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Aurora Gouveia, presidente da Accomig/Caprileite, fala sobre a situação atual da ovino e caprinocultura no país

postado em 08/06/2006

12 comentários
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Aurora Maria Guimarães Gouveia é médica veterinária e presidente da Associação dos Criadores de Caprinos e Ovinos de Minas Gerais. Como Coordenadora do Grupo de Extensão e Pesquisa em Ovinos e Caprinos - GEPOC, vem trabalhando há mais de 23 anos junto ao setor de caprinocultura e ovinocultura de leite e carne, parte deste tempo como professora da Escola de Veterinária da UFMG, onde orienta alunos de graduação e pós-graduação ampliando a pesquisa na área de Pequenos Ruminantes.

Neste momento, a presidente acumula ainda os Cargos de Presidente da Comissão Técnica de Caprinos e Ovinos da FAEMG, da Câmara Técnica de Ovinocultura e Caprinocultura do Conselho Estadual de Políticas Agrícolas da Secretaria de Estado da Agricultura (SEAPA-MG) e da Sub-Câmara de Sanidade e Manejo Integrado da Câmara Setorial Federal da Cadeia Produtiva de Caprinos e Ovinos, do Ministério da Agricultura (MAPA-DF), e vice-presidente da Comissão de Caprinocultura e Ovinocultura da Confederação Nacional da Agricultura (CNA).


FarmPoint: Há quantos anos você está na atividade da ovino e caprinocultura?

Aurora Gouveia:
Eu trabalho com caprinos e ovinos há 24 anos.

FarmPoint: Durante esse tempo quais foram as principais mudanças observadas na atividade?

Aurora Gouveia:
A atividade de leite de cabra começou em 1974, quando houve a proibição da importação de produtos supérfluos e dentre eles estavam os queijos produzidos com leite de cabra. Inicio-se então, a importação das cabras leiteiras. Portanto, a caprinocultura leiteira no país tem 32 anos. Nesse tempo, a atividade já sofreu um desenvolvimento bastante grande, já que no início, pouco se sabia sobre a criação de cabras de raças exóticas para a produção de leite. Então foram feitos treinamentos, eu fui uma das que fui para a França para aprender a caprinocultura leiteira e também a ovinocultura leiteira, porém esta não se desenvolveu no Brasil.

Durante esse período a grande evolução foi chegar em um animal puro de origem nacional, de alta produção. Hoje nós temos cabras que produzem em média 4 quilos de leite por dia. Portanto, o produtor de leite é mais tecnificado, pelo próprio tempo que está na atividade.

Já a atividade de corte iniciou-se no Sudeste na década de 90, por isso o ovinocultor e o caprinocultor de corte ainda têm um grau de tecnificação menor do que o caprinocultor de leite, pois não tiveram tempo para ter o mesmo desenvolvimento e aprendizado das cabras leiteiras.

FarmPoint: E por que a caprinocultura leiteira se desenvolveu tão regionalmente no Sudeste e nas outras regiões não deslanchou da mesma forma?

Aurora Gouveia:
Inicialmente porque a Caprileite (Associação dos caprinocultores de Minas Gerais) foi criada em 1974 como a Associação brasileira de criadores de cabras leiteiras e foi através da Caprileite que houve o incentivo para a formação das associações nos estados vizinhos.

Mas o Nordeste, nos últimos 5 anos, despertou para a produção do leite de cabra, e hoje nós temos dois estados que também são bacias leiteiras caprinas, a Paraíba e o Rio Grande do Norte. Enquanto no Nordeste, os projetos são de cunho social, no Sudeste envolvem produções comerciais.

FarmPoint: Quais são os principais gargalos para o desenvolvimento dessas atividades como agronegócio?

Aurora Gouveia:
Nós temos um problema que se repete na maioria dos criadores, independente da atividade: a falta de assistência veterinária. Os criadores costumam se achar auto-suficientes e não procuram, com a freqüência necessária, uma assistência preventiva. E mesmo em casos de atendimentos curativos, como o valor do animal é mais baixo que dos bovinos, muitas vezes não compensa pagar pela assistência.

Como não há um enfoque preventivo, o controle de algumas doenças infecciosas acaba sendo precário, gerando alta mortalidade ou baixa produtividade. Isso desestimula o criador, que muitas vezes desiste da atividade e coloca a culpa na espécie.

Os gargalos também envolvem uma série de fatores como a produção em escala, já a maioria dos produtores não tem quantidade que justifique o transporte; a regularidade de oferta, pois não se consegue ofertar o produto durante todo o ano. Nesse último ponto, o produtor de leite de cabra já está mais avançado, devido aos sistemas de sincronização de cio, que permitem partos durante todo o ano.

Se o problema da quantidade fosse resolvido, esbarraríamos na falta de padronização das carcaças de acordo com a preferência de um consumidor específico. As preferências de cada tipo de consumidor deveriam ser observadas e o padrão da carcaça mantido constante.

Outro ponto problemático é a falta do espírito de aglutinação do produtor. Existe um módulo mínimo econômico, tanto para a produção de leite como para a de carne e muitas vezes o produtor não tem condições de atingí-lo sozinho. Então ele teria que se aglutinar com outros produtores e o espírito aglutinador do brasileiro não é muito ressaltado. Geralmente ele acha que pode ser capaz sozinho.

Em uma atividade na qual a demanda é sempre maior do que a oferta - nós somos importadores de leite de cabra, de lã, de carne ovina e carne caprina - nós não conseguimos suprir essa demanda em função de todos esses fatores.

FarmPoint: Numa cadeia como essa, um aumento de produção seria facilmente absorvido por essa demanda.

Aurora Gouveia:
Foi exatamente isso que observamos aqui em Minas Gerais, alguém teria que dar o pontapé inicial para a cadeia se fechar. Então buscamos estimular o frigorífico a começar a comprar. Hoje o frigorífico não só está comprando, como investindo na capacitação do produtor e incentivando o crescimento da atividade e a produção de um produto de qualidade.

FarmPoint: A ovinocultura está passando por um momento contagiante, é um negócio que está na moda. Como isso pode influenciar a atividade?

Aurora Gouveia:
Os oportunistas podem acabar prejudicando porque a ovinocultura é uma atividade muito específica, que não apresenta muitos técnicos com formação direcionada. Costuma-se tratar ovinos e caprinos como bovinos em miniatura, o que é um grande erro.

Nós observamos no campo a quantidade de informações erradas que produtores e técnicos trocam. E quando produtor não tem uma assistência especializada, ele acaba multiplicando os erros, passando-os para frente. Isso acaba prejudicando o próprio criador, pois investe em uma informação errada e muitas vezes não consegue se recuperar.

Após a passada desse "boom" a situação se estabiliza e só aqueles que forem competentes se estabelecem na atividade, os oportunistas são eliminados pela própria situação.

O marketing da atividade é interessante para estimular novos criadores, desde que estes entrem na atividade de forma consciente e orientada.

FarmPoint: Como você avalia as perspectivas de mercado para os produtos ovinos e caprinos?

Aurora Gouveia:
Se nós tivéssemos regularidade de oferta, escala e padrão, nós teríamos condições de estar exportando, mas nós somos importadores por causa da falta de competência global, do conjunto que compõe a cadeia produtiva.

Quantas vezes nós acompanhamos visitas de missões internacionais que vêm ao Brasil, principalmente ao NE, em busca de carne caprina e ovina. Mas para reunir a quantidade demandada por esses países precisaríamos de centenas de criatórios. Por isso, o espírito de aglutinação no pequeno ruminante é fundamental.

A imagem de que caprinovinocultura é atividade de subsistência está mudando, principalmente no Sudeste e no Centro-Oeste. É importante mostrar que, além de serem adequados para as pequenas propriedades, para assentamentos, para população de baixa renda, caprinos e ovinos também são rentáveis do ponto de vista da grande produção comercial, como atividade industrial.

Portanto, o mercado está aberto, mas eu acredito que nos próximos 10 anos nós não temos capacidade de exportação. Primeiro precisamos estruturar a cadeia.

FarmPoint: Em quais atividades você está envolvida atualmente?

Aurora Gouveia:
Em 1997 eu me aposentei da UFMG e pude então me dedicar exclusivamente à ovinocaprinocultra. Nós desenvolvemos um projeto dentro da UFMG que buscava a resposta para a seguinte pergunta: porque a caprino e ovinocultura, tendo inúmeras vantagens do ponto de vista econômico e social, não deslancha, depois desses anos todos? Então eu fui buscar essas respostas com esse projeto, que encerramos há dois anos, e detectamos todos esses problemas que eu citei.

A partir daí eu comecei a me envolver com cada um desses segmentos para procurar fazer a comunicação entre eles. Como eu tinha tempo para me dedicar eu fui aglutinando as pessoas, cada uma com suas competências individuais e reunindo tudo isso num conjunto.

Então nós montamos o GEPOC, grupo de extensão da pesquisa de ovinos e caprinos. Nesse grupo, nós somos 72 pesquisadores, de várias instituições de todo o Brasil, que trabalham com sanidade e reprodução de caprinos e ovinos. Uma das coisas que nós percebemos foi que a pesquisa está muito distante do que se pratica no campo e esse grupo busca fazer a extensão da pesquisa.

Além disso, em Minas Gerais, o presidente da associação estadual dos criadores é também coordenador da Câmara Técnica da Secretaria da Agricultura e Pecuária do estado e presidente da Comissão Técnica de Ovinos e Caprinos da Federação da Agricultura. Isso é uma particularidade de Minas Gerais, que desenvolvemos para diminuir a falha de comunicação outrora existente entre as instituições.

A câmara técnica reúne representantes de todos os segmentos da cadeia: indústria, governo, criadores, cooperativas, associações, etc. Com isso conseguimos resolver os problemas estaduais, por meio do plano setorial que é desenvolvido por essa câmara técnica.

Porém alguns problemas iam além do âmbito estadual, então, juntamente com o criador e empresário Ricardo Falcão, atual Presidente da Camara Setorial, comecei a buscar apoio em outros estados para montar a Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Caprinos e Ovinos junto ao Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA). Dentro da Câmara Setorial temos as Câmaras Temáticas. Por enquanto a única estruturada é a de Sanidade e Manejo Integrado, que teve um papel fundamental na contenção das imperfeições apresentadas nos Planos Sanitários do Programa Nacional de Sanidade de Caprinos e Ovinos, propostos inicialmente pelo MAPA, que foram para Consulta Publica sem a prévia apresentacao à Camara Setorial, que tem caráter consultivo, gerando descontentamento generalizado que mobilizou todo o setor no País, uma vez que os Planos propostos foram totalmente alheios às reais necessidades e à realidade da caprinocultura e ovinocultura no Brasil.

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Comentários

Marcelo Beltrão Molento

Curitiba - Paraná - Pesquisa/ensino
postado em 11/06/2006

Querida Aurora,

Somente com esforço e grande dedicação, muito particulares de sua pessoa, é que poderemos alcançar bons resultados nestas atividades. Felicito-lhe e desejo-lhe muito sucesso na orientação e formação de todos os envolvidos com a cadeia produtiva.

Grande abraço.
Marcelo Molento

Maria GoreteFlores Salles

Fortim - Ceará - Trader
postado em 13/06/2006

Aurora tive o prazer de lhe conhecer há anos atrás no PECNORDESTE em Fortaleza.

Atualmente considero que o maior gargalo do produtor de leite de cabra é o mercado, que aqui é extremamente sazonal, falta ainda consumidores para o leite de cabra que não o considerem um remédio.

Abraço

farouk zacharias

SALVADOR - Bahia - Pesquisa/ensino
postado em 17/06/2006

Prezada Aurora,

Acompanhamos o seu trabalho e o mesmo por certo irá contribuir para a organização da cadeia produtiva que é um compromisso de todos.

Farouk Zacaharias

aurora gouveia

Belo Horizonte - Minas Gerais - Pesquisa/ensino
postado em 20/06/2006

Meus carissimos Gepoquianos e amigos Farouk e Molento,

Agradeço as palavras elogiosas, mais importantes por serem vinda de vocês, que com tanta coerência profissional e integridade pessoal, juntamente com outros dedicados e embasados, vêm agregando qualidade ao sistema de produção de ovinos e caprinos no país.

O processo é assim mesmo, lento, mas construido em bases técnicas de atendimento ao mercado, o proprio sistema se encarrega de ir eliminando os lentos por conivência e ruins de alma.

Um enorme abraço a vocês.


Profa. Dra. Aurora M.G.Gouveia

Ramòn Augusto Ayala Barreto

Ponta Porã - Mato Grosso do Sul - Indústria de insumos para a produção
postado em 21/06/2006

Dra. Aurora, trabalho no Paraguay como Veterinário. Achei oportuno o enfoque dado à necessidade de profissionalização da atividade, não somente ao produtor e sim aos técnicos.
Grato
Ramon Ayala

Eufrazio Carvalho Martins

Bicas - Minas Gerais - Produção de leite
postado em 02/07/2006

Dra. Aurora, venho lendo sobre seus trabalhos na ovinocultura e gostaria de parabeniza-la pelo seus esforço e dedicação. É através deste espirito de luta dos profissionais e da comunidade criadora que conseguiremos um lugar neste mercado.
Parabéns.
Eufrázio - Bicas/MG

aurora gouveia

Belo Horizonte - Minas Gerais - Pesquisa/ensino
postado em 05/07/2006

Prezados criadores ou técnicos: Maria Gorete, Ramón e Eufrásio,

Agradeço a manifestação de apoio ao trabalho de consolidação da Cadeia Produtiva de Caprinos e Ovinos, que vem sendo feito por todos nós, cada um em sua competência. Continuo acreditando:
Sonho que se sonha só,
é só um sonho que se sonha só.
Sonho que se sonha junto,
é Realidade.

Neste momento, meu trabalho tem se intensificado junto ao mercado de carne de cordeiro e cabrito, e do leite de cabra (e em menor escala, de ovelha), por entender que sem o mercado, o setor primário fica comprometido. Por outro lado, sem a profissionalização da produção, o setor secundário fica impossibilitado ou mantém-se na clandestinidade.

Saudaçoes Mineiras.

Profa. Aurora M. G. Gouveia

Francisco de Assis Reinaldo Junior

Fortaleza - Ceará - Produção de ovinos
postado em 18/07/2006

Profa. Dra. Aurora M.G.Gouveia,

Estou iniciando a criação intensiva de ovinos (projeto em andamento junto ao BNB) e estou na fase de colher o máximo de informações sobre tudo que se refere a ovinocultura de corte.
Esta entrevista serviu para tirar muitas dúvidas que eu tinha com relação a cadeia produtiva.

Parabéns e muito obrigado pelos esclarecimentos,

Júnior Reinaldo
Baraúna-RN

David Antonio CArvalho de Oliveira

jussara - Goiás - Consultoria/extensão rural
postado em 25/07/2006

Bom dia Drª. Aurora,

Sou um iniciante na área de ovinocultura de corte no sul do TO, onde ficamos animados e com mais afinco quando descobrimos novos ideais e assim projetando esta grande oportunidade de negócio.

Meus parabéns pela história maximizada em prol da atividade.

David Oliveira- Porangatú/GO

Fabio Nunes do Nascimento

Trindade - Goiás - Estudante
postado em 22/09/2007

parabenizo pela sua dedicação a atividade.

estou desenvolvendo um projeto sua avaliação economica do confinamento de ovinos de corte em unidades familiares do estado de Goiás, gostaria de saber se a Senhora tem noticias desse tipo de confinamento aqui, pois não esta facil a localização desse pessoal.

por favor me ajude.

desde já, agradeço a atenção.

Fábio Nunes

Jefferson de Alexandre Pessoa

Palmas - Tocantins - Instituições governamentais
postado em 01/10/2007

Bom dia minha amiga Drª Aurora;

Em primeiro lugar gostaria de dizer que o Tocantins já está com saudades da senhora, Drª Aurora é sem dúvida alguma uma das maiores autoridades em ovinocaprinocultura do país, admiro a forma com que vê a criação, tratando com realismo os potenciais e os gargalos da criação. No Tocantins tem colaborado para o incremento e a solidificação do setor, participando da capacitação de todos os médicos veterinários de nossa Agência de Defesa com o intuito de podermos atender com rapidez e precisão aos criadores de ovinos e caprinos de nosso estado.

Um abraço ;

Jefferson de Alexandre Pessoa

Neyd M M Montingelli

Curitiba - Paraná - Pesquisa/ensino
postado em 17/10/2007

Dra. Aurora,
Parabéns pelo trabalho. Desejo muito sucesso, pois o seu sucesso será a realização de muitos caprinocultores do Brasil. Sou de Curitiba e aqui também a atividade está engatinhando, mas o que eu puder contribuir, pode contar comigo.

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