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Colostro e sua importância para o desenvolvimento das crias

POR ANDRÉ MACIEL CRESPILHO

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 12/11/2009

8 MIN DE LEITURA

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Durante os estágios iniciais de desenvolvimento, os futuros borregos e cabritos permanecem em um ambiente completamente estéril e estável no interior do útero materno, dependendo exclusivamente das células de defesa e dos anticorpos produzidos pela mãe para sua proteção. No entanto, durante o trabalho de parto ocorre a quebra dessa "barreira de proteção fetal" culminando com a exposição dos recém nascidos aos mais diversos tipos de microorganismos presentes no ambiente, e que em muitos casos, representam potenciais causadores de doenças.

Os anticorpos (também conhecidos como imunoglobulinas) representam um dos principais componentes do mecanismo de defesa dos mamíferos quando ameaçados pela invasão de microorganismos e/ou substâncias antigênicas (moléculas que são estranhas ao organismo animal), segundo Santana et al., (2003). Embora uma boa resposta imunológica seja necessária já nos primeiros minutos da vida após o parto, todas as espécies de ruminantes nascem com uma quantidade muito pequena de anticorpos na circulação sanguínea, dependendo inteiramente do colostro materno para garantir proteção no processo definido como transferência de imunidade passiva (TIP). Nesse sentido, o objetivo dessa matéria é apresentar algumas das principais particularidades do colostro de pequenos ruminantes, além das possíveis falhas na TIP e alternativas a serem utilizadas em situações de emergência na indisponibilidade de colostro fresco e de boa qualidade.

Colostro - o primeiro leite

O colostro pode ser definido como uma forma de leite de baixo volume que começa a ser produzido nas últimas semanas de gestação e que será secretado nos primeiros dias da amamentação pós-parto. Entre outros fatores, o colostro representa a única fonte de água, anticorpos, proteínas, carboidratos, lipídeos e vitaminas que o recém nascido terá acesso durante seus primeiros dias de vida (Tabela-1). O colostro contém ainda fatores precursores de enzimas que possuem alta capacidade de degradar proteínas, e um outro fator que impede a ação destas enzimas sobre os anticorpos, garantindo, dessa maneira, que as imunoglobulinas sejam absorvidas intáctas, preservando sua função biológica (SANTANA et al., 2003).

Fatores como raça, estágio de lactação, aporte nutritional da fêmea gestante e condições ambientais afetam as características físico-químicas do colostro, sendo que durante as primeiras quatro ordenhas após o parto ocorrem as principais mudanças na composição da secreção láctea: a lactose aumenta enquanto os teores de proteína, gordura, sólidos totais e cinzas diminuem gradativamente (VILLAR et al., 2008).

Tabela 1: Composição química média (gramas/kg) do leite e do colostro de cabras e ovelhas de raças leiteiras*.



Transfêrencia de Imunidade Passiva (TIP)

A placenta é o orgão responsável pela transferência de nutrientes, oxigênio, fatores de crescimento e hormônios entre a circulação materna e fetal durante a gestação (CUNNINGHAM, 1999). No entanto, grandes moléculas (como é o caso dos anticorpos produzidos pela fêmea gestante) não conseguem atravessar as diversas barreiras existentes na placenta até alcançarem a corrente sangüínea do feto, justificando-se a baixa concentração de imunoglobulinas ao nascimento (LOSTE et al., 2008).

Embora cordeiros e cabritos apresentem células de defesa capazes de responder aos microorganismos invasores já aos 80 dias de gestação, a insignificante exposição aos antígenos durante a vida intra-uterina faz com que as defesas orgânicas não sejam estimuladas, e por conseguinte, o animal não é capaz de produzir seus próprios anticorpos até as primeiras 6 semanas após o parto (MOBINI et al., 2002).

Em virtude dessas particularidades fisiológicas os recém nascidos das espécies bovina, ovina e caprina nascem com uma quantidade ínfima de anticorpos, insuficientes para garantir proteção contra a grande maioria das doenças. Nesse sentido, os neonatos dependem de um aporte de colostro rico em anticorpos logo após o parto para garantir proteção imunológica passiva (anticorpos da mãe "passam" através do colostro para a cria) até que esses animais assumam a produção de suas próprias imunoglobulinas.

No entanto, para que as crias possam se beneficiar dos efeitos imunológicos do colostro o consumo deve ser realizado nas primeiras horas após o nascimento. Segundo Cunningham (1999), os neonatos têm um tempo limitado de 24 a 36 horas após o parto durante o qual as imunoglobulinas do colostro podem ser absorvidas através do intestino dos recém nascidos. Passado esse período inicial ocorre o bloqueio da absorção intestinal, culminando com a falha na transferência de imunidade da mãe para os filhotes.

Nesse sentido, problemas quanto a qualidade do colostro, quantidade consumida ou na taxa de absorção constituem a síndrome de "falha na transferência de imunidade passiva" (MOBINI et al., 2002; RUDOVSKY et al., 2008) que figura como uma das principais causas ou fator predisponente de mortalidade para ovinos e caprinos neonatos (Tabela 2).

Tabela 2: Fatores predisponentes e principais causas que levam a ocorrência da falha de transferência de imunidade passiva em ovinos e caprinos neonatos*.



Principais medidas a serem adotadas nas falhas de transferência de imunidade

Nas situações em que ocorre a impossibilidade do consumo natural e espontâneo de colostro, o mesmo deve ser adimistrado artificialmente através de mamadeiras ou seringas e deve sempre ser oferecido em pequenas quantidades em intervalos regulares, respeitando-se o tamanho do cabrito ou do cordeiro. As primeiras tentativas de administração de colostro devem ser iniciadas o quanto antes nas primeiras horas de vida, período caracterizado como mais crítico e determinante para a sobrevivência do animal.

De uma forma geral, ovinos e caprinos devem receber de 5 a 15 % do seu peso vivo de colostro fresco e de boa qualidade durante as primeiras 12 horas de vida. Como salientado anteriormente, a absorção de anticorpos se reduz drasticamente em função do tempo, sendo que provavelmente não ocorra uma transferência eficiente de imunoglobulinas quando a cria mama após 24 horas do nascimento (MOBINI et al., 2002).

Passadas as primerias 12 horas após o parto os recém nascidos devem continuar recebendo o colostro até 48-72 horas de vida assumindo-se, no entanto, que com o passar do tempo o colostro apresentará apenas (porém de vital importância) o benefício nutricional.

Pode-se utilizar o colostro artificial ou o colostro de vaca para ovinos e caprinos???

Evidentemente que a melhor opção é sempre utilização de colostro fresco e de boa qualidade, respeitando-se a espécie a que se destina (colostro de ovelhas para cordeiros e de cabras para os respectivos cabritos).

No entanto, em muitas situações, a única opção de colostro disponível dentro de uma propriedade representa o produzido por vacas.

Embora sejam descritos alguns casos de hemólise (uma espécie de rejeição) para animais que receberam o colostro bovino (MOBINI et al., 2002), sua utilização pode ser necessária e até indicada em casos de indisponibilidade de outras fontes de anticorpos para ovinos e caprinos. A Tabela 3 ilustra a concentração de anticorpos presentes na circulação de caprinos que receberam colostro de vaca nos primeiros dias pós-parto.

Tabela 3: Concentração média de anticorpos (imunoglobulina G) presentes no sangue de caprinos que receberam colostro de cabra, colostro de vaca de primeira ordenha ou colostro de cabra aquecido a 56°C por 1 hora nos momentos 0 (antes da mamada) e nas 48 horas subseqüentes pós-parto*.



Segundo Silva et al., (2007), o colostro de vaca proporciona adequada transferência de imunoglobulinas a cabritos recém nascidos, embora não se saiba se esses anticorpos são capazes de proporcionar o mesmo grau de proteção desempenhado pelo colostro de cabra.

Outra possibilidade na ausência do colostro natural representam as formulações sintéticas disponíveis comercialmente. No entanto, Mobini et al., (2002) destacam que a absorção e eficácia dessas formulações ainda não foram comprovadas na grande maioria dos estudos. Segundo Argüello et al., (2004), a administração de colostro comercial não proporciona a quantidade de imunoglobulinas necessárias para um desenvolvimento satisfatório dos animais. De acordo com os mesmo autores, as melhores opções para a indisponibilidade de colostro fresco seria a utilização de material refrigerado, congelado ou até mesmo pasteurizado (essa última opção torna-se especialmente interessante para a inativação de microorganismos passíveis de transmissão através do leite, como é o caso do virus da artrite e encefalite caprina), que garantem, na grande maioria das vezes, um aporte aceitável de anticorpos aos cabritos e cordeiros recém nascidos.

Como evitar ou prevenir as falhas de transferência de imunidade?

O primeiro passo para garantir uma boa produção de colostro representa o correto aporte nutritional da fêmea gestante, além dos cuidados sanitários e vacinações que irão induzir a formação de anticorpos maternos que serão adquiridos pelas crias.

A formação de um banco de colostro também representa uma medida de extrema importância para a prevenção das falhas de transferência de imunidade. Nesse caso, o excedente de colostro pode ser ordenhado (adotando-se medidas de higiêne que não comprometam a saúde do úbere e tão pouco levem a contaminação do colostro), acondicionando-se o material em mamadeiras, garrafas pet ou sacos pláticos próprios para a conservação de alimentos congelados. O colostro devidamente congelado pode ser estocado por um longo período de tempo, representando um "seguro" a ser utilizado em situações de emergência. Na falta de colostro fresco, basta descongelar o material estocado a temperatura ambiente ou em banho-maria (nunca ferver ou esquentar demasiadamente para preservar a integridade dos anticorpos), garantindo um futuro promissor às novas crias do rebanho.

Referências bibliográficas

CUNNINGHAM, J.G. Gestação e parto. In. Tratado de Fisiologia Veterinária. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan S.A. v.1, cap. 37, p.377-384, 1999.

ARGÜELLO, A.; CASTRO, N.; ZAMORANO, M.J. et al. Passive transfer of immunity in kid goats fed refrigerated and frozen goat colostrum and commercial sheep colostrum. Small Ruminant Research, v.54, p.237-241, 2004.

HADJIPANAYIOTOU, M. Composition of ewe, goat and cow milk and colostrum of ewes and goats. Small Ruminant Research, v.18, p.255-262, 1995.

LOSTE, A.; RAMOS, J.J.; FERNÁNDEZ, A. et al. Effect of colostrum treated by heat on immunological parameters in newborn lambs. Livestock Science, v.117, p.176-183, 2008.

MOBINI, S.; HEATH, A.M.; PUGH, D.G. Theriogenology of Sheep and Goats. In:___. Sheep and Goats Medicine. 1.ed. Philadelphia: W.B. Saunders Company. v.1, p. 129-186, 2002.

RUDOVSKY, A.; LOCHER, L.; ZEYNER, A. et al. Measurement of immunoglobulin concentration in goat colostrum. Small Ruminant Research, v.74, p.265-269, 2008.

SANTANA, A.F.; SILVA, M.H.; ANUNCIAÇÃO, A.V.M. et al. Transferência de imunidade passiva. In: Congresso Pernanbucano de Medicina Veterinária, 5, 2003. Recife. Anais Palestra.Recife: Pernambuco, 2003. P.389-390.

SILVA, S.L.; FAGLIARI, J.J.; BAROZA, P.F.J. et al. Avaliação da imunidade passiva em caprinos recém-nascidos alimentados com colostro de cabras ou colostro de vacas. Ars Veterinária, v.23, n.2, p.81-87, 2007.

VILAR, A.L.T.; COSTA, R.G.; SOUZA, P.M. et al. Efeito da ordem de parição e do período de ordenha na produção e composes do colostro e do leite de transição de cabras Saanem. Revista Brasileira de Zootecnia, v.37, n.9, p.1674-1678, 2008.

ANDRÉ MACIEL CRESPILHO

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OTAVIO

CONSELHEIRO LAFAIETE - MINAS GERAIS - PRODUÇÃO DE LEITE

EM 18/02/2016

gostaria de saber procedimento correto com a vaca no momento na primeira ordenha pos parto retiro todo o colosto  ou deixo um pouco por causa das reservas de calcio
ANDRÉ MACIEL CRESPILHO

BARUERI - SÃO PAULO - PROFISSIONAIS DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS

EM 30/11/2009

Prezado Rafael,

Obrigado pela pergunta!
O consumo ideal de colostro deve sempre se situar entre 5 a 15% do PV nos primeiros dias de vida pós-parto. Cabe ressaltar que valores em torno de 10 a 15% de consumo relacionam-se a quantidade ingerida voluntariamente pela cria no caso da mamada diretamente no úbere materno.

No entanto, em muitas situações não conseguimos atingir mais que 5 % de consumo através da amamentação artificial pela mamadeira. Em virtude dessa variação torna-se necessário monitorar o consumo para que sempre se enquadre dentro dessa faixa de normalidade, garantindo a plena nutrição das crias.

Quando a morte materna ocorre após as primeiras semanas de vida ocorre um desmame precoce que pode ser em parte remediado pela utilização de rações específicas para animais jovens, dispensando-se a utilização das mamadeiras (mais dispendiosas do ponto de vista econômico e de mão de obra nas propriedades). A quantidade e a forma de administração variam de acordo com cada formulação comercial de ração, mas sem dúvida representam a melhor alternativa para essas situações.
Espero ter ajudado!
Att.
André
RAFAEL

RIBEIRÃO PRETO - SÃO PAULO - PRODUÇÃO DE OVINOS

EM 25/11/2009

Boa tarde, Andre

Surgiu uma dúvida...

Comenta que o filhote deve receber de 5 a 15% do PV de colostro nas primeiras 12 h e depois continuar até 48-72 horas. nesse período também seria 5 a 15%?

E no caso da mãe morrer, durante o primeiro mês se quiser dar mamadeira, como saber quanto fornecer? Tem tabelas pra isso?

Crio a pouco tempo, portanto desculpe se minha pergunta for muito básica.

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