Com o início das chuvas regulares em muitas regiões do Brasil temos como consequência o aumento da oferta de pastagens, sendo assim, o manejo extensivo em piquetes torna-se rotina nas cabanhas. Dependendo da região há variabilidade no tipo de gramínea plantada nas propriedades para realizar o pastejo e muitas dessas plantas causam desordens sistêmicas nos animais. Neste radar técnico vamos abordar a fotossensibilização que tem a sua casuística frequentemente associada ao tipo de planta existente em muitas cabanhas.
A fotossensibilização refere-se a resposta exagerada da suscetibilidade da pele à radiação da luz solar, pela presença local de agentes fotodinâmicos, os quais apresentam uma configuração química que é capaz de absorver determinados comprimentos de onda da luz ultravioleta (UV), passando energia extra para as células ao redor, desenvolvendo dermatite com liberação de histamina, morte celular local e edema tissular, resultando em lesão.
Basicamente há dois tipos de agentes fotodinâmicos: fototóxicos e fotoalérgicos. Esses agentes, geralmente, chegam à pele pela circulação sanguínea, embora alguns sejam absorvidos diretamente pela pele. A fotossensibilização é classificada como:
Fotossensibilização primária ou tipo I - agentes fotodinâmicos são exógenos;
Fotossensibilização tipo II - ocorre em consequência da síntese anormal de pigmentos endógenos, sendo geralmente de origem hereditária;
Fotossensibilização hepatógena ou tipo III - ocorre pelo acúmulo de filoeritrina, composto porfirínico formado pela degradação microbiana da clorofila no intestino, normalmente é conjugada no fígado e excretada na bile, em consequência de lesão hepática, a excreção via bile fica impedida.
Dentro das classificações citadas, as lesões da fotossensibilização hepatógena ou tipo III ocorrem com certa frequência nos pequenos ruminantes e é a mais grave. A doença caracteriza-se clinicamente nos animais apresentando depressão, anorexia, salivação intensa e severa dermatite, principalmente nas áreas com ausência de pelos, como focinho, ao redor dos olhos, orelhas, virilha, vulva e úbere e em animais de pele branca (despigmentada). Pode também apresentar edema dos membros, conjuntivite e ceratite com corrimento ocular purulento e cegueira em alguns casos.
Nos casos mais severos ocorrem engrossamento de pele, com rachaduras e ulcerações, levando a infecções secundárias ou miíases. O diagnóstico é feito pelos sinais clínicos, patologia macroscópica e histológica e epidemiologia. No caso de suspeita, na qual a origem da fotossensibilização hepatógena, venha da pastagem, a contagem de esporos dos fungos deve ser feita, principalmente, quando há presença de material vegetal morto em grande quantidade na pastagem, porém, para confirmar a intoxicação, é necessário a comprovação de que a cepa do fungo encontrada seja produtora da micotoxina esporidesmina.
Embora a fotossensibilização hepatógena seja mais comum em animais mantidos em pastos, ela também pode ocorrer em animais alimentados exclusivamente com feno ou outros alimentos estocados. Outros causadores de fotossensibilização hepatógena são a intoxicação por Brachiaria decumbens e outras gramíneas que contem saponinas.
Plantas que contêm toxinas hepáticas
- Pithomyces chartarum é um fungo do azevém perene que causa eczema facial;
- Periconia spp., fungo do capim Bermuda;
- Cianobactérias associadas a alga azul-esverdeada (Microcystis flosaquae - flor d`água) presente na água de beber dos açudes, represas e abrigos;
- Tremoço - Lupinus angustifolius juntamente com o fungo Phomopsis leptostromiformis;
- Ervas daninhas como a lantana (Lantana camara), Lippia rehmanni, Nolina texana, óleo de carvão vegetal (Tetradymia spp.), alecrim (Holocalyx glaziovii), Myoporum laetum, Crotalaria retusa, Senecio jacobea e Sphenosciadium spp.
Plantas que contêm saponinas esteroides
Causam colangioepatopatia relacionadas com cristais.
- Agave lecheguilla, Narthecium ossifragum, Panicum spp. e Tribulus terrestres (tríbulo).
Deve ser feito o diagnóstico diferencial de fotossensibilização primária, na qual a dermatite é menos severa e não são observadas lesões hepáticas e de fotossensibilização por agentes fotodinâmicos endógenos que, por ser de origem hereditária, afeta poucos animais da mesma origem familiar.
Controle e profilaxia
Primeiramente, se possível, ter conhecimento da presença ou não dos esporos do fungo na pastagem para realizar o manejo adequado do rebanho nos piquetes. Os animais afetados devem ser retirados do local de pastejo e colocados em áreas com sombra e devem ser tratados com protetores hepáticos (soro glicosado e compostos a base de metionina). Nas lesões cutâneas pode ser aplicado pasta (pomada) a base de óleo de fígado de bacalhau e óxido de zinco e nos casos graves é importantíssimo evitar a ocorrência de infecções secundárias e miíases.
Referências bibliográficas
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