Além desse fator, e ao contrário de outras forrageiras tropicais que geralmente reduzem o valor nutritivo com o avançar da idade, a cana-de-açúcar conserva sua qualidade por períodos relativamente prolongados, o que viabiliza sua utilização durante a escassez de forragem de qualidade que ocorre na época seca do ano (LIMA & MATTOS, 1993).
Além dessas vantagens, é importante destacar a redução dos custos de produção em sistemas que utilizam a cana-de-açúcar nas dietas, quando comparada a outros volumosos. Entretanto, a cana-de-açúcar tem como limitações os baixos teores de proteína (2 a 4% de proteína bruta) e minerais, principalmente fósforo, enxofre, zinco e manganês.
Por apresentar fibra de baixa qualidade, a utilização da cana-de-açúcar tem sido marcada pela redução no consumo de matéria seca e no desempenho de animais de alta produção, e embora se saiba dos seus efeitos sobre o consumo, é necessário o conhecimento dos limites para sua utilização de modo a maximizar a produção e minimizar os custos (VALADARES FILHO & CABRAL, 2002).
Para ser utilizada eficientemente na alimentação de ovinos, dietas baseadas com cana-de-açúcar precisam ser corrigidas com um suplemento protéico e mineral de boa qualidade. Estas correções associadas com a utilização de variedades melhoradas de cana-de-açúcar, com altos teores de açúcar e baixos teores de fibra proporcionam alto consumo do alimento e melhor desempenho dos animais (TORRES & COSTA, 2001).
Uma opção interessante seria diminuir a proporção da cana-de-açúcar nas dietas pelo aumento da proporção de alimentos concentrados, o que proporcionaria aumento de proteína, diminuição na concentração de fibra de baixa digestibilidade e, conseqüentemente, maior consumo de matéria seca visando atender às exigências nutricionais dos animais (COSTA et al., 2005).
A utilização da variedade IAC 86-2480, desenvolvida para fins forrageiros pelo Instituto Agronômico de Campinas - IAC, apresenta menor teor de fibra (44,1%), alto teor de açúcar (podendo alcançar 50% na matéria seca), e 55 a 60% de nutrientes digestíveis totais, embora o seu teor de proteína continue sendo baixo, não ultrapassando 4% de proteína bruta (LANDELL et al., 2002; SILVA et al., 2005). Além disso, apresenta alta produtividade, porte ereto, resistência a doenças e pragas, além de possibilidade de utilização por período mais longo. Este alto conteúdo de carboidratos não fibrosos, principalmente a sacarose, lhe confere alto valor energético, reduzindo a inclusão de alimentos concentrados nas formulações de rações.
Conceitos mais antigos recomendavam a utilização de variedades de cana-de-açúcar que apresentassem alta proporção de folhas e colmos em relação à massa verde total, o que aproximava a aparência dessa espécie a outras forrageiras comumente utilizadas como pastagens (BOIN et al., 1987). A partir de diversas pesquisas, verificou-se que são os açúcares presentes na cana que são os principais responsáveis pelo fornecimento de energia e, conseqüentemente, pelo desempenho animal (RODRIGUES et al., 2002; LANDELL et al., 2002).
Algumas pesquisas têm sido realizadas no intuito de avaliar o desempenho e as características de carcaça de cordeiros em confinamento alimentados com diferentes proporções de cana-de-açúcar na dieta (Tabelas 1 e 2).
Entretanto, considerando a escassez de trabalhos utilizando cana-de-açúcar in natura na alimentação de ovinos e frente ao crescimento do rebanho, destaca-se a necessidade de mais pesquisas para avaliar este alimento sobre aspectos quantitativos e qualitativos, visando sua utilização em dietas de cordeiros confinados e sua repercussão nos aspectos relacionados à carne ovina.
Tabela 1. Peso inicial e final, dias de confinamento, consumo de matéria seca (CMS), ganho de peso diário (GPD) e conversão alimentar (CMS/GPD) de cordeiros terminados em confinamento recebendo dietas contendo silagem de milho ou cana-de-açúcar
Médias seguidas pela mesma letra minúscula na linha não diferem pelo Teste de Tukey (P>0,05).
a Tratamento: 60%SM:40%C = 60% de silagem de milho + 40% de concentrado; 60%CA:40%C = 60% de cana-de-açúcar + 40% de concentrado; 40%SM:60%C = 40% silagem de milho + 60% de concentrado; 40%CA:60%C = 40% de cana-de-açúcar + 60% de concentrado.
CV% = coeficiente de variação.
Tabela 2 - Pesos de carcaça quente (PCQ) e fria (PCF), porcentagem de perdas de peso por resfriamento (PPR), rendimentos de carcaça quente (RCQ) e fria (RCF) de cordeiros terminados em confinamento recebendo dietas contendo silagem de milho ou cana-de-açúcar
a Tratamento: 60%SM:40%C = 60% de silagem de milho + 40% de concentrado; 60%CA:40%C = 60% de cana-de-açúcar + 40% de concentrado; 40%SM:60%C = 40% silagem de milho + 60% de concentrado; 40%CA:60%C = 40% de cana-de-açúcar + 60% de concentrado.
Médias seguidas pela mesma letra minúscula na linha não diferem pelo Teste de Tukey (P>0,05).
CV% = coeficiente de variação.
Foto 1. Cana-de-açúcar variedade IAC 86-2480.
Referências bibliográficas
BOIN, C.; MATTOS, W.R.S.; D´ARCE R.D. Cana-de-açúcar e seus subprodutos na alimentação de ruminantes. In: PARANHOS, S.B. Cana-de-açúcar, cultivo e utilização. Campinas, Fundação Cargill. 1987. v.2, p.805-856.
COSTA, M.G.; CAMPOS, J.M.S.; VALADARES FILHO, S.C. et al. Desempenho produtivo de vacas leiteiras alimentadas com diferentes proporções de cana-de-açúcar e concentrado ou silagem de milho na dieta. Revista Brasileira de Zootecnia, v.34, n.6, p.2437-2445, 2005. (supl.).
LANDELL, M.G.A. ; CAMPANA, M.P.; RODRIGUES, A,A. et al. A variedade IAC 862480 como nova opção de cana-de-açúcar para fins forrageiros: manejo de produção e uso na alimentação animal. Série Tecnológica APTA, Boletim Técnico, IAC 193, 2002. 36p.
LIMA, M. L. M.; MATTOS, W. R. S. Cana-de-açúcar na alimentação de bovinos leiteiros. In: SIMPÓSIO SOBRE NUTRIÇÃO DE BOVINOS, 5, Piracicaba, 1993. Anais... Piracicaba: FEALQ, 1993, p.77-105.
MORENO, G.M.B.; SILVA SOBRINHO, A.G.; LEÃO, A.G. et al. Consumo de matéria seca, ganho de peso e conversão alimentar de cordeiros terminados em confinamento com diferentes dietas. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL SOBRE CAPRINOS E OVINOS DE CORTE, 3, 2007. João Pessoa. Anais... João Pessoa: EMEPA, 2007a. CD-ROM.
MORENO, G.M.B.; SILVA SOBRINHO, A.G.; LEÃO, A.G. et al. Rendimento e cortes comerciais da carcaça de cordeiros terminados em confinamento com diferentes dietas. In: : REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 44, Jaboticabal, 2007. Anais... Jaboticabal:SBZ, 2007b. CD-ROM.
RODRIGUES, A.A.; CRUZ, G.M.; BATISTA, L.A.R. et al. Efeito da qualidade de quatro variedades de cana-de-açúcar no ganho de peso de novilhas Canchim. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 39, Recife, 2002. Anais... Recife:SBZ, 2002. CD-ROM.
SILVA, T.M. ; OLIVEIRA, M.D.S.; SAMPAIO, A.A.M. et al. Efeito da hidrólise de diferentes variedades de cana-de-açúcar sobre a digestibilidade ruminal "in vitro". In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 42., 2005, Goiânia. Anais... Goiânia: Sociedade Brasileira de Zootecnia, 2005, CD-ROM.
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VALADARES FILHO, S.C & CABRAL, L.S. Aplicação dos princípios de nutrição de ruminantes em regiões tropicais. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 39., 2002, Recife. Anais... Recife: Sociedade Brasileira de Zootecnia, 2002, p.514-543.