Por Cristiane Otto de Sá1 e José Luiz de Sá2
Quando se trabalha com um sistema de produção de ovinos deve-se pensar sempre em manejar racionalmente estes animais de forma a buscar ano a ano novas tecnologias que permitam aumentar o número de cordeiros produzidos em uma propriedade de forma sustentável.
Para se conseguir este aumento no número de cordeiros, pode-se trabalhar diretamente sobre eles, evitando a mortalidade dos mesmos ou, então, sobre as ovelhas, através de um manejo nutricional, sanitário e, principalmente, reprodutivo que resulte nos melhores índices de fertilidade.
Existem três métodos para se elevar o número de cordeiros produzidos na vida de uma fêmea ovina. O primeiro deles seria elevar a incidência de parto gemelar. O segundo método, antecipar a idade ao primeiro parto e, o terceiro método, está relacionado com o intervalo entre partos. Quanto menor for este intervalo mais cordeiros poderão ser desmamados por ovelha.
Para reduzir o intervalo entre partos, as fêmeas devem ser manejadas em um sistema acelerado de parição, que além de melhorar a eficiência reprodutiva dos ovinos, traz outras vantagens:
- Melhora o aproveitamento das instalações (os cordeiros não nascem em um único mês do ano, não superlotando as instalações).
- Necessita de um menor número de reprodutores (as fêmeas do rebanho não entram em estação reprodutiva em uma única época do ano).
- Proporciona uma oferta constante de cordeiros para o abate.
- Permite uma entrada constante de dinheiro.
- Distribui a mão de obra uniformemente durante o ano.
- Dilui os riscos de produção ao longo do ano.
A maior dificuldade para um programa acelerado de parição ser implantado relaciona-se aos aspectos fisiológicos de algumas raças ovinas, mais evidente na região sul do Brasil, que é a estacionalidade reprodutiva.
Os ovinos são normalmente poliéstricos estacionais e se reproduzem na redução do comprimento dos dias, durante o final de verão, outono e início de inverno em climas temperados. Em regiões tropicais, eles são menos estacionais. Algumas raças são também pouco estacionais em regiões de clima temperado.
Os métodos naturais de produção de ovinos apresentam uma única parição durante o ano com as ovelhas parindo na primavera com um intervalo entre partos de 12 meses. Se as ovelhas não forem fecundadas e permanecerem no rebanho, o intervalo entre partos passará para 24 meses. Se não forem novamente fecundadas, para 36 meses. Portanto, em condições normais de criação é difícil de obter mais do que 6 a 7 partos na vida de uma ovelha de 8 a 9 anos de idade.
Atualmente, têm-se estudado sistemas que elevam o ritmo reprodutivo de uma fêmea ovina. Entre eles, é mais facilmente implantado, aquele que busca obter 4 partos em 3 anos. Este sistema se caracteriza por um intervalo entre partos de 9 meses, obtido através da realização de 4 estações de monta e 4 estações de nascimento ao longo do ano o que permite que as ovelhas tenham a possibilidade de parirem a cada 6, 9 ou 12 meses.
Os meses de janeiro, abril, julho e outubro são caracterizados pelos nascimentos e os meses de fevereiro, maio, agosto e novembro, meses de reprodução (Figura 1).
Figura 1 - Esquema para se obter um intervalo entre partos de 9 meses. Observe que o mesmo número representa a estação de monta e a sua respectiva estação de nascimento. Por exemplo, uma fêmea que for fecundada na estação de monta em fevereiro irá parir em julho, podendo entrar novamente na estação de reprodução em novembro. Se esta fêmea não for fecundada em fevereiro (ultra-sonografia em abril), poderá ser exposta à monta novamente em maio.
Antes de submeter o rebanho de ovelhas a um programa acelerado de parição, alguns cuidados têm que ser considerados para que não ocorra uma redução na taxa de fertilidade ao invés de um aumento na produção de cordeiros por ovelha:
a) Disponibilidade constante de alimentos durante o ano: como as ovelhas irão parir em mais de uma estação do ano, não se pode expor o rebanho ao problema da estacionalidade da produção forrageira. Portanto, deve-se ter uma programação da utilização dos pastos e forrageiras conservadas, para que nos períodos de maior exigência nutricional, os animais não passem por privação alimentar.
b) Utilização do flushing para ovelhas com baixo escore corporal: a prática de aumentar o aporte nutricional que influencia o peso e a condição corporal durante a fase reprodutiva é chamada de flushing. Sua finalidade é aumentar a taxa de ovulação e, conseqüentemente, a taxa de natalidade. Como no programa acelerado de parição as ovelhas saem de um período desgastante que é a lactação e já são colocados em reprodução, é provável que as mesmas apresentem um baixo escore corporal no início da estação de monta.
O flushing apresenta melhores respostas em fêmeas de baixa condição corporal e quase nenhuma resposta em fêmeas de boa condição corporal (3,5). O melhor desempenho reprodutivo normalmente é obtido com ovelhas apresentando um escore corporal de 2,5 e uma alimentação mais rica 2 a 3 semanas antes da cobertura.
c) Utilização do efeito macho: quando as ovelhas passam por um período de isolamento dos machos seguido da introdução dos mesmos, poderá ocorrer uma indução de respostas neuroendócrinas, as quais resultam em ovulação, estro e concepção. No trabalho realizado por SÁ et al. (1998), as fêmeas, mestiças Suffolk, foram expostas ao reprodutor no período de anestro sazonal. A taxa de fertilidade das ovelhas foi de 65%. Na distribuição dos partos, que pode ser observada na Figura 2, nota-se que existe uma concentração dos partos após as 2 semanas iniciais da estação de nascimento. Embora as ovelhas se encontrassem em período de anestro sazonal, o efeito macho causado pelo próprio reprodutor induziu o cio nestes animais.
Dois picos de atividade geralmente ocorrem em um rebanho submetido ao efeito macho. O primeiro, 18 dias após a introdução do carneiro e o segundo ocorre 6 dias mais tarde. Quando a introdução do carneiro induz à formação de um corpo lúteo funcional normal, as ovelhas apresentam cio com ovulação em intervalos característicos da espécie (14-20 dias), porém, quando este primeiro corpo lúteo não apresenta pleno funcionamento, ocorrem ciclos curtos que tem como conseqüência à ovulação em torno dos 25 dias após a apresentação dos machos às ovelhas. Normalmente, a primeira ovulação após a introdução dos machos não é acompanhada pelo comportamento estral.
Figura 2- Distribuição dos partos de ovelhas cobertas no período de anestro sazonal (Fonte: Sá et al., 1998).
d) Estação de monta de curta duração: a estação de monta deve ter uma duração de no máximo 30 dias para que seja possível implantar o sistema intensivo de reprodução. Os resultados do trabalho realizado por SÁ et al. (1998) permitem indicar um manejo para reduzir a estação de monta em sistemas acelerados de parição (Figura 2).
Utiliza-se o rufião para causar o efeito macho por duas semanas antes da estação de monta e depois substituí-lo pelo reprodutor. Quando o carneiro for colocado no lote de fêmeas a maioria estará em cio e, conseqüentemente, serão necessárias apenas 4 semanas de estação de monta para garantir uma boa fertilidade, mesmo no período de anestro sazonal.
e) Desmame precoce: os cordeiros devem permanecer com suas mães por um período de no máximo 60 dias, para que a ovelha se recupere e possa entrar na próxima estação de monta. Para isso, é importante que os cordeiros tenham acesso ao creep feeding (alimentação privativa dos cordeiros) na fase de aleitamento e as ovelhas sejam monitoradas com relação à alimentação e saúde do úbere para evitar mastites nas raças que apresentam uma elevada produção de leite.
f) Tosquia: as ovelhas lanadas devem ser tosquiadas logo após o desmame, independente da época do ano. Assim, elas entrarão na próxima estação de monta com a lã curta. Além disso, a retirada de lã estimula o consumo de alimentos e desde que exista disponibilidade de forrageiras e/ou rações, a recuperação das fêmeas do desmame até a próxima estação reprodutiva é rápida.
g) Diagnóstico de gestação por ultra-sonografia: 30 dias depois de terminada a estação de monta deve-se fazer o diagnóstico de gestação, para que as ovelhas vazias sejam descartadas ou já possam entrar na próxima estação de monta.
Considerações finais
O programa acelerado de parição ainda é pouco explorado no Brasil, mas possível de ser colocado em prática desde que as propriedades que vão utilizar este sistema de reprodução sejam bem estruturadas e controladas.
O sucesso da produção constante de cordeiros ao longo do ano e da redução do intervalo entre partos das ovelhas dependem de um bom manejo geral e nutricional, bem como de um controle rigoroso do rebanho através de escrituração zootécnica.
Referências bibliográficas
SÁ,J.L. Efeito do manejo na antecipação reprodutiva de fêmeas ovinas. Curitiba, 1997. Dissertação de Mestrado - Universidade Federal do Paraná.
SÁ,C.O.; et al. Estudo do efeito macho na concentração dos partos de ovelhas e borregas expostas à monta no anestro sazonal. Anais da XXXV Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Zootecnia - 27 a 31 de julho de 1998. FMVZ - UNESP. Botucatu - SP, v.3, p. 163-165.
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1Pesquisadora da Embrapa Semi-Árido - cris@cpatsa.embrapa.br
2Pesquisador da Embrapa Semi-Árido - sa@cpatsa.embrapa.br