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O MDA maior que o Mapa?

Por ANDRE MELONI NASSAR
postado em 24/01/2011

6 comentários
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Em tempos em que aloprados defendem a tese de que a reforma do Código Florestal ampliará o risco de desastres em encostas, não é muito inteligente colocar na parede quem está do lado dos não aloprados. No entanto, a proliferação de argumentos sem conhecimento de causa sobre o setor agrícola, infelizmente, tem que ver com um comodismo de dentro do setor.

O ministro Wagner Rossi adotou como discurso a modernização do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). Ainda é cedo para tirar conclusões sobre como essa modernização será feita, embora a indicação pareça bastante razoável. Mas não é cedo para identificar os desafios que o Mapa tem pela frente para se manter como o Ministério que representa o setor produtivo agropecuário.

Enquanto no Mapa não houve desgaste político para a escolha do ministro, no Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA) a escolha foi marcada por disputa interna no PT. O Ministério foi reduto dos representantes do Sul do País, onde nasceu o movimento da agricultura familiar, mas seu crescimento passou a interessar aos representantes do Nordeste, onde se concentra grande parte dos beneficiários dos programas do MDA. Ao contrário do Mapa, o MDA é objeto de disputa de poder político e, como ninguém disputa poder político à toa, fica claro que existe um descompasso entre os dois Ministérios. Muito embora ambos, excluindo as políticas de reforma agrária, executem políticas de natureza similar, diferenciando-se apenas o público-alvo - todos agricultores, é verdade, mas forçosamente classificados em familiares e não familiares.

O primeiro ganha espaço a olhos vistos, tendo sido capaz de implementar diversas novas políticas nos anos recentes. O segundo, com boas ideias e tendo lançado um programa de seguro agrícola, que ainda é muito pequeno, assiste o primeiro tomar conta de áreas que tradicionalmente eram suas. Na realidade, a política agrícola ainda é responsabilidade do Mapa, mas o MDA vai dia a dia puxando a Política de Garantia de Preços Mínimos (PGPM) para o seu lado e com isso direciona a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) a executar cada vez mais políticas orientadas para os agricultores familiares.

Enquanto o orçamento do Mapa (sem incluir Conab e Embrapa, que operam para os dois, e o Fundo de Defesa do Café) cresceu 80% de 2004 a 2010, o do MDA (excluindo o Incra) cresceu 680%. Vale lembrar que o orçamento do MDA ainda é apenas 25% do Mapa. O orçamento da Conab cresceu 180% (se fosse até 2009, o crescimento seria de 317%). Boa parte desse crescimento resulta das políticas de apoio aos agricultores familiares e abastecimento da população pobre a partir de produtos comprados desses agricultores.

Agricultores familiares são agricultores como outros quaisquer e, no frigir dos ovos, o que interessa é ter boas políticas para eles, independentemente do Ministério. Mas não há dúvida que o MDA está tomando espaço em áreas tradicionalmente do Mapa.

A menção neste artigo à expansão do MDA não tem caráter ideológico. O MDA está crescendo legitimamente. Seus técnicos souberam aproveitar as lacunas deixadas pelo Mapa em áreas ligadas ao setor agrícola e no meio rural, mas que fugiam da expertise do Ministério: políticas agrícola e de crédito rural com foco em públicos-alvo específicos, política de microcrédito para agricultores de baixa renda, políticas de distribuição de alimentos operadas em conjunto com outros Ministérios e políticas para públicos do meio rural antes negligenciados, entre outras. Mesclando políticas orientadas para o setor agrícola com as de cunho social - muito bem recebidas e alinhadas com dois mandatos de governo do PT -, o MDA vem conseguindo crescer.

O recado deste artigo é, na verdade, para o Mapa. A meu ver, o Ministério tem algumas escolhas que deveria fazer imediatamente para retomar seu papel de liderança. A primeira é buscar excelência nas áreas em que o Ministério tem por função atuar. É o caso da defesa agropecuária e - por que não? - de puxar para si algumas funções da área sanitária e inocuidade de alimentos, que estão em outros órgãos do governo federal. Se operasse nessa área com competência, o Mapa garantiria seu papel de liderança, até porque ela traz consequências para o desempenho exportador do setor agropecuário brasileiro. No entanto, atuando apenas nessa área com competência o Mapa se transformaria, no futuro, no Ministério da Defesa e Sanidade Agropecuária. Parece-me pouco para o histórico do Mapa.

Na área de política agrícola, caberia ao Ministério batalhar pela unificação dos programas hoje executados em separado pelo Mapa e pelo MDA, mesmo que com algum custo político para o primeiro. O que não faz sentido é dois Ministérios brigando por recursos para programas semelhantes só porque, supostamente, os instrumentos têm públicos-alvo diferentes. Não existe racionalidade alguma, exceto de ordem política, para que a PGPM seja executada por uma pasta (Mapa) e o Programa de Garantia de Preços para a Agricultura Familiar (PGPAF) esteja a cargo de outra (MDA).

Existem duas áreas em que o Mapa precisa tomar uma decisão sobre que tipo de inserção pretende ter (se é que pretende ter alguma): políticas que promovam ganho de competitividade internacional para o setor produtivo - e aqui cabe a área de relações internacionais, já existente no Ministério - e questões ambientais e de sustentabilidade relacionadas à produção agrícola.

É hora de o Mapa sair da defensiva no tema ambiental e puxar a responsabilidade para si. Tanto para fechar os espaços tomados pelos aloprados e mal-intencionados quanto para dialogar com o setor produtivo sobre os avanços na área ambiental que precisam ser feitos. Tirando o acrônimo, que não sairia amigável, gosto da ideia do Ministério da Sanidade, Competitividade e Meio Ambiente para a Agropecuária.

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ANDRE MELONI NASSAR    São Paulo - São Paulo

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Comentários

Manoel Pereira Neto

Natal - Rio Grande do Norte - Consultoria/extensão rural
postado em 24/01/2011

Parabéns pelo artigo!

As políticas públicas para o setor rural deveriam atingir os mais diversos públicos, e em suas reais necessidades, independente de quem seja o protagonista. Essa atual situação onde houve a necessidade da criação de um novo miistério "MDA" para que uma parte importante dos produtores do Brasil antes marginalizados pudessem compor o agronegócio brasileiro, retrata de forma muito clara o amadorismo como as questõs do setor primário ainda são tratadas no Brasil. Citemos a famosa IN 51/2002, a quantas anda sua implantação no Brasil? .......

Izildinha A. C. Dantas

Aracaju - Sergipe - Consultoria/extensão rural
postado em 24/01/2011

Parabéns Sr. André pela análise. Interessante que quase ninguém vem comentando esta dicotomia em relação aos ministérios. Concordo que o MDA avançou numa brecha deixada pelo MAPA e com resultados importantes no campo. A Lei do PNAE, criada sob grande influência do MDA, e outras políticas públicas para o agricultor familiar, têm animado este público e há uma movimentação em direção a melhoria da qualidade dos alimentos e na qualidade de vida bastante evidente. Agora, concordo com vc em relação a duplicidade de ministérios para atender a agricultura, pois em muitas políticas os dois, MDA e MAPA se interagem . Será que não temos gestores bons o suficiente para atender dois ou mais tipos de clientes e promover a articulação entre políticas e programas? Será que mais e mais repartições públicas em dado momento não vai confundir o País e gerar custos para o contribuinte? No meu entender falta articulação e diálogo. O MDA ocupou espaços importantes!!

Claudio Junior Weschenfelder

Guarujá do Sul - Santa Catarina - Produção de leite
postado em 26/01/2011

No Mda há disputa do poder político, mas no Mapa a pressão é tão forte que foge do campo político e avança para o econômico. O grupo econômico hegemônico do agronegócio brasileiro é quem disputa e banca a indicação do ministro. É só disputa de poder para manter e aprofundar a ordem estabelecida.

Ronaldo Gomes

Goiânia - Goiás - Estudante
postado em 30/01/2011

Déficit na balança comercial brasileira

O Brasil amarga ano após ano quedas bruscas no superávit na balança comercial. E começou 2011 com um déficit de US$ 97,2 milhões por dia até o dia 05 de janeiro segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC). O país se encontra com dificuldades de conter as importações da China e não consegue acompanhar com as exportações.
É certo que não conseguiremos competir *preço com a China, e de uma forma ou de outra as importações vão continuar em alta.
Parece óbvio que a resposta para o equilíbrio da balança comercial brasileira passe necessariamente pelo agro negocio, mas é preciso pensar com maior longevidade e inteligência. Conseguir enxergar uma maneira de atrelar as necessidades do empresário de investimento e retorno com as necessidades macro-econômica do país.
Urgentemente precisamos entender e aplicar o conceito de valor agregado no agro negocio no brasil. Precisamos pensar na possibilidade de exportar produtos derivados da soja em vez da comodity, vender ração animal e produtos alimentícios derivados do milho em vez do grão...
O empresário brasileiro precisa vislumbrar as oportunidades de negocio e retorno que este conceito garante. Não devemos ser vistos como celeiro do mundo mas sim buscarmos uma imagem mais atuante e pro-ativa. Isto da retorno financeiro direto.
Esperar essa iniciativa partir do governo é um erro gravíssimo.
Como dizemos aqui em Goiás; "estamos com a faca e o queijo na mão".

Roberto Trigo Pires de Mesquita

Itupeva - São Paulo - Produção de Gado de Corte
postado em 31/01/2011

Aplicando apenas conceitos sociais e economicos à estruturação de cada um dos ministérios fica muito claro que a missão pública do MDA deveria se resumir ao desenvolvimento das políticas agrárias, que deverão ser implementadas via prefeituras e governos estaduais através de Planos Diretores Agrários, desmembrados ou integrados aos Planos Diretores Urbanos.

Ao MAPA caberá exclusivamente o desenvolvimento das políticas agropecuárias que garantam a sustentabilidade economica em todos os níveis de todas as suas cadeias produtivas.

Seguindo pragmaticamente essas responsabilidades estruturais, os recursos não serão tão escassos e os retornos dos investimentos do Estado nessas políticas públicas estarão assegurados.

Aluízio Lindenberg Thomé

Carangola - Minas Gerais - Produção de leite
postado em 23/06/2011

Por falar em conflito de interesses, é crescente o número de produtos químicos com sua comercialização proibida ou restrita, pelo MAPA, e livremente comercializadas nas lojas agropecuárias sob o rótulo de "amadoras" ou "domésticas", com registro no Ministério da Saúde, especialmente formicidas  pó e/ou granulados.

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