A produção de leite de ovelha é o principal fator de crescimento do cordeiro, particularmente durante as primeiras quatro semanas de vida, período em que a relação entre a taxa de crescimento do cordeiro e a produção de leite da ovelha é maior. Portanto, elevar a produção de leite da ovelha significa acelerar o ganho de peso dos cordeiros na fase de pré-desmame.
Normalmente, cordeiros de parto gemelar apresentam menor desempenho na fase pré-desmame. Embora ovelhas de parto gemelar apresentem maior produção de leite, esta não chega a ser o dobro da produção de uma ovelha de parto simples, resultando em menor quantidade de leite consumida por cordeiros gêmeos.
Durante as duas ou três primeiras semanas após a parição, a produção de leite da ovelha corresponde de 40% a 50% do total da lactação. Os resultados encontrados na literatura demostram que a produção de leite em ovelhas criando um ou dois cordeiros apresentaram um pico de produção entre 14 e 28 dias de lactação. A partir da 6ª a 8ª semana de lactação, há uma redução na produção diária de leite de 40% a 50% (FIGUEIRÓ & BENAVIDES, 1990). Esse declínio na produção de leite varia em uma taxa de 15 a 20 gramas a menos por dia, durante o segundo e terceiro mês de lactação.
A produção de leite de ovelha pode ser estimada pelo desempenho do cordeiro durante o primeiro mês, pois nesse período o consumo de alimentos sólidos é muito baixo e a taxa de crescimento do cordeiro varia conforme o consumo de leite. A eficiência pode variar com o sexo e a idade, sendo considerada boa estimativa o consumo de 5 litros de leite para que o cordeiro aumente seu peso em 1kg (THERIEZ, 1997).
Entretanto, após o pico da lactação, o consumo de alimento sólido pelos cordeiros aumenta para compensar o decréscimo no consumo de leite. A inter-relação entre o consumo de forragem/volumoso e o consumo de leite não é bem conhecida, e parece bastante importante principalmente para os sistemas em que os cordeiros são desmamados jovens.
O ambiente, raça, idade das ovelhas, estágio de lactação, número de cordeiros, estado sanitário, infecções de úbere, manejo do rebanho e nível nutricional durante a gestação e lactação são fatores que contribuem para as variações na produção e na qualidade do leite.
GODFREY et al. (1997), ao avaliarem a produção de leite de ovelhas deslanadas e lanadas nos trópicos, em temperatura média de 30,6o C e não observaram efeito da raça no total de leite produzido durante 63 dias de lactação. A produção total de leite estimada foi de 7,8; 9,5 e 10,9 kg, respectivamente, para as raças Barbados Blackbelly, Florida Native e St. Croix White. Bencini & Pulina (1997) citam que a raça Awassi, com aptidão leiteira produzir cerca de 1000 litros de leite na lactação, enquanto que a Poll Dorset com aptidão para carne, produz somente 100 a 150 litros de leite por lactação.
Segundo Hassan (1995), o cruzamento de raças nativas com raças especializadas em produção de carne ou de leite, é o método mais rápido para melhorar a eficiência do rebanho. Entretanto, nem sempre isso é possível, devido aos problemas da importação de animais. Nesse caso, é importante conhecer a produção de leite das raças locais e selecioná-las para elevar a produção, método que tem sido empregado por meio de programas de cruzamentos em vários países.
Silva (1998) avaliou a quantidade de leite produzida por ovelhas Corriedale puras e mestiças, e observou médias de 0,697; 0,718 e 0,997kg/dia para ovelhas puras, ½ Hampshire Down x ½ Corriedale e ½ Bergamácia x ½ Corriedale, respectivamente. Kremer et al. (2000) observaram que a média de produção de cruzas Corriedale x Milchschaf foi 39,7% maior que de ovelhas puras Corriedale em 100 dias de lactação.
Esses autores relataram ainda, que o genótipo F1 apresentou maior persistência de lactação que a raça materna Corriedale. Segundo Corrêa et al. (2006), a raça Corriedale adaptada a sistemas de produção semi-extensivos demonstrou ter potencialidade para produção leiteira, e os genótipos F1 e F2 das Corriedale com Milchschaf resultam em incremento substancial na produção em relação à raça Corriedale (Tabela 1).
Tabela 1 – Médias de produção e desvios-padrão para produção de leite (kg), gordura, proteína e lactose (g), em 100 dias de lactação para cada um dos genótipos estudados.
Nutrição X Produção de Leite
A lactação é a fase de maior exigência nutricional para as ovelhas, principalmente nas oito primeiras semanas (NRC, 2007). As tabelas de exigências nutricionais propostas pelo NRC (2007) mostram que as necessidades em energia e proteína de uma ovelha lactante de parto simples são 49,0% e 109,8% superiores às de uma ovelha em mantença. Se considerarmos uma ovelha de parto gemelar, esse percentual chega a 85,1% e 184,1%. Portanto, é necessário fornecer alimento em quantidade e qualidade suficientes nessa fase, para que não prejudique a capacidade produtiva dos animais, uma vez que a subalimentação provoca perdas qualitativas e quantitativas no leite produzido.
Em ovelhas lactantes, assim como em vacas, o consumo voluntário de alimento aumentará gradativamente com a demanda de energia no decorrer da lactação, no entanto, a demanda energética aumenta mais rapidamente do que o consumo de matéria seca no início da lactação, acarretando comumente um balanço energético negativo. Ou seja, a fêmea não é capaz de ingerir alimento suficiente para atender sua exigência nutricional que nessa fase é muito alta, principalmente se ela estiver amamentando dois ou três cordeiros. Como resultado, ela é forçada a usar suas reservas corporais durante essa fase inicial da lactação! Por isso, nessa fase as ovelhas perdem peso e diminuem o escore de condição corporal, sendo que a magnitude dessa perda esta diretamente relacionada com a qualidade da dieta.
Considerando o status nutricional, o monitoramento adequado das reservas corporais é imprescindível para manter animais em produção em condições de expressarem seu potencial produtivo, contribuindo para o sucesso econômico da atividade. Portanto, a avaliação da condição corporal, na medida em que indica o status nutricional das ovelhas, pode auxiliar o técnico na informação sobre a possibilidade de produção de leite das ovelhas, orientando-o sobre os ajustes das dietas nessa fase.
Atenção! A alimentação da ovelha nas quatro primeiras semanas de lactação é fundamental no sistema de produção, seja ela a pasto ou em confinamento, pois afeta diretamente a produção de leite e, com isso, o crescimento de seu(s) cordeiro(s).
Estado Sanitário X Produção de Leite
Os problemas que afetam o úbere (glândulas mamárias) e tetos merecem atenção especial pois podem ocasionar: baixa produção de leite, alterações na qualidade do leite/colostro e consequentemente, baixo peso ao desmame de cordeiros e cabritos; mortalidade da matriz e/ou da cria (exemplo: mastite gangrenosa); descarte precoce de matrizes com boa produtividade, entre outros. Além disso, não podemos esquecer de contabilizar o aumento do custo de produção devido os gastos com serviços veterinários e medicamentos.
As lesões nos tetos causadas por traumas ou doenças (ectima contagioso, febre aftosa, entre outras) podem causar dor e com isso, a fêmea pode recursa-se de amamentar sua (s) cria (s). Por isso, a avaliação do úbere e dos tetos é essencial e tem como principal objetivo o monitoramento, a prevenção, o diagnóstico e o tratamento precoce das principais enfermidades!
Outras enfermidades que comprometem o estado de saúde geral da fêmea e/ou a ingestão de alimento afetam diretamente a produção de leite! Entre essas doenças, as endoparasitoses gastrintestinais merecem atenção especial pois além de afetar o desempenho e a produção de leite, podem causar a morte da matriz e de suas crias!
de desmamar cordeiros mais pesados. Ou seja, a produção de carne
de cordeiros é dependente da maior produção de leite de suas mães.”
O artigo desse mês foi escrito com base no artigo “MÉTODOS PARA AVALIAÇÃO DE PRODUÇÃO DE LEITE OVINO”, publicado na Revista Brasileira Agrociência de Pelotas, volume 15, n.1-4, p.17-22, jan-dez, 2009. Disponível em: <https://www.ufpel.edu.br/faem/agrociencia/v15n1/artigo03.pdf>