Pela Europa, Ásia e Norte da África, regiões que havia confrontos entre os rebanhos e os predadores, as populações locais desenvolveram as suas raças próprias de cães para a proteção do rebanho e que auxiliassem os pastores na condução dos rebanhos. Estes animais têm propiciado benefícios econômicos através da venda dos descendentes das criações, e indiretamente, devido à redução da mortalidade no efetivo dos rebanhos e da necessidade de mão-de-obra.
A seleção exercida sobre animais destinados ao trabalho com rebanhos é diferente da pressão imposta em animais destinados à companhia de pessoas, estes são selecionados fundamentalmente com base em padrões morfológicos e comportamentais, por vez diferente dos requeridos nos animais de trabalho, diferença essa que se acentua se não houver cruzamentos entre animais oriundos de ambas as populações.
Provavelmente no início o cão tenha sido caçado e consumido pelo homem e algumas crias seriam poupadas e levadas para os povoados, sendo apreciadas como animais de companhia; os cães seriam úteis mantendo o povoado livre de restos alimentares, serviam de alimento, contribuíam nas caçadas, atuando como cães de guarda ou servindo para diversos fins utilitários.
Antigamente este fato estava ligado com a funcionalidade histórica das raças, pois existiam os cães de gado, que trabalhavam de forma autônoma, sendo independentes das pessoas, enquanto que os cães de pastoreio trabalham sob o comando do proprietário ou pastor.
Em nível de dominância, verifica-se que todas as raças, quando colocadas em situações de potencial confronto com os seus proprietários relativamente à posse de algo ou quando punidas, tendem a exibir comportamentos não agressivos face aos seus proprietários, adotando tipicamente posturas de submissão ativa ou passiva.
Associado à atividade de produção animal, o cão tem se revelado um auxiliar indispensável, auxiliando no manejo dos animais. A maioria dos cães de pastoreio começam a ser treinados relativamente cedo, quando têm idade variando de 7 a 12 meses. Evita-se treiná-los antes devido o risco de incidentes como coices, cabeçadas, entre outros, podendo deixar o mesmo com medo do trabalho.
De uma forma geral, os cães de pastoreio tendem a ter um treinamento mais formal, que geralmente varia de 3 a 5 meses para exercer sua função, já para aqueles de competição o treinamento é de aproximadamente 1 ano, devido à maior confiança e domínio do homem pelo cão, melhorando a relação mútua.
Durante séculos, esses cães pastores trabalharam com seus donos cuidando de rebanhos sob chuva, neve e mormaços, em terras íngremes e pedregosas, sem nenhum reconhecimento fora o de seus próprios donos. Foi em Bala, no País de Gales, em 9 de outubro de 1873, o início dos primeiros concursos de pastoreio, quando se mostrou esta raça aos olhos do público. O encantamento foi inevitável e a popularidade da raça como ferramenta de trabalho foi aumentando rapidamente.
À medida que o número de criadores de ovinos aumentava, assim como aumentavam os rebanhos bovinos, tornou-se impossível aos pecuaristas cuidarem dos seus rebanhos sem ajuda do cão de pastoreio. Por volta de 1800, os Border Collies já tinham se tornado um ajudante presente nas fazendas inglesas.
A raça Border Collie
O Border Collie é uma raça desenvolvida durante o século XIX, no norte da Grã-Bretanha. Os cães dessa raça trabalhavam junto com os criadores de ovelhas demonstrando incrível capacidade no trabalho. Os criadores selecionavam os reprodutores por seu desempenho no pastoreio e não por sua aparência.
Este é um pastor por natureza; caso não tenha ovelhas nem gado para pastorear irá direcionar seus instintos de pastor para outros animais e até mesmo para as crianças da casa ou aves no quintal, em caso de áreas rurais.
O cão possui um método único de lidar com os animais. Ele fixa o olhar no rebanho e se aproxima agachado, como um lobo ou cão de caça, sem nunca desviar o olhar do animal que parece estar "hipnotizado" pelo cão; os criadores chamam esta característica do Border de "power eye", que significa "olhos poderosos".
Os Border Collies são cães ativos e dinâmicos, muito trabalhadores e dotados de grande inteligência e capacidade de aprendizado, raça carinhosa com seus donos e reservada com estranhos. Além disso, são cães ágeis e possuem um excelente olfato, sendo uma das melhores raças de cães pastores para lidar com ovelhas, sendo considerado o cão mais obediente do mundo.
Este cão nunca deve ser mantido sem atividade, devendo ser adestrado para lidar com rebanhos, pois caso não possa gastar sua grande energia se tornará um cão problemático, o mesmo ocorre com sua inteligência, se não for estimulado pode ficar entediado e desenvolver problemas de comportamento. Apresenta duas variedades: uma de pêlo semilongo e outra de pêlo curto.
Características da raça
O Border Collie apresenta grande velocidade e agilidade. Há uma explicação anatômica para essa superioridade: o fato de eles serem um pouco mais compridos do que altos auxilia a movimentação e aumenta a agilidade. A extrema facilidade do Border em mudar de direção é determinada pela coluna vertebral alongada, com maior distância entre as costelas, que aumenta a agilidade, e pela caixa torácica estreita que ajuda a proporcionar um equilíbrio físico instável.
A tradição do Border em pastoreio é espantosa. Verificamos a habilidade na condução de animais (normalmente ovelhas), a integração do cão com o pastor, a atitude, velocidade, agilidade, resposta aos comandos, concentração, disposição, movimentação e obediência demonstradas pelo Border.
Há seis comandos básicos para induzir o cão a rodear as ovelhas pela esquerda ou pela direita, ou andar atrás delas lentamente - go (vá); lay down (deita); stay there (fique); away to me (para a esquerda); come bye (para a direita); steady (siga ou mantenha). Além desses comandos, cada treinador adota outros de acordo com a sua conveniência. Com esses comandos, aliados à natureza pastoreadora do Border, é possível conseguir que o cão conduza o rebanho a qualquer lugar. Seu instinto é tão forte que, mesmo longe do campo, o Border costuma pastorear.
O Border assume uma pose bastante típica quando trabalha: cabeça para frente, patas da frente abaixadas e garupa alta; faz isso para impor respeito e intimidar as ovelhas. Mas mesmo os que nunca foram treinados adotam essa posição quando querem pastorear algo.
A criação do Border foi essencialmente voltada ao trabalho e ainda hoje a raça não segue um padrão muito rígido. Há criadores contrários a acasalamentos que privilegiem a estética, que podem comprometer as aptidões para o trabalho. Por outro lado, cruzamentos visando essas aptidões resultam em tipos físicos variados, mas a raça sempre foi criada pela sua versatilidade e eficiência, e é assim que as coisas devem continuar.
A pelagem pode ser curta ou longa, as orelhas eretas ou semi-eretas (o importante é formarem uma concha acústica que proporcione boa audição); e são permitidas várias marcações, normalmente em preto, marrom, vermelho, e até mesmo azul merle, sobre fundo branco, que não deve ser predominante. Segundo os criadores, todas essas variações não comprometem o trabalho do cão.
Obs: Na Universidade de Marília (UNIMAR) tem sido realizado Cursos de Cães de Pastoreio à medida que fecha turmas de 12 a 15 pessoas, objetivando fomentar a prática na ovinocultura nacional. Na UNIMAR constantemente tem tido campeonatos de cães pastoreio, juntamente com as parcerias da Associação Paulista de Pastoreio (APPAS) e Associação Brasil Border Collie (ABBC).
O uso de cães de pastoreio é imprescindível na ovinocultura, principalmente em rebanhos maiores, tanto para condução no pasto quanto para o manejo dentro do curral, proporcionando bem estar animal e facilidade de manejo.
Figura 1 - O Border Collie ainda carrega traços físicos e comportamentais de seus antepassados lobos.
Figura 2 - Filhote de Border Collie iniciando treinamento para pastoreio na Cabanha UNIMAR.
Figura 3 - Centro de treinamento de cães pastoreio na Cabanha UNIMAR.
Figura 4 - Rebanho Suffolk manejado com cães de pastoreio.
Figura 5 - Border Collie conduzindo gansos.
Figura 6 - Uso de cães de pastoreio nos Bovinos de corte da UNIMAR.
Figura 7 - Campeonato Mundial de cães de pastoreio na Inglaterra (2009).