Ciclo biológico
A Fasciola adulta mede de 20 a 50mm de comprimento e de 6 a 12mm de largura e se aloja nos canais biliares (fígado) do hospedeiro definitivo (ovino ou caprino). Para completar seu ciclo biológico, a F. hepatica necessita de um hospedeiro intermediário. Este é um caramujo do gênero Lymnaea, onde no Brasil há três representantes: Lymnaea columella, L. viatrix e L. cubensis. Assim, no hospedeiro intermediário, há a produção de cercárias e dentro do hospedeiro definitivo, os ovos que são liberados pelas fezes.
Cada parasita pode produzir cerca de 20.000 ovos por dia e dentro do ovo se desenrola um organismo móvel, que após eclodir em uma semana, irá penetrar em um caramujo. Para que seja bem sucedido, isto deve ocorrer em cerca de 3 horas. Dentro deste irá evoluir para uma forma chamada de esporocisto, depois rédia e então cercária. As cercárias liberadas se fixam no pasto e se transformam em formas infectantes, em um período mínimo de uma a duas semanas, chamadas de metacercárias. Ao serem ingerias com o pasto pelos ruminantes, chegam até o intestino e se transformam em Fasciolas jovens. Posteriormente elas atravessam a parede intestinal e migram até o fígado, onde finalmente perfuram a cápsula hepática e migram através do tecido hepático fazendo túneis no parênquima, para os ductos biliares. Neste local ocorre então a postura de ovos e é completado seu ciclo. Ao todo, leva-se 18 semanas em média a duração do ciclo evolutivo.
O ciclo evolutivo pode ser mais bem visualizado no esquema a seguir:
Epidemiologia
A produção de metacercárias depende da influência de 3 fatores que são: habitat adequado para a sobrevivência dos caramujos, temperatura e umidade do ambiente.
Os locais adequados para os caramujos são lugares de água pouco profunda e paradas, principalmente várzeas onde contenha barro, já que a Lymnaea vive e reproduz em margens de valas e pequenos lagos. Após chuvas pesadas, o pisoteio dos animais forma marcas de casco, além de sulcos de rodas e pode ocorrer a formação de poças de água temporárias.
A temperatura ideal para os caramujos deve ser de 10°C entre o dia e a noite, sendo que em condições onde o frio permaneça por muito tempo, tanto o caramujo quanto o estádio intermediário da F. hepatica, podem cessar suas atividades metabólicas sobrevivendo vários meses, reaparecendo quando as condições forem mais favoráveis. Abaixo de 5°C toda a atividade é cessada e acima de 15°C é que ocorre plena atividade de multiplicação. O ambiente no inverno, portanto, atua conservando os estágios evolutivos, ocorrendo baixa contaminação.
Sinais clínicos e lesões
A presença de poucos parasitas nos ductos biliares não provoca manifestações importantes, porém infestações massivas são particularmente graves em animais jovens, podendo inclusive causar alta mortalidade devido aos danos hepáticos ou por invasões secundárias por bactérias (Clostridium). Os principais sinais clínicos são anemia, debilidade, edema submandibular e abdominal e perda gradual de peso.
À necropsia pode-se observar, dependendo do número de parasitas e do tempo de infecção, marcas de perfuração hepática, inflamação e focos hemorrágicos que mostram um quadro de hepatite aguda em manifestações recentes. Também há cicatrizes que distorcem o órgão pela presença de tecido fibroso produzido.
Diagnóstico
O diagnóstico é possivel cerca de três meses após a infecção inicial, quando os ovos começam a ser excretados nas fezes e são visiveis em amostras fecais com ajuda de microscópio óptico em exames coproparasitológicos. Baseia-se também na observação dos sinais clínicos, período sazonal, tipo do clima e condições ambientes onde se encontra a presença dos caramujos.
Tratamento
Para um controle eficiente da fasciolose é necessário o uso de fasciolicidas que sejam fáceis de aplicar, não deixem resíduos na carne e leite e que sejam altamente eficazes contra formas adultas e imaturas de F. hepatica. Porém um produto deste nem sempre é encontrado e por isso a freqüência das medicações dependerá da eficiência do fasciolicida e do grau de exposição dos animais às áreas altamente contaminadas.
Na maioria das vezes o tratamento da fasciolose se dá por medicamentos como albendazole, closantel, rafoxanida e principalmente triclabendazole, embora já existam casos de resistência a esses medicamentos em determinadas regiões do mundo. A maioria destes tem um longo período de restrição antes do abate ou ordenha. É importante lembrar a época do ano que se dará o tratamento, podendo ser um ótimo aliado epidemiológico quando se pensa num quadro profilático de infestação, baseado na época de chuvas. O pique da produção de metacercárias ocorre durante o verão/outono e o tratamento em maio, com um medicamento efetivo contra estádios iniciais de desenvolvimento da Fasciola, controla bem os casos clínicos, podendo reduz a contaminação das pastagens por ovos e formas agudas, que é o que se busca.
Atualmente há o desenvolvimento de outros medicamentos com diferentes princípios ativos do que os Bemzimidazóis, vacinas e estudos moleculares do parasita visando conhecer os mecanismos de resistência.
Controle
Medidas de controle devem ser tomadas para diminuir a prevalência da Fasciola. Pelo alto poder biótico dos moluscos hospedeiros, sua erradicação é praticamente impossível. O meio mais eficiente para a redução das populações de moluscos é a drenagem do campo em áreas críticas, que, no entanto, nem sempre é possível devido à extensão das áreas contaminadas (ex: áreas de plantio de arroz no RS) e mesmo porque, em alguns casos, essas áreas consistem nos próprios canais de irrigação da lavoura.
As medidas de controle dos moluscos também são difíceis de serem aplicadas em áreas úmidas e de banhado. A rotação de pastagens é uma boa opção, porém a rotação de diferentes espécies como ovinos e bovinos não apresenta bons resultados, pois a F. hepatica não é um parasita espécie-específico, infestando ambos os hopedeiros. Resta então o controle químico através da aplicação de produtos sistêmicos.
Desse modo, para a diminuição dos casos de fasciolose o melhor método seria o monitoramento da infecção no rebanho, tendo-se atenção àqueles animais anêmicos e com suspeita da doença, tratando-se estes casos. Assim diminui-se a chance de resistência por parte do parasita, mantendo uma população em refugia.
Quando possível, deve-se impedir que animais pastem em áreas de várzeas e introduzir inimigos naturais do caramujo como patos, marrecos e peixes, que pode ser uma estratégia viável no controle desta zoonose.