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A estiagem continua. E agora?

Por Clovis Guimarães Filho
postado em 12/04/2013

7 comentários
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Autor: Clovis Guimarães Filho
Médico Veterinário, M.Sc. em Animal Science, ex-pesquisador da Embrapa Semiárido e coordenador de ATER do Projeto Pontal Sequeiro-CODEVASF, Petrolina-PE - E-mail: clovisgf@uol.com.br


As políticas públicas e programas de apoio às atividades agropecuárias desenvolvidas até hoje no semiárido nordestino, além de dispersas e superficiais, têm se caracterizado por uma concepção predominantemente assistencialista e por uma excessiva setorização, pelo que, em termos de resultados, não propiciaram nenhuma mudança de real impacto no padrão de vida do produtor e de sua família. Pelo contrário, a baixa eficácia desses programas tem colocado sob ameaça de desaparecimento um enorme potencial de trabalho e produção, representado por mais de um milhão de unidades agrícolas de base familiar.

Nos sertões baiano e pernambucano do São Francisco a história não foi diferente. É evidente o enorme esforço dos novos programas que estão sendo levados a efeito na região em não repetir os mesmos equívocos. Os pontos vulneráveis desses programas, contudo, continuam sendo:

• A não priorização da busca de uma autogestão que permita ao grupo de atores locais assumir gradativamente o protagonismo do processo;
• A visão curta de um horizonte meramente quadrienal para o alcance de seus resultados;
• A massificação imediata, sem os meios necessários, do contingente de beneficiários em detrimento de uma expansão gradativa;
• A limitação das ações de apoio ao segmento “dentro da porteira”, ignorando ou negligenciando os demais segmentos da cadeia produtiva;
• A inexistência de um sistema simultâneo e eficaz de monitoramento e de avaliação de impactos das ações empreendidas (e da sua divulgação posterior).

Enfrentamos agora mais um ano de estiagem devastadora. A caatinga está sendo mutilada a um nível sem precedentes, estimado em cerca de 270 mil hectares anuais. Os programas públicos de ajuda ao produtor no período atual de estiagem não têm funcionado a contento, a começar pelos de crédito, cronicamente afetados pela buropatia.

Este ano o Brasil começa a ultrapassar os Estados Unidos como maior exportador mundial de soja e de milho. Ou seja, mesmo com os problemas cruciais de logística já conhecidos, conseguimos entregar o nosso milho em todos os cantos do mundo, mas não conseguimos entregá-lo em Petrolina. O inacreditável é que a entrega chegou a sofrer um “recesso” no final do ano, como se os bovinos, caprinos e ovinos também não tivessem direito à ceia natalina. Outro contra-senso é o seguro garantia-safra. Limitá-lo às áreas onde os cultivos do milho e do feijão tenham chances reais de sucesso e criar um seguro “garantia-bode” para as áreas mais secas, seria uma medida bem mais coerente com aquilo que realmente é estratégico para a vida do produtor, como o caprino, o ovino, o mel, a galinha e o umbu.

Novas formas de ajuda estão sendo anunciadas, todas bem intencionadas. Não esperem resultados muito eficazes se eles forem previstos para curto prazo. Em geral, medidas realmente eficazes são aquelas que geram resultados a médio e longo prazos, coisa a que não estamos muito afeitos. A base para a objetividade estaria em iniciar a implantação de uma política de apoio a formação de estoques estratégicos anuais de forragem (feno, silagem, amonizados, cactáceas, etc.), o que impõe a integração entre as áreas de sequeiro e os perímetros irrigados, há tanto tempo sugerida. Isso propiciará novas oportunidades para a agricultura irrigada e o surgimento de um novo profissional nos perímetros irrigados, o produtor de forragem, especialmente de feno, bastante comum nas áreas irrigadas dos Estados Unidos, Austrália e Argentina.

A Codevasf já iniciou um trabalho dentro desse conceito, operando áreas coletivas irrigadas, dispersas nas áreas de sequeiro do Projeto Pontal, chamadas de “pulmões verdes”. Mesmo neste começo do ano, já era para estar sendo operado um programa agressivo, em todo o semiárido, de orientação e apoio ao aproveitamento da folhagem das espécies nativas e naturalizadas (faveleira, jurema, algaroba, umburana, juazeiro, etc.) para formar reservas complementares de feno. Há muita folhagem disponível dessas espécies cujos fenos podem apresentar valores protéicos acima de 20%. Mas, como fazê-lo com uma assistência técnica fragilizada e ocupada mais com carros-pipa e seguro-safra?

A estruturação de uma assistência técnica realmente qualificada juntamente a um programa agressivo de organização profissional dos produtores e de desburocratização do crédito são ingredientes imprescindíveis para ajudar o produtor na sua longa e penosa jornada em busca da recuperação da sua condição original.

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Comentários

Virgílio José Pacheco de Senna

Santo Amaro - Bahia - Consultoria/extensão rural
postado em 13/04/2013

Prezado Colega, seu artigo é a mais pura verdade e realidade dos fatos,conheço bem a regiao de Juazeiro (Juremal/Cipo/Carnaiba do Sertão) ,grande potencial existente, sem apoio dos orgãos publicos,material Genético se perdendo e agora com a seca que assola todo o nosso Semiarido é incalculavel aferir o material Vegetal e Animal que ja se foi pelo ralo,muito triste , se não acabar com este modelo assistencialista as coisa não vao para frente ,viveremos eternos pedintes de carros pipas e de  milho da Argentina, mesmo vindo da Argentina do (Papa Chico) não fara milagre. O Brasil precisa tomar rumo. Meu fraterno abraço Nordestino.

Francisco Luiz da Silva Pontes

Limoeiro do Norte - Ceará - Consultoria/extensão rural
postado em 15/04/2013

Prezado Prof Clóvis Guimarães,

Vindo do senhor estas acertivas, nos conforta, pois profissionais de sua estirpe deveriam ser ouvidos diariamente e quando os gestores públicos sejam federais, estaduais e/ou municipais, estiverem 'preparando' os famosos planos de ação, ficariam, pelos menos, envergonhados, pelas proposições colocadas em determinadas pérolas governamentais.
Como é que iremos combater os efeitos de uma SECA, dentro da própria seca? Por que não estamos trabalhando, SERIAMENTE, nestas ações há 50, 40, 30, 20, 10, 05 02 ANOS ATRÁS. É bom que os governos parem com esta DEMAGOGIA  e, REALMENTE, dê início a uma reorganização da AGROPECUÁRIA NORDESTINA.
Amigos, Técnicos, Criadores e demais moradores das áreas assoladas pelas secas, que SÃO CÍCLICAS, prestemos atenção aos governantes de agora (vereadores, prefeitos, deputados estaduais, deputados federais, senadores e Presidenta) eles precisarão de nossos votos para retornarem à BOA VIDA DOS GABINETES portanto, está em nossas mãos, mudarmos ou não, a nossa situação pois são aqueles senhores que fazem e executam as políticas públicas. Nós apenas sofremos as consequências delas. Quem pode, favor tomar um bom copo com água, depois  pense friamente sobre o assunto.

Um Grande abraço a todos.

felipe lins

Recife - Pernambuco - Indústria de insumos para a produção
postado em 15/04/2013

Clovis, ótimo artigo.
Parabéns !

Paulo Cesar Bastos

Feira de Santana - Bahia - Produção de gado de corte
postado em 16/04/2013

Prezado Clovis Guimarães Filho

Artigo bem  oportuno no momento em que a seca está brava. A estiagem continua e o flagelo insiste,  enfim , a realidade é triste.
Evitar a seca é impossível, mas existem técnicas para a convivência  possível.
É por aí, vamos comunicar e avançar. Brasil precisa saber que a seca existe. Seguem algumas considerações.

"É impossível combater a seca. O possível é a prevenção, a convivência com o fenômeno cíclico, natural e inevitável da estiagem. Daí é que precisamos, também, tornar perenes as providências legais para as previdências cabíveis.
...

Muito já foi pesquisado sobre a região e repousa nas estantes ou nas memórias e discos rígidos dos computadores das instituições de ensino e pesquisa.  Inventariar esse patrimônio de conhecimento visando à promoção do desenvolvimento socioeconômico sustentável, produzindo riqueza, reduzindo a pobreza e preservando a natureza é mais do que necessário é fundamental.
Não é preciso que se reinvente a roda. O caminho progressista passa por uma extensão rural e tecnológica. Atividades dinâmicas e objetivas fomentariam, e disseminariam as melhores práticas geradas pela pesquisa científica, observados os saberes e vocações regionais."

Ler mais sobre o assunto  no artigo " SEMIÁRIDO: providências legais para previdências cabíveis", deste engenheiro civil e produtor rural sertanejo, publicado no Espaço Aberto do FarmPoint em 28-07-2009 , podendo ser acessado no link a seguir:

http://www.farmpoint.com.br/cadeia-produtiva/espaco-aberto/semiarido-providencias-legais-para-previdencias-cabiveis-55652n.aspx

Um cordial abraço sertanejo

Paulo Cesar Bastos

Benjamin Abreu junior

Montezuma - Minas Gerais - Prova/Especialista em qualidade de café
postado em 16/04/2013

E pensar que somos os responsáveis por essa gestão de morcegos que temos na atualidade. Nós que fomos as urnas e escolhemos os dirigentes de toda essa estrutura caríssima que não funciona,acabando com   a agricultura familiar .
Não temos apoio,não temos assistência, não temos informações, enfim, não temos nada.
O brio de homem some do caráter dos agricultores , que sonham em ser vencedores e não passamos de fracassados, tristes e sem exemplo a dar aos nossos filhos. Passa anos e anos e nada acontece de positivo a nós da agricultura familiar, somente lembram de nós na época de eleições, onde esses corvos almejam um cargo público para empregar seus familiares. E dar tristeza a um pai de família, choro a dor de ser lutador sem vitória, juntamente com milhares como eu.  

francisco gomes ribeiro

São Paulo - São Paulo - Pesquisa/ensino
postado em 26/04/2013

Ótimo o comentário parabéns amigo, pena que povo não se unem para enfrentar essa situação que já é previsível faz parte da região, pelo menos de 4 em 4 anos vai acontecer. O Estado tem o seu papel mais o cidadão tem sua responsabilidade  em buscar sempre uma saída para o problema  se unindo em cooperativa em associação enfim tendo uma visão antecipada dos problema para salvar seus rebanhos e o próprio povo isso é uma questão milenar em toda região. Não precisa ser forte é preciso usar a inteligencia para se antecipar param ser vitorioso superando os obstáculos.Sucesso a todos os Nordestinos que são um povo forte{ RECUAR JÁ MAIS AVANÇAR SEMPRE E VENCER E VENCER}.  

José Dias Ferreira

Petrolina - Pernambuco - Produção de caprinos de corte
postado em 28/04/2013

As sugestôes do companheiro Cloves são realmente as mais usuais aqui no sertão. Precisam ser colocadas em pratica ou melhor os Estados do nordeste precisam de policas agrícolas que as cologuem em prática. Gostaria entretanto de acrescentar outras medidas que poderiam ajudar : 1. Uma seleção pela EMBRAPA de varieadades de " mandacaru" com espinho, de rápido crescimento, para se constituir em reserva forrageira para uma seca tão extensa ( 2 a 3 anos); 2. Realizar um programa de chuvas artificial, notadamente nos anos de precipitações normais ou pouco abaixo da média. Um acrescimo de 100 a 200 mm por ano viabilizaria a produção de silagem, feno etc para um ano mais seco; 3. Realizar um programa de conservação de solo; a desertificação está chegando por falta de uma orientação tecnica neste sentido. O ministerio da agricultura tem dotação farta para uma política neste sentido. 4. Implantar uma politica de perfuração de poço em parceria com o produtor rural ( por exemplo o governo perfura o poço e o produtor instala o equipamento de bombeamento). Um grande problema é quando o poço dar seco, levando  o produtor a um investimento perdido. Como o Governo contrataria varios poços, teria um seguro para estas ocorrencias.    

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