; AZEVEDO, C.R.;ET AL. Efeito da suplementação protéica no controle da verminose e nas características de carcaça de ovinos Santa Inês. Ciência Animal Brasileira v. 5, n. 3, p. 131-139, jul./set. 2004.
WALLACE, D. S.; BAIRDEN, K.; DUNCAN, J. L. ; ECKERSALL, J. L.; ET AL. The influence of increased feeding on the susceptibility of sheep to infecction with Haemonchus contortus. Journal of Animal Science, v. 69, p. 457-463, 1999.