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POR BRUNO VARELLA MIRANDA

PANORAMA DE MERCADO

EM 15/04/2013

3 MIN DE LEITURA

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O que Kim Jong-un, o misterioso ditador da Coreia do Norte e muitos integrantes da cúpula do governo brasileiro têm em comum? A pergunta, a princípio, pode parecer maldosa. Apesar dos percalços, nossa democracia vai se consolidando, enquanto do lado de lá imperam o controle às ações dos cidadãos e uma estranha compulsão pelo domínio dos seus pensamentos. Somos conhecidos pelo pacifismo, o oposto do discurso de Pyongyang. Esqueçam a lógica norte-coreana do partido único, moldado a fim de sustentar a autoridade eterna de um clã; nos trópicos, temos dezenas de siglas, ainda que muitas delas se caracterizem por uma “interessante” estratégia: alinhamento automático com os donos temporários do poder. Assim sendo, o que aproxima Kim Jong-un de Dilma Rousseff e a elite de seus funcionários?

A resposta, ainda que indiretamente, está na mesa dos cidadãos que vivem em ambos os países. A princípio, é bem verdade, por urgências distintas. Em Brasília, a preocupação reside no preço do tomate; enquanto isso, em Pyongyang é possível que nesse exato momento burocratas estejam pensando em como consegui-los para evitar outra crise humanitária no futuro. No final das contas, porém, algo semelhante está em jogo: manter a capacidade de influenciar as ações de todos aqueles que, por algum motivo, têm interesse naquilo que cada governo diz. Para a Coreia do Norte, estamos falando do público doméstico – Exército, burocratas do partido do governo, indivíduos em geral –, e os antagonistas de sempre, como os sul-coreanos, japoneses e norte-americanos. Já o Brasil preocupa-se com os seus agentes econômicos, estejam eles no papel de consumidores ou empresários.

Sigamos um pouco mais com o raciocínio. No caso norte-coreano, um jovem autocrata utiliza velha estratégia – ameaçar os países vizinhos a trazer o caos para a Ásia – com o objetivo de garantir a consolidação do poder interno e a dissipação de qualquer ameaça externa. Ademais, é provável que queira trazer os rivais para a mesa de negociação em uma posição favorável a fim de obter favores, como doações de combustível e alimentos. Já os funcionários do governo brasileiro, ao falarem sobre a inflação, desejam que os agentes econômicos sigam acreditando no papel dos burocratas como guardiões da estabilidade de preços. Ministros, funcionários do Banco Central, e a própria presidenta, têm repetido o mantra de que o seu combate é um fim em si mesmo, e que tomarão todas as medidas necessárias para garantir que a escalada de preços não fuja de controle.

Em ambos os casos, quanto maior o descrédito, mais amargo o remédio. Não é casual que o governo brasileiro esteja tão preocupado com o que diz e com o que as pessoas interpretam sempre que o assunto é inflação. As autoridades sabem que estão diante de uma “batalha” também jogada no campo das expectativas, e cujos resultados começam a preocupar: conforme observou Delfim Netto em artigo recente na Folha de São Paulo, é crescente a parcela da população que acredita que a inflação tende a seguir semelhante ou piorar. E, para tristeza daqueles que gostariam que tudo fosse resolvido como em um complexo sistema de equações, o valor do “x” depende muito do humor daqueles que insistem em contradizer os resultados da teoria: a partir do momento em que as palavras perdem valor, desmoronam também as possibilidades de conseguir o fim desejado.

Por sorte, não estamos diante de uma decisão tão dramática como a de Kim Jong-un. Afinal, se a sua escalada retórica for desacreditada em algum momento, talvez só lhe reste apertar o botão vermelho e caminhar rumo à derrota. Em nosso caso, entretanto, o mau uso das palavras pode levar não apenas ao aprofundamento do problema da inflação, como a consequências negativas adicionais. O governo sabe que a reeleição depende, entre outros fatores, do controle inflacionário; por outro lado, teme que a sua obtenção acabe com qualquer ilusão de um crescimento econômico vigoroso às portas da disputa de 2014. Para acrescentar mais suspense ao enredo, esperar para tomar uma atitude pode levar a um aprofundamento de todos os possíveis desfechos: mais inflação, ainda menos crescimento...

Em resumo, é compreensível o dilema do governo brasileiro entre as possíveis alternativas para o desafio da inflação. O que incomoda é o discurso muitas vezes oscilante dos burocratas, o que abre espaço para a especulação. Vejam vocês, prezados(as) leitores(as), como são as coisas: Kim Jong-un, detentor de um discurso excêntrico, mas previsível, talvez não tenha a menor capacidade de concretizar as suas ameaças. A presidenta Dilma, por outro lado, provavelmente tem mais “armas” para combater a inflação do que uma estratégia no momento. Sem dúvida, é melhor estar no segundo barco; é preciso, porém, demonstrar um rumo claro, ou a água começará a entrar.
 

BRUNO VARELLA MIRANDA

Professor Assistente do Insper e Doutor em Economia Aplicada pela Universidade de Missouri

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BRUNO BRESSAN DE CNOP

SANTO ANTÔNIO DE PÁDUA - RIO DE JANEIRO - EMPRESÁRIO

EM 16/04/2013

A água já começou a entrar faz tempo (inflação de 6% e crescimento < 1%), mas por enquanto o governo acha que dá para tirar na canequinha.  



Concertar o furo no casco do navio dá muito trabalho e não rende votos.
MARIO DORNELLES DE ALVARENGA

PERDÕES - MINAS GERAIS

EM 16/04/2013

Caro Bruno,talvez te interesse saber que a atual escalada inflacionária tem como base o aumento do consumo e a falta de oferta em geral,com mais dinheiro disponivel as pessoas tendem a consumir mais;o triste disso tudo é não ter a oferta,o BRASIL sofre de " incompetencia agudas lulo-petista" doença diaguinosticada a bem tempo, porem não tratada.

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