Uma mistura mineral adequada deve conter os elementos deficientes ou marginais na dieta, levando em consideração também a categoria animal a ser suplementada e o seu consumo (Sampaio et al., 2006).
Quando se pensa em minerais, deve-se lembrar que há muitos elementos nesse grupo, e dessa forma, ocorrem interações entre eles. A maioria dessas interações não tem grande efeito prático, mas algumas devem ser conhecidas. Pode-se ter sinergismo, quando os elementos juntos têm sua absorção no trato digestório do animal aumentada com função metabólica na mesma célula ou no mesmo órgão, ou antagonismo, quando há efeito contrário de um elemento sobre o outro (Moraes, 2001). Pode-se citar como exemplo de antagonismo a competição pelo mesmo sítio ativo por Fe e Co, o excesso de Mo que causa deficiência de Cu, o excesso de Co que tem efeito na redução de absorção e uso do Mn, entre outros (Moraes et al., 2006). O uso de suplementos com minerais orgânicos é uma opção para evitar antagonismos, pois o mineral na molécula (quelato) é absorvido sem interferência dos demais ânions.
Outro fator importante para minerais é a biodisponibilidade. O conhecimento de quanto o metabolismo animal necessita de minerais é baseado na quantidade a ser depositada nos tecidos e nas secreções, somada às perdas endógenas. Entretanto, além desse somatório deve-se avaliar a absorção desses alimentos no organismo. De nada adianta calcular e fornecer aquela quantidade exigida sem saber o coeficiente de absorção de cada elemento. Miles & Henry (2000) citam que os seguintes parâmetros influenciam a biodisponibilidade: o consumo, a forma química do mineral, as interações entre os elementos, a digestibilidade total dos ingredientes da dieta, o tamanho de partículas dos alimentos e da forma em que é fornecida a mistura mineral, o estado fisiológico dos animais, a qualidade da água que o animal ingere, entre outros vários fatores. Veja que há muitas variáveis que afetam a resposta do animal ao suplemento e todas deveriam ser consideradas.
Porém, dados de biodisponibilidade nos alimentos da dieta animal, especialmente no caso de pastagens formadas forrageiras tropicais, são escassos. No caso de pastagens, inclusive pode haver formação de oxalatos de cálcio nas folhas de algumas espécies que indisponibilizam o Ca para a absorção. As plantas que contêm oxalatos solúveis são potencialmente tóxicas quando apresentam mais de 9% de oxalato, que se combinando com o Ca, o tornam indisponível ao animal. Isso leva a reações como hipocalcemia, alterações das células de revestimentos dos túbulos renais e da mucosa do rúmen, devido ao acúmulo de oxalato de Ca (Rosa, 1996).
No mercado tem-se à disposição suplementos minerais tanto para ovinos, quanto para caprinos, e isso SEMPRE deve ser respeitado no momento de sua utilização. Então, atualmente, o uso de minerais para bovinos nas dietas de ovinos e caprinos não se justifica de forma nenhuma. Esses suplementos são comercializados de duas formas: prontos para uso e para diluição. É muito importante observar a embalagem e ler com atenção as recomendações das empresas, antes de fornecer aos animais, e também realizar a compra de firmas idôneas e melhor estabelecidas no mercado de alimentação animal. A diluição refere-se ao acréscimo de cloreto de sódio (sal comum, sal branco, sal de cozinha), geralmente na proporção de uma parte de sal comum para duas partes do suplemento. É importante que a mistura seja bem feita para se ter um suplemento homogêneo e, além disso, a dosagem deve ser correta; deve-se evitar usar produtos úmidos que têm maior peso e a proporção de minerais nesse caso poderá ser alterada. Os suplementos podem ser servidos separados em cocho próprio, geralmente chamado de saleiro, ou juntamente com a dieta o que tem sido mais recomendado, devido à melhor garantia de ingestão dos mesmos, com menores perdas.
Sobre o atendimento de exigências minerais dos animais há certa contradição na literatura, como exemplo: Malafaia et al. (2004) comentam que pressupõe-se que deve ser feita suplementação do máximo de minerais possíveis, continuamente, estejam eles deficientes ou não; já, Tokarnia et al. (2000) consideram que o fornecimento de misturas minerais completas não se faz necessário sempre, e recomendam a suplementação seletiva, ou seja, apenas dos minerais realmente necessários. Nesse caso, porém, a grande dificuldade no Brasil é a identificação simples e com baixo custo dos minerais realmente deficientes na pastagem, por exemplo; isso nos leva à recomendação de adoção do uso completo e contínuo da suplementação.
Na prática, isso torna-se difícil também devido ao fato que muitos fatores alteram a quantidade de minerais nos alimentos, tais como a fertilidade do solo, tão variável de região para região. Assim, fica difícil utilizar tabelas fixas, pois de uma região para outra podem não ter serventia. Por isso, costuma-se adotar o uso dos suplementos industrializados que contém os elementos mais importantes.
Os métodos de suplementação mineral utilizados no mundo são citados a seguir, sendo os dois últimos, os mais comuns no Brasil (E e F):
1 - Fertilização das pastagens: com a correção do solo indiretamente aumenta-se o consumo de minerais pelos animais. Entretanto, o principal objetivo da fertilização é aumentar a produção de matéria seca e não a concentração de minerais. Por outro lado, o excesso de fertilização pode ser muito desfavorável e alguns elementos estarão presentes em níveis pequenos (traços), sendo dessa forma, ineficiente a tentativa de corrigir o solo para fornecer minerais aos animais.
A. Suplementação pela água: é usada para fornecer P, em alguns países. Para ser método eficiente, a mistura na água deve ser bem feita e os animais só devem ter a água "suplementada" disponível, o que é difícil em pastagens. Além disso, não se pode estimar quanto de água e de mineral o animal consumirá porque fatores como o teor de água na forragem, a temperatura, estado fisiológico do animal vão interferir no consumo pelo animal.
B. Dosificações orais ou injetáveis: utilizadas quando se deseja fornecer quantidade conhecida de mineral ao animal. Tem controle individual, mas demanda mão-de-obra, o que encarece muito o processo.
C. Pellets de liberação lenta: os elementos a serem suplementados são colocados no rúmen-retículo e a liberação é lenta. Serve para micro-minerais que tem menor quantidade diária necessária pelo animal. É utilizada para cobalto, selênio e cobre na Austrália. Como no Brasil, as principais deficiências são de sódio e principalmente de fósforo, devido às características dos solos, esse método de suplementação não é difundido.
D. Fornecimento misturado na dieta: indicado para animais confinados; coloca-se o suplemento juntamente com o concentrado em percentual variável de 1,0% até 2,5% na MS.
E.Fornecimento no cocho: é a forma mais comum de suplementação. Nesse caso, o suplemento deve ser palatável, homogêneo, e de fácil acesso ao rebanho. O suplemento pode ser servido na forma de pó ou de bloco. O pó exige que os cochos estejam, preferencialmente, em instalação adequada com cobertura para evitar que sejam umedecidos; já, os blocos têm os minerais compactados e pode haver menos desperdício de produto. É importante salientar que são escassas pesquisas sobre consumo
individual de sal mineral, especialmente para ovinos e caprinos.
No LAPOC-UFPR, desde 2003 têm sido realizadas avaliações sobre a mineralização do rebanho, com apoio da Tortuga Cia. Zoot. Agraria. Avaliaram-se formas de fornecimento de suplemento mineral para borregas em crescimento: (1) 2% de suplemento mineral na ração concentrada farelada mais suplemento mineral à vontade no cocho; (2) 2% de suplemento mineral apenas na ração concentrada farelada sem mineral no cocho; (3) suplemento mineral à vontade, apenas no cocho; (4) sem nenhum tipo de suplementação mineral. A suplementação mineral e a forma de fornecimento, na ração concentrada e/ou no cocho, afetou o desenvolvimento poderal e o peso final das borregas em confinamento. Borregas que receberam suplementação mineral, tanto na ração concentrada, como no cocho (1) apresentaram superior ganho médio diário (0,276 kg/ dia) e peso vivo final (45,71 kg) em relação aos demais tratamentos.
Animais que não receberam nenhuma fonte de suplementação mineral (4) apresentaram menor ganho médio diário (0,232 kg/ dia) e peso vivo final (43,53 kg) comparados aos que receberam suplementação. Na Tabela 1, observa-se que a forma de suplementação mineral não afetou o consumo diário de matéria seca por animal. O consumo médio total do suplemento mineral por borrega foi igual a 45,30 g/dia (13,30 g na ração concentrada + 32,00 g no cocho) para o tratamento 1; 13,30 g/dia (ração concentrada) para o tratamento 2 e 40,98 g/dia (cocho) para o tratamento 3. O fornecimento do suplemento mineral em 2% na ração concentrada garantiu sua ingestão, e associado à disponibilidade do suplemento ad libitum no cocho, maximizou o desempenho das borregas.
Tabela 1 - Médias para ganho médio diário (GMD), peso vivo no final do tratamento (PVF), consumo de matéria seca (CMS) e consumo de suplementação mineral (CSM) de borregas Suffolk confinadas com diferentes formas de fornecimento de suplementação mineral.
Médias na mesma coluna seguidas de letras distintas diferem estatisticamente (P<0,05) pelo Teste Tukey
Mais recentemente (2006-2007) no LAPOC-UFPR, ovelhas em gestação confinadas e alimentadas com dieta a base de concentrado mais silagem de milho foram também avaliadas quanto ao fornecimento de dois tipos de suplemento: suplemento mineral comum e suplemento mineral orgânico (quelatado) produzidos pela mesma empresa, adicionados em 2% da ração concentrada e fornecidos nos cochos, à vontade. Foram monitorados os efeitos dos suplementos sobre o ganho de peso e parâmetros de fertilidade do rebanho, além do peso ao nascer das crias e ocorrências de partos difíceis e abortos. As ovelhas receberam os suplementos desde a monta até a lactação. Não houve diferença entre os tipos de suplementos para os lotes acompanhados. Isso nos demonstrou que as respostas aos suplementos são muito mais visíveis quando os animais estão em condição de possível deficiência mineral ou com limitação de disponibilidade, como no caso de criações extensivas em pastagens, e que no caso de dietas balanceadas em confinamento, as respostas são de mais difícil identificação.
Para finalizar é importante ressaltar que o fornecimento dos minerais deve ser constante, para todas as categorias do rebanho, com o devido cuidado com a manutenção da qualidade no fornecimento e com a reposição do mineral, principalmente nas criações a pasto.