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Sucessão familiar no meio rural

Por Nei Antonio Kukla
postado em 12/11/2010

9 comentários
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Ao ler o artigo intitulado Intimidação do Agricultor publicado recentemente no Diário Catarinense me despertou uma preocupação vivida ao longo de seis anos de trabalho em extensão rural vividas no Projeto Microbacias 2. Esta preocupação refere-se ao processo sucessório vivido hoje nas propriedades rurais e que está cada vez mais difícil de acontecer. Nos dias de labuta pelo interior do município de Porto União (e tenho certeza pelos relatos de colegas), tinha dias que eu voltava ao final do dia entristecido de certa forma, pois desenvolvia determinado trabalho em propriedades e quem estava lá para acompanhar-me geralmente eram pessoas com idade acima dos 50 anos.

Não desmerecendo estas pessoas de forma alguma, pois elas possuem os seus valores formando as propriedades e criando seus filhos, muitas vezes muitos filhos, famílias grandes. Mas meu entristecimento vinha justamente dali, onde às vezes em uma família de cinco filhos não tinha nenhum juntamente com o pai para acompanhar o desenvolvimento de uma tecnologia. Eis a pergunta: onde que houve a falha?

Será que o problema de sucessão familiar não foi preparado nas famílias, será que os serviços de assistência técnica e extensão rural não tiveram parte do foco de seus trabalhos voltados para esta importante questão envolvendo o comando das empresas rurais familiares?

Creio que vários são os motivos dos jovens estarem saindo de suas propriedades e preferindo trabalhar nos centros urbanos, mas creio também que algumas vezes estes jovens não podem estar carregando sozinhos a culpa de não preferirem o trabalho no campo. Talvez muitos deles ou a maioria nunca receberam orientações para serem empreendedores rurais, aliás nem nós mesmos nos bancos escolares recebemos tais linhas de comportamento, pois sempre aprendemos que temos que nos formar, fazer um bom estágio e tentar "ficar"na própria empresa que nos forneceu o estágio ou então bater na porta de outra.

Bom, muitas iniciativas magníficas do poder público foram desencadeadas para levar renda ao homem do campo e desta forma evitar a sua saída para inchar os centros urbanos, porém a meu ver ainda não logramos pleno êxito nestas investidas. O próprio Projeto Microbacias 2 trabalhou muito a questão de organização dos agricultores empoderando-os nas tomadas de decisões e desmistificando a falsa estratégia de que o pacote deve vir de cima, ainda trabalhou as questões sociais, ambientais e econômicas fazendo com que o agricultor tenha uma visão deste tripé que gira em torno da agropecuária.

Neste sentido e sob a preocupação de não encontrar sucessores em grande parte das propriedades, acredito que o ente público, através de suas empresas de ATER e também outras empresas da iniciativa privada que trabalham com o público rural, bem como as cooperativas, devem olhar com mais atenção à esta problemática, sob pena de aos poucos estarmos concentrando as terras nas mãos de poucos e inchando as periferias das cidades. Como diz um amigo meu, não adianta discursarmos que temos que fixar o homem no campo porque o que se fixa é palanque. É preciso criar condições de emprego e renda nas propriedades rurais com àqueles que possuem vocação para lá exercer alguma atividade produtiva de forma que esta seja realmente rentável e seja capaz de fornecer condições de bem-estar e conforto como aparentemente muitos buscam nas cidades. As políticas públicas devem ser revistas, pois apesar de boas iniciativas já implementadas vemos que ainda não conseguimos atingir o alvo: ter uma nova geração de agropecuaristas.

A nova lei de ATER possibilitou que mais empresas devidamente constituídas e atendendo as normas de editais, possam participar das chamadas públicas. A lei também vem fortalecer um trabalho de parceria com os órgãos já existentes. É preciso de educadores para o campo, de profissionais que gostem de sujar a botina e que vão até o campo ensinar o que aprenderam e levar o espírito empreendedor ao jovem rural e, quem não tiver este espírito empreendedor que procure sanar esta dificuldade, pois é necessário.

Aproveitando este meio magnífico de comunicação e troca de informações disponibilizado por este site, podemos aqui gerar um proveitoso debate dialogando possíveis saídas para resolver este problema da sucessão familiar, lembrando que um debate pode ser transformado em ideias, em documentos e o pequeno efeito positivo que ele gera já é uma grande vitória.

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Comentários

jose luiz

Rio Pardo - Rio Grande do Sul - Produção de leite
postado em 12/11/2010

Caro colega!

Sou Técnico em Pecuária no Rio Grande do Sul, e ao ler sua matéria me chamou a atenção, pois estou cursando a Graduação de Planejamento e Gestão para o Desenvolvimento Rural, e estamos debatendo sobre agricultura e sustentabilidade. Onde muitas idéias são alavancadas, e debatidas. Mas em minha opinião, é preocupante o pensamento que esta se vivendo hoje. Ao qual para a grande maioria das pessoas , me refiro população urbana e rural, que a única saída para elas é proporcionar estudos aos filhos buscando a aprovação em concursos públicos.

Ai venho a perguntar, quem vai produzir alimentos???
Fala-se em criar novas escolas, mas as que existem se encontram em precariedades, mal produzem alimentos para seus próprios refeitórios. Sendo que as grandes maiorias de jovens formados não conseguem ingressar no mercado de trabalho por falta de oportunidades.
Enquanto não capacitarem os jovens para atender o produtor com qualidade, continuarem a disponibilizar recursos para compra de maquinários, sem saber utilizá-los de forma viável, ocasionara o efeito bola de neve. Fazendo que a juventude fique assustada com o endividamento da população do campo.

É um assunto que precisa ganhar urgente maiores debates, atenção dos governantes e profissionais da área.

Abraço, José Pires.

José Oton Prata de Castro

Divino das Laranjeiras - Minas Gerais - Produção de ovinos de corte
postado em 13/11/2010

Sr. Nei, este problema eu já havia detectado na decada de 70 quando vendia ordenhadeiras mecânicas, balanças p/gado aqui no leste/norte de Minas, sul da Bahia e quase em todo ES. Não tinha como publicá-lo. Já naquela época o jovem qu aprendia pegar numa chave de fenda abandonava os instrumentos peculiáres da atividade rural e rumava para as cidades. Muitos, e hoje grande contingente de seus descendentes, por falta de oportunidades nas grandes cidades, sabendo do abandono em que vive o homem do campo, oPTaram pelo que vemos todo dia na midia: A CRIMINALIDADE que, infelizmente, só será contida com a PENA DE MORTE, pois o poder público já se revelou por demais incompetente para estancá-la, mesmo consumindo em 2008 mais de 102 bi. Isso mesmo 102. bi. Aliás ele faz parte...

O PRODUTOR RURAL não precisa de esmolas. Precisa de politicas sérias para o campo com valorização de seu trabalho. Aqui, como no resto do país muitos técnicos das ciências agrárias ao se formarem buscam exatamente uma sinecura, mesmo sendo herdeiro potencial de grandes propriedades. Conterraneo dos maiores humuristas do país e do deputado mais votado no maior estado, adoro morar na roça, uai, onde a poluição praticamente não existe. Ah existe, o gaz metano expelido pelos ruminantes. Para finalizar o que existe é uma pressão de xiitas travestidos de ambientalistas que não entendem bulhuvas de nada. Agora querem cobrar pela água que produzimos para os nossos animais e os urbanoides. Viva a BURROCRACIA. Se o Sr não leu a carta do ze agricultor para não sei quem da cidade, informe seu email que lhe mandarei. Acho que ela foi publicada neste site. Abraço José Oton 75 anos. zeoton@uol.com.br.

EVALDO ALVES MARTINS

Itaúna - Minas Gerais - Consultoria/extensão rural
postado em 16/11/2010

Prezado amigo !

Não podemos esquecer que nas atuais políticas públicas as escolas no meio rural estão fechando e os filhos dos produtores rurais saem em meios de transporte da prefeitura para estudarem nas cidades. Lá conhecem uma nova visão de vida que promete um futuro melhor sem garantias. Estes jovens perdem interesse pelo meio rural, passam a sonhar com os grandes centros urbanos e com isso estabilizam a suas habilidades de prosperar o setor rural. Muitos vendem suas terras herdadas e vão para periferia dos grandes centros pois, não agreditam e nem vêem uma perspectiva de valorização e crescimento do setor rural.

As escolas nas comunidades rurais como antigamente, deveriam ter disciplinas voltadas para o setor rural de forma a estimular os estudantes a conhecerem a importância deste setor, buscar melhorias e aperfeiçoamento através de sua capacitação tornando este um empreendedor rural. Estes futuros produtores terão capacidade de fazer um meio rural economicamente viável e eficientemente produtivo através de novas técnicas mais eficientes, organização em associações e cooperativas tornando-os mais competitivos.

Para mim este é um dos maiores problemas. Os produtores cada vez mais trabalham de forma individualista. Com mão de obra reduzida, custo elevdo e insumos agropecuários cada vez mais caros, tentar viver isolado é caminhar para falência do próprio negócio.

Nei Antonio Kukla

União da Vitória - Paraná - Consultoria/extensão rural
postado em 16/11/2010

Prezado José Oton de Prata de Castro:
Obrigado pela sua manifestação e experiência.
Meu e-mail é: kukla.nei@hotmail.com
Abraços
Nei

Nei Antonio Kukla

União da Vitória - Paraná - Consultoria/extensão rural
postado em 16/11/2010

Prezado Evaldo Alves Martins:
Me parece que sua vivência profissional é na Extensão Rural e isto o coloca ao pé do que realmente acontece no interior.

Como tu falou, os alunos vão estudar nos centros urbanos ou em distritos, houve a nuclealização das escolas e aquelas escolas de interior, infelizmente hoje servem para abrigar lojeiras (ninhos de vespas). Assim, o aluno sai de sua casa para estudar, vê outras coisas no meio urbano, aparentemente profissões que dão rentabilidade mais fácil que a labuta no meio rural, são educados para trabalharem como bons empregados, pois o empreendedorismo não é ensinado na maioria das academias, e desta forma geralmente não voltam a sua origem, deixam seus familiares, geralmente somente o pai e a mãe trabalhando nas propriedades até qdo. conseguem e desta forma o campo esvazia-se.

Somos sabedores que lá no interior deve haver renda apropriada pela família rural, somos sabedores tbm que isto é perfeitamente possível, com atividades de acordo com a aptidão da propriedade, da mão-de-obra, do mercado, enfim de alguns fatores essenciais.
Precisamos, as empresas de extensão e todos aqueles que tem contato com o agricultor, devem reaver a aplicação de recursos e direcionar o trabalho em frentes que façam o jovem rural ser empreendedor, sentir orgulho do que faz e ter vida digna.

Deve haver empenho de Estado, município, agricultores para que isto possa ocorrer, sob pena de ser tarde de mais.

Graciano Angelo Rezzadori

Erechim - Rio Grande do Sul - Produção de leite
postado em 18/11/2010

Este é um problema sério e complicado de trabalhar. Tenho 17 anos e moro no campo, ja pensei várias vezes em morar na cidade mas a vontade de ficar e empreender no campo é maior. Acho que o jovem que sai do campo e vai pra cidade está apenas se iludindo pois se ele se determinar ele pode ficar muito bem no campo. Esta é minha opinião.

Nei Antonio Kukla

União da Vitória - Paraná - Consultoria/extensão rural
postado em 19/11/2010

Prezado Graciano Angelo Rezzadori: parabéns pelo seu otimismo. A permanência sua e de muitos jovens no campo inicia-se pela vontade de buscar informação, algo que vc parece que está fazendo. Desenvolver atividades geradoras de renda ao agricultor/ pecuarista é determinante para que o jovem sinta prazer pelo trabalho que faz.

Wilson Ashidani

Madre de Deus de Minas - Minas Gerais - Cereais, reflorestamento e ovinocultura corte
postado em 10/01/2011

Creio que hoje nos EUA, menos de 3% da população resida no meio rural. Nosso país caminha nesse sentido. Afinal, todos querem alimentos cada vez mais baratos e esse ideal tem preço. Para manter um setor que é estratégico para a maioria dos países, ou se subsidia (como eles lá fora o fazem) ou se cria condições para se viver e produzir com o que vem do campo (recursos, infra-estrutura, impostos e taxas condizentes). Os efeitos maléficos do êxodo rural também poderiam ser amenizados se houvesse certa preocupação em planejá-lo ao invés de ignorá-lo. Haveria de se priorizar as cidades médias mais bem distribuídas pelo interior do país, às megalópoles que não sustentam mais gente nem oferecem qualidade de vida não é de hoje devido ao crescimento desordenado.
Sinceramente o futuro nessa área me preocupa. Pois se num país rico e desenvolvido como os EUA, a média etária do produtor passa dos 50 pois as gerações subsequentes não querem nem saber de continuar na área (mesmo com todos os subsídios) o que dizer do nosso!?! Felizmente, somos um dos poucos países que tem clima e solo que oferece potencial para crescimento, seja em área, seja em produtividade. Os produtores estrageiros já exergaram isso e já começaram o êxodo de seus países pra cá.

Nei Antonio Kukla

União da Vitória - Paraná - Consultoria/extensão rural
postado em 10/01/2011

Prezado Wilson Ashidani:
O que me preocupa é que se continuar assim neste sentido a evasão campo - cidade, haverá produtores de alimentos para tantos urbanos? Sinceramente creio que haverá, pois a profissionalização das empresas rurais não foge a regra do que há muito tempo acontece com as empresas urbanas, ou seja, é um caminho sem volta. O mais preocupante é que haverá espaço de vida com dignidade para tantas pessoas no meio urbano? Vivemos uma economia aquecida, hoje em muitas áreas falta mão-de-obra qualificada, mas até quando? Minha opinião pessoal é que no meio rural, e vamos e devemos mudar os termos, na empresa rural é um bom lugar para viver e produzir ganhando dinheiro, senão também não faz sentido permanecer lá, mas utilizando a propriedade respeitando sua aptidão aliado a tutoria de uma boa assistência técnica creio que é possível.

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