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Parto distócico ou patológico em pequenos ruminantes

POR ANDRÉ MACIEL CRESPILHO

E MV DR. LEANDRO RODELLO, PHD

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 20/08/2010

6 MIN DE LEITURA

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Como abordado no radar técnico anterior, o desenvolvimento de um parto normal envolve a interação de inúmeros fatores que levam a modificações na morfologia e fisiologia da fêmea gestante (PRESTES e LANDIM-ALVARENGA, 2006). No entanto, em algumas situações especiais pode ocorrer o bloqueio ou interrupção da parturição, situação especialmente crítica não apenas para a cria como também para a fêmea gestante. As situações caracterizadas pela dificuldade materna em promover o nascimento ou a inabilidade em expelir o(s) feto(s) pelo canal do parto são definidas como parto distócico (PRESTES e LANDIM-ALVARENGA, 2006).

Nesse contexto, as distocias podem ser classificadas de acordo com sua origem, que pode ser materna (problemas relacionados à fêmea gestante que impedem a progressão da parturição), fetal ou conjunto de ambas (TONIOLLO e VICENTE, 1995). Essa matéria tem como objetivo descrever os principais aspectos relacionados ao parto distócico em pequenos ruminantes, identificando as causas mais comuns e fatores predisponentes.

Distocias de origem materna

As distocias de origem materna representam situações inerentes a fêmea gestante que impedem ou dificultam a ocorrência do parto, representando umas das principais causas de morte de cordeiros e cabritos. Cabras e ovelhas apresentam grande susceptibilidade às distocias de origem materna que podem ocorrer em função de possíveis alterações no formato, posicionamento ou malformações dos órgãos reprodutivos externos e internos (vulva, vagina, cérvix e útero), além dos problemas relacionados ao canal do parto (pelve e seus ligamentos) que podem atuar isoladamente ou em conjunto impedindo a parturição.

No caso das alterações do canal do parto, as mais frequentes envolvem o osso pélvico, incluindo os casos de pelve juvenil ou subdesenvolvida, luxações sacroilíacas, fraturas e osteodistrofias (TONIOLLO e VICENTE, 1995; PRESTES e LANDIM-ALVARENGA, 2006), identificando-se nas carências nutricionais umas das principais causas de anomalias esqueléticas, propensão a fraturas e luxações que comprometem o grau de abertura da via fetal (PRESTES e LANDIM-ALVARENGA, 2006).

Dentre as alterações vulvares adquiridas que podem ocasionar maior dificuldade ao parto destacam-se as estenoses, hipoplasias, estreitamento por cicatrizes, edema excessivo, defeitos anatômicos, dilatação insuficiente (hipofosforose e deficiência de vitamina A que causam perda de elasticidade) e infantilismo (MORROW, 1986; GRUNERT e BIRGEL, 1989; TONIOLLO e VICENTE, 1995; PRESTES e LANDIM-ALVARENGA, 2006). As anomalias vulvares, por serem externas e visíveis e na maioria das vezes corrigíveis por procedimento cirúrgico simples, geralmente não constituem um grande obstáculo para a progressão do parto (PRESTES e LANDIM-ALVARENGA, 2006).

As ovelhas e as cabras também podem apresentar dilatação insuficiente do canal vaginal devido à precocidade etária (fêmeas primíparas muito jovens) ou deficiências multifatoriais que podem dificultar o trabalho de parto (PRESTES e LANDIM-ALVARENGA, 2006). Dentro desse quadro podemos citar as formações tumorais, hematomas, estreitamento por cicatrizes, prolapso, edemas, hipoplasia, estenoses, dilatação insuficiente e persistência do hímen como as alterações mais comuns de origem vaginal (TONIOLLO e VICENTE, 1995).

A cérvix que corresponde a "barreira fisiológica" que separa a vagina do útero representa um órgão fisiologicamente associado aos problemas de parto em pequenos ruminantes (Tabela 1). Prestes e Landim-Alvarenga, (2006) indicam que naturalmente a ovelha e a cabra são propensas a apresentarem dilatação e largura insuficiente da cérvix que podem comprometer o andamento normal do trabalho de parto.

Os problemas uterinos também correspondem a causas comuns de distocia de origem materna, sendo representados especialmente pela atonia ou inércia uterina (dificuldade ou incapacidade de realizar as contrações expulsivas) e em menor número de casos pela torção, inversão e prolapso uterino.

A atonia pode ser classificada como de origem primária ou secundária. A primária ocorre quando o útero não exibe contração, apresentando como causas principais às disfunções hormonais da fêmea gestante, obesidade, hipocalcemia, hipomagnesemia, hipoglicemia, hidropisia dos envoltórios fetais (acúmulo excessivo dos líquidos fetais relacionados às bolsas amniótica e alantoideana), gestação múltipla patológica, gestação prolongada, aplasia ou hipoplasia da hipófise fetal (órgão responsável pela produção de hormônios), degeneração do miométrio, ruptura uterina e do tendão pré-púbico, senilidade, debilidade e baixo escore de condição corporal (HAFEZ e HAFEZ, 2004; PRESTES e LANDIM-ALVARENGA, 2006).

Atonia uterina secundária ocorre quando o trabalho de parto prolonga-se por um longo período (acima do tempo médio ideal para cada fase do parto) levando ao esgotamento da musculatura uterina e a exaustão completa da fêmea.
Outra situação patológica que impede a progressão do parto representa a torção uterina, que apresenta maior predisposição nas espécies caprina e ovina devido ao posicionamento dos ovários e seu sistema de fixação que permitem que o útero tenha mobilidade em seu eixo longitudinal de sustentação (TONIOLLO e VICENTE, 1993). A ocorrência das torções é mais comum no final da gestação-início do trabalho de parto (fases I e II, respectivamente preparação e dilatação do parto), havendo, no entanto, relatos da sua ocorrência nos períodos precedentes (PRESTES & LANDIM-ALVARENGA, 2006).

Tabela 1 - Frequência das principais causas de distocia para ovinos (n=322 partos distócicos documentados no período de julho de 1983 a novembro de 1992).



Distocias de causa fetal

As distocias de causa fetal podem ser provocadas por deficiência de cortisol (hormônio responsável pelo início do trabalho de parto), tamanho excessivo do feto (influenciado pela raça ou tempo de gestação), defeitos ou malformações fetais como a duplicação de membros ou cabeças ("fetos monstros"), alterações que levam a edema e acúmulo de líquido aumentando o tamanho dos fetos (ascites, anasarca e hidrocefalia) ou alterações na estática ou posicionamento do(s) feto(s) no útero (Tabela 1), dificultando ou impedindo o trabalho expulsivo (TONIOLLO e VICENTE, 1993; PUGH, 2002; PRESTES e LANDIM-ALVARENGA, 2006).

Como em ovinos e caprinos se observa uma maior freqüência de gestações múltiplas ou gemelares em relação às demais espécies domésticas (HAFEZ e HAFEZ, 2004) possíveis alterações na estática fetal são mais freqüentes em pequenos ruminantes, predispondo aos quadros de distocia de origem fetal (PUGH, 2002) que exigem a pronta correção para que o parto possa prosseguir normalmente (Figura 1). O sucesso da manipulação obstétrica para a correção das distocias provocadas pelo feto depende do tempo de evolução do parto, viabilidade fetal, grau de dilatação das vias fetais, adequação do equipamento disponível e do local de execução do procedimento, bem como do preparo técnico do pessoal envolvido no auxílio ao parto (PRESTES e LANDIM-ALVARENGA, 2006).

Figura1 - Distocia de origem fetal relacionada a gemelaridade em cabra da raça Saanen. Exemplo de intervenção obstétrica (tração dos fetos).



Intervenção

A manipulação fetal corresponde a um procedimento simples que pode auxiliar a expulsão do(s) produto(s) no caso do parto distócico em cabras e ovelhas, devendo sempre ser conduzido por técnico experiente utilizando rigorosa higiene e promovendo lubrificação em abundancia antes de iniciar o procedimento. Em muitas situações o pequeno porte das fêmeas em trabalho de parto ou a dilatação insuficiente de todo o canal do parto dificultam a manipulação e podem tornar alguns procedimentos como é o caso da tração fetal, contra-indicados pelo risco de lesão do aparelho genital feminino e do feto.

De uma forma geral, considera-se que a maior parte das distocias é de fácil correção quando o produto ainda está vivo ou acabou de morrer (antes de iniciado o rigor mortis) através da execução de manobras diretas sobre o feto ainda em ambiente uterino.

Pelo risco perfurações no útero e lacerações em vulva, vagina e cérvix durante a manipulação fetal, preconiza-se que o auxílio ao parto sempre seja conduzido por médico veterinário. Para os casos de distocia de impossível correção torna-se indicada a cirurgia cesariana (nas situações em que se constata que o[s] feto[s] está vivo) ou a fetotomia no caso da confirmação da morte fetal.

Como as distocias correspondem a uma urgência médico-veterinária que coloca em risco não apenas a vida dos produtos como também das matrizes, torna-se necessário o conhecimento de cada fase que compõe o parto normal (radar técnico de Sanidade, 19/07/2010) para que possíveis alterações na evolução da parturição possam ser prontamente identificadas, garantindo a intervenção em tempo adequado e o sucesso na obtenção de crias viáveis.

Referências bibliográficas

GRUNERT, E., BIRGEL, E.H., VALE, W.G. Patologia e Clínica da Reprodução dos Animais Mamíferos Domésticos: Ginecologia, São Paulo, Brasil: Varrela, 2005, 551p.

HAFEZ, E.S.E., HAFEZ, B. Reprodução Animal. 7. ed., São Paulo, Brasil: Manole, 2004, 513p.

MAJEED, A.F., TAHA , M.B. Obstetrical disorders and their treatment in Iraqi Awassi ewes. Small Ruminant Research, v.17, p.65-69, 1995.

MORROW, D.A. Current therapy in theriogenology diagnosis, treatment and prevention of reproductive disease. 2. ed., Philadelphia, USA: Saunders Company, 1986, 1143p.

PRESTES, N.C., LANDIM-ALVARENGA, F.C. Obstetrícia Veterinária. Rio de Janeiro, Brasil: Guanabara Koogan, 2006, 241p.

PUGH, D.G. Sheep & Goat Medicine. Philadelphia , USA: Saunders Company, 2002, 468p.

TONIOLLO, G.H., VICENTE, W.R.R. Manual de Obstetrícia Veterinária. São Paulo, Brasil: Varrela, 1995, 124p.

ANDRÉ MACIEL CRESPILHO

VetSemen - Primeiro laboratório privado especializado na análise de qualidade do sêmen utilizado em programas de inseminação artificial.

MV DR. LEANDRO RODELLO, PHD

Médico Veterinário (UNOESTE - Presidente Prudente), com Residência em Reprodução Animal (UNESP- Araçatuba) e Mestrado, Doutorado e Pós-Doutorado em Reprodução Animal (UNESP- Botucatu)

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ROBERTO VIANA MENEZES

SANTO AMARO - BAHIA - INSTITUIÇÕES GOVERNAMENTAIS

EM 22/03/2014

Muito bom artigo.
JOSÉ ASSENÇÃO DAS NEVES SOBRINHO

TERESINA - PIAUÍ

EM 19/03/2014

Como leitor dos artigos desta conceituada instituição, é mais um dos art. que podemos dar os elogios merecidos.Neves
MATUAEL

JAGUARARI - BAHIA - PRODUÇÃO DE OVINOS DE CORTE

EM 12/08/2013

gostaria de ver videos sobre cesariana em ovinos
ROSALINO BRAMBILLA SILVA

TRÊS LAGOAS - MATO GROSSO DO SUL - PRODUÇÃO DE OVINOS

EM 25/08/2010

Fiz aquisiçao de 6 ovelhas e 1 macho, estou com uma pequena propriedade. Pretendo vaciná-los, e vermifugá-los. Qual a frequencia, quando, que devo vaciná-los, e quais as doenças mais comuns? Estam em uma propriedade de 2,5 alqueires, com pastagens de Tanzania. Pretendo criar.

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