Portanto, para que os animais possam exteriorizar seu potencial produtivo, é necessário que exista um ajuste na qualidade e quantidade da dieta fornecida.
Nas regiões tropicais as pastagens são a base alimentar da dieta dos sistemas de produção de ovinos, entretanto, é pouco os relatos de sistemas eficientes que utilizam forrageiras tropicais, mesmo essas tendo seu potencial produtivo reconhecido em diversos trabalhos, no geral, a produtividade animal é baixa. Ovinos mantidos em pastejo durante o período seco do ano apresentam baixo desempenho, em decorrência da limitação qualitativa e quantitativa das pastagens (OLIVEIRA et al., 2008). Deste modo, para se obter uma boa performance, a suplementação se constitui numa boa ferramenta para corrigir as deficiências nutricionais que prejudicam o desenvolvimento do animal.
A condição para adoção de um sistema de suplementação a pasto consiste em que o mesmo atenda uma relação custo/benefício favorável, isso é comparar o custo da suplementação (R$/kg) ao valor do ganho de peso adicional correspondente (R$/Kg carcaça). Para que isso ocorra, é necessário definir os objetivos principais desta suplementação dentro do sistema de produção.
Essa análise tem que calcular além dos ganhos diretos e/ou ganhos diferenciados, dependendo da categoria animal (ganhos moderados ou superiores para cordeiros precoces), também as vantagens indiretas da suplementação tais como a mantença do escore corporal para fêmeas em fase reprodutiva, permanência nos piquetes, carcaças mais homogêneas, menores incidências de parasitismo.
Contudo, com o aumento da demanda por alimentos para compor as rações concentradas formuladas para as diversas categorias animais dentro da ovinocultura, deve-se procurar produtos que permitam boa performance animal e econômica aos sistemas intensivos de criação (Almeida Jr. et al., 2004). Diante dessa situação, além do concentrado, suplementação com feno ou silagem de leguminosa e/ ou gramínea; sal mineral, suplemento vitamínico e probióticos devem ser ofertados.
Fase de crescimento
Animais em fase de crescimento apresentam um rápido ganho de peso com elevadas exigências nutricionais. Dessa forma, a suplementação dos cordeiros lactentes constitui uma prática de manejo de extrema importância na produção de ovinos, pois interfere acentuadamente na redução da idade de abate dos cordeiros, essencialmente quando se deseja fazer a desmama precoce (45 dias). Normalmente, o acesso a esta suplementação deve ser iniciado por volta dos 10 dias de idade, favorecendo o desenvolvimento do rúmen.
Essa alimentação para cordeiros na fase de aleitamento é conhecida como creep feeding, as formulações da dieta são simples, utilizando-se alimentos volumosos de alta qualidade, concentrados protéico (mínimo 16%PB), suplementos minerais e vitamínicos, a utilização de palatabilizantes favorecem o consumo. Importante manter a relação Ca: P de 2:1, para evitar formação de cálculo renal.
Além de aumentar o ganho de peso das crias no desmame, o creep feeding contribui ainda para a redução do desgaste das matrizes, principalmente as primíparas, que pariram com baixa condição corporal. Em alguns trabalhos, como o de Neres et al. (2001), o peso de abate recomendado economicamente para o mercado de cordeiros no estado de São Paulo foi atingido sem a necessidade de confinamento.
Animais em reprodução
A necessidade do animal ao longo do ciclo reprodutivo deve ser balanceada, pois uma taxa de crescimento elevado pode afetar o potencial reprodutivo da ovelha. O excesso de deposição de gordura provocará redução na futura produção de leite; uma taxa de crescimento elevado pode afetar a vida produtiva das futuras ovelhas. Umberger et al. (1985), citados por Susin (1996), observaram que borregas ganhando 200 g/dia da desmama até a cobertura tiveram alta taxa de parição, mas tenderam a ter menor produção de leite, comparadas com outras ganhando 100 g/dia.
Figura 1- Suplementação mineral para borregas.
Algumas estratégias de alimentação que podem suprir às exigências nutricionais dessa fase seria a utilização de volumoso de boa qualidade, e em épocas de escassez de alimento volumoso, o fornecimento de quantidades restritas de dieta à base de concentrado. E a utilização de suplementação mineral, na ração e no cocho, totalizando 40 gr/animal/dia.
Tabela 1- Taxa de crescimento sugerida, peso desejado, e exigências nutricionais para borregas do nascimento à parição, em torno de 1 ano de idade.
Ovelhas no período pré-cobertura devem atingir uma condição corporal favorável à reprodução, recuperando as reservas orgânicas perdidas na gestação e lactação anterior. Nessa fase pode-se utilizar o manejo alimentar conhecido como flushing, com finalidade de aumentar a taxa de ovulação.
O flushing baseia-se na restrição do plano nutricional das ovelhas durante o período pós-desmame, ou em ovelhas mais magras ou que estavam em pastejo. A queda de peso sensibilizaria as ovelhas para que respondessem a uma "mudança na alimentação" iniciada 4 a 5 semanas antes da cobertura. O objetivo desta "mudança na alimentação" (flushing) seria fazer com que, neste período que precede a cobertura, as ovelhas passassem a ganhar peso e, com isso, obter-se-ia um maior número de partos múltiplos (Rey, 1976).
A ração fornecida às fêmeas nessa fase deve conter fonte de energia, fibra e 2% de sal mineral, juntamente com um volumoso de boa qualidade. O fornecimento da ração deve ser gradual, iniciando-se com 200gr/dia/animal chegando a última semana com 1000gr /dia/animal. É recomendado a não utilização de uréia nesse período, pois poderia prejudicar a fixação do óvulo já fecundado na parede do útero e o desenvolvimento do feto.
Os machos reprodutores, quando não estiverem em serviço, suas exigências de mantença podem ser atendidas com fornecimento de volumoso ou pasto de boa qualidade, juntamente com suplementação mineral, mantendo-se uma relação Ca: P, próxima de 2:1, para evitar o aparecimento de cálculo renal. Siqueira-Filho (2007) indica que dietas mais adequadas para a manutenção da qualidade do sêmen de carneiros devam apresentar 13,4 % PB e consumo de 210g de proteína metabolizável/dia. Animais que receberam dietas contendo teores de PB acima ou abaixo do recomendado apresentaram alterações nos parâmetros reprodutivos.
Durante a estação de monta, sugere-se uma suplementação com concentrado protéico (15% PB), na quantidade de 800 a 1000gr/dia/animal, iniciando-se 4 a 5 semanas antes e durante toda a estação de monta.
Gestação
Ovelhas gestantes nas primeiras 15 semanas têm suas exigências não significativamente diferentes dos nutrientes exigidos no período de mantença e podem ser atendidas com uso de volumoso de boa qualidade, e disponibilizar água e mistura mineral completa.
No terço final da gestação, equivalente aos últimos 45 dias de gestação, há um maior desenvolvimento do feto, em torno de 70%, e esse é um período crítico na nutrição da ovelha, principalmente no caso de ovelhas gestando múltiplos fetos.
Uma nutrição inadequada nessa fase resultará em toxemia da gestação, nascimento de cordeiros fracos, com consequente aumento na mortalidade pós-natal, diminuição do instinto materno e da produção de leite.
Como as ovelhas tendem a apresentar redução no consumo, pela compressão no rúmen devido ao desenvolvimento do feto, o aumento das exigências nessa fase, podem ser atendidas com suplementação de concentrado protéico (20 a 22% de PB), juntamente com volumoso de boa qualidade à vontade e suplementação mineral.
Figura 2 - Suplementação de ovelhas gestantes com silagem de de milho.
Em condições do volumoso de baixa qualidade e baixa disponibilidade de pastagens, o uso de silagem de milho deve ser considerado para a suplementação das fêmeas, sendo um alimento de excelente qualidade, desde que corrigidas suas deficiências. As silagens, principalmente a de capim elefante pode ser acrescidas de aditivos durante a ensilagem para se obter uma dieta completa para ovelhas durante gestação e lactação. Recomendações de técnicos da Universidade de Ohio sugerem a adição de 9 kg de uréia, 4,5 kg de calcário, 1,8 kg de fosfato bicálcico e 0,5 kg de enxofre para cada tonelada de silagem produzida (Susin, 1996).
Para borregas é aconselhável fornecer uma suplementação com concentrado protéico (14% a 16% de proteína bruta) desde o início da gestação, em média de 200 a 300 g/animal/dia, dependendo do tamanho e da raça, pois além das exigências do feto ela tem suas próprias exigências de crescimento.
Lactação
As ovelhas em lactação têm suas exigências demandadas pelo número de cordeiros amamentados e quantidade de nutrientes que é excretada no leite. Portanto, os fatores que irão afetar esta exigência são a quantidade de leite produzido e o teor de gordura do leite.
O consumo de alimento em ovelhas lactentes aumenta com a demanda de energia ao decorrer da lactação, no entanto no início da lactação essa demanda energética não é suprida pelo consumo de matéria seca, resultando em utilização das reservas corporais das ovelhas para suprir esse déficit.
Portanto, a produção de leite está relacionada a uma melhora na nutrição da ovelha durante a fase final da gestação e início da lactação. No início da lactação, uma suplementação com concentrado é fundamental, e para suprir as exigências com proteína, para ovelhas de alta produção, recomenda-se a suplementação com proteína "by -pass", principalmente nessa fase (Susin, 1996), além de sais minerais e vitaminas, constituindo a ração ideal para o início da lactação. Essa proteína suplementar deve ser reduzida gradualmente, à medida que a produção for diminuindo e o consumo de alimento for aumentando (Speedy, 1980).
Referência bibliográfica
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NERES, M.A., MONTEIRO, A.L.G., GARCIA, C.A. et al. Forma física da ração e pesos de abate nas características de carcaça de cordeiros em creep feeding. Revista Brasileira de Zootecnia, v.30, n.3, supl. 1, p.948-954, 2001.
OLIVEIRA,P.T.L.; ARAÚJO, G.G.L.; VOLTOLINI, T.V. et al. Mistura múltiplas na suplementação de ovinos: características da carcaça e rendimento de cortes comerciais. In Simpósio Nordestino de Produção Animal, V, Anais..., Aracajú, 2008, Cd-rom.
REY, R. W. P. Bases para um bom manejo do rebanho ovino de cria. Porto Alegre: Agropecuária, 1976. 49 p.
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SUSIN, I. Exigências nutricionais de ovinosde ovinos e estratégias de alimentação. In: SILVA SOBRINHO, A. g. (Ed.). Nutrição de ovinos. Jaboticabal: FUNEP/UNESP - FCAJ, 1996. p. 119-142.