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Taninos Condensados - Parte II de II: Formas de utilização na alimentação de pequenos ruminantes

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PRODUÇÃO DE LEITE

EM 22/05/2012

9 MIN DE LEITURA

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Na primeira parte do artigo sobre Taninos Condensados (TC) vimos que se por um lado o consumo desses compostos pode prejudicar a digestão e absorção de nutrientes pelos animais, por outro lado eles podem apresentar vantagens bastante atrativas na nutrição, sanidade e até mesmo no ambiente de produção de pequenos ruminantes. Fica então a dúvida: O que devemos fazer para alcançar os benefícios oportunizados pelos TC, sem obter seus efeitos indesejáveis?

No artigo anterior mostramos que as vantagens e desvantagens dos TC dependem da quantidade em que estão presentes na dieta dos animais. Neste artigo vamos descrever algumas formas de utilização das plantas taniníferas na alimentação. Antes, porém, ressaltamos que os TC não devem ser eliminados das plantas, pois isso afeta os mecanismos de defesa das mesmas e prejudica seu estabelecimento e competitividade com as demais espécies vegetais. Portanto, os TC devem ser estrategicamente atenuados no metabolismo animal ou consumidos em níveis que possibilitem seu uso benéfico (Odenyo et al., 2001).

Determinação da quantidade de TC na dieta

O primeiro passo é conhecer a quantidade de TC contida em cada forrageira. No entanto, os métodos convencionais de análises bromatológicas não incluem a determinação das concentrações de TC, e por isso pouco se sabe a respeito da natureza desses compostos nas forrageiras tropicais. Faz-se, então, uso de métodos específicos para determinação das concentrações destes compostos nos alimentos.

Os métodos comumente utilizados são: o método de Folin-Denis (Swain e Hills, 1959) e Azul da Prússia (Price e Butler, 1977), para quantificação de fenóis totais; o método do HCl-butanol (Porter et al., 1986) e da vanilina (Tiitto-Julkunem, 1985), próprios para TC; e o método de difusão radial (Hagerman, 1987), capaz de quantificar complexos tanino-proteína solúveis.

Ainda são necessários mais estudos para determinação dos teores de taninos nas forrageiras utilizadas no Brasil. Nos últimos anos houve crescente busca pelo estabelecimento dos teores destes compostos nas espécies forrageiras da região da caatinga, com a finalidade de promover uso adequado do bioma disponível nas épocas de maior carência de alimentos. Porém, há muita variação nos resultados obtidos para uma mesma espécie forrageira em decorrência da falta de padronização no uso de metodologias entre pesquisadores, e dos diferentes estágios de crescimento, composição botânica e forma de fornecimento das forragens avaliadas.

Formas de fornecimento de forrageiras taniníferas

De forma geral, as forrageiras taniníferas podem ser ofertadas e consumidas in natura, fenadas ou ensiladas. A escolha pela melhor forma de fornecimento dependerá da espécie e estágio fenológico da planta. Além disso, deve-se estar atento às condições climáticas, geográficas e às estações do ano, pois estas alteram os teores de TC nas forragens (Coelho, 2007).

A oferta in natura costuma ser realizada principalmente nos casos em que a concentração de TC na forragem é baixa, como no caso do amendoim-forrageiro (Arachis pintoi; 2,5% de TC), do cornichão (Lotus corniculatus L.; 2,0 a 4,7% de TC), e da alfafa (Medicago sativa; 0,5 a 0,9% de TC). O consumo destas espécies forrageiras com baixo teor de taninos pode ser estimulado pela exposição prévia dos animais às plantas taniníferas, ou pelo fornecimento das mesmas junto com concentrados ou outras forragens mais palatáveis.

O fornecimento de forragens com maiores concentrações de TC deve ser realizado com restrições para ruminantes. Ainda que estes animais sejam considerados mais tolerantes aos taninos do que os não-ruminantes, quando a ingestão de tanino ultrapassa a capacidade de degradação efetiva pelos microrganismos ruminais sua absorção pode levar à toxidez (Pires, 2007). Nestes casos, devem ser empregadas estratégias que promovam a redução dos níveis de TC no alimento. Os processos de trituração, maceração e secagem do material têm apresentado resultados satisfatórios, ou seja, os processos de conservação de forragens (fenação e ensilagem) são capazes de reduzir os níveis de taninos na dieta.

Nas condições do Nordeste brasileiro, mesmo plantas com baixos teores de TC, tais como a jureminha (Desmanthus virgatus; 2,4% de TC), maniçoba (Manihot pseudoglazovii; 1,6% de TC) e feijão-bravo (Capparis flexuosa L.; 0,6% de TC) costumam ser fenadas, devido a suas boas características nutritivas para o arraçoamento de caprinos e ovinos no período de estiagem (Silva e Medeiros, 2003).

Quanto ao preparo de silagens, é importante ressaltar que as diferentes porções das plantas (grãos, colmos e folhas) normalmente comportam diferentes teores de taninos, o que deve ser considerado na determinação das quantidades de cada parte a ser incluída no material ensilado.

Para gramíneas, como no caso das cultivares de sorgo (Sorghum bicolor), é recomendável que se dê preferência ao uso de genótipos com baixos teores de taninos, pois quanto maior forem os teores de TC na forragem menor será a digestibilidade da matéria seca (MS). Por essa razão, as cultivares que possuem alto teor de TC nos grãos são indicadas para regiões que sofrem com o ataque de pássaros e que apresentam alta umidade relativa do ar nos períodos de safra (Pires, 2007).

Uma alternativa utilizada para aumentar o consumo e a digestibilidade de dietas com alto teor de TC é a inclusão de polietilenoglicol (PEG) no alimento a ser ofertado (Makkar, 2003). O PEG possui alta afinidade pelas moléculas de taninos e promove a quebra dos complexos tanino-proteína, que são formados quando há consumo de plantas taniníferas.

A adição de PEG (3,5% da MS) em dietas contendo desmódio (Desmodium ovalifolium) e flemingia (Flemingia macrophylla) resultou em aumento médio de 10% no consumo dessas forragens (Barahona et al., 1997). Ao avaliar o consumo de feno de sabiá (Mimosa caesalpinifolia) com adição de 10 g/dia de PEG, Alves et al. (2006) constataram que não houve diferença no consumo e digestibilidade de MS, fibra em detergente neutro (FDN) e extrato etéreo (EE), todavia, a suplementação de PEG melhorou a digestibilidade da proteína bruta (PB) em ovinos e caprinos. Já Beelen et al. (2006) avaliaram o consumo e a degradabilidade in situ de jurema-preta (Mimosa hostilis; 26,7% de TC), sabiá (15,4% de TC) e mororó (Bauhinia cheilantha; 8,5% de TC) tratadas ou não com 90 g/kg MS de PEG, e observaram que o consumo e a degradabilidade de MS, FDN e PB aumentaram com a inclusão de PEG.

Outro recurso para aumentar a exposição dos componentes fibrosos à degradabilidade ruminal é o tratamento químico com hidróxido de sódio (NaOH), que tem se destacado, também, por reduzir as concentrações de taninos nas forragens. Assim, o NaOH minimiza os efeitos antinutricionais dos TC entre diferentes espécies de leguminosas, inclusive em invasoras. De fato, Pereira Filho et al. (2007) ao investigar a degradabilidade in situ do feno de jurema-preta (Mimosa tenuiflora. Wild; com 21,9% de taninos) tratado com 2, 4, 6 e 8% de NaOH, verificaram que os tratamentos com níveis maiores que 4% de NaOH produziram aumento da degradação ruminal da MS e de PB.

Cuidados com o consumo de plantas taniníferas

Em alguns casos, as leguminosas taniníferas possuem outros fatores antinutricionais além dos taninos (mimosinas, saponinas, glicosídeos cianogênicos, etc.), o que pode inviabilizar seu consumo in natura. Dessa forma, recomenda-se que estas espécies sejam ofertadas na forma de feno ou silagem, a fim de evitar quadros de intoxicações nos animais.

No caso da leucena (Leucaena leucocephala), que além dos TC possui mimosinas em sua composição, é possível utilizá-la em pastejo direto (in natura), porém, de forma controlada. Nessas circunstâncias, a forragem pode ser disponibilizada durante curtos períodos de pastejo, utilizada como banco de proteínas, associada com gramíneas ou fornecida no cocho em quantidades balanceadas (fresca, fenada ou ensilada) (Barreto et al., 2010).

A presença de outros fatores antinutricionais que possam atuar sinergicamente ou em antagonismo com os TC deve ser avaliada nos alimentos, buscando-se evitar a formulação de dietas com altas concentrações destes compostos e a diminuição do consumo de alimento e do desempenho produtivo dos animais.

Outro ponto importante, e que merece destaque, é evitar o uso de forragens taniníferas na dieta de cordeiros e cabritos durante a fase em que o rúmen ainda não é completamente funcional. Nesse período, mesmo pequenas concentrações de TC podem prejudicar a digestibilidade de aminoácidos e limitar o desenvolvimento do animal.

Considerações finais

Pesquisas realizadas recentemente no Brasil têm sido direcionadas ao estabelecimento dos teores de TC em espécies forrageiras nativas. A partir dos resultados obtidos nesses estudos será possível recomendar a melhor forma de fornecimento de forrageiras taniníferas aos pequenos ruminantes.

Além disso, ressaltamos que as dietas devem ser formuladas com o objetivo prioritário de suprir as necessidades nutricionais dos animais, enquanto a utilização de forrageiras taniníferas e o aproveitamento de seus benefícios nutricionais devem ser considerados como "manejo nutricional complementar". Nesta segunda etapa, o potencial nutritivo associado aos efeitos benéficos dos TC deverá ser explorado para uma nutrição adequada dos ovinos e caprinos.

Referências bibliográficas

ALVES, A.R.; BEELEN, P.M.G.; GONZAGA NETO, S.; et al. Consumo e digestibilidade do feno de sabiá por caprinos e ovinos recebendo suplementação com polietilenoglicol. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 43., 2006, João Pessoa. Anais... João Pessoa: Sociedade Brasileira de Zootecnia, [2006]. (CD-ROM).

BARAHONA, R.; LASCANO, C.E.; COCHRAN R.C. et al. Intake, digestion, and nitrogen utilization by sheep fed tropical legumes with contrasting tanninconcentration and astringency. Journal of Animal Science, v.75, p.1633-1640, 1997.

BARRETO, M.L.J.; LIMA JÚNIOR, D.M.; OLIVEIRA, J.P.F. et al. Revisão de Literatura - Utilização da Leucena (Leucaena leucocephala) na alimentação de ruminantes. Revista Verde de Agroecologia e Desenvolvimento Sustentável, v.5, n.1, p.07-16, 2010.

BEELEN, P.M.G.; BERCHIELLI, T.T. ; BUDDINGTON, R. et al. Efeito dos taninos condensados de forrageiras nativas do semi-árido nordestino sobre o crescimento e atividade celulótica de Ruminococcus flavefaciens FD1. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v.58, p.910-917, 2006.

COELHO, C.P. Desempenho de ovinos da raça Santa Inês alimentados com silagens com diferentes concentrações de tanino. 2007. 50f. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) - Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia, Itapetininga.

HAGERMAN, A.E. Radial diffusion method for determining tannins in plant extracts. Journal of Chemical Ecology, v.13, p.437-439, 1987.

MAKKAR, H.P.S. Effect and fate of tannins in ruminant animals, adaptation to tannins, and strategies to overcome detrimental effects of feeding tannin-rich feeds. Small Ruminant Research, v.49, p.241-256, 2003.

ODENYO, A.A.; BISHOP, R.; ASEFA, G. et al. Characterization of tannin tolerance bacterial isolates from East African ruminants. Anaerobe, v.7, p.5-15, 2001.

PEREIRA FILHO, J.M.; VIEIRA, E.L.; KAMALAK, A. et al. Ruminal disappearance of Mimosa tenuiflora hay treated with sodium hydroxide. Archivos de Zootecnia, v.56, p.959-962, 2007.

PIRES, D.A.A. Avaliação de quatro genótipos de sorgo (Sorghum bicolor) com e sem taninos nos grãos para produção de silagens. 2007. 107f. Tese (Doutorado em Zootecnia) - Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.

PORTER, L.H.; HRSTICH, L.N.; CHAN, B.C. The conversion of procyanidins and prodelphinidins to cyanidin and delphinidin. Phytochemistry, v.25, n.1, p.223-230, 1986.

PRICE, M.P.; BUTLER, L.G. Rapid visual estimation and spectrophotometric determination of tannin content of sorghum grain. Journal of Agricultural and Food Chemistry, v.25, n.6, p.1268-1273, 1977.

SILVA, D.S.; MEDEIROS, A.N. Eficiência do uso dos recursos da Caatinga: produção e conservação. In: SIMPÓSIO INTERNACIONAL SOBRE CAPRINOS E OVINOS DE CORTE, 2., 2003, João Pessoa. Anais... João Pessoa: SINCORTE, 2003. p.571-582.

SWAIN, T.; HILLS, W.E. The phenolic constituents of Prunus domestical. 1. The quantitative analysis of phenolic compounds. Journal of the Science of Food and Agriculture, v.10, n.1, p.63-68, 1959.

TIITTO-JULKUNEM, R. Phenolic constituents in the leaves of Northem Willows: methods for the analysis of certain phenolics. Journal of Agricultural of Food Chemistry, v.33, n.2, p.213-217, 1985.

DAMARIS FERREIRA DE SOUZA

LUCIANA HELENA KOWALSKI

Médica Veterinária pela UFPR. Mestranda em Nutrição e Produção Animal pela UFPR- Campus Palotina. Tem experiência e atua na área de produção e reprodução de ovinos e caprinos.

SERGIO RODRIGO FERNANDES

Zootecnista pela UFPR. Mestre e atualmente doutorando em Ciências Veterinárias na UFPR. Participa de pesquisas com sistemas de produção de bovinos (LAPBOV-UFPR), caprinos e ovinos para corte (LAPOC-UFPR). Atua na área de nutriçao de ruminantes.

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DAMARIS FERREIRA DE SOUZA

CURITIBA - PARANÁ - ESTUDANTE

EM 26/11/2012

Olá Angel!

Não consegui entrar em contato contigo pelo teu e-mail (angel@ucp.lt.rimed.cu).

Me envie um e-mail para fs.damaris@gmail.com, que te darei retorno, ok?



Fica com Deus! Até!
ANGEL TORRES PARRA

PRODUÇÃO DE OVINOS

EM 05/11/2012

Oi, eu me chamo Angel Torres Parra, suo cubano y tenho previsto comencar um doutorado em sua pais em a Universidade Federal Do Rio Grande Do Sul  sobre os efeitos dos taninos condensados de gramineas y leguminosas tropicaes na alimentacao de ovinos. quiera entrar em contacto com os senhores. meu cuenta es angel@ucp.lt.rimed.cu. cosidero muito bom sua trabalho. obrigado.

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