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É possível atender a demanda nutricional de matrizes utilizando apenas a pastagem? Parte II de III: Fase de Gestação

VÁRIOS AUTORES

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 24/02/2012

7 MIN DE LEITURA

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No artigo anterior mostramos que a demanda nutricional de matrizes em mantença e em reprodução pode ser atendida utilizando-se a pastagem como fonte exclusiva de alimento. Neste artigo vamos discutir sobre as necessidades nutricionais de ovelhas e cabras gestantes, e demonstrar como a pastagem pode suprir a demanda nutricional destes animais.

Devemos lembrar que o período de gestação é subdividido em dois períodos: 2/3 iniciais ou primeiros três meses de gestação, e 1/3 final ou últimos dois meses de gestação. As necessidades nutricionais são muito diferentes nestes dois períodos e, dessa forma, o planejamento forrageiro deverá ser ajustado para atender a demanda nutricional de matrizes em início e final de gestação.

Início de gestação

A demanda nutricional de ovelhas e cabras em início de gestação (2/3 iniciais ou primeiros três meses) é pouco superior a demanda nutricional na fase de mantença. Esse aumento é de 24 a 42% nas necessidades de ingestão de matéria seca (MS) e energia, e de 35 a 60% na necessidade de ingestão de proteína para ovelhas em início da gestação. Cabras em início de gestação têm aumento de 17 a 27% nas necessidades de ingestão de MS e energia, e de 50 a 75% na necessidade de ingestão de proteína em relação à mantença. Além disso, as necessidades de ingestão de macrominerais como cálcio e fósforo são 2 a 3 vezes superior a necessidade na fase de mantença para ovelhas e cabras (NRC, 2007).

As necessidades nutricionais aumentam lentamente nos primeiros três meses de gestação, acompanhando o desenvolvimento do(s) feto(s) que também é lento nesse período. No entanto, a intensidade do aumento na demanda nutricional depende da condição corporal apresentada pelas matrizes ao final do período reprodutivo/início do período gestacional, e do número de fetos que estão sendo formados.

Recomenda-se que ovelhas e cabras iniciem a gestação com escore de condição corporal (ECC) igual ou próximo de 3 pontos (em escala de 5 pontos). A demanda nutricional aumenta de forma mais intensa em matrizes que iniciam a gestação com ECC menor que 3 pontos, e naquelas que estão gestando dois ou mais cordeiros/cabritos. Matrizes muito magras (ECC menor que 2 pontos) e que estão gestando três ou mais cordeiros/cabritos apresentam maior incremento nas necessidades de ingestão de MS, energia, proteína, cálcio e fósforo que os descritos anteriormente. Nessas condições, as matrizes aumentam a ingestão de MS para atender as necessidades nutricionais para recuperação do ECC e para formação do maior número de fetos.

Considerando o lento desenvolvimento do(s) feto(s) nos primeiros três meses de gestação, o ganho de peso esperado é de 20 a 80 g/animal/dia para ovelhas, e de 10 a 50 g/animal/dia para cabras. Dependendo do peso corporal das matrizes, ofertas de forragem que variam de 3,6 a 9,7 kg MS/animal/dia para ovelhas, e de 2,3 a 6,8 kg MS/animal/dia para cabras (Tabela 1) são suficientes para atender a demanda nutricional e garantir o bom desempenho das matrizes no início da gestação. Nesse período, forragem de média/boa qualidade, com 8 a 10% de proteína bruta (PB) e 53% de nutrientes digestíveis totais (NDT), deve ser ofertada na pastagem. Estes níveis de proteína e de energia podem ser observados em pastagens formadas por gramíneas tropicais ou temperadas, manejadas de forma adequada (ver artigo anterior) e adubadas corretamente.



Final de gestação

No final da gestação (1/3 final ou dois últimos meses) as necessidades nutricionais das matrizes são bastante superiores aos primeiros três meses de gestação. Comparado a este período, a necessidade de ingestão de energia é 23 a 35% maior, e de proteína é 28 a 37% maior em ovelhas no final da gestação. Em cabras a necessidade de ingestão de energia é 27 a 34% maior, e de proteína é 45 a 50% maior no final da gestação em relação ao início da gestação. Destaca-se que a demanda por proteína é cerca de 2 a 2,6 vezes superior, e a demanda pelos macrominerais cálcio e fósforo é cerca de 2 a 4 vezes superior a fase de mantença, para ovelhas e cabras (NRC, 2007).

O aumento das necessidades nutricionais no final da gestação ocorre devido ao maior crescimento do(s) feto(s) (cerca de 70%), ao desenvolvimento do ambiente uterino e a produção de colostro nas últimas semanas de gestação. Além destas mudanças fisiológicas, as matrizes devem manter o ECC entre 3 e 3,5 pontos até o momento do parto, para que a produção de leite durante a fase de lactação seja suficiente para nutrir os cordeiros/cabritos de forma adequada. Assim como ocorre no início da gestação, o aumento da demanda nutricional no final da gestação é mais intenso nas matrizes que iniciam esse período com ECC baixo, e naquelas que estão gestando dois ou mais cordeiros/cabritos.

Diante das diversas alterações fisiológicas e da necessidade de manter o ECC acima de 3 pontos, o ganho de peso esperado no final da gestação é alto, e varia entre 70 e 305 g/animal/dia para ovelhas, e entre 40 e 195 g/animal/dia para cabras (Tabela 2). Para alcançar este ganho de peso, pastagens de alta qualidade (9 a 14% de PB, 55 a 66% de NDT) devem ser utilizadas onde, dependendo do peso corporal dos animais, a oferta de forragem deve ser de 4 a 12,9 kg MS/animal/dia para ovelhas, e de 2,7 a 8,5 kg MS/animal/dia para cabras (Tabela 2).



Pastagens formadas apenas por gramíneas, principalmente por espécies tropicais (gêneros Brachiaria e Panicum), dificilmente apresentam níveis de proteína e energia suficientes para atender a demanda nutricional de matrizes no final de gestação. Outro aspecto importante está relacionado ao teor de fibra das gramíneas, pois espécies que tendem a acumular alto teor de fibra (forrageiras tropicais de hábito cespitoso) podem reduzir a ingestão de MS. Naturalmente, a capacidade de ingestão de alimento é reduzida no final da gestação devido à pressão que o útero exerce sobre o rúmen. Assim, a ingestão de forragem muito fibrosa pode impedir que as matrizes atinjam o potencial de ingestão de MS e de nutrientes, resultando em baixo ganho de peso no final da gestação. Se esta condição for observada em matrizes mantidas em pastagens, estratégias de suplementação deverão ser adotadas.

Recomenda-se, portanto, que no final da gestação as matrizes tenham acesso a pastagens de gramíneas consorciadas com leguminosas (Figura 1), ou a áreas formadas apenas por leguminosas, seja na forma de "bancos de proteína" ou de pastagem. Nessas condições, a demanda nutricional no final da gestação pode ser atendida com forragem de alto valor nutritivo, com alto teor de proteína e elevada digestibilidade. Outra vantagem é que algumas espécies de leguminosas forrageiras, como trevo branco (Trifolium repens) e cornichão (Lotus corniculatus), têm efeito anti-helmíntico (Nery et al., 2009). Portanto, a presença destas espécies na pastagem pode melhorar a condição sanitária das matrizes, o que é importante, pois as mudanças hormonais que ocorrem no final da gestação levam a diminuição da imunidade (Sousbay, 1987).

Figura 1 - Pastagem de grama estrela (Cynodon spp.) consorciada com diversas espécies de leguminosas, entre elas: trevo branco (Trifolium repens), trevo vermelho (Trifolium pratense) e cornichão (Lotus corniculatus).

Utilizada na terminação de bovinos, o mesmo padrão de pastagem pode ser utilizado com ovelhas e cabras em final de gestação.
Local: Fazenda Guaraúna, Palmeira-PR (01/02/2011).



Estimativa da oferta de forragem para matrizes em gestação

Conforme demonstrado no artigo anterior para as fases de mantença e de reprodução, as ofertas de forragem para o início e o final da gestação podem ser estimadas com base no peso corporal médio (PCM) das matrizes (Tabela 3). As equações apresentadas na Tabela 3 foram estabelecidas com base no NRC (2007) e nos conceitos de Hodgson (1990).

Nos rebanhos de ovinos e caprinos criados em pastagem, onde as matrizes são mantidas em monta natural no período reprodutivo, observa-se maior frequência de matrizes gestando um ou dois cordeiros/cabritos. Em geral, independente do tipo de gestação, as matrizes compõem um único rebanho dentro do sistema de produção. Dessa forma, a oferta de forragem deve ser calculada para atender a necessidade de ingestão de MS da categoria que apresenta maior demanda nutricional, ou seja, as matrizes que estão gestando dois cordeiros/cabritos (Tabela 3). Porém, o PCM deve ser calculado considerando todas as matrizes que compõem o rebanho, e não apenas aquelas que foram diagnosticadas com prenhez positiva para gestação dupla (caso o diagnóstico de gestação tenha sido realizado).

Finalizamos este artigo lembrando e ressaltando a importância de ofertar suplemento mineral de boa qualidade e água potável à vontade para matrizes gestantes criadas em pastagem. Assim como proteína e carboidratos, minerais e água são nutrientes essenciais para formação do(s) feto(s) e do ambiente uterino, e para produção de colostro nas últimas semanas de gestação. Conforme ocorre com os demais nutrientes, a demanda por minerais e por água aumenta com o avanço do período gestacional.

Referências bibliográficas

HODGSON J. Grazing management: science into practice. New York: John Wiley & Sons, 1990. 203p.

NATIONAL RESEARCH COUNCIL - NRC. Nutrient requirements of small ruminants: sheep, goats, cervids and new world camelids. Washington: National Academy Press, 2007. 362p.

NERY, P.S.; DUARTE, E.R.; MARTINS, E.R. Eficácia de plantas para o controle de nematóides gastrintestinais de pequenos ruminantes: revisão de estudos publicados. Revista Brasileira de Plantas Medicinais, v.11, n.3, p.330-338, 2009.

SOUSBY, E.J.L. The evasion of the immune response and immunological unresponsiveness: parasitic helminthes infection. Immunology Letters, v.16, n.3-4, p.315-320, 1987.

SERGIO RODRIGO FERNANDES

Zootecnista pela UFPR. Mestre e atualmente doutorando em Ciências Veterinárias na UFPR. Participa de pesquisas com sistemas de produção de bovinos (LAPBOV-UFPR), caprinos e ovinos para corte (LAPOC-UFPR). Atua na área de nutriçao de ruminantes.

LUCIANA HELENA KOWALSKI

Médica Veterinária pela UFPR. Mestranda em Nutrição e Produção Animal pela UFPR- Campus Palotina. Tem experiência e atua na área de produção e reprodução de ovinos e caprinos.

DAMARIS FERREIRA DE SOUZA

Médica Veterinária pela UFPR. Com experiência em ovino e caprinocultura.

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MARCELO TAVARES PINHEIRO

CAMPOS DOS GOYTACAZES - RIO DE JANEIRO - INSTITUIÇÕES GOVERNAMENTAIS

EM 05/04/2012

Parabéns uma vez mais por este artigo.

Série muito boa.

Abraços.
DIMAS CRUZ

FORTALEZA - CEARÁ

EM 29/02/2012

Oi, Sérgio!



Foram fantásticos seus esclarecimentos!

Somos curiosos na atividade, e é através dos escritos esclarecedores  de vocês que vamos melhorando nossos conhecimentos. E... tocando a vida, neste Nordeste velho de meu Deus, como dizia meu avô...
SERGIO RODRIGO FERNANDES

LONDRINA - PARANÁ

EM 27/02/2012

Prezado Dimas Cruz!

Obrigado pelo interesse e pelos comentários sobre o artigo! Com relação as suas dúvidas, de fato o período de gestação de ovelhas e cabras é de 150 dias e pode variar para poucos dias a mais ou a menos, pois é normal alguns animais atrasarem ou adiantarem o parto. No entanto, quando trabalhamos com rebanhos manejados apenas a pasto devemos considerar também o período de tempo em que é realizado o monitoramento da condição da pastagem, que geralmente é feito mensalmente (avaliação da massa, altura, produção de forragem). Por isso, dividimos o período de gestação em meses (3 meses iniciais e 2 meses finais) p/ que o manejo da pastagem possa ser ajustado de acordo c/ a necessidade nutricional dos animais. Isso é importante, principalmente quando o rebanho de matrizes é manejado em pastagens diferentes no início e no final da gestação, pois essa mudança implica, também, em alterações no monitoramento da condição da pastagem. Nesse caso, as características como massa, altura e produção de forragem mudam conforme a pastagem utilizada.

Espero que tenhamos esclarecido suas dúvidas! P/ quaisquer outras, estamos a disposição!

Att.
DIMAS CRUZ

FORTALEZA - CEARÁ

EM 24/02/2012

Muito bom o artigo. Excelente.

Podemos observar e achamos interessante que os autores dividem, assim como nós leigos, naprática, o período gestação dos animais, em três terço, ficando os dois primeiro terços com noventa dias (os três primeiros meses), e o último com sessenta, ou seja dois meses, para um só terço.de gestação. O último terço fica bem mais comprido que os demais, não?

Não entendo porque os autores, em geral, não usam os termos como por exemplo: ...os cem dias correspondentes aos dois primeiros terços da gestação... e ...os cinquenta dias correspondentes ao último terço da gestação do animal...

Ou ainda: ...os três primeiros quintos... e ...os dois últimos quintos...

Comentei apenas por comentar. Nada que diminua o mérito do artigo. Até mesmo porque é através de artigos como estes que vamos adquirindo algum conhecimentos sobre a atividade da ovinacaprinocultura..

   

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