ESQUECI MINHA SENHA CONTINUAR COM O FACEBOOK SOU UM NOVO USUÁRIO
FAÇA SEU LOGIN E ACESSE CONTEÚDOS EXCLUSIVOS

Acesso a matérias, novidades por newsletter, interação com as notícias e muito mais.

ENTRAR SOU UM NOVO USUÁRIO
Buscar

Mortalidade perinatal em caprinos - Parte 2

POR ANDRÉ MACIEL CRESPILHO

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 01/10/2009

6 MIN DE LEITURA

0
0
Conforme definições apresentadas na matéria anterior, "Perda embrionária em caprinos- Parte-1", o período pré-natal representa a somatória das fases de desenvolvimento embrionário (inciado pela fertilização do óvulo materno) e fetal, que culminam com a parição. Já o período perinatal abrange os momentos imediatamente antes e durante o parto, além das primeiras semanas de vida de ovinos e caprinos (CRESPILHO, 2009).

Independente da classificação utilizada, os momentos iniciais de desenvolvimento das futuras crias são os mais delicados e decisivos dentro de uma propriedade, merecendo toda a atenção de técnicos, funcionários e criadores. Tendo em vista a importância econômica relacionada às perdas no período perinatal, o objetivo dessa matéria é abordar alguns dos principais aspectos relacionados a mortalidade de caprinos nos períodos iniciais de desenvolvimento.

Mortalidade Perinatal

O período de maior vulnerabilidade na vida animal ocorre imediatamente antes e logo após o nascimento, período caracterizado como perinatal (CRESPILHO, 2009). Diferente dos animais adultos, os recém nascidos das diversas espécies animais não apresentam maturidade ou a plena competência dos diferentes sistemas orgânicos para regular de maneira eficiente funções vitais para a sua sobrevivência, como por exemplo o controle da temperatura corpórea e do sistema imune que atua no combate às doenças.

No útero os filhotes permanecem em um meio estéril até o nascimento, quando então se inicia a colonização bacteriana através da passagem pelo canal do parto (McCRAKEN & LORENZ, 2001). Ao nascer o ruminante neonato passa de um ambiente térmico bastante estável, de temperatura similar à sua temperatura interna para um ambiente térmico variável e instável devido a fatores climáticos, tais como ventos, chuvas e frio (MEDEIROS et al., 2005).

Em função da maior susceptibilidade dos recém nascidos nos estágios iniciais de desenvolvimento, altas taxas de mortalidade são registradas nesse período, sendo que fatores relacionados às condições ambientais e de manejo contribuem, na maioria das situações, para o estabelecimento de doenças e morte neonatal (HASKELL, 2008).

As mortes após o parto podem ocorrer no pós-parto imediato, quando ocorrem no primeiro dia de vida, no pós-parto dilatado, quando ocorrem até o terceiro dia de vida e no pós-parto tardio, quando o registro do óbito é feito entre o terceiro e vigésimo oitavo dia. Dentre as causas de mortalidade perinatal, que atuam individualmente ou relacionadas entre si, incluem-se abortos no final da gestação, distocias (problemas ou dificuldade de parição), malformações, infecções neonatais, predação, condições ambientais adversas e fatores maternos como raça, nutrição, comportamento materno e produção de leite (MEDEIROS et al., 2005).

Quantificando o problema

Independente da atividade a que o capril se dedica (leite ou corte), a produção de cabritos representa o alicerce do sistema de produção, sendo que a mortalidade perinatal provavelmente representa a maior fonte de prejuízo econômico para o pecuarista.

Em sistemas extensivos desenvolvidos em países tropicais, estima-se uma mortalidade perinatal para caprinos que varia entre 16 a 60% (SEBEI et al., 2004), sendo que em sistemas mais intensivos e tecnificados reportam-se índices inferiores ao redor de 8 a 17% (SMITH & SHERMAN, 1994). Esses números podem ser ainda mais alarmantes se considerarmos que a grande maioria das mortes que ocorrem nos capris não são noticiadas em revistas científicas ou de divulgação.

Segundo Smith & Sherman, (1994), a grande maioria dessas mortes ocorrem durante a primeira semana de vida do animal. No entanto, os prejuízos econômicos se estendem por um longo período, em função da perda de receita da propriedade no tocante a produção de animais destinados a venda, abate ou reposição, bem como pelos custos gerados pela administração de medicamentos e com o serviço de funcionários e veterinários.

Causas e fatores envolvidos

Os principais fatores que influenciam as taxas de mortalidade perinatal incluem às falhas na amamentação, partos prematuros e múltiplos, inabilidade ou inexperiência materna no cuidado da prole, má nutrição da matriz durante a gestação resultando no nascimento de filhotes debilitados e em uma baixa produção leiteira, além das falhas de manejo nas propriedades sobretudo no tocante a medidas gerais de higiene com as instalações, com a parturiente e com os recém nascidos (HASKELL, 2008; SEBEI et al., 2004).

A mortalidade perinatal para cabritos criados em sistemas extensivos na África do Sul foi estimada em 37% (SEBEI et al., 2004), resultado em muitos aspectos atribuído a problemas de manejo e de inadequação das instalações das propriedades consultadas (Tabela-1).

Tabela 1: Levantamento das principais causas de mortalidade para cabritos criados extensivamente em 13 propriedades da África do Sul.



Dentre os principais fatores predisponentes, destacam-se o complexo inanição, desidratação e hipotermia (também conhecido como a tríade do neonato), geralmente associado às falhas na ingestão de colostro como principais causadores de mortalidade. Dois fatores são determinantes para a ocorrência de tal complexo: condições climáticas adversas (frio, vento e chuvas) e baixo peso ao nascimento, que acarreta maior perda de calor e menores reservas energéticas, segundo Turino & Mattos, (2008).

No Rio Grande do Sul o complexo inanição/desidratação/hipotermia, a distocia e a predação, por ordem de importância, foram as principais causas de mortalidade perinatal, segundo Medeiros et al., (2005), que citam que a grande maioria das mortes ocorre no período pós-parto avançado.

No entanto, dentre todas as condições predisponentes de mortalidade, a falha na ingestão de colostro possivelmente representa a mais crítica. Cabritos recém nascidos, assim como as outras espécies de produção, dependem da ingestão de colostro rico em anticorpos logo após o nascimento para conferir proteção imunológica até que os mesmos atinjam maturidade suficiente para produzir suas próprias defesas (SMITH & SHERMAN, 1994). A falha em absorver adequada quantidade de anticorpos no período imediatamente após o parto predispõe os caprinos a contraírem inúmeras doenças infecciosas, aumentando as taxas de mortalidade.

Como solucionar o problema?

Em virtude da natureza multifatorial do problema que apresenta diversos fatores predisponentes, não existem fórmulas específicas para a completa resolução das perdas no período perinatal de caprinos. Somente após a identificação das causas de mortalidade é que se torna possível a instituição de programas preventivos nas propriedades, pois as causas variam amplamente de acordo com o manejo, condições ambientais e sistemas de produção (MEDEIROS et al., 2005). No entanto, algumas medidas simples, como as citadas por Haskell (2008) podem fazer toda a diferença na diminuição dos índices de mortalidade:

- Realizar um bom manejo de parição, com a formação de lotes específicos de fêmeas com a mesma idade gestacional;
- Adequado suporte nutricional das fêmeas gestantes sobretudo nos terços finais da gestação quando se observam as maiores taxas de crescimento fetal;
- Adequação de instalações visando à diminuição dos efeitos ambientais (chuva, frio, predadores);
- Conscientização da necessidade de práticas de higiene no cuidado com a fêmea gestante, no caso do parto assistido e sobretudo com o recém nascido;
- Adoção de cuidados básicos com o neonato como a cura de umbigo, aquecimento após parto laborioso ou demorado e garantia do fornecimento de um *colostro de boa qualidade (tema da próxima matéria*).


Referências bibliográficas

CRESPILHO, A.M. Efeito do estresse térmico durante a gestação e suas consequências no desenvolvimento das crias. Radar Técnico em Sanidade Animal, 2009. Disponível em: www.farmpoint.com.br

GYVENS, M.D.; MARLEY, M.S.D. Infectious causes of embryonic and fetal mortality. Theriogenology, v.70, p.270-285, 2008.

HASKELL, S.R.R. Keratoconjunctivitis/Conjunctivitis. In.: Blackwell's Five Minute Veterinary Consult: Ruminant. ed.1. Ames: Iowa/USA: Wiley-Blackwell, p.450-453, 2008.

McCRAKEN, V.J.; LORENZ, R.G. The gastrointestinal ecosystem: a precarious alliance among epithelium, immunity and microbiota. Cell Microbiology, v.3, p.1-11, 2001.

MEDEIROS, J.M.; DANTAS, S.V.; RIET-CORREA, F. Mortalidade perinatal em cabritos. Pesquisa Veterinária Brasileira, p. 8-22, 2005.

NÓBREGA Jr., J.E.; RIET-CORREA, F.; NÓBREGA, R.S. et al. Mortalidade perinatal de cordeiros no semi-árido da Paraíba. Pesquisa Veterinária Brasileira, v.25, n. 3, p.171-178,2005.

SEBEI, P.J.; McCRINDLE, C.M.E.; WEB, E.C. Factors influencing weaning percentages of indigenous goats on communal grazing. South African Journal of Animal Science, p.130-133, v.4, suppl.1, 2004.

SMITH, M.C.; SHERMAN, D.M. Ocular System. In.: Goat Medicine. Ed.1. Baltimore/USA: Lippincott Williams & Wilkins, v.1, p.179-190, 1994.

TURINO, V.F.; MATTOS, M.C.C. Diminuição da mortalidade de cordeiros: passo inicial para aumento da lucratividade. Radar Técnico em Sanidade Animal, 2008. Disponível em: www.farmpoint.com.br.

ANDRÉ MACIEL CRESPILHO

VetSemen - Primeiro laboratório privado especializado na análise de qualidade do sêmen utilizado em programas de inseminação artificial.

0

DEIXE SUA OPINIÃO SOBRE ESSE ARTIGO! SEGUIR COMENTÁRIOS

5000 caracteres restantes
ANEXAR IMAGEM
ANEXAR IMAGEM

Selecione a imagem

INSERIR VÍDEO
INSERIR VÍDEO

Copie o endereço (URL) do vídeo, direto da barra de endereços de seu navegador, e cole-a abaixo:

Todos os comentários são moderados pela equipe MilkPoint, e as opiniões aqui expressas são de responsabilidade exclusiva dos leitores. Contamos com sua colaboração. Obrigado.

SEU COMENTÁRIO FOI ENVIADO COM SUCESSO!

Você pode fazer mais comentários se desejar. Eles serão publicados após a analise da nossa equipe.

Assine nossa newsletter

E fique por dentro de todas as novidades do MilkPoint diretamente no seu e-mail

Obrigado! agora só falta confirmar seu e-mail.
Você receberá uma mensagem no e-mail indicado, com as instruções a serem seguidas.

Você já está logado com o e-mail informado.
Caso deseje alterar as opções de recebimento das newsletter, acesse o seu painel de controle.

MilkPoint Logo MilkPoint Ventures