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Utilização de cães de guarda de rebanho - Parte 1

POR PEDRO NACIB JORGE NETO

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 13/01/2010

4 MIN DE LEITURA

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Com o avanço da pecuária brasileira, os pecuaristas, especialmente os ovinocultores e caprinocultores depararam com um grande problema: a predação do rebanho por carnívoros silvestres e cães domésticos.

Com o processo de desmatamento acelerado em algumas regiões e reservas legais isoladas, reduziu a abundância de presas naturais, tornando restrita as áreas de ocorrência dos predadores selvagens, favorecendo a predação dos rebanhos. Estes predadores, principalmente os felídeos, têm sido eliminados por pecuaristas para evitar novos prejuízos econômicos.

Foto 1 - Ovelha atacada por cachorro doméstico: geralmente o dano é grande e vários animais podem ser mortos num mesmo dia, porém sem serem consumidos.



No Brasil, poucos estudos foram realizados em relação a ataques de predadores à criação de ovinos e caprinos, sendo informações como frequência e danos causados pouco reportados. Portanto, é comum ouvir relatos de produtores sobre ataques causados por cães errantes e onças. Sabe-se que os cães domésticos são capazes de matar dezenas de animais em uma só noite, e que onças pardas são capazes de matar até 50 animais no mesmo tempo.

Dados publicados pelo National Agricultural Statistics Service, do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, apontam perda por ataque de predadores de US$1.953.600,00 em 2005 e US$1.832.500,00 em 2006, sendo que deste total, 75% refere-se a perdas em cordeiros e 25% em ovinos adultos. Em números de animais, foram mortos 21.000 ovinos por predadores em 2005 e 24.600 em 2006.

Foto 2 - Ovelha atacada por cachorro doméstico



Tabela 1 - Predadores com relato de ataque a rebanhos de ovinos ou caprinos na América do Sul.



A importância da conservação dos carnívoros selvagens brasileiros dá-se pelo fato destes serem o topo da pirâmide alimentar, sendo então responsáveis pela conservação de todo o ambiente e ecossistema onde estão inseridos. Na ausência destes predadores, suas presas naturais, como mamíferos herbívoros, roedores, aves, répteis e insetos, tendem a se multiplicar exponencialmente podendo trazer sérios prejuízos à agropecuária com consideráveis perdas financeiras.

Diferente de outros países europeus, o governo brasileiro não indeniza animais domésticos mortos por ataques de predadores.

A utilização de cães de guarda de rebanho é indicada oficialmente pelo Departamento de Agricultura dos Estados Unidos, por organizações de proteção a fauna na Europa e África e países da União, sendo considerada como método tradicional e na maior parte das vezes, não-letal, de controle de predadores que pode ajudar na conservação de carnívoros silvestres, havendo vários estudos que demonstram o alto sucesso na redução de mortes no rebanho por ataque de predadores, sendo os cães de guarda de rebanho amplamente utilizados em pastos abertos, pastos cercados e instalações de ovinos na Europa, Ásia, África, Américas e Austrália protegendo os rebanhos e consequentemente, os canídeos, felídeos, ursídeos, hyaenídeos e primatas.

No Brasil, o CENAP (Centro de Pesquisas para a Conservação dos Predadores Naturais), em trabalho conjunto com a Associação para Conservação dos Carnívoros Neotropicais (Associação Pró-Carnívoros) e também outras ONGs de proteção a predadores silvestres, vem elucidando as necessidades de conservação das espécies de carnívoros e seus habitats, porém muitas vezes sem trazer uma ferramenta para que os pecuaristas protejam os rebanhos contra predadores. Infelizmente hoje, no Brasil, nenhuma entidade menciona ou sugere a utilização de cães de guarda de rebanho para proteção de plantéis de ovinos e caprinos.

Origem dos cães de guarda de rebanho

As raças de cães existentes hoje são originarias dos lobos (Canis lupus), com trabalhos revelando semelhança de DNA de 99,8%. Mais precisamente são descendentes de pequenos lobos indianos (Canis lupus pallipes) datando 140.000 anos, tendo sido encontrado na China as primeiras associações entre o homem e uma variedade de lobo de pequeno porte (Canis lupus variabilis), datando 150.000 anos.

Há milênios, os cães tem sido empregados na Eurásia para a guarda e proteção de rebanhos de caprinos e ovinos contra predadores selvagens, cães errantes e ladrões.

Os cães de guarda de rebanho tem como antecessor distante, o Dogue do Tibet (Do-Khui), uma raça antiga de trabalho de pastores nômades do Himalaia e guardião dos mosteiros tibetanos, um milênio antes de Cristo, cercados de grande mito desde a descoberta na antiguidade, sendo mencionado desde Aristóteles (384-322 A.C.) até as escritas famosas de Marco Pólo, sempre elogiado pela força e imposição tanto física quanto mental. A raça Dogue do Tibet é considerada hoje como uma raça rara no mundo, havendo poucos exemplares criados.

A existência de cães de guarda de rebanho pode ser datada a cerca de 6 mil anos atrás, possivelmente na região representada nos dias de hoje pela Turquia, Iraque e Síria, sendo que os caprinos e ovinos parecem ter sido os primeiros animais domesticados pelos homens, entre 7 e 8 mil anos atrás, na mesma região. Estes primeiros ruminantes eram de coloração preta, cinza ou marrom e os cães de guarda de rebanho também possuíam coloração similar.

A primeira aparição arqueológica de cães e ovinos juntos é datado em 3585 A.C. Acredita-se que os antecessores dos cães de guarda de rebanho chegaram a Europa com ovelheiros nômades vindos da região da Caucásia no século VI A.C. Também é possível que tenham chegado a Europa junto aos comerciantes fenícios e as conquistas romanas.

A lã branca era preferida na época romana e os cães passaram a ser selecionados a ter esta pelagem. Relatos dizem que os cães de guarda de rebanho de cor branca eram preferidos por serem mais fáceis de serem distinguindos de lobos e predadores. Estes cães são conhecidos hoje como Pastor Maremano Abruzês.

PEDRO NACIB JORGE NETO

Médico Veterinário, Gerente de Produtos na YesSinergy Agroindustrial, Diretor da NOVAGEN Genética; pós graduado em MBA do Agronegócio pela ESALQ/USP; especializado na Austrália em Reprodução de Ovinos e Caprinos; Membro do Corpo Técnico da ABCDorper

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SÃO JOSÉ DOS PINHAIS - PARANÁ

EM 15/06/2020

Tenhk um pastor suico e comecou a matar ovelhas . Ele nao come .mas mata .
Tem algum adestramento pra ele parar ?
ROBERTO

OSÓRIO - RIO GRANDE DO SUL

EM 02/01/2014

Pedro, tocaste em um assunto sério, a consanguinidade. Tenho procurado criadores de Maremano, mas não tenho encontrado segurança de não haver consanguinidade entre pais e avós, também não encontrei nenhum que vendesse animais treinados, ou que pelo menos tenham nascido de animais de serviço. Podes indicar algum contato? Afinal o investimento é alto e o risco bem grande, um cão destes equivale a um bom carneiro PO e depois se não prestar não vai dar nem churrasco...
PEDRO NACIB JORGE NETO

CAMPINAS - SÃO PAULO

EM 25/11/2010

Prezado Gilberto Schmitt,

qual raça utilizou? A linhagem dos animais é extremamente importante neste ponto.
Tenho diversos clientes utilizando e um unico relato que tive destes clientes foi de um cachorro que ele ganhou extremamente consanguíneo.

Qual o pedigree dos cães que utilizou?

Att.
Pedro Nacib Jorge Neto
GILBERTO BRANCHER SCHMITT

PROGRESSO - RIO GRANDE DO SUL - PRODUÇÃO DE OVINOS

EM 24/11/2010

Tentei utilizar, mas todos que tive atacavam os ovinos no campo. Se souberem uma raça que não tem o instinto de atacar ovinos ou um adestramento adequado para os cães e puderem me passar agradeço.
PEDRO NACIB JORGE NETO

CAMPINAS - SÃO PAULO

EM 22/02/2010

Prezada MARIA CLARA CARNEIRO,

o Pastor Alemão não é considerado um cão de guarda de rebanho e sim cão de polícia e guarda de propriedades.

Infelizmente não acredito em uma convivência harmoniosa entre ele e seu rebanho. Quando inicia o fato que relatou, mesmo com um trabalho de adestramento árduo e muito bem feito, existe o risco de reincidências.

Pense na possibilidade de fazer base na tela do local onde ele fica.

Att.
Pedro Nacib Jorge Neto
PEDRO NACIB JORGE NETO

CAMPINAS - SÃO PAULO

EM 22/02/2010

Prezado Zildomar Deucher Junior,

agradeço os comentários.

Infelizmente a realizade no Brasil está longe do que comentou: criadores acham que a matança é a solução e as ONGs e órgãos não incentivam a utilização destes cães, estando estes obsoletos ainda indicando cerca elétrica (que não segura onça) e curral de pernoite (queria conhecer um curral de pernoite que tivesse capacidade de 5, 10 mil animais, deve ser mesmo uma construção fantástica, fora a necessidade de ser dividido para não misturar lotes!!)

Att.
Pedro Nacib Jorge Neto
MARIA CLARA CARNEIRO

MORRO DO CHAPÉU - BAHIA - PRODUÇÃO DE OVINOS

EM 22/02/2010

Meu querido cachorro - pastor alemão - resolveu agora atacar minha criação de ovelhas e matá-las na calada da noite.

Vocês tem alguma dica ou sugestões que não seja afastá-lo de vez da minha fazenda?

Já tentei prender em um cercado mas ele cavou um buraco até conseguir sair e atacou novamente.


ZILDOMAR DEUCHER JUNIOR

MARÍLIA - SÃO PAULO - PESQUISA/ENSINO

EM 19/01/2010

Interessante Artigo.

Tema importante, que aborda sistema em uso desde muito tempo em outros continentes, mas ainda incipiente nosso meio. Ademais de ser eficaz e relativamente barato, pode ser considerado ambientalmente correto, o que tem valor em si mesmo, e torna-se cada vez mais importante no relacionamento do setor produtivo com a sociedade em geral. Merece ser considerado por todos, especialmente pelos produtores que criam seus rebanhos em locais com maior risco de ataque por predadores. Os produtores deveriam ser estimulados a adotarem esse sistema que pode ser considerado ambientalmente e "socialmente" correto.

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