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Análise das importações de carne ovina

Por Marina A. Camargo Danés
postado em 25/01/2007

6 comentários
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As importações de carne ovina em 2006 totalizaram 7,1 mil toneladas, o segundo maior volume nos últimos 18 anos e US$ 15 milhões, o maior valor neste período, segundo dados do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC).

Apesar do volume importado no mês de dezembro ter apresentado queda de 30% em relação a novembro e de 5% em relação a dezembro de 2005, o acumulado do ano foi 50% maior do que no ano passado, devido, principalmente, aos meses de outubro e novembro (gráfico 1).

Gráfico 1: Importações brasileiras de carne ovina, em volume (toneladas), nos anos de 2005 e 2006


Observando os dados de importação de carne ovina, disponibilizados pelo MDIC desde 1989, percebe-se uma clara tendência de crescimento nesse período, demonstrada no gráfico 2, apesar das variações apresentadas entre os anos.

Gráfico 2: Importações brasileiras anuais de carne ovina (em mil toneladas), desde 1989.


A quantidade de carne importada em cada período é dependente de uma série de fatores e principalmente da relação entre eles. Questões sanitárias, mudanças de hábitos alimentares que interfiram no consumo, logística, câmbio, políticas fiscais, são alguns dos fatores que podem, de alguma forma, afetar as importações.

A valorização da moeda nacional em relação ao dólar é um fator de grande influência na importação, uma vez que o câmbio afeta na competitividade do produto no mercado. Se forem analisados os valores das importações nos últimos 11 anos, no gráfico 3, é possível perceber como a desvalorização do real intensificou a variação do valor das importações.

Gráfico 3. Valor das importações de carne ovina nos últimos 11 anos, em R$ e em US$


Apesar das importações estarem sob influência de uma série de fatores, é bem provável que algumas variações são conseqüências de fatos específicos, de grande importância para o mercado em questão.

Em janeiro de 1999, por exemplo, houve uma mudança na política cambial do regime de câmbio fixo para o de câmbio flutuante, que conduziu à desvalorização da moeda brasileira nos anos subseqüentes. Com isso, a cotação média do dólar em 99 registrou aumento de 56% em relação a 98, que foi acompanhado por uma redução de 32,5% no volume de importações. Em 2000, por outro lado, o câmbio permaneceu praticamente estável, e as importações reagiram fortemente.

Já em 2001, observou-se uma brusca queda nas importações, da ordem de 52% (volume), logo após um ano de significativo crescimento (gráfico 2). O fato importante que marcou esse ano, mais especificamente no final do mês de abril, foi a ocorrência de febre aftosa no Uruguai, fornecedor de 99% da carne ovina importada pelo Brasil. Com isso, o Brasil barrou as importações de carne com osso provenientes daquele país, afetando consideravelmente o mercado de carne ovina, como pode ser observado no gráfico 4.

Gráfico 4. Importações de carne ovina em 2001 (em toneladas)



A primeira conseqüência do embargo foi a queda quase total das importações, no mês de maio. Nos meses seguintes, o Brasil buscou fornecedores alternativos para carne com osso, como os Estados Unidos, Chile, Austrália e Nova Zelândia. Aumentou também a importação de carne desossada, categoria que não fora embargada.

Entretanto, a carne uruguaia sempre chegou ao Brasil a preços extremamente competitivos, devido à facilidade logística e aduaneira e aos baixos custos de produção daquele país. A carne trazida de outros países era comercializada a preços bem mais altos, de forma que a média paga por tonelada de carne importada aumentou, como mostra o gráfico 5.

Gráfico 5. Preço médio mensal, pago por tonelada importada, em 2001, (R$/ton)


Sendo assim, apesar do volume importado não ter apresentado total recuperação após o foco de aftosa, o valor das importações quase atingiu, nos meses de agosto e outubro daquele ano, o patamar anterior à ocorrência.

Na opinião de Maurício Caserta, especialista em pequeno varejo e food-service, que já atuou como gerente comercial de grande frigorífico, outro fator que limitou o volume importado após a crise sanitária do Uruguai, além do preço, foi o hábito de consumo dos brasileiros. Como o Uruguai exporta os cortes traseiros à União Européia, a preços muito superiores, disponibiliza um grande volume de cortes dianteiros ao Brasil, a preços mais baixos. Assim, a paleta havia se tornado o corte mais consumido no país. Apesar da redução da oferta desse corte devido ao embargo, não houve uma substituição equivalente pelos cortes disponíveis.

A partir de julho de 2004, a moeda nacional iniciou um processo de valorização cambial que continua até hoje. Além disso, o Brasil vem passando por uma tímida, mas real, popularização da carne ovina. Está cada vez mais comum encontrar o produto em restaurantes, redes de food-service, boutiques de carne e até em supermercados. Os distribuidores especializados estão aumentando e se profissionalizando, buscando facilitar a vida do consumidor e promover o consumo. Este cenário refletiu um aumento crescente nas importações, observado a partir de 2004 no gráfico 2.

Se existissem estatísticas nacionais, atuais e confiáveis, sobre o segmento agroindustrial da carne ovina, seria possível observar como o mercado interno reagiu a esses acontecimentos, e como ele vem evoluindo no decorrer dos anos, com o notável desenvolvimento da atividade.

Entretanto, a realidade da atividade ovina no país ainda é marcada por muita informalidade, o que dificulta a coleta de dados e a realização de análises e previsões de tendências.

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Comentários

Antônio Ivanir Gonçalves de Azevedo

Curitiba - Paraná - Distribuição de alimentos (carnes, lácteos, café)
postado em 27/01/2007

Interessante artigo. Na criação ovina, estamos ressentidos de dados precisos há muitos anos. Na realidade, não se sabe o rebanho existente no País e a respectiva distribuição. O conhecimento desses dados e as informações importantes da articulista nos auxiliam a ter uma idéia da situação hoje existente. Parabéns.
Antônio Ivanir de Azevedo

Bruno de Jesus Andrade

São Paulo - São Paulo - Produção de gado de corte
postado em 20/03/2007

Os números nos mostram que o mercado para a carne ovina brasileira existe, uma vez que, importamos muito daquilo que consumimos. É o momento certo de criar lideranças e ordenar essa cadeia, de forma que todos os elos possam se beneficiar.

Volney Silveira de Avila

Lages - Santa Catarina - Pesquisa/ensino
postado em 03/04/2007

A cadeia da carne ovina no Brasil vive momentos de reajustes, com vários empreendimentos nascendo e principalmente com uma séria preocupação quanto a sua importância pelos vários setores ligados a atividade. Em Santa Catarina nos ultimos 3 anos surgiram varios frigoríficos e abatedouros inspecionados com interesse na carne ovina. A diferenciação deste produto em cortes e oferta resfriada são alternativas para fugirmos da grande oferta e a preços mais baixos da carne uruguaia.

Cezar Amin Pasqualin

Curitiba - Paraná - Consultoria/extensão rural
postado em 07/04/2007

Este artigo pesquisado e escrito por você é muito importante para estudos da projeção do comportamento do mercado para a próxima década, que acredito que possa ter um crescente incremento na importação da carne ovina.

Se por um lado estas importações da carne ovina tem um impacto não desejado à produção interna, dificultando a efetiva organização interna da cadeia produtiva, imprime por outro lado uma ampliação no consumo interno do produto, mesmo com "defeitos na oferta de determinados cortes", como por exemplo a predominância da paleta.

O que deveria sim acontecer seriam medidas sanitárias mais rigorosas como exigência de entrada do produto no nosso país, bem como as qualidades inerentes ao produto( ex. idade dos animais, raça, padronização, entre outras). Nos preocupa é sim com a "deformação do hábito alimentar" dos consumidores brasileiros, que ora comem carne de animal precoce (cordeiro), ora borrego e em outros casos animais descarte, confundindo o paladar e muitas vezes levando a rejeição da carne.

A cada organização interna da Cadeia Protutiva da carne ovina, deve ser precedida de um processo de certificação do produto a ser ofertado ao mercado, fixando para o consumidor marcas de confiança com qualidade total. Por último, temos que trazer para o setor novos parceiros da carne ovina brasileira, como por exemplo a ABRASEL, as grandes redes de supermercados, churrascarias, contribuindo desta maneira para com os criadores organizados em cooperativas, associações, alianças mercadológicas, ofertando desta forma a verdadeira carne de animais precoces para nossos consumidores.

Carlos Juarez de Morais

Curitiba - Paraná - Distribuição de alimentos (carnes, lácteos, café)
postado em 16/04/2007

Atuamos na área de comercialização de carne ovina, também somos criadores no Paraná, pertencemos a familia tradional de criadores de ovinos no Rio Grande do Sul.

Estamos fazendo há muito tempo um trabalho de formação de núcleos de criadores e incentivando os mesmos a produizir cordeiros para abate durante o ano inteiro, no entanto, estamos tendo certa dificuldade quanto ao estímulo dos criadores, pois com a importação da carne uruguia com preços extremamente baixos e nem sempre com qualidade e padrão, vindo a afetar diretamente o nosso produtor. Achamos que os órgãos governamentais deveriam olhar com mais atenção para esta questão.

Luiz Alfredo Fontes de Salles Graça

Araputanga - Mato Grosso - Produção de gado de corte
postado em 23/04/2007

Crio ovinos deslanados há mais de 20 anos e, até 2005, o mercado/venda de machos castrados e terminados, era satisfatório. Hoje, inexiste. A carne importada do Uruguai é o pretexto. Seria importante a real mobilização dos produtores para reorganização da cadeia, visto que o consumo é ascendente!

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