*Luiz Mertens é médico veterinário autônomo, especializado em assessoria, assistência, consultoria , clínica, cirurgia e reprodução de ruminantes.
1-Introdução
A ceratoconjuntivite infecciosa, também conhecida por “pynkeye” ou “doença do olho rosado” constitui-se numa doença cosmopolita, sazonal e acomete bovinos, caprinos e ovinos sem distinção de raça, idade e sexo, embora os animais mais jovens e mais velhos sejam mais susceptíveis.
Os animais acometidos desenvolvem imunidade natural que vai diminuindo a partir de dois anos e eles podem se infectar novamente. Pode ser definida como a inflamação da córnea e conjuntiva, ambas as estruturas internas que compõe os olhos.
2- Epidemiologia
A principal característica dessa doença representa o caráter infeccioso dos surtos (causados por bactérias que podem ser transmitidas de animais enfermos para sadios), e podem acometer ovinos, caprinos e bovinos.
Esta enfermidade contagiosa é causada pela Moraxella spp, um diplococo, aeróbico, gram-negativo, e somente aqueles microorganismos hemolíticos que possuem pili são capazes de desenvolver a enfermidade, pois aderem à córnea produzindo necrose epitelial e no estroma, por meio de dermonecrolisinas e hemolisinas associadas com as colagenases inflamatórias. (CHAVES & ACIPRESTE, 1998; CHAVES & ACIPRESTE, 2004; CHAVES, 2004). Outros microorganismos como o Mycoplasma conjunctivae, Chlamydia psittaci ovis, Escherichia coli e Stafilococos aureus podem ser isolados a partir de secreções oculares de animais doentes (CHAVES et al., 2008; AKERSTEDT & HOFSHAGEN, 2004; SMITH & SHERMAN, 1994).
A doença é mais frequente na época chuvosa ou quando há o aumento da população de moscas. A transmissão pode ocorrer por contato direto entre os animais doentes e sadios, por moscas ou outros insetos, fômites e pelas mãos dos tratadores (CHAVES & ACIPRESTE, 1998; CHAVES & ACIPRESTE, 2004; CHAVES, 2004). Fatores predisponentes como poeira, gravetos, forragem seca, vento, luz ultravioleta podem lesar superficialmente o olho dos animais e predispor para o início do processo infeccioso (CHAVES & ACIPRESTE, 1998; CHAVES & ACIPRESTE, 2004; CHAVES, 2004).
3- Sinais Clínicos
A ceratoconjuntivite infecciosa tem sido observada em rebanhos de várias partes do mundo, podendo ocorrer isolada ou concomitantemente a outras doenças oculares (RENDER & CARLTON, 1998). É caracterizada por reação inflamatória aguda da conjuntiva, seguida por hiperemia da esclera, lacrimejamento, fotofobia e secreção ocular (OSUAGWUH & AKPOKODJE, 1979; DAGNALL, 1994a). Outras alterações observadas na maioria dos ovinos afetados incluem conjuntivite folicular, opacidade da córnea com vascularização, ulceração, pannus e irite (RENDER & CARLTON, 1998), além de febre, anorexia, oftalmalgia, oftalmorreia, epífora e úlceras de córnea também descritas.
Figura 1 - Olhos de animais com ceratoconjuntivite.
4- Diagnóstico
O diagnóstico é feito principalmente no exame físico, e frequentemente observamos lacrimejamento, olhos congestos, falta de apetite, febre, mancha esbranquiçada nos olhos, podendo evoluir para cegueira.
Pode-se ainda utilizar instilando colírio de fluoresceína sobre a córnea. Este colírio irá corar de verde o local onde está a úlcera.
Figura 2 - Olho normal e Olho com úlcera de córnea.
5- Tratamento e Controle
O tratamento dos casos clínicos deve começar imediatamente após ter sido diagnosticada a fim de impedir que sua evolução leve a lesões irreparáveis da córnea. Deve-se isolar os animais afetados, limpar os olhos com solução fisiológica e pomadas oftálmicas ou colírios a base tetracilcinas, oxitetraciclinas, florfenicol, neomicina, podendo estes estarem associados com azul de metileno, e nitrato de prata, dependendo da gravidade deve-se associar com antibióticos sistêmicos (os mesmos citados acima) devendo sempre estar atento para caso de resistência. É muito importante o uso de luvas ao realizar a limpeza, evitando a contaminação.
Muito cuidado ao utilizar pomadas e sprays com indicação no mercado para ceratoconjuntivite. Observe se as mesmas possuem corticoides, pois estes são benéficos para o tratamento no estágio inicial (1 a 3 dias), desde que os animais não apresentem úlcera de córnea, pois aí ao invés de tratar estaremos só piorando o quadro.
Em caso de apresentar úlcera de córnea recomendo a utilização da pomada Epitezan® 2 vezes ao dia.
A prevenção e controle desta doença têm sido realizados através de práticas de manejo quando se quer diminuir o máximo possível a ação dos vetores (mosca) e quantidade de poeira. A redução dos casos clínicos está associada à medidas preventivas fundamentadas em práticas que visem controlar os elementos que podem funcionar como fômites ou agentes disseminadores e/ou estressantes, e envolvem a limpeza diária das instalações, (atentando-se para retirar os animais do local evitando que a poeira produzida pela raspagem da cama não agrave ainda mais o quadro), desinfecção completa das mesmas a cada 7 dias após limpeza prévia (preferencialmente com lança-chamas ou "vassoura-de-fogo"), redução da exposição a irritantes mecânicos (poeira); manejo do pastejo para manter o relvado em alturas mais adequadas; manejo do rebanho baseado nos princípios de bem-estar e a quarentena de animais recém adquiridos por no mínimo 15 dias.
6- Conclusão
A ceratoconjuntivite é uma doença que exige muita atenção e agilidade na identificação e tratamento, pois se distribui rapidamente no rebanho, causando prejuízos econômicos, além de falta de apetite dos animais, perda de peso, febre e possível perda da visão.
Sabe-se que animais apresentando ceratoconjuntivite infecciosa são barrados em exposições, não podendo participar dos julgamentos
Referências bibliográficas
CHAVES, N. S. T.; ACIPRESTE, C. S. Peste do olho. Cultivar Bovinos, Londrina, p. 30-31, jun. 2004.
CHAVES, N.S.T.; LIMA, A.M.V.; AMARAL, A.V.C Surto de ceratoconjuntivite infecciosa em ovinos causada por Moraxella spp. No Estado de Goiás, Brasil. Ciência Animal Brasileira, v.9, n.1, p.256-261, 2008.
RENDER, J. A.; CARLTON, W. W. Patologia do Olho e do Ouvido. IN: CARLTON, W. W.; McGAVIN, M. D. Patologia veterinária especial de Thomson. Porto
Alegre: Artmed, 1998. p. 590-636.
OSUAGWUH, A. I. A.; AKPOKODJE, J. U. Infectious keratoconjunctivitis in goats and sheep in Nigeria. Veterinary Record v.105, p.125-126, 1979.