Fechar
Receba nossa newsletter

É só se cadastrar! Você recebe em primeira mão os links para todo o conteúdo publicado, além de outras novidades, diretamente em seu e-mail. E é de graça.

O poder dos reemergentes

Por Marcos Sawaya Jank
postado em 21/09/2006

2 comentários
Aumentar tamanho do texto Diminuir tamanho do texto Imprimir conteúdo da página

 

Os países emergentes já somam mais da metade do PIB mundial em paridade do poder de compra, ultrapassando os países desenvolvidos. Além disso, eles contam com 83% da população, consomem 54% da energia, detêm 70% das reservas financeiras e 43% das exportações (ante apenas 20% em 1970).

A edição desta semana da revista The Economist traz um ótimo relatório sobre o novo poder dos emergentes, que prova que o mundo deixou de ser uni ou bipolar e vai ficando cada vez mais multipolar. O relatório começa por corrigir uma imprecisão histórica: o termo 'emergentes' seria incorreto e, a rigor, deveria ser substituído por economias 'reemergentes', já que o grupo de países em questão ficou fora dos holofotes durante apenas um curto período de 180 anos, entre a revolução industrial européia e o final da década passada. Durante oito séculos, entre os anos 1000 e 1820, os hoje reemergentes, principalmente na Ásia, controlaram 80% da riqueza mundial!

A reemergência dos emergentes é o maior fenômeno deste início de milênio. Nos últimos cinco anos eles cresceram 7% ao ano, ante apenas 2,3% dos países ricos, taxas que se devem manter no próximo qüinqüênio. O crescimento sustentado desses países decorre de amplas reformas internas: abertura comercial, atração de capital externo, aumento da competição, dos investimentos e da produtividade dos fatores, rápida integração nas cadeias produtivas globais, aproveitamento das tecnologias de informação etc.

Mais de 1 bilhão de novos consumidores destes países vão ingressar no mercado global de consumo na próxima década. A Goldman Sachs estima que China, Índia, México, Rússia e Brasil estarão entre as dez maiores economias do mundo em 2040 e serão, juntos, maiores que o atual G-7.

Contudo, um dos grandes equívocos da atualidade é tentar agrupar os emergentes num suposto 'bloco' que se estaria contrapondo aos países desenvolvidos. Ocorre que eles formam um grupo extremamente heterogêneo de países, muito menos unidos do que Europa e EUA foram nos últimos 150 anos.

O agrupamento do mundo 'emergente' serve apenas como uma referência conceitual da completa redefinição da divisão internacional do trabalho, do comércio, dos investimentos, do poder de compra dos consumidores, do uso de recursos naturais e da inovação que está em andamento. Este grupo de países está 'redesenhando' todos os mapas mundiais - econômicos, políticos, sociais, tecnológicos etc. A regra, porém, é cada um por si.

É obvio que a trajetória futura dos emergentes não será um mar de rosas rumo ao nirvana da prosperidade. Há graves problemas a serem solucionados por estes países, como a crescente disparidade entre as rendas urbana e rural, as imensas desigualdades regionais que se estão formando internamente, já gerando protestos e forte pressão migratória, principalmente na China e na Índia.

Há também riscos de crises bancárias, de aumento do protecionismo mundial e de agravamento dos problemas de infra-estrutura e ambientais. Os EUA possuem hoje 150 milhões de carros, 50 para cada 100 habitantes. Em 2040, China e Índia terão 750 milhões de carros (26 carros para cada 100 habitantes, comparados com apenas 2 atualmente). Imagine-se o gasto potencial de combustíveis e os congestionamentos!

Na semana passada, participei de uma conferência do Centro para a Inovação na Governança Internacional no Canadá, na qual se discutiu a emergência dos BRICSAM e a necessidade de reformar as instituições multilaterais (ONU, FMI, Banco Mundial, OMC). BRICSAM é a sigla em inglês que se criou para representar o conjunto dos BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China) mais África do Sul, países da Asean (principalmente Malásia, Tailândia, Indonésia e Filipinas) e México. A definição ampliada busca corrigir a insuficiência do conceito original dos BRICs, agregando outros emergentes que têm grandes populações e mostram altas taxas de crescimento.

No grupo ampliado, a liderança do crescimento fica nas mãos da China (8,6% ao ano na última década), seguida por Índia (6%), países da Asean (4%), Rússia (3%), México (2,7%) e, na rabeira, o Brasil, com míseros 2,4% ao ano de crescimento entre 1995 e 2004.

O professor Marcelo de Paiva Abreu, da PUC-Rio, apresentou uma ótima palestra sobre o papel do Brasil nos BRICs, tentando responder à indagação shakespeariana 'Brazil: to be or not to be a BRIC?'. Marcelo mostrou que, além do crescimento medíocre, o país se posiciona abaixo da média dos BRICs na sua capacidade de poupar e investir, na alta carga tributária, nos elevados gastos públicos e no custo da dívida interna.

O Brasil iguala a média dos BRICs na estabilidade inflacionária e em alguns indicadores sociais e supera a média dos parceiros em recursos naturais, PIB per capita, solidez democrática, relações pacíficas com países vizinhos e outros. Ele conclui afirmando que, se o Brasil não conseguir crescer mais, corre o risco de ser brevemente descartado da lista dos BRICs.

Nossa única solução para continuarmos integrando o seleto grupo das melhores economias emergentes é o aprofundamento das reformas domésticas (previdenciária, fiscal, trabalhista), a melhoria das instituições (principalmente nos campos político e jurídico), o crescimento da concorrência e da produtividade (evitando a falsa solução do protecionismo e do isolamento) e o investimento consistente em bens públicos (segurança, infra-estrutura, educação e saúde).

A dicotomia clássica entre países do Primeiro e do Terceiro Mundo ou países do Norte e do Sul já perdeu o sentido. Neste início de milênio o mundo se divide entre os que estão conseguindo acompanhar a velocidade da globalização com reformas internas profundas, macro e microeconômicas, e os que estão comendo poeira, contemplando passivamente o sucesso de seus ex-companheiros subdesenvolvidos.

Saiba mais sobre o autor desse conteúdo

Marcos Sawaya Jank    São Paulo - São Paulo

Consultoria/extensão rural

Avalie esse conteúdo: (5 estrelas)

Comentários

Walter Mantovanini Filho

São Carlos - São Paulo - Distribuição de alimentos (carnes, lácteos, café)
postado em 22/09/2006

É sempre bom após receber a carta BeefPoint semanal saber o que acontece no mundo da carne e principalmente ler os artigos do Marcos Jank.

Esse em especial vem em boa hora, uma vez que estamos a praticamente a 01 semana das eleições para presidente da república.

Leiam todos com atenção redobrada os parágrafos dessa análise econômica antes de votar pois corremos sério risco de não mais pertencermos ao BRICs se nada for feito.

O exemplo tem que vir de cima e com esse comando ou melhor seria dizer "descomando" não chegaremos a lugar nenhum. Nosso crescimento é pífio, nossa carga tributária altíssima e sem reversão em serviços públicos que são cada vez piores (vejam nossas estradas federais), previdência pública é bom nem falar...Temos uma das maiores economias informais do mundo, corrupção ativa e escândalos literalmente nas barbas do nosso presidente e ele diz que nada sabe...

Nos sabemos: fora Lula!!!

Abraço a todos e parabéns Marcos.

Jose Flavio Figueira

Votuporanga - São Paulo - Produção de gado de corte
postado em 23/09/2006

Parabéns pelo artigo. Nesse contexto de oportunidades de emergir, o Brasil vem perdendo oportunidades continuamente. E vai perder mais, pelo caminho que escolheu. E isso merece reflexão.

Penso que enquanto perdurar o atual sistema político, a atual arquitetura política, produzindo governantes desconexos do verdadeiro objetivo de governar e sem estratégia e planejamento de longo prazo - nosso crescimento será mínimo e até decrescente na medida do esgotamento de nossos recursos naturais.

Se fez opção por produção primária (chego a pensar que por "sugestão" de grandes nações aos nossos submissos governantes), enquanto os que estão crescendo investem em educação e tecnologia.

Onde está nossa ciência e tecnologia? Nenhum candidato fala disso! Nenhum apresenta nada de planejamento de longo prazo. Apenas se propõe "apagar fogo" mas que na verdade não se está combatendo a causa dos incêndios, que vão continuar vindo.

Penso que é preciso uma revolução de inteligência, dos meios intelectuais, para propor à sociedade um sistema político novo, que consiga quebrar o continuísmo desse sistema e prática política. Do tipo do plano cruzado/plano real, que quebrou na população o hábito e a cultura da inflação.

Depois disso, penso que nossos jovens queiram ficar aqui no país, contribuindo para nossa prosperidade.

Quer receber os próximos comentários desse artigo em seu e-mail?

Receber os próximos comentários em meu e-mail

Envie seu comentário:

3000 caracteres restantes


Enviar comentário
Todos os comentários são moderados pela equipe FarmPoint, e as opiniões aqui expressas são de responsabilidade exclusiva dos leitores. Contamos com sua colaboração. Obrigado.

Copyright © 2000 - 2024 AgriPoint - Serviços de Informação para o Agronegócio. - Todos os direitos reservados

O conteúdo deste site não pode ser copiado, reproduzido ou transmitido sem o consentimento expresso da AgriPoint.

Consulte nossa Política de privacidade