- Impedir a introdução da doença, evitando adquirir animais de propriedades com o problema, e de animais com deformidade nas unhas que denotam já terem tido a doença (podem ser portadores crônicos). É recomendável um exame clínico minucioso nos animais a serem adquiridos, feito por médico veterinário da confiança do produtor.
- Transportar os animais em veículos higienizados e desinfetados.
- Passar no pedilúvio todos os animais recém-adquiridos, casqueando-os, e repassando-os pelo menos uma vez por semana, durante o período da quarentena, antes de se integrarem ao restante do rebanho nas pastagens.
- Vacinar todo o rebanho, a partir de cordeiros com 2 meses de vida, a FOOT-VAC®. Essa vacina é feita com 7 sorogrupos de Dichelobacter nodosus, os de maior ocorrência no país. Atualmente, a vacina é feita com um veículo oleoso de origem francesa, de fácil absorção e reduzida sensibilidade pelo animal, e que mantém altos títulos de anticorpos por até 6 meses após a vacinação. Os fabricantes recomendam aplicar 2mL por via subcutânea, em regiões ricas em tecido subcutâneo, como a virilha e axila. A vacinação deverá ser feita, de forma estratégica e contínua, antes do período de maior concentração de chuvas em cada região, a fim de que os animais estejam com o máximo de proteção, no início do período chuvoso. Na tabela 1 é apresentado o esquema de vacinação preconizado pelo fabricante da vacina. Reações de sensibilidade à vacina no local da aplicação têm sido observadas em ovinos que recebem anti-helmíntico à base de moxidectina.
Tabela 1 - Esquema de aplicação da vacina FOOT-VAC® (Lab. Hipra)
O uso da vacina de forma sistemática e nos períodos recomendados, aliado a pedilúvio e casqueamento rotineiros do rebanho reduzem em até 100% o aparecimento da enfermidade. Quando estabelecido um esquema de vacinação por mais de dois anos, os índices de proteção se elevam consideravelmente. A vacina é ferramenta indispensável quando se opta pela erradicação da doença em uma propriedade ou região, e pode ser aplicada a animais gestantes, com o devido cuidado para evitar o estresse durante a aplicação. O estresse pode prejudicar a eficácia do produto, por isso a vacinação deve ser efetuada com calma, os animais devem estar descansados, e as fêmeas gestantes, principalmente dentro do brete, devem ser manuseadas com cuidado. Quando o manejo é inadequado, abortos podem ocorrer.
O uso de injetoras leves, de PVC, polietileno ou outro material plástico qualquer, de menores capacidades (15/20mL), e agulhas com 13 a 15mm de comprimento e 1mm de diâmetro (13x10 e 15x10) são as mais recomendadas para a aplicação de vacinas em ovinos. A cada troca de animais do tronco, ou a cada enchimento da seringa, a agulha deverá ser trocada e incluída em solução desinfetante (álcool, por exemplo), a fim de prevenir contaminação dos animais e da própria vacina. Após a vacinação, as partes do equipamento que tiveram contato com a vacina deverão ser limpas e esterilizadas, assim como as agulhas. A vacina, antes e durante a vacinação, deverá ficar sob refrigeração. Ao levar a vacina ao local de vacinação, recomenda-se transportá-la em isopor com gelo, e manter o isopor na sombra. Recomenda-se, ainda, agitar o frasco da vacina por alguns segundos antes de encher o êmbolo da seringa, e não injetar ar para dentro do frasco da vacina, mas, apenas sugar a quantidade de líquido vacinal.
- Rodízio de pasto, associado a pedilúvio. Como a bactéria D. nodosus não permanece viável no ambiente, fora do casco do animal, por mais de uma semana, recomenda-se passar os animais no pedilúvio antes de irem para um pasto que tenha ficado em descanso por, pelo menos, duas semanas. Manter os animais em terrenos altos, com boa drenagem, que não forme lama, também ajuda a prevenir o surgimento da doença. Essa forma de controle será mais efetiva quanto mais seco estiver o tempo, já que a umidade provocada pelas chuvas no solo favorece o aparecimento da doença, e a permanência da bactéria no solo das pastagens.
- Pedilúvio: nas propriedades onde a doença está presente, recomenda-se passar todo o rebanho periodicamente, que pode ser diariamente, a cada duas ou uma semana, mensalmente, conforme a incidência da doença e a facilidade em movimentar o rebanho, concentrando as passagens principalmente na época das chuvas. O pedilúvio é uma instalação feita, na maioria das vezes, na extensão do próprio tronco de contenção, por meio de um rebaixamento no solo, com profundidade de 10-15 cm que permite uma altura da lâmina d´água de cerca de 6-8 cm, que já seria suficiente para cobrir todo casco de ovinos e/ou caprinos. É revestido de alvenaria, sempre com uma saída com tampa rosqueada, e preenchido com solução com produtos antissépticos. Os produtos recomendados são sulfato de cobre 10%, ou sulfato de zinco 5-10%, ou formol 2 a 5%. Um litro de detergente pode ser adicionado ao pedilúvio, pois ajuda a limpar os cascos dos animais. O pedilúvio com formol deve ser feito após o casqueamento, porque esse produto torna o estrato córneo do casco mais espesso e duro, o que dificulta o aparo com a tesoura de casco. É importante conhecer a capacidade do pedilúvio em volume de água para o devido preparo da solução desinfetante. Um pedilúvio seco também poderá ser feito com a mistura de uma parte de sulfato de zinco com nove partes de cal.
Souza (2008) apresenta detalhes sobre o pedilúvio (construção, uso e soluções desinfetantes).
Ao trazer os animais para o pedilúvio, separar aqueles que estão claudicando, para serem examinados e tratados posteriormente, enquanto o restante do lote passa primeiro, permanecendo na solução entre 3 e 5 minutos. Se o produto for à base de formol, os animais deverão permanecer menos que 1 minuto na solução, pois o formol se volatiliza rapidamente, irritando as vias respiratórias e oculares de humanos e, principalmente, dos animais que ali se encontram; recomenda-se o uso de equipamentos de proteção individual (EPI) às pessoas que irão manipular o formol para fazer a solução (botas, luvas, máscara e óculos de proteção) e ficar próximo aos animais durante a passagem no pedilúvio. A solução mais segura para uso no pedilúvio, tanto para os manipuladores, como para os animais, é com o sulfato de zinco, que também apresenta alta capacidade de penetração, é um bom desinfetante, não mancha a lã ou o pelo, como o faz a solução de sulfato de cobre, e é mais resistente à inativação pela presença de matéria orgânica do que a de sulfato de cobre. Esta última solução, apesar de ser um bom antisséptico com alto poder adstringente, mancha a lã, é corrosivo e rapidamente inativado na presença de matéria orgânica, além de ser tóxico, se ingerido acidentalmente pelos ovinos. No entanto, o sulfato de cobre é mais facilmente encontrado no mercado agropecuário do que o sulfato de zinco para ser utilizado em soluções de pedilúvio.
Não se deve esquecer de trazer os animais ao tronco e passá-los no pedilúvio com calma, sem atropelos e gritarias, para evitar o estresse e possíveis perdas nessa operação, tais como afogamentos, principalmente quando se passa lote de cordeiros lactentes junto com as mães, e abortos, no caso de lotes que tenham fêmeas gestantes no terço final da gestação. Souza (2008) recomenda que os animais devem permanecer, no mínimo, duas horas em áreas com solo seco, preferencialmente em apriscos suspensos ou áreas cimentadas, livres de fezes e previamente desinfetadas, o que poderia coincidir com o retorno dos animais no final da tarde para as instalações de pernoite.
Após passar os animais pelo pedilúvio, estes devem voltar ao pasto (de preferência um pasto que ficou em descanso, sem animais, pelo menos durante 14 dias) percorrendo um caminho diferente de onde vieram, a fim de não se recontaminarem nos corredores de acesso ao pedilúvio.
Preferencialmente, cabe reformar o pedilúvio após cada passagem do rebanho, pois os resíduos (terra, fezes e urina) que permanecem no fundo do pedilúvio reduzem o efeito do produto. Se os animais puderem passar por um lava-pés com água, ou terem suas patas lavadas com ducha d´água sob pressão, antes da entrada no pedilúvio, haverá menos sujeira e, conseqüentemente, menos contaminação do pedilúvio, podendo este ter mais eficiência e durabilidade. Geralmente, a passagem de um rebanho com cerca de 200-300 cabeças, por um pedilúvio com capacidade para 100 litros já elimina totalmente a solução ali existente; por isso ele deve ser preparado (limpo e lavado) para receber nova solução. O uso de pedilúvio sujo pode colaborar na disseminação da doença ao invés de resolvê-la.
Pequenos pedilúvios podem ser construídos na entrada de instalações como maternidades (os cordeiros ficam presos, mas as mães vão para o pasto, retornando no fim do dia) ou confinamentos, para desinfetar cascos de animais que entram e saem das instalações, botas de funcionários, ou, até mesmo, rodas de tratores.
- Casqueamento preventivo de todo o rebanho deve ser efetuado por pessoas experientes e treinadas, pelo menos uma vez ao ano, especialmente antes do período das águas, e o material utilizado no casco desinfetado entre um animal e outro, com substâncias bactericidas, tais como álcool-iodado. Como o F. necrophorum e o D. nodosus permanecem profundamente no tecido do casco, o casqueamento deve ser bastante profundo, procurando-se retirar todo o tecido necrosado (escuro) e podre do casco, a fim de que os banhos com líquidos bactericidas possam chegar a essas áreas e matar todas as bactérias.
Para a prática do casqueamento, utiliza-se a tesoura corta casco ovino, cujo modelo mais utilizado é o da figura abaixo (figura 1). A finalidade desse procedimento é retirar o excesso de casco (figura 3), deixando-o próximo ao plano da sola (figura 2).
Figura1: Tesoura corta casco (Manual Irfa) Figura2: Plano de sola (Manual Irfa)
Figura 3 - Animal com casco longo, cujas reentrâncias favorecem o estabelecimento de D. nodosus e F. necrophorum, necessitando ser casqueado.
Após o casqueamento, é importante varrer o local e coletar as aparas dos cascos, dando-lhes um destino (queimar ou jogar no lixo), pois podem estar contaminadas com as bactérias, e colaborar na disseminação da doença. Também é recomendável lavar e desinfetar o local onde os animais foram casqueados (com água clorada, por exemplo).
- Descartar animais portadores de infecções crônicas, que se contaminam com frequência, ou tenham sido tratados e não tenham se curado. Existe um componente genético na suscetibilidade ao "foot rot".
Figura 4: Animal com as patas imersas em pedilúvio, construído no brete de contenção.
O artigo Parte III abordará o controle de "foot rot".