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Qualidade de Úbere: como esta avaliação ajuda o produtor - Parte 1

POR RODRIGO MARTINS DE SOUZA EMEDIATO

PRODUÇÃO DE LEITE

EM 30/11/2009

6 MIN DE LEITURA

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Atualizado em 30/05/2023

Apesar de parecer ter diminuído o ritmo, a ovinocultura continua crescendo em todo país. Talvez não tão intensamente como há 3 ou 4 anos, mas cresce mais em regiões menos tradicionais como a região norte do Brasil, por exemplo.

Mas uma coisa é fato: a raça Santa Inês e suas cruzas colonizaram praticamente todas as regiões brasileiras seja qual for o clima, com exceção talvez, de regiões muito frias.

Como a maior população de ovinos se concentra no nordeste, com a popularização da ovinocultura em outras regiões, reforçado com o marketing da raça, vários iniciantes da atividade foram buscar seus animais em estados como a Bahia, o mais próximo do sudeste e livre de aftosa. Juntamente com a sua disseminação vieram os problemas característicos da raça: como a mastite!

Existem atualmente diversos pesquisadores debruçados sobre experimentos e dados tentando entender o porquê da aparente maior incidência de mastite nesta raça do que em outras, mas não é simples encontrar uma resposta para uma doença que sofre influência de vários fatores, como alimentação, manejo de lida dos animais, manejo sanitário, higiene de instalações, período de desmama, formas de secagem, produção de leite, comportamento do cordeiro na mamada e morfologia do úbere.

Outra pergunta que devemos ter em mente é: Santa Inês apresenta mais mastite ou o nosso rebanho, por ser majoritariamente formato por Santa Inês, toda vez que vemos um caso, a chance de ser em Santa Inês é maior?

As respostas para estas perguntas não são fáceis, mas uma coisa é certa: temos que trabalhar da melhor forma possível com todas estas variáveis para minimizar as causas e incidência da mastite nos rebanhos.

O úbere é formado basicamente por dois compartimentos: Alvéolo, onde o leite secretado e armazenado dentro do lúmen do tecido alveolar e cisterna, onde o leite drenado dos alvéolos é armazenado dentro dos grandes ductos e da cisterna da glândula mamária e dos tetos. Os alvéolos é a região mais ventral, onde está o tecido secretor do leite e os canais que carreiam o leite secretado, ejetando-o na cisterna do úbere, onde fica armazenado até ser mamado ou ordenhado.

O leite para sair dos alvéolos precisa de um estímulo, seja pela sucção dos cordeiros, seja pelas mãos do ordenhador, massageando o úbere ou pela pressão da ordenhadeira mecânica, o fundamental é que uma destas ações estimulem a liberação de ocitocina, hormônio responsável entre outras coisas, pela contração das células mioepiteliais na região alveolar do úbere e ejete o leite.

Figura 1. Regiões e tecidos que compõem o úbere (Ribeiro, 1997)



No experimento de NEGRÃO et al. (2001), onde ovelhas foram ordenhadas mecanicamente em diferentes frequências (1, 2, 3, 4, 5 e 7 vezes ao dia), verificou-se que a ordenha mecânica foi responsável pelo aumento significativo nos níveis de ocitocina, 30 segundos após o seu início e a média de ocitocina liberada para uma ordenha diária foi maior do que nos outros tratamentos, sendo que, naqueles com mais de uma ordenha por dia, a liberação anterior não influenciou a seguinte. Segundo os mesmos autores, o nível basal de ocitocina não foi influenciado pela hora do dia, nem pela frequência de ordenha e ordenhar uma vez ao dia promoveu maior descarga de ocitocina, resultado do acúmulo de ocitocina na neuro-hipófise, devido ao longo intervalo entre ordenhas.

Figura 2. Liberação de ocitocina em ovelhas em diferentes frequências de ordenhas (1, 2, 3, 4, 5 e 7 vezes)



Os gráficos acima nos mostram que uma quantidade mínima de ocitocina já é suficiente para permitir a adequada ejeção do leite dos alvéolos para a cisterna do úbere, e os gráficos com diferentes frequências de ordenhas nos dão uma ideia de como pode acontecer com ovelhas que amamentam seus filhotes, uma vez que os mesmos realizam dezenas de mamadas ao longo do dia.

BRUCKMAIER et al., (1994a,b) demonstraram que o aumento do nível de ocitocina no sangue pode facilitar a transferência de leite dos alvéolos para a cisterna e influenciar positivamente a produção de leite. De acordo com BRUCKMAIER & BLUM, (1998), a sincronia entre a ejeção do leite alveolar e a remoção do leite é essencial para a coleta do mesmo ser rápida e completa.

Com respeito à anatomia da glândula mamária, todos os úberes de ruminantes têm estruturas similares, ainda que em diferentes proporções. Segundo BRUCKMAIER et al. (1994a), os pequenos ruminantes têm proporcionalmente maior cisterna (40 a 80% do volume total, contra cerca de 20 a 30% em vacas), a qual possui importante papel de armazenar o leite entre as ordenhas e pode afetar a remoção do leite na hora da ordenha.

As características anatômicas da glândula mamária são importantes tanto para produção de leite quanto para habilidade de ordenha. De acordo com WILDE et al. (1996) a taxa de secreção e a cinética de emissão do leite são afetadas pelo tamanho da cisterna do úbere, sendo os animais com maiores cisternas mais eficientes produtores de leite e mais tolerantes a maiores intervalos entre ordenhas (esvaziamento do úbere).

O leite é prontamente transferido dos alvéolos para a cisterna durante o período entre ordenhas, e é influenciado proporcionalmente pela grande capacidade de armazenagem dentro da cisterna de ovelhas e cabras, comparadas com vacas (MARNET & MCKUSICK, 2001).

As vacas por terem uma cisterna proporcionalmente menor, são mais dependentes da sincronia da extração do leite (sucção ou ordenha) com a liberação da ocitocina, do que em cabras e ovelhas, pois a principal função da cisterna do úbere e armazenamento do leite que vem dos alvéolos. Nos pequenos ruminantes, enquanto o leite da cisterna ainda está sendo retirado, existe um intervalo maior para que ocorra o estímulo para liberação da ocitocina e o leite seja ejetado na cisterna.

No entanto, em ovelhas pode haver atraso na ejeção do leite devido à pré-estimulação não influenciar o padrão do fluxo de leite (BRUCKMAIER et al., 1994a); em consequência disto, vão existir curvas de fluxo de leite com dois picos (curva de fluxo bimodular), com o primeiro pico representando o leite cisternal e o segundo pico a fração alveolar, ou quando o tempo de ordenha é muito curto, a fração alveolar pode não ser totalmente removida (BRUCKMAIER & BLUM, 1998).

Figura 3. Curvas de ejeção de leite de ovelhas de 1 e de 2 picos (bimodular)

Clique na imagem para ampliá-la.

As condições anatômicas de ovelhas leiteiras são similares as de cabras, entretanto, a inserção do teto geralmente não é localizada na extremidade da glândula mamária e, portanto, uma quantidade de leite armazenada na cisterna não vai para dentro do teto para a sua remoção sem auxílio manual (LABUSSIÈRE, 1988). De acordo com BRUCKMAIER & BLUM (1992), pelo menos uma parte do leite cisternal está localizado abaixo do orifício do canal do teto. Esta peculiaridade anatômica é uma das razões para a existência de grande quantidade de leite de repasse, quando ovelhas são ordenhadas mecanicamente (BRUCKMAIER & BLUM, 1998).

No entanto, não há indícios que comprovem que os cordeiros consigam retirar este leite localizado abaixo da linha de inserção dos tetos e este pode ser um indício do início de um processo inflamatório que irá resultar na mastite.

Referências bibliográficas

BRUCKMAIER, R.M.; BLUM, J.W. Oxytocin release and milk removal in ruminants. J. Dairy Sci. v.81, p.939-949,1998.

BRUCKMAIER, R.M.; BLUM, J.W. B-mode ultrasonography of mammary glands of cows, goats and sheep during α- and β-adrenergic agonist and oxytocin administration. Journal of Dairy Research, v.59, p.151-159, 1992.

BRUCKMAIER, R.M.; RITTER, C.; SCHAMS, D.; BLUM, J.W. Machine milking of dairy goats during lactation: udder anatomy, milking characteristics, and blood concentrations of oxytocin and prolactin. Journal of Dairy Research, v.61, p.457-466, 1994a.

BRUCKMAIER, R.M.; SCHAMS, D.; BLUM, J.W. Continuously elevated concentrations of oxytocin during milking are necessary for complete milk removal in dairy cows. Journal of Dairy Research, v.61, p.323-334, 1994b.

LABUSSIÈRE, J. 1988. Review of physiological and anatomical factors influencing the milking ability of ewes and the organization of milking. Livest. Prod. Sci. 18:253-274.

MARNET, P.G.; MCKUSICK, B.C. Regulation of milk ejection and milkability in small ruminants. Livest. Prod. Sci. v.70, p.125-133, 2001.

NEGRÃO, J.A.; MARNET, P.G.; LABUSSIÈRE, J. Effect of milking frequency on oxytocin release and milk production in dairy ewes. Small Ruminant Research, v.39, p.181-187, 2001.

WILDE C.J.; ADDEY C.V.P.; PEAKER M. Effects of immunization against an autocrine inhibitor of milk secretion in lactating goats Journal of Physiology v.491, p.465-469, 1996.

RODRIGO MARTINS DE SOUZA EMEDIATO

Consultoria no planejamento da atividade, dimensionamento de instalações, pastagens, implantação de pastagens, controle de pragas, balanceamento de dietas, manejo sanitário, reprodutivo e elaboração de um plano de melhoramento genético do rebanho.

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RODRIGO MARTINS DE SOUZA EMEDIATO

SÃO PAULO - SÃO PAULO - INDÚSTRIA DE LATICÍNIOS

EM 10/12/2009

Prezado Ananias,

Obrigado!

Mas a questão da mastite, como mencionado no artigo, não pode ser concluida assim, de forma tão simples, como descrito no 4º parágrafo, diversos fatores podem estar envolvidos:

"Existem atualmente diversos pesquisadores debruçados sobre experimentos e dados tentando entender o porquê da aparente maior incidência de mastite nesta raça do que em outras, mas não é simples encontrar uma resposta para uma doença que sofre influência de vários fatores, como alimentação, manejo de lida dos animais, manejo sanitário, higiene de instalações, período de desmama, formas de secagem, produção de leite, comportamento do cordeiro na mamada e morfologia do úbere."

Pode ser também uma combinação de alguns dests fatores, já que existem diversos sistemas de produção, potencial produtivo bastate heterogeneo, cruzamentos variados e úberes morfologicamente muito diferentes.

E como salientado no 6º parágrafo:

"As respostas para estas perguntas não são fáceis, mas uma coisa é certa: temos que trabalhar da melhor forma possível com todas estas variáveis para minimizar as causas e incidência da mastite nos rebanhos."

Ou seja, enquanto não sabemos qual ou quais fatores predispõem a mastite em ovinos, temos que afinar nosso manejo trabalhando na prevenção da mastite, o que é totalmente possível, pois existem propriedades onde ela não é problema e vamos discutir mais o assunto na sequência dos artigos.

Atenciosamente,
CAPATAZ ASSESSORIA RURAL

BRASÍLIA - DISTRITO FEDERAL

EM 03/12/2009

Parabéns" Ótimo artigo. Porém, me surprendeu a conclusão inserida no no último parágrafo.

Eu, que sou criador de Santa Inês imaginava que os casos de mastite no rebanho decorria de cuidados ou manejo inadequados.
E agora Jose!!

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