Geralmente, durante o abate, apenas a carcaça é considerada como unidade de comercialização, desprezando outras partes comestíveis ou que podem ser utilizadas na indústria química e/ou cosmética, podendo aumentar o retorno econômico da atividade no momento da comercialização (SILVA SOBRINHO, 2001).
Além disso, deve-se considerar que o aumento da competitividade dos mercados exige o aproveitamento racional e econômico dos subprodutos gerados no processo produtivo, sendo os não-componentes da carcaça uma importante alternativa para aumentar a rentabilidade dos sistemas.
Os estômagos, intestinos, fígado, rins, coração e, em algumas vezes, o sangue são utilizados principalmente no Nordeste do Brasil em pratos típicos da culinária regional, como a buchada e o sarapatel. Em estudo realizado por COSTA et al. (2003), a buchada ovina ou caprina pode atingir até 57,5% de receita adicional em relação ao valor da carcaça. A importância dos não-componentes da carcaça não está relacionada apenas à possibilidade de aumentar o retorno econômico no momento da comercialização dos produtos oriundos da ovinocultura, mas, também, no alimento ou matérias-primas que se perdem e que poderiam colaborar na melhoria do nível nutricional das populações (YAMAMOTO, 2004).
Em alguns países desenvolvidos, o interesse da indústria frigorífica é maior pelos não-componentes da carcaça do que pela carne, devido ao seu elevado valor nutricional. A maioria dos não-componentes contém maiores quantidades de ácidos graxos poliinsaturados em relação à carne, e também maiores teores de ferro e, em alguns órgãos, maior concentração de zinco (HUTCHINSON et al., 1987).
Os ácidos graxos poliinsaturados, principalmente os da família ômega-3 e ômega-6, são importantes na prevenção das doenças cardiovasculares e na redução do colesterol em humanos. Além disso, o conteúdo protéico e lipídico dos órgãos e vísceras são aspectos importantes na sua utilização, pois as altas concentrações de gordura saturada e colesterol, encontradas principalmente em alimentos de origem animal, têm provocado impactos negativos e redução no consumo de carnes (COSTA et al., 2007).
Destaca-se que a pele e o conteúdo do trato gastrintestinal são os não-componentes da carcaça que contribuem com maior porcentagem em relação ao peso corporal ao abate dos ovinos, e que podem sofrer grandes variações. A pele é o não-componente mais importante e que recebe maior preço, atingindo entre 10 e 20% do valor do animal. O peso da pele pode variar em função das diferentes densidades e diâmetros de fibra e altura das mechas, no caso de animais lanados; enquanto que o peso do conteúdo gastrintestinal é influenciado pelo tipo de dieta, sua velocidade de passagem no rúmen e tempo de jejum (SIQUEIRA et al., 2001).
O peso dos não-componentes da carcaça pode atingir 40 a 60% do peso corporal ao abate, sendo influenciado pela genética, idade, peso corporal, sexo, tipo de nascimento e principalmente, tipo de alimentação (CARVALHO et al., 2005). De acordo com JENKINS (1993), as mudanças na alimentação durante o período de crescimento do animal alteram a ingestão e digestibilidade, podendo influenciar no desenvolvimento dos diferentes órgãos.
Segundo ALVES et al. (2002), dietas com menor densidade energética apresentam maiores teores de fibra e menor digestibilidade, resultando em maior tempo de retenção do alimento no retículo-rúmen, proporcionando-lhe maior desenvolvimento. O sistema de produção também influencia nas proporções dos não-componentes, sendo que animais alimentados em confinamento terão menor desenvolvimento do trato gastrintestinal em relação aos alimentados em pastagens, o que, possivelmente, pode ser explicado pelo maior consumo diário de energia e ao menor gasto energético dos cordeiros confinados.
Figura 1: Esquema de divisão dos componentes do corpo vazio em ovinos (Adaptado de SILVA SOBRINHO, 2001).
Referências
ALVES, K.S.; CARVALHO, F.F.R.; FERREIRA, M.A. et al. Proporção dos componentes não constituintes da carcaça em cordeiros alimentados com dietas contendo diferentes níveis de energia. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 39., Recife, 2002. Anais... Recife: SBZ, 2002. CD-ROM.
CARVALHO S.; SILVA, M.F.; CERUTTI, R.et al. Desempenho e componentes do peso vivo de cordeiros submetidos a diferentes sistemas de alimentação. Ciência Rural, Santa Maria, v.35, p.650-655, 2005.
COSTA, R.G.; MEDEIROS, A.N; MADRUGA, M.S. et al. Rendimento de vísceras para "buchada" em caprinos Saanen alimentados com diferentes níveis de volumoso e concentrado. In SIMPÓSIO INTERNACIONAL SOBRE CAPRINOS E OVINOS DE CORTE, 2, 2003, João Pessoa. Anais... João Pessoa: EMEPA, 2003, CD-ROM.
COSTA, R.G.; SANTOS, N.M.; MEDEIROS, A.N. et al. Buchada Caprina: características físico-químicas e microbiológicas. Campina Grande: Editora Impressos Adilson, 2007. 93 p.
HUTCHINSON, G.I.; NGA, H.H.; KUO, Y.L. et al. Composition of Australian foods, 36. Beef. Lamb and veal offal. Food Technology Australian, Sydney, v. 39, n. 5, p. 223-237, 1987.
JENKINS, T.C. Lipid metabolism in the rumen. Journal of Dairy Science, v. 76, p. 3851-3863, 1993.
SILVA SOBRINHO, A. G. Criação de ovinos. 2 ed. Ver. e Ampl. Jaboticabal: Funep, 2001. 302 p.
SIQUEIRA, E.R.; SIMÕES, C.D.; FERNANDES, S. Efeito do sexo e do peso ao abate sobre a produção de carne de cordeiro. Morfometria da carcaça, peso dos cortes, composição tecidual e componentes não constituintes da carcaça. Revista Brasileira de Zootecnia, v. 30, n. 4, p. 1299-1307, 2001.
YAMAMOTO, S.M.; MACEDO, F.A.F.; MEXIA, A.A. et al. Rendimento de cortes e não-componentes das carcaças de cordeiros terminados com dietas contendo diferentes fontes de óleo vegetal. Ciência Rural, v. 34. n.6, p. 1909-1913, Santa Maria, 2004.