A Linfadenite Caseosa - também conhecida como "Mal do Caroço" - é uma doença contagiosa que acomete os pequenos ruminantes. Causada pela bactéria Corynebacterium pseudotuberculosis, caracteriza-se pela presença de abscessos (caroços) nos linfonodos (gânglios linfáticos) e órgãos internos.
A doença causa prejuízos sanitários e econômicos, podendo acometer animais de ambos os sexos e em qualquer idade (embora os mais acometidos apresentem idade acima de 24 meses).
Figura 1. Caprino com Linfadenite Caseosa superficial.
O Nordeste é a região brasileira onde se observa a maior freqüência da doença, devido à grande população de ovinos e caprinos, da vegetação contendo espinhos que favorecem a ocorrência de ferimentos na pele e da falta de informação adequada, por parte dos proprietários quanto à sanidade do rebanho.
No Estado do Ceará, 41,6% dos animais pesquisados apresentaram abscessos superficiais e 11,5% nos órgãos internos. Em 27,7% dos abscessos o isolamento do Corynebacterium foi confirmado. Em 8% dos casos de pneumonias de pequenos ruminantes adultos e em 50% dos abscessos hepáticos de animais necropciados no Ceará, foi isolado o agente da doença.
A enfermidade causa prejuízos econômicos significativos devido à diminuição da produtividade dos animais com comprometimento interno, condenação de carcaças e desvalorização das peles. Os abscessos podem resultar numa perda de 40% do valor da pele de ovinos e caprinos devido às cicatrizes. Em feiras e exposições, muitos animais estão sendo excluídos de julgamentos por apresentarem a doença.
Figura 2. Carcaça ovina condenada devido a abscessos superficiais.
A transmissão se dá pelo contato direto do animal com a bactéria, através de descargas purulentas dos abscessos superficiais que se rompem. Esses abscessos rompidos contaminam o solo, água, alimentos e instalações, ocorrendo a permanência do microorganismo por até 8 meses no meio ambiente (principalmente quando protegido contra o sol). A bactéria penetra no organismo através de ferimentos, arranhões ou mesmo da pele intacta, alcança a linfa e atinge os linfonodos regionais.
Tabela 1. Persistência do Corynebacterium pseudotuberculosis no meio ambiente.
Em qualquer órgão que a bactéria se instale surge secreção purulenta de coloração branca-amarelada, a qual é produzida continuamente, fazendo com que o abscesso possua grande diâmetro. Esses abscessos internos freqüentemente aparecem em pulmões e fígado, provocando problemas respiratórios e hepáticos.
Em alguns casos a linfadenite visceral é assintomática, sendo diagnosticada apenas quando os animais são abatidos. Porém se a doença assume grande incidência no rebanho, os animais podem apresentar caquexia progressiva, anemia, hiperplasia dos linfonodos superficiais, dispnéia e mastite nodular. Em ovelhas é comum a disseminação nos linfonodos mamários, ocasionando queda da produção leiteira, desnutrição e morte dos cordeiros.
O diagnóstico é baseado principalmente nos sintomas clínicos característicos e identificação dos organismos envolvidos através de testes bioquímicos.
Os achados de necropsia são a presença de abscessos em órgãos como fígado e pulmão. Estes abscessos podem apresentar coloração branca-amarelada (se a consistência for pastosa) ou cinza-esverdeada (se a consistência for caseosa).
Figura 3. Abscessos hepáticos em ovinos causados pelo Corynebacterium pseudotuberculosis.
Figura 4. Abscessos pulmonares em ovinos causados pelo Corynebacterium pseudotuberculosis.
Embora menos freqüentes, pode-se também encontrar abscessos em rins, baço, medula e sistema reprodutivo.
O tratamento recomendado da linfadenite superficial é a drenagem do abscesso, de tal forma que o pus e demais secreções sejam coletados (papel-toalha, jornal, gaze). Este material deve ser incinerado para que não haja contaminação ambiental com a bactéria. A limpeza da ferida deve ser feita com solução de iodo a 10%.
Figura 5. Abscessos renais em ovinos causados pelo Corynebacterium pseudotuberculosis
Os animais devem retornar ao rebanho somente após estarem totalmente sadios e com as feridas totalmente cicatrizadas. A aplicação de antibióticos e quimioterápicos é cara e apresenta poucos resultados satisfatórios. Em casos de animais de alto valor zootécnico, pode-se tentar uma intervenção cirúrgica para a linfadenite visceral, porém, o prognóstico é reservado.
Como métodos profiláticos recomenda-se fazer a inspeção periódica do rebanho, isolando-se os animais com abscessos para impedir que eles se rompam naturalmente e contaminem o ambiente. Deve-se também fazer higienização das instalações, bebedouros e comedouros com desinfetantes e fazer uso periódico de "vassoura de fogo" (pois a bactéria é sensível quando exposta a temperaturas maiores que 70ºC).
A vacinação também pode ser uma medida de prevenção. Embora não haja proteção total contra a formação de abscessos, consegue-se redução do número de lesões. Para os caprinos a resposta é menos efetiva. Os animais devem ser vacinados a partir de 60 dias de idade com reforço após 30 dias. A partir daí, deve-se fazer reforço anualmente. Fêmeas prenhes podem ser vacinadas três semanas antes do parto para garantir imunidade colostral a suas crias. Neste caso, os cordeiros devem ser vacinados a partir de 90 dias de idade.
Referências bibliográficas
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